terça-feira, 21 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20883: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (12): os sítios que ficaram por visitar...



Petra, Jordânia, s/d, dezembro de 2016 > "A saída em Aqaba, com a estrada de 110 quilómetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo" .(*)

Foto (e legendas): © António Graça de Abreu (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Três camaradas da Guiné, a bordo do MSC - Magnifica:
da esquerda, para a direita, António Graça de Abreu, José Vinhas
e Constantino Ferreira. Já convidámos o Vinhas a integrar a
nossa Tabanca Grande...
Foto: Constantino  Ferreira (2020)
1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19. O navio chegou ontem, com um "avanço" de uma semnana: era pressuposro só chegar ao ponto de partida em 29 deste mês, depois de repetir o percurso de circum-navegação do grande Fernão de Magalhães, um português de Sabrosa que ofereceu os seus serviços ao rei de Espanha...


Com a devida vénia, reproduzimos aqui a última crónica do António Graça de Abreum, disponível na página do Facebook 
do Constantino Ferreira:



2. Estes são os textos a intercalar nos outros textos (**), nestas datas, sobre os locais que não visitámos.


Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico,
20 de Março de 2020




Esta manhã, não fora o pavor causado pelo vírus que se aproxima de nós, toca, entranha e mata, estaríamos a desembarcar na ilha de Pins, na Melanésia Francesa. 

Fui ver as imagens na net. A ilha, linda de morrer, não de pandemia, mas de felicidade.




Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico, 

21 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o desespero causado pelo virus, etc., estaríamos em Numea, capital da Nova Caledónia. Enseadas, penínsulas e praias, recifes de coral, vegetação exuberante, histórias. 

Nao vi nada, não posso contar nada.



Em navegação, Sul da Austrália, Oceano Pacifico,

24 de Marco de 2020



Esta manhã, nao fora o medo causado pelo virus, etc., estaríamos em Cairns, Austráalia, diante da Grande Barreira de Coral, uma das maravilhas do mundo. Haveria mares esmeralda, jardins aquaticos, peixes tropicais, corais em catadupas, mais uma cidade de entusiasmantes lugares a oferecer ao turista de passagem. Tudo, uma miragem.


Em Navegação, Australia Ocidental, 

mar de Fermantle, Oceano Indico, 

26 de Marco de 2020


Esta manhã, não fora o pasmo causado pelo vírus, etc., estaríamos em Alotau, Papua, Nova Guiné, uma pequena ilha com areais mágicos e vegetação exuberante, onde aconteceram sangrentas batalhas entre japoneses e norte-americanos, na II Guerra Mundial. 

Deu para ver imagens de Alotau, no monitor do computador, fechado no remanso triste do navio.



Em navegação, Australia Ocidental,

mar de Fermantle, Oceano Indico,

29 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o sufoco causado pelo vírus, etc., estaríamos em Doini Island, Papua, Nova Guine, outra ilha de cortar a respiração a gente saudável, espaços maravilha, com praias de cair para o lado, ou seja, cair para dentro das lagunas de água tépida e nadar como um principe. 

Nem sequer em sonhos consegui entrever a ilha de Doini.




Em navegação, Oceano Indico,

31 de Marco de 2020

Esta manhã, nao fora o sofrimento causado pelo vírus, estaríamos na cidade de Darwin, a ver enormes crocodilos do mar passeando pelas avenidas, a lembrar que as ainda nossas aparentadas gentes de Timor vivem aqui ao lado. 

Não vi Darwin, nem Timor. Só vi mar e mais mar, céu sobre mais céu, mais nada.




Em navegação, Oceano Indico,

2 de Abril de 2020



Esta manhã, nao fora o horror causado pelo vírus, etc., estaríamos a pôr o pé na ilha de Komodo, famosa pelos seus dragões, uns enormes repteis molengões, creio que inofensivos para os homens que se passeiam por tudo quanto é sítio, na ilha. 

Gostava de ter feito uma festa (pode-se?) aos simpáticos e repelentes animais, mas o Magnifica navega já por outros mares, a mais de dois mil quilómetros da Indonésia.




Em navegação, Oceano Indico, 

4 de Abril de 2020


Esta manhã, não fora a catástrofe causada pelo vírus, etc., estaríamos no segundo dia de estada em Bali, aquele lugar excelente a que os portugueses chamaram ilha das Flores, com praias de cristal, bailadeiras formosas, uma profusão de exotismos, enfim, uma Indonésia doce à nossa espera. 

Eu é que continuo a esperar sentado pelo dia de pôr o pé em Bali.




Em navegação, Oceano Indico,

5 de Abril de 2020

Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo virus, etc., e estaríamos a desembarcar em Singapura. 

Estive lána outra Volta ao Mundo, por isso, desta vez, seria o revisitar da fantástica cidade e a ida aos dois museus que ficaram por conhecer na outra viagem, o Museu das Civilizações Asiáticas, o Louvre da Asia. 


Nenhum cheiro de Singapura me chegou trazido pela brisa maritima.





