1. No poste anteriormente publicado nesta série (*), foram citados os nomes e os postos de vários camaradas do Albino Cláudio (Ribamar, Lourinhã, 1944-Bissorã, Guiné, 1968), que intervieram no âmbito do processo de averiguações do acidente que o vitimou em Bissorã, no dia 27 de julho de 1968. Recorde-se:
- o comandante da companhia, cap inf Manuel Joaquim Sampaio Cerveira;
- o alf mil António Matos de Almeida, encarregue pelo Cmdt de elaborar o processo por acidente com arma de foto;
- as testemunhas do acidente, 1º cabo at inf Cipriano Martins Silva, natural de Famalicão, e o sold at inf Joaquim Cunha Moreira, natural de Penafiel;
- o fur mil António Pimenta Rodrigues, e o 1º cabo at inf Victor Manuel da Costa, que oram testemunhas da elaboração do espólio do Albino Claúdio, feita pelo alf mil Matos de Almeira,na presença e capitão;
- não sabemos o nome do alf mil médico que passou a certidão de óbito, mas muito provavelmente o seria o mais antigo, Fernando António Maymone Martins... O Maximino José Vaz da Cunha também foi médico do BCAÇ 2845. E haverá ainda um terceiro médico, José Luís Pinto Pinto Bessa de Melo, que muito possivelmente veio render um dos dois primeiros, os quais, na 2ª parte da comissão, foram trabalhar no HM 241, em Bissau.
2. Comentário do nosso editor LG ao poste P27032 (*).
Não foi suicídio, mas também não terá sido simples "acidente com arma de fogo", garante-me o conterrâneo e vizinho do Albino Cláudio, o nosso grão-tabanqueiro Carlos Silvério, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato, 1971/73)...
"A história estaria mal contada", disse-me ele ao telefone... Ele falou com familiares do Cláudio, em Ribamar, e com outros militares na Guiné, no seu tempo. Ele tem outra versão, ouvida no Olossato...
Segundo ele, o Cláudio, àquela hora, 7 da manhã, não ia entrar de serviço, mas, sim, acabava de chegar de uma operação no mato... E que a essa hora não se limpavam armas...E que as duas testemunhas ouvidas pelo alferes que elaborou o auto, o Matos Almeida, não eram testemunhas "oculares", nenhum delas viu o acidente ou o momento fatal:
(i) o 1º cabo Cipriano Martins Silva às 6:50 viu o Albino "limpar a arma", já que ia "entrar de serviço às sete horas" (sic); ouviu o tiro quando já estava no refeitório para tomar a refeição da manhã; viu, isso sim, o oficial de dia sair do refeitório, correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros;
(ii) o sold Joaquim Moreira estava de saída, à porta da caserna, ouviu o tiro, voltou a entrar na caserna, encontrou o sinistrado caído no chão, com a arma ao lado, e a esvair-se em sangue...
O Carlos Silvério estranha ( e eu também) não ter sido aparentemente ouvido, como testemunha, o oficial de dia, que foi quem assistiu o ferido e fez a participação da ocorrência ao comandante. Estava no refeitório quando ouviu uma detonação.
Estranha-se, ainda, que as duas testemunhas reforcem a ideia de que não foi suicídio: o 1º cabo Silva já tinha ouvido, algumas vezes, ao Cláudio dizer que quando passasse à disponibilidade iria "construir uma casa e casar-se" (estavam ainda todos no início da comissão, com apenas 2 meses e meio...); como quem diz: "quem quer casar-se, não vai matar-se"...
O sold Moreira diz, por sua vez, que o Cláudio "não se matou propositadamente" (sic), "era uma pessoa pacata e sem problemas" (sic).
A certidão de óbito é clara: "a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica"...
Sabemos que na tropa não havia suicídio nem homicídio: para todos os efeitos, só havia, no nosso tempo, mortes por: (i) ferimento em combate; (ii) motivo de doença: ou (iii) acidente (incluindo com arma de fogo).
Ponto final parágrafo
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(*) 19 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27032: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - Parte I: nota biográfica e circunstâncias da morte
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