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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Guiné 621/74 - P24920: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (6): Em Reykjavik, Islândia, onde nada nos assusta: se a terra treme,é porque o vulcão, não longe, barafusta (António Graça de Abreu)


Foto nº 31


Foto nº 32


Foto nº 33


Foto nº 34

Islândia >  Reykjavik > Agosto de 2023 


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Mais textos e fotos enviados (20/11/2023 , 19:56), pelo nosso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), referentes a mais um cruzeiro que efetuou, com a esposa, em agosto passado, desta vez à Gronelândia e à Islândia (*):



Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (6): Reykjavik, Islândia

por António Graça de Abreu


Em Reykjavik, cem mil coisas havia, acontecia, de noite, de dia.

Em Reykjavik, o velho viking, pirata de antanho, uma saudação de todo o tamanho.

Em Reykjavik, gente boa a trabalhar, o tempo a esfriar, prisões a arejar, ausência de ladrões a roubar.

Em Reykjavik, baleias ao longe para contemplar, golfinhos para embalsamar, salmões para pescar.

Em Reykjavik, um palácio de vidro chamado Harpan a cantar, grande música a escutar.

Em Reykjavik, mocetonas loiras, peitudas para acariciar e uma bofetada levar.

Em Reykjavik, uma casa assombrada para Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov se encontrar, o falso bom governo do mundo a tentar mandar.

Em Reykjavik, uma rua de encantar, pavimentada a cores gay para a malta lgbt exultar, e todos os outros, passear.

Em Reykjavik, uma belíssima catedral protestante, sem santos no altar. A quem rezar?

Em Reykjavik nada nos assusta, a terra treme porque o vulcão, não longe, barafusta.

Em Reykjavik, um pobre português de passagem, que se entretém a escrevinhar, usando rimas pindéricas em "ar."

Em Reykjavik, The Iceland Phallological Museum, um museu do Pénis vagabundo, profundo, como mais nenhum outro museu existente no mundo.

__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série >  18 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24861: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5): Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia (António Graça de Abreu)

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24650: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1): Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Reino da Dinamarca > Gronelàndia >  Agosto de 2023


Fotos (e legendas): © Ant6ónio Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu: (i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; (ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; (iii) tem 325 referências no blogue; (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (v) no nosso blogue, é autor de diversas séries: 

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo; 
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias; 
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


    Data - 11 set 2023, 10h58
    Assunto - Gronelândia Um

    Meu caro Luís,

    Consegues abrir, dá para publicar?
    Tenho mais sete ou oito textos sobre Gronelândia, Islândia e Berlin, tudo Agosto 2023.

    Abraço,

    António Graça de Abreu


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1)

por António Graça de Abreu


Eu sei que isto são mais coisas para o nosso camarada Zé Belo, alcandorado há uns bons cinquenta anos lá pelas faldas da Lapónia, com alces a rondar-lhe a casa, em Kiruna, na bravia e gelada Suécia, e uns saltos a Narwik, na primorosa Noruega.

Mas eu também nasci com passaporte de coelho, o que até deu direito, quase numa anterior reencarnação, a participar numa guerra quente na Guiné-Bissau. Agora, Agosto de 2023, aos 76 anos, viajei durante duas semanas pela Gronelândia e pela Islândia, terras frias, tal como a Lapónia, lá no topo do mundo (Fotos nº 1 e 2). Cruzei o círculo polar ártico, entretive-me a passear entre fiordes, icebergues e glaciares. Fiz bonitas fotografias, escrevi quase uma dúzia de esmerados textos. Se tiverem paciência, leiam, serão um contraponto fresco e pacífico aos calores bélicos que vivemos em África há cinquenta anos atrás. Aí vai:




Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6

Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia


O nome do fiorde, Prins Christian (1786-1848) vem de um príncipe dinamarquês que, talvez num kayak real ou nos restos de uma nau meia viking, desbravou este mar, esta terra no início do século XIX. Tal como o senhor do reino da Dinamarca, mas agora num grande navio, viajamos de sul para as paragens mais frias do norte, avançamos por mal conhecidos caminhos, suspensos nos atalhos das rotas de antiquíssimos mares atlânticos.

De manhã cedo, entramos no fiorde do Prins Sund. Tudo ainda envolto em nevoeiro e brumas. No deslizar cuidadoso do navio, adivinham-se falésias altas e logo depois silhuetas de grandes montanhas de pedra subindo por ambas as margens do fiorde, esta espécie de braço de mar que avança por dentro da terra, recortando-a. O nevoeiro desaparece e o céu abre-se num azul desmaiado, claro. São mais de cem quilómetros de navegação pelo interior de um fiorde que corre e se desdobra entre cadeias montanhosas do extremo sul da Gronelândia e proporciona vistas de espantar, majestosas, neste globo inventado pelo infatigável Criador (Fotos nºs 3 a 6)

Desculpem-me a vaidade, mas recordo outros fiordes com glaciares mágicos que tive a sorte de conhecer, Geiranger, na Noruega, El Brujo, na Patagónia chilena e Milford Sound, na Nova Zelândia. Terras árticas, a norte, regiões quase antárticas, a sul. Fiordes, glaciares gigantescos na carícia do mar, abraçando a natureza, arrastando a serenidade dos séculos e o ribombar do trovão.

Aqui, Gronelândia, com o Prins Christian, a pedra da margem subindo aos 2.200 metros. Cascatas sibilantes caindo das alturas, mais à frente, pranchas, placas de gelo turquesa, icebergues descansando nas águas. A imensidão do céu, o passeio do olhar, a rocha, a água, a neve, os gelos.