Em navegação, Oceano Indico, 

8 de Abril de 2020

Capa do famoso livro de aventuras
"Sandokan,. o tigre da Malásia",
um livro que povoa a nossa infância...
Cortesia de Wook.

Esta manhã, não fora a angústia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Port Kelang, o porto que serve Kuala Lumpur. Tinha possibilidade de ir dar um abraço ao Sandokan, o Tigre da Malásia, meu amigo desde os meus doze ou treze anos. Trago de Italia, para lhe entregar, uma carta escrita por outro bom amigo dele, o Emilio Salgari, mas informaram-me que, por causa do vírus, o Sandokan se refugiou no seu reduto, a ilha de Mompracem, e passa os dias aconchegando-se nos bracos da sua dulcissima Mariana. Precisava de um helicópetro para ir ao seu encontro mas, no navio, só há botes salva-vidas.

Ficaram por beber uns valentes copázios de chá da Escocia, o velhissimo whisky que Sandokan costuma reservar para dias especiais com os seus melhores amigos.



Em navegação, mar Vermelho,

12 de Abril de 2020


Esta manhã, nao fora a desgraçaa causadas pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Colombo, Sri Lanka. Deja vue, há uns anos atrás, a cidade não me impressionou. Tem crescido bastante, com arranha-céus construidos com capitais chineses. Acabei por ter pena de não a ter revisitado. 


Quem me garante que, desta vez, não iria encontrar elefantes a passear em jardins floridos ou macacos a viajar em tuk tuks coloridos?


Em navegação, Canal do Suez, 

15 de Abril de 2020



Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Bombaim, ou Mumbai, a maior cidade da India, com 23 milhões de habitantes. 


Como pude comprovar em 2016, Bombaim tem gente a mais, confusão a mais, lixo a mais. A India costuma ser um país que se ama ou se detesta. Eu não sou por uma coisa, nem por outra. Por isso é melhor não emitir opinião sobre terras que mal conheço.



Em navegação, mar Mediterrâneo,

19 de Abril de 2020


Amanhã chegamos a Marselha e cumpriremos a Volta ao Mundo, toda a circum-navegação do globo. Vimos com dez dias de avanço em relação à data prevista para a conclusão da viagem que aconteceria em Civitavecchia, Itália, a 29 de Abril.

Por causa de pecados que não cometemos, acabamos por não tocar em ene portos e viemos fechados no Magnifica, sem pôr pé em terra, desde Wellington, Nova Zelândia, de onde partimos no dia 10 de Março. 


Vamos cumprir um mês e vinte e um dias de viagem directa, desde a Nova Zelândia até Françaa, cerca de 16 mil quilómetros, É obra! Poucos navios se dão a estes luxos.

Nos dias finais da longa jornada, passaram-nos ao lado mais duas escalas que faziam parte do itinerário inicial, Salalah, no sultanato de Oman e Aqaba, Jordânia, que da acesso à fabulosa cidade fantasma de Petra, outra das sete maravilhas do mundo. 


Ai vão umas tantas palavras sobre estes dois lugares que tive a felicidade de conhecer em outras viagens:

No que a Salalah diz respeito, a sua não visita não tera sido uma grande perda. Em 2016 o sultanato de Oman não me entusiasmou. Salalah tem um grande porto para exportação de gás natural, uma montanha escalavrada no topo da qual se encontra o túmulo do profeta Job, do Antigo Testamento, reverenciado por cristãos, judeus e muçulmanos, mais uma cidadezinha desinteressante apesar do palácio do sultão, tem praias desérticas e o deserto a tudo rodear. Salalah sera lugar para desdobrar o olhar, pouco entender e seguir viagem.

Já a saída em Aqaba, com a estrada de 110 quiloéetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo. 


Estive em Petra em 2008 e 2016, com passagem pelo deserto de Wadi Rum. Na primeira viagem encontrei o Lawrence da Arábia, aliás Sir Thomas Edward Lawrence, inglês de extracção, árabe de coração, que me serviu de guia na cidade rósea de Petra e depois, com uns amigos árabes, bebemos um chá no deserto de Wadi Rum.

Desta vez, 2020, nem cicerone, nem magias, Foi Mar Vermelho, mais Mar Vermelho, sempre em frente, para norte. Tinhamos à nossa espera um ansioso mar Mediterrâneo.


António Graça de Abreu

________________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 24 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19042: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIX: Petra, Jordânia, com o Lawrence da Arábia como cicerone, e o Indiana Jones como guarda-costas...


(**) Último poste da série > 20 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20881: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (11): Enfim, Marselha, porto de abrigo, fim de um cruzeiro de sonho no "annus horribilis" de 2020

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
antonio graça de abreu disse...

O Neruda (estive recentemente em casa dele no Chile) ,merece entrar no blogue.

Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee,
quien no oye musica,
quien no halla encanto en si mismo.

Pablo Neruda, Canto General, 1956


Anónimo disse...

E...quem näo comenta!

Abraco do J.Belo