Aparece uma aldeia perdida chamada Aappilattoq encaixada num recanto abrigado da margem, à sombra de uma gigantesca montanha. A aldeia tem igreja protestante, escola e centro de saúde, é habitada por 98 almas, esquimós da etnia inuite, que vivem da pesca e de algum raríssimo turismo (Foto nº 7).



Foto nº 7

Seis horas de navegação pelo leito do fiorde do Príncipe, Christian, liso como um lago e o navio regressa ao mar. Uma leve aragem fria por onde a alma flutua, o voltear do silêncio, a bênção serena.


© António Graça de Abreu (2023)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22962: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXVI: Antigua Guatemala, Guatemala, 2016







Guatemala, Antigua Guatemala, 2016


Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)



António Graça de Abreu

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já três centenas de referências no blogue.



Antigua Guatemala, Guatemala, 2016


por António Graça de Abreu

Texto e fotos recebidos em 23/10/2021


Nesta América Central, 2016, venho por aí acima, 130 quilómetros desde o Oceano Pacífico, subindo montes, por estradas rasgadas nas encostas de montanhas vulcânicas que se elevam até aos 4.000 metros. Só no caminho, aqui à volta, passamos por quatro vulcões, o Pacaya, o Água, o Fuego e o Acatenango.

A Guatemala tem a particularidade de contar com trinta e um vulcões, quatro deles activos. É, por isso, um país ciclicamente sujeito às calamidades naturais, tremores de terra, erupções vulcânicas com a lava escorrendo por penhascos e desfiladeiros, devorando, ao avançar, terras férteis, vilas e aldeias. 

Para além de todos os desvairos da natureza, os guatemaltecos estão igualmente sujeitos às infindáveis loucuras dos homens. Entre 1960 e 1996 a Guatemala, maior do que Portugal com 190 mil quilómetros quadrados de superfície, viveu tempos de quase permanente guerra civil, em lutas fratricidas por efémeros poderes que se calcula terem provocado 200 mil mortos.

A cidade de Antigua, conhecida localmente como La Antigua, foi fundada por colonizadores espanhóis em 1543, como escrevi encravada entre vulcões. Foi a primeira capital do país, quase totalmente destruída por um terramoto, seguido de grandes inundações, em 1773. Nessa altura construíu-se uma nova capital, a actual cidade de Guatemala, na planura de um vale, mais segura e de mais fáceis acessos, a 50 quilómetros de distância.

Parto à descoberta da Antígua Guatemala, património Mundial pela Unesco. Uma urbe colonial traçada em quadrícula, ruas pavimentadas com um velhíssimo empedrado, casas térreas com pátios interiores quadrados, à moda andaluza, jardins com buganvílias, água a correr, espaços frescos para viver e habitar. Duas dezenas de igrejas e capelas, treze conventos, tudo edificado há três ou quatro séculos, algumas construções já muito arruinadas. É o testemunho dos tempos de Espanha e da fé cristã assumida pelo povo desta terra onde a morte precoce e inesperada espreitava a cada esquina. Implorava-se a protecção de Cristo ou da Virgem Maria, pedia-se um pouco de felicidade em vidas breves, ansiava-se por um descanso eterno. Ingratos, sinuosos, inesperados os caminhos do Céu.

Na Antigua Guatemala metade da população é constituída por pessoas da etnia maia e os traços identitários de cada um saltam à vista. Não contaminados por sangue espanhol, ou europeu, os maias têm a pele mais escura, o cabelo muito negro e liso, os narizes aquilinos, os olhos grandes, encovados que me pareceram sempre tristes. Vestem, no entanto, roupas coloridas em trabalhados entrançados de lã. São a gente mais pobre e desfavorecida da Guatemala, um país onde me dizem que uma dúzia de famílias muito ricas controlam quase toda a produção de açúcar, café, bananas e borracha, as principais exportações do país. Será mesmo assim?

________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 24 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22935: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXV: Berlim, Alemanha, 1969

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22560: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVII: Itália,Veneza, 2016






Itália, Veneza, 2016


1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74]. (*)
 

Veneza, Itália, 2016

por Antóni0 Graça de Abreu

[ Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem cerca de 290 referências no blogue.]


Veneza em 1995, de novo em 2016. Os homens e eu na caminhada breve, célere pala correnteza dos anos, o burgo permanecendo, quase igual, há seis séculos flutuando tranquilo no esplendor do tempo.

O engenho das gentes levantando sumptuosos palácios, esplendorosas igrejas, torres altas, pontes rendilhadas em terras pantanosas, tudo sobre estacarias mergulhadas na lagoa.

Da última vez, acordo de madrugada na cidade Sereníssima. Abro a janela do quarto da pequena hospedaria, um abraço a Veneza no respirar da bruma. Os alvores da manhã, a luz difusa, a silhueta de palácios e pontes, uma barca com legumes no canal. No meu quarto, no leito tépido, dorme ainda o corpo despido de uma bela mulher, voluptuosidade branda ao nascer o dia.

Luminosidade no passeio pela cidade. Gôndolas e gondoleiros, na proa das barcas, o ferro estilizado, as seis paróquias, as três ilhas, a ponte de Rialto, o ondular do Grande Canal mais navegar em Giudecca. Tudo poético, a gôndola rasgando as águas ao de leve, ao sabor do remo e da brisa.

Marco Polo, veneziano, a ditar na prisão de Génova o seu libro delle mararaviglie. os mares, os portos e as estranhas gentes. Entender os povos, a China distante, todo o mundo.

O também veneziano António Vivaldi levita ainda em águas verdes, em concertos, sonatas, nas quatro estações. A música, o beijo nos canais e no vento. O padre Vivaldi, o petre rosso, não oficiava missas, mas acompanhava-se de mulheres formosas. Já Giacomo Casanova, outro veneziano, não foi clérigo, nem militar, tão pouco músico, tocava muito mal violino, mas tangia igualmente o feminino, adorava mulheres, viagens e chocolate. Preso na sua Veneza, foi condenado a cinco anos por deboche, magia, livros proibidos. Do tribunal dos doges para a fétida enxovia, na diminuta ponte ouviam-se suspiri. Ano e meio depois, com o padre Balbi, outro grande pecador, Casanova empreendeu uma fuga recambolesca pelos telhados do cárcere. Logo depois, um oloroso café na praça de São Marcos. Refugiado em França, como Cavalieri di Seigalt, Madame Pompadour encontrou-o na ópera de Paris e, informada das aventuras de Casanova em Veneza, perguntou-lhe:

-- Então, vem lá de baixo?

O libertino, apontou o dedo pecaminoso para o céu e respondeu:

-- Não, venho lá de cima.

No cemitério, na ilha de de San Michele, os túmulos de Stravinsky e de Ezra Pound. Música, poemas, pássaros de fogo. Também gostava de ser enterrado aqui.

[Texto e fotos recebidos em 17 de agosto de 2021 ]. 
________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 14 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22541: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVI: Ilha de Mykonos, Grécia, 2018

terça-feira, 21 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20883: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (12): os sítios que ficaram por visitar...



Petra, Jordânia, s/d, dezembro de 2016 > "A saída em Aqaba, com a estrada de 110 quilómetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo" .(*)

Foto (e legendas): © António Graça de Abreu (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Três camaradas da Guiné, a bordo do MSC - Magnifica:
da esquerda, para a direita, António Graça de Abreu, José Vinhas
e Constantino Ferreira. Já convidámos o Vinhas a integrar a
nossa Tabanca Grande...
Foto: Constantino  Ferreira (2020)
1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19. O navio chegou ontem, com um "avanço" de uma semnana: era pressuposro só chegar ao ponto de partida em 29 deste mês, depois de repetir o percurso de circum-navegação do grande Fernão de Magalhães, um português de Sabrosa que ofereceu os seus serviços ao rei de Espanha...


Com a devida vénia, reproduzimos aqui a última crónica do António Graça de Abreum, disponível na página do Facebook 
do Constantino Ferreira:



2. Estes são os textos a intercalar nos outros textos (**), nestas datas, sobre os locais que não visitámos.


Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico,
20 de Março de 2020




Esta manhã, não fora o pavor causado pelo vírus que se aproxima de nós, toca, entranha e mata, estaríamos a desembarcar na ilha de Pins, na Melanésia Francesa. 

Fui ver as imagens na net. A ilha, linda de morrer, não de pandemia, mas de felicidade.




Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico, 

21 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o desespero causado pelo virus, etc., estaríamos em Numea, capital da Nova Caledónia. Enseadas, penínsulas e praias, recifes de coral, vegetação exuberante, histórias. 

Nao vi nada, não posso contar nada.



Em navegação, Sul da Austrália, Oceano Pacifico,

24 de Marco de 2020



Esta manhã, nao fora o medo causado pelo virus, etc., estaríamos em Cairns, Austráalia, diante da Grande Barreira de Coral, uma das maravilhas do mundo. Haveria mares esmeralda, jardins aquaticos, peixes tropicais, corais em catadupas, mais uma cidade de entusiasmantes lugares a oferecer ao turista de passagem. Tudo, uma miragem.


Em Navegação, Australia Ocidental, 

mar de Fermantle, Oceano Indico, 

26 de Marco de 2020


Esta manhã, não fora o pasmo causado pelo vírus, etc., estaríamos em Alotau, Papua, Nova Guiné, uma pequena ilha com areais mágicos e vegetação exuberante, onde aconteceram sangrentas batalhas entre japoneses e norte-americanos, na II Guerra Mundial. 

Deu para ver imagens de Alotau, no monitor do computador, fechado no remanso triste do navio.



Em navegação, Australia Ocidental,

mar de Fermantle, Oceano Indico,

29 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o sufoco causado pelo vírus, etc., estaríamos em Doini Island, Papua, Nova Guine, outra ilha de cortar a respiração a gente saudável, espaços maravilha, com praias de cair para o lado, ou seja, cair para dentro das lagunas de água tépida e nadar como um principe. 

Nem sequer em sonhos consegui entrever a ilha de Doini.




Em navegação, Oceano Indico,

31 de Marco de 2020

Esta manhã, nao fora o sofrimento causado pelo vírus, estaríamos na cidade de Darwin, a ver enormes crocodilos do mar passeando pelas avenidas, a lembrar que as ainda nossas aparentadas gentes de Timor vivem aqui ao lado. 

Não vi Darwin, nem Timor. Só vi mar e mais mar, céu sobre mais céu, mais nada.




Em navegação, Oceano Indico,

2 de Abril de 2020



Esta manhã, nao fora o horror causado pelo vírus, etc., estaríamos a pôr o pé na ilha de Komodo, famosa pelos seus dragões, uns enormes repteis molengões, creio que inofensivos para os homens que se passeiam por tudo quanto é sítio, na ilha. 

Gostava de ter feito uma festa (pode-se?) aos simpáticos e repelentes animais, mas o Magnifica navega já por outros mares, a mais de dois mil quilómetros da Indonésia.




Em navegação, Oceano Indico, 

4 de Abril de 2020


Esta manhã, não fora a catástrofe causada pelo vírus, etc., estaríamos no segundo dia de estada em Bali, aquele lugar excelente a que os portugueses chamaram ilha das Flores, com praias de cristal, bailadeiras formosas, uma profusão de exotismos, enfim, uma Indonésia doce à nossa espera. 

Eu é que continuo a esperar sentado pelo dia de pôr o pé em Bali.




Em navegação, Oceano Indico,

5 de Abril de 2020

Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo virus, etc., e estaríamos a desembarcar em Singapura. 

Estive lána outra Volta ao Mundo, por isso, desta vez, seria o revisitar da fantástica cidade e a ida aos dois museus que ficaram por conhecer na outra viagem, o Museu das Civilizações Asiáticas, o Louvre da Asia. 


Nenhum cheiro de Singapura me chegou trazido pela brisa maritima.





Em navegação, Oceano Indico, 

8 de Abril de 2020

Capa do famoso livro de aventuras
"Sandokan,. o tigre da Malásia",
um livro que povoa a nossa infância...
Cortesia de Wook.

Esta manhã, não fora a angústia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Port Kelang, o porto que serve Kuala Lumpur. Tinha possibilidade de ir dar um abraço ao Sandokan, o Tigre da Malásia, meu amigo desde os meus doze ou treze anos. Trago de Italia, para lhe entregar, uma carta escrita por outro bom amigo dele, o Emilio Salgari, mas informaram-me que, por causa do vírus, o Sandokan se refugiou no seu reduto, a ilha de Mompracem, e passa os dias aconchegando-se nos bracos da sua dulcissima Mariana. Precisava de um helicópetro para ir ao seu encontro mas, no navio, só há botes salva-vidas.

Ficaram por beber uns valentes copázios de chá da Escocia, o velhissimo whisky que Sandokan costuma reservar para dias especiais com os seus melhores amigos.



Em navegação, mar Vermelho,

12 de Abril de 2020


Esta manhã, nao fora a desgraçaa causadas pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Colombo, Sri Lanka. Deja vue, há uns anos atrás, a cidade não me impressionou. Tem crescido bastante, com arranha-céus construidos com capitais chineses. Acabei por ter pena de não a ter revisitado. 


Quem me garante que, desta vez, não iria encontrar elefantes a passear em jardins floridos ou macacos a viajar em tuk tuks coloridos?


Em navegação, Canal do Suez, 

15 de Abril de 2020



Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Bombaim, ou Mumbai, a maior cidade da India, com 23 milhões de habitantes. 


Como pude comprovar em 2016, Bombaim tem gente a mais, confusão a mais, lixo a mais. A India costuma ser um país que se ama ou se detesta. Eu não sou por uma coisa, nem por outra. Por isso é melhor não emitir opinião sobre terras que mal conheço.



Em navegação, mar Mediterrâneo,

19 de Abril de 2020


Amanhã chegamos a Marselha e cumpriremos a Volta ao Mundo, toda a circum-navegação do globo. Vimos com dez dias de avanço em relação à data prevista para a conclusão da viagem que aconteceria em Civitavecchia, Itália, a 29 de Abril.

Por causa de pecados que não cometemos, acabamos por não tocar em ene portos e viemos fechados no Magnifica, sem pôr pé em terra, desde Wellington, Nova Zelândia, de onde partimos no dia 10 de Março. 


Vamos cumprir um mês e vinte e um dias de viagem directa, desde a Nova Zelândia até Françaa, cerca de 16 mil quilómetros, É obra! Poucos navios se dão a estes luxos.

Nos dias finais da longa jornada, passaram-nos ao lado mais duas escalas que faziam parte do itinerário inicial, Salalah, no sultanato de Oman e Aqaba, Jordânia, que da acesso à fabulosa cidade fantasma de Petra, outra das sete maravilhas do mundo. 


Ai vão umas tantas palavras sobre estes dois lugares que tive a felicidade de conhecer em outras viagens:

No que a Salalah diz respeito, a sua não visita não tera sido uma grande perda. Em 2016 o sultanato de Oman não me entusiasmou. Salalah tem um grande porto para exportação de gás natural, uma montanha escalavrada no topo da qual se encontra o túmulo do profeta Job, do Antigo Testamento, reverenciado por cristãos, judeus e muçulmanos, mais uma cidadezinha desinteressante apesar do palácio do sultão, tem praias desérticas e o deserto a tudo rodear. Salalah sera lugar para desdobrar o olhar, pouco entender e seguir viagem.

Já a saída em Aqaba, com a estrada de 110 quiloéetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo. 


Estive em Petra em 2008 e 2016, com passagem pelo deserto de Wadi Rum. Na primeira viagem encontrei o Lawrence da Arábia, aliás Sir Thomas Edward Lawrence, inglês de extracção, árabe de coração, que me serviu de guia na cidade rósea de Petra e depois, com uns amigos árabes, bebemos um chá no deserto de Wadi Rum.

Desta vez, 2020, nem cicerone, nem magias, Foi Mar Vermelho, mais Mar Vermelho, sempre em frente, para norte. Tinhamos à nossa espera um ansioso mar Mediterrâneo.


António Graça de Abreu

________________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 24 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19042: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIX: Petra, Jordânia, com o Lawrence da Arábia como cicerone, e o Indiana Jones como guarda-costas...


(**) Último poste da série > 20 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20881: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (11): Enfim, Marselha, porto de abrigo, fim de um cruzeiro de sonho no "annus horribilis" de 2020

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20881: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (11): Enfim, Marselha, porto de abrigo, fim de um cruzeiro de sonho no "annus horribilis" de 2020




MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo >  20 de abril de 2020 > Chegada a Marselha, "porto de abrigo", fim de  cruzeiro...Amanhã dois autocarros trazem os  26 portugueses até casa... Entre eles, os nossos camaradas António Graça de Abreu, José Vinhas e Constantino Ferreira (1ª foto, de cima, da esquerda para a direita. Em baixo, o cartaz do MSC Magnífica a anunciar a chegada ao porto de Marselha, com uma belíssima citação do escritor chileno Luís Sepúlveda (1949-2020), que acaba de morrer, há 5 dias atrás, na cidade de Oviedo, vítima de COVID-19: "Somente sonhando e sendo fiéis aos sonhos, seremos melhores e, se formos melhores, o mundo será melhor"...

Fotos (e legenda): © Constantino Ferreira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19. O navio chegou hoje, estava programado só chegar a 1 de maio.

Com a devida vénia, reproduzimos aqui a última crónica do Constantino Ferreira, inserida na sua página do Facebook:


Segunda feira, 20 de abril de 2020, 9h26 > De novo  no porto de Marselha!

Cá estamos, de novo no porto de Marselha.

Foi daqui que partimos, no dia 6 de Janeiro deste Ano horribilíssimo de 2020.

Foi aqui, que acabámos de atracar ás seis horas da madrugada, neste mesmo porto de Marselha, neste dia de 20 de Abril de 2020, depois de meia volta ao mundo fantástica, pela Rota de Magalhães, até chegarmos á lha da Tasmânia na Austrália.

Pois aí, em Hobart o tristemente célebre “coronavirus” já lá tinha chegado, a seis pessoas.

A decisão do comandante e das autoridades da Austrália,foi de não visitarmos a cidade, e, assim perdemos a oportunidade de vermos ao vivo, o mamífero marsupial batizado com o nome de “Diabo da Tasmânia”!

A partir daí, parámos e atracamos em muitos portos, como: Sidney, Melbourne, Perth, Colombo e Suez, mas nunca mais fomos autorizados a pôr os pés em terra.

Mas hoje, vamos começar a sair; primeiro os Franceses que são cerca de mil, mais os Belgas, Holandeses, Alemães, Suecos e Dinamarqueses, enfim todos os do norte da Europa.

Amanhã dia 21, todos os restantes, incluindo nós, os Portugueses, que somos 26, e aqui teremos amanhã dois autocarros vindos de Portugal, alugados por nós, para nos levarem para a nossa Pátria Amada!

Por hoje, não digo mais nada, ou melhor! Não escrevo mais nada. Mas, mais tarde, escreverei o que falta contar.

Até lá temos que nos cuidar, para que esse “malvado” do coronavírus não se propague, por este nosso Mundo fóra!

Mas temos que acreditar na Ciência, que certamente irá conseguir lançar uma “vacina” antes deste próximo Outono.

A esperança não morre!

A primeira fotografia é já em Marselha, onde já estava atracado, mesmo aqui em frente, o navio Costa Smeralda.

As outras fotografias, são as últimas que publico desta Viagem de Volta ao Mundo, aqui concluída neste porto de Marselha.

[Publicaremos amanhã um texto do António Graça de Abreu, com as pequenas crónicas sobre os locais que não visitaram, desde 20 de março a 19 de abril de 2020]
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Guiné 61/74 - P20877: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (10): Em navegacao, Mediterrâneo Oriental, 16 de Abril de 2020


MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação, Mediterraneo Oriental, 16 de Abril de 2020

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e  António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever  o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto,  de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19.  


Publicamos hoje a mensagem do António Graça de Abreu, enviada  em 17/04/2020 à(s) 21h38

Em navegação, Mediterrâneo Oriental, 16 de Abril de 2020

Ontem, saímos do Canal do Suez, em Port Said, já com o cair da noite, eu vim para o meu camarote e estranhei o facto de o navio ter praticamente parado durante quase uma hora, no meio de uns tantos petroleiros que aguarvam a entrada no Canal.

Que se passava? O barco retomou a navegação a boa velocidade, 20 nós, 38 kms por hora. Estranhei. No mapa do itinerário do Magnifica, que temos no ecrã dos televisores nos nossos quartos, e que fornecem estes dados, vi que o navio, em vez de seguir para oeste, em direcção a Marselha, avançaava para leste, rumo a Israel.

O que e que estava a acontecer? A resposta foi-nos dada pela instalação sonora, em mensagem do comandante. Tínhamos uma pessoa em perigo de vida a bordo, a necessitar de imediata hospitalização. Foi pedido às autoridades egípcias de Port Said, autorização para o desembarque do passageiro e encaminhamento para um hospital. Sem sucesso, recusaram. Foram os israelitas quem se mostraram dispostos a acolher o doente grave. O nosso navio rumava para Haifa, Israel, a fim de desembarcar o francês, companheiro de viagem, que lutava contra a morte.

No final da comunicação do comandante, somos informados que a doença do passageiro não tem a ver com a Covid-19. Sossegamos. Quarenta e cinco minutos depois, jáde noite, tínhamos um helicópetro israelita a voar por cima do Magnifica, a descer, a içar o doente numa maca, a levá-lo para um hospital em Israel.

Isto testemunhei eu, assisti a quase todo o processo. Uma hora depois ouço de novo o barulhão do helicópetro parado ao lado do navio. Permaneceu a roncar durante uns dez minutos e depois voou alto no céu negro, de regresso a Israel. Nao entendi o que veio outra vez cá fazer, não entrou ninguém no aparelho.

Hoje de manhã, um português que tem o camarote no 14º andar, mesmo ao lado do local onde içaram o passageiro francês para o heli israelita, deu-me uma explicação possível. Os israelitas vieram pela segunda vez buscar a esposa do francês, mas a senhora estava completamente embriagada, passeava-se pelos corredores dos camarotes do 14º andar tropeçaando em tudo o que encontrava pela frente, com uma garrafa de vinho, vazia, na mão. Nao quis entrar no helicópetro, nem era possível metê-la lá, à força. O heli foi embora.

A passageira francesa continua no Magnifica e dizem-me que hoje a viram, no 5º andar, na recepção, pálida, completamente apática, olhando o vazio. Que tera acontecido ao marido, ou ao companheiro de viagem?

A vida não está fácil para este velhinhos, as emoções fortes sucedem-se. O filme de suspense só terá fim daqui a mais alguns dias.

António Graça de Abreu
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de  2020 > Guiné 61/74 - P20860: "Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (9): Em navegação, no Mar Vermelho: "não acredites em nada antes de ver e, depois de ver, continua a não acreditar"... E um momento de grande emoção, na Sexta Feira Santa!...

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20860: "Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (9): Em navegação, no Mar Vermelho: "não acredites em nada antes de ver e, depois de ver, continua a não acreditar"... E um momento de grande emoção, na Sexta Feira Santa!...



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação, a caminho do Mar Vermelho e do "Mare Nostrum", o Mediterrâneo. > Sexta Feira Santa, 10 de abril de 2020 > Fotos de um espetáculo a bordo, alusivo à Paixão de Cristo... "Há mais de um mês, sobre mil oceanos e mares, tocando terra ao de leve, temos a ameaça da morte à nossa volta."

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Elsa e Comstantino Ferreira, Wellington, capital da Nova Zelândia, 15 de março de 2020.
Foto: Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. Constantino Ferreira d'Alva, eex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016. Vai a bordo do MSC -Magnífica, que teve de apressar o seu regresso ao ponto de partida, devido à pandemia de COVID-19. 

Está a escrever o seu diário de bordo, desde 23 de janeiro de 2020, disponível na sua página do Facebook, agora a "quatro mãos", com o António Graça de Abreu, de quem hoje se publica duas pequenas crónicas.

2. AS duas últimas mensagens,   que nos chegaram, por email, do António Graça de Abreu [, ex-alf mil, CAOP 1 8Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com mais de 250 referências no nosso blogue]


(i) Em navegação, Oceano Ìndico, 7 de Abril de 2020

Tenho repetido a mim próprio, inúmeras vezes, que não devo acreditar em nada antes de ver, tal e qual como aprendi com o não muito sábio S. Tomé. Só que, normalmente me esqueco da continuação da frase que há muitos anos decorei na China, que diz que "depois de ver, devemos continuar a não acreditar."

Ontem vi, com estes olhos que a terra, ou o crematório, há de comer, vi, claramente visto, no imenso mar diante de Colombo, Sri Lanka, vi (ate tirei fotografias!) uma passageira do Magnífica ser retirada do nosso navio numa maca e levada para um rebocador cingalês, e assisti à saída de um tripulante nosso, tambem entrando para dentro do rebocador, no meio de um enorme aparato de pessoas com máscaras e fatos anti-coronavírus, quer no barco do Sri Lanka, quer no Magnifica.

No nosso, as medidas tomadas iam no sentido de o nosso pessoal se proteger contra qualquer contágio do pessoal cingalês que quase entrava no nosso navio. Como expliquei ontem, à noite o nosso capitão informou que se tratava de uma passageira que necessitou de mais tratamentos médicos. Hoje tivemos a continuação das informações. Dentro do nosso navio sabe-se que a senhora alemã, de 75 anos de idade, teve uma apendecite aguda e precisou de ser operada, com urgência.

Entretanto, o tripulante, o único de nacionalidade cingalesa a trabalhar no Magnifica, aproveitou a paragem no mar de Colombo para terminar o seu contrato com a MSC. Fez muito bem e regressou a casa.

Há pouco vieram mostrar-me num telemóvel as notícias publicadas no jornal Colombo News, a propósito deste acontecimento, que já estão na Net e que metem o Presidente da República do Sri Lanka, e tudo. Mais ou menos nos seguintes termos:

Historiaram, mal, a viagem de Volta ao Mundo do Magnifica, informaram que o nosso navio, por suspeitas de casos de coronavírus a bordo,  estava proibido de acostar a qualquer porto do mundo. Mas o povo do Sri Lanka era simpático e hospitaleiro, e Sua Excelência Gotabaya Rajapksao, o Presidente da Republica,  autorizou que a passageira do navio italiano, que tivera um ataque cardíaco e podia ter sintomas de outras doenças, desembarcasse e entrasse num hospital em Colombo. 

O tripulante, de nacionalidade cingalesa, agradecia, comovido, ao Presidente da República por ter podido sair do barco e regressar à pátria com saúde, agradecimento extensivo ao ministro da Marinha, Pyal De Silva (por certo, descendente de portugueses!), que, numa situação tão difícil, tão bem defendeu e zelou pelos interesses do povo do Sri Lanka, unido em volta do seu presidente Gotabaya Rajapksao.

Como diria o nosso Gil Vicente, há quase seis séculos atrás, "assim se fazem as cousas." E, como digo eu, caá por estas bandas do Oriente, "não acredite em nada antes de ver, depois de ver continue a não acreditar."

António Graça de Abreu

(ii) Em navegacao, Golfo de Aden, 10 de Abril de 2020

Hoje, Sexta-feira Santa, houve, às duas da tarde, um minuto de silêncio, simples homenagem a todos os que faleceram vítimas de coronavírus 19.

Depois, às três horas, com o teatro quase cheio, o coro improvisado dos velhinhos do navio, criado no decorrer da viagem, com o pomposo nome de Schola Cantorum Magnifica, interpretou, com vozes afinadas e claras, dois espirituais negros norte-americanos associados à Pascoa, dois gospels, o segundo dos quais Amazing Grace  recordando as situações de vida e de morte que temos vivido .  tinha as seguintes palavras, capazes de humedecer os olhos de qualquer um de nos, crente ou não crente.

Through many dangers, toils and snares
We have already come.
T'was grace that brought us safe thus far
And grace will lead us home,
And grace will lead us home. (#)



Três tripulantes do Magnifica procederam, em seguida, a leitura de excertos do Novo Testamento, do Evangelho Segundo Sao João, com os passos da crucificação e da morte de Jesus. Uns quinze passageiros, três deles portugueses, leram entao, em várias linguas, textos breves, quase orações de saudação a Deus, homenageando os que faleceram, agradecendo por o vírus não ter chegado ao nosso seio, expressando também o desejo de regressarmos todos com saúde e paz aos nossos lares.

Rezou-se um Pai Nosso e, por fim, os músicos e cantores italianos do Musica en Mascara, todos vestidos de preto, tocaram e interpretaram um excerto do Requiem, de Giuseppe Verdi.
Enorme dignidade na homenagem a Deus, nesta Sexta-feira Santa.

Antonio Graça de Abreu

PS - Meu caro Luís: Agradeço-te, por todos os deuses, que ponhas estas duas fotos junto ao texto que escrevi esta sexta-feira santa. Talvez porque me emocionei. Há mais de um mês, sobre mil oceanos e mares, tocando terra ao de leve, temos a ameaça da morte à nossa volta.


[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

# Tradução livre:

Graça maravilhosa: 

(...) Por muitos perigos, duros trabalhos e armadilhas 
Nós já passámos. 
Foi a graça de Deus que nos trouxe sãos e salvos até agora. 
E a graça de Deus  nos levará para casa, 
E a graça de Deus nos levará para casa. (...)

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20852: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (8): 11 de abril de 2020, a caminho do Mar Vermelho e, a seguir, do "Mare Nostrum", o Mediterrâneo...


MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação,   a caminho do Mar Vermelho e do "Mare Nostrum", o Mediterrâneo. >  11 de abril de 2020 >

Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016. Vai a bordo do MSC -Magnífica, que teve de apressar o seu regresso ao ponto de partida, devido à pandemia de COVID-19. Está a escrever o seu diário de bordo, desde 23 de janeiro de 2020, disponível na sua página do Facebook. A ele junta-se o António Graça de Abreu, que também, está a escrever o seu diário de bordo...


Excertos do diário de bordo de Constantino Ferreira

Sábado, 11 de abril de 2020, 11h27

Ontem, Sexta-feira Santa, todo o navio, passageiros e tripulantes, cumpriram 1 Minuto de silêncio, em memória das vítimas no Mundo, da Covid-19.

Eram 14 Horas locais, ainda estávamos á mesa do almoço. O silêncio foi total, ninguém se mexia, apenas o navio
NAVEGAVA !

Depois, pelas 15 horas, no Royal Theatre, tempos de reflexão, com leituras e representação do Julgamento de Jesus da Nazaré, frente a Pilatos e Sacerdotes Judeus. De que resultou a sua morte cruel por crucificação, por equívoco do “povo” e, desleixo de Pilatos.

As intervenções foram feitas voluntariamente em todas as línguas. Terminou com um concerto dirigido pelo nosso Maestro Manfrini, que toda a assistência aplaudiu de pé, em silêncio!

Hoje, Sábado de Páscoa, navegamos no fim do Golfo de Áden, já com vista de terra a Bombordo e a Estibordo, que aqui coloco fotos respectivamente, as duas primeiras fotografias que acabei agora mesmo de tirar !

Mais à frente, a bombordo, iremos ver Djibuti, onde está a Base Naval Francesa, que se ofereceu para nos receber e, reabastecer, caso fosse necessário!

Depois, será navegar Mar Vermelho acima ,..... até à Cidade de Suez, onde entraremos no Canal, para chegarmos ao “Mare Nostrum”! ...Até lá !!!


Excertos do diário de bordo do António Graça de Abreu 


Excerto enviado pelo António Graça de Abreu, com data de 10/4/2020, 19h02
[ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue; temos recebido as suas mensagens por correio eletrónico]


Taiti, Polinésia Francesa, 27 de Fevereito de 2020

Ontem, no regresso da ilha de Morea, ainda tivemos tempo para um extenso passeio a pé por Papeete, a cidadezinha capital de Tahiti. De criação recente, só em 1817,  Papeete passou a sede do muito limitado poder britânico sobre uma ilha que entãoo os ingleses disputavam com a Françaa.

Foram os franceses, com tropas mais numerosas, quem conseguiu impor o seu protectorado a Taiti, de 1842 até hoje.A ilha tem 185 mil habitantes, a capital conta com 30 mil pessoas, predominantemente polinésios, gente simpática e educada, alguma dela diz com orgulho que frequentou universidades, em Françaa. 

Papeete é uma cidade limpa e organizada, com um mercado central onde rivalizam as cores das flores, da roupa e da comida. Em Taiti, as mulheres costumam colocar uma flor nos cabelos, presa, ou por cima da orelha esquerda ou da orelha direita. A flor na cabeça, a direita, significa que a mulher ja é casada ou comprometida, a flor, à esquerda, corresponde a uma donzela, ou senhora, livre de compromissos, aberta a qualquer tentativa de namoro. 

Quando me contaram esta história, não acreditei nas flores de esquerda e de direita, mas bastou vir para as ruas de Tahiti para comprovar que nesta formosa ilha, esquerda e direita, em flor, são duas opções indiscutíveis . Era bom que fosse assim em todo o mundo.

Em Pappete há jardins impecavelmente tratados suspensos sobre o porto de onde se parte em velozes catamarãs para outras ilhas, outras aventuras. Disseram-me que 9% da população é de etnia chinesa, detentora de grande poder económico. Os filhos do Império do Meio são resultado da emigração massiva, a partir de meados do século XIX, quando milhões e milhõees de chineses fugiram do centro e sul da China durante a tremenda rebelião do Reino Celestial dos Taiping que se prolongou de 1850 a 1864 e tera provocado cinquenta milhões de mortos. Deixando para trás a guerra, registou-se o maior êxodo de sempre de chineses que pocuraram trabalho e paz nas ilhas do sudeste asiático, Malasia, Singapura, Tailândia, nas ilhas mais distante do Pacífico e até no Peru e em Cuba. 

Em Havana, o consul de Portugal, um senhor chamado Eca de Queiros, haveria de defender e ajudar milhares de chineses que chegavam a Cuba com documentos de emigração passados em Macau e que sofriam as prepotências e impiedosa exploração dos fazendeiros e autoridades espanholas. Os culies chineses substituiam os escravos negros nas grandes plantações de cana-do-acúcar. Mas isso são outros continentes e outras histórias.

As praias de Taiti, em cenário natural de grande beleza, contam quase sempre com tapetes de areia negra. Estive em Point Venus, com um antigo farol e uma perfeita baía onde os primeiros europeus desembarcaram, em 1767, e só não fui ao banho na belíssima praia de areia preta, porque estava alinhado na excursão do navio, com tempo muito limitado. Foi nesta baía que a Bounty, com o capitão William Bligh, chegou em 1789 e os seus marinheiros. Logo depois, como ja vimos, ficaram fascinados com os encantos de Taiti.

A ilha tem uma superficie de 1.042 km 2, um pouco maior do que a nossa Madeira, e como não podia deixar de ser também a circundei, no autocarro público, com paragem em Taravao. Foi no segundo dia de estadia em Tahiti e, como o navio partia as 19 horas, tivemos de programar o dia quase ao minuto. 

A vila de Taravao, a mais importante do sul da ilha e a entrada para a península de Tahiti Iti, ou seja a "pequena Taiti", com mais baias, enseadas, lagunas e praias de areia branca que só visitarei numa proxima reencarnação quando aproveitar um fim de semana para descer do c+eu e nadar num mar esmeralda e me por a tostar ao sol deste paraíso na Terra.

Perto de Taravao, na aldeia de Mataiea, fica o Museu Paulo Gaugin, perto da última casa onde o pintor viveu em Taiti, ante do seu exilio definitivo e morte em Hiva Oa, nas ilhas Marquesas. Por aqui pintou Gaugin algumas das suas obras primas, como as lânguidas mulheres polinésias que soube, ou não soube amar. 

O museu está fechado desde 2013 "para obras". Paulo Gaugin, aos cinquenta e muitos anos, manteve relacionamentos sexuais e tomou por companheiras raparigas polinésias com quinze ou dezasseis anos de idade, e não deixou de as retratar em quadros plenos de sensualidade. Será por isso que o "politicamente correcto" mandou fechar o Museu Gaugin, em Taiti e procedeu a uma limpeza do seu nome em todos os folhetos turísticos que promovem a ilha. 

Eu entendo. Contudo, Paulo Gaugin deixa a todos nós um legado mágico, intemporal e louco, é um dos grandes mestres da pintura universal. Basta olhar os seus quadros sobre Taiti, esfuziantes de cor, alegria e tristeza, basta beber os seus verdes intensos das folhas das palmeiras, os azuis acariciando o ondular do mar, os amarelos aquecidos pelo grito do por-do-sol. O seu amigo Van Gogh, logo após uma zanga com Gaugin na casa de Arles, no sul de França, decidiu cortar uma orelha, embrulhá-la em papel de jornal e ir entrega-la num bordel que ambos tinham frequentado, na pequena cidade francesa. Os homens e mulheres de excepção não tem juizo, entenda-os cada um como muito bem achar.

Em Taravao fui a um grande supermercado impecavelmente abastecido. Dizem-me que o salário minimo em Taiti ronda os 1.250 dólares, que o ordenado medio é de 2.250 dolares, O nivel de vida eéelevado, superior ao de Portugal, creio, o que acontecerá também em algumas outras ilhas do Pacífico.
Os preços também me pareceram caros. Comprei sabonetes e óleos corporais fabricados com óleo de coco e com monoi , uma mistura de tiaras, flores raras existentes em Taiti. Numa loja do supermercado descobri uma t-shirt muito bonita,, preta, estampada com o pequeno desenho de uma beldade tahitiana, de corpo inteiro, sentada de lado, com uma flor no cabelo, ataviada com um pequeno vestido vermelho que lhe modelava o corpo. Tinha escrito Hinano e 1955. Hinano parecia-me ser o nome de uma das ilhas da Polinésia Francesa e 1955 deveria ser o ano em que essa ilha se autonomizou, em relação ao poder politico francês. Comprei-a por sete ou oito euros. 

De regresso ao navio, consultei a pequena brochura que trouxe de Papeete e lá encontrei a figura da elegante tahitiana da minha t-shirt, e a explicaça: " The brand of Hinano beer, sold since 1955 by the Brasserie of Tahiti, has become a real institution present everywhere in Polinesya. Recognized by its famous logo, a sitting vahine ( jovem mulher em polinesio) often brought as a souvenir by tourists."

Antonio Graca de Abreu



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação, oceano Pacífico  >  Fevereiro de 2020 > Um "recuerdo" do Taiti

Foto (e legenda): © A ntónio Graça de Abreu (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]