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sexta-feira, 11 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26678: Notas de leitura (1788): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Escapara-me a leitura do segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira, referente precisamente à sua segunda comissão na Guiné, passou-a maioritariamente em Aldeia Formosa, emboscou com bastante sucesso os corredores de abastecimento do PAIGC na região, caso do chamado corredor de Missirã; é o relato de memórias para a qual o falecido coronel convocou amigos, como o major-general Pedro Pezarat Correia, a deporem sobre a vida e a atividade operacional na região e os laços de camaradagem, há depoimentos tocantes. Constata-se que o malogrado coronel guarda a amargura de não ter sido condecorado com a Torre e Espada, atendendo ao acervo de condecorações e louvores, considero uma anomalia o despacho do Conselho Superior de Justiça e Disciplina ter decidido que não era oportuno por extemporânea, e reflete amargamente o corporativismo nas Forças Armadas, era o que faltava um miliciano com a mais alta condecoração das Forças Armadas.

Um abraço do
Mário



Memórias do Quebo, da CCAÇ 18, o testemunho de amigos (1)

Mário Beja Santos

"Quebo, Nos confins da Guiné", Palimage (palimage@palimage.pt), 2014, é o segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) que fez duas comissões na Guiné. A primeira deu origem a uma obra de consulta obrigatória para quem estuda a literatura da guerra colonial, "Rumo a Fulacunda", Palimage, 2000; a segunda é Quebo que nos leva à sua segunda comissão, é já capitão e comanda uma companhia de tropa guineense, a CCAÇ 18. 

Começa por justificar as razões que o levaram, já na disponibilidade, em dezembro de 1967, e tendo regressado a Sá da Bandeira, onde pensa que iria encontrar readaptação, veio a descobrir que não era numa Repartição de Fazenda Pública que sonhava viver, e decidiu então regressar à vida militar. Na primeira comissão recebera a condecoração da Cruz de Guerra de 1.ª Classe, descobrira o sentido da liderança e a vocação para comandar homens.

O autor pediu ao Major-general Pedro Pezarat Correia que abordasse o contexto da sua comissão passada sobretudo em Aldeia Formosa. Antes, porém, conta-nos que chegou ao CIM em Bolama para a formação da CCAÇ 18, e cabe a Pezarat Correia falar-nos do BCAÇ 2892 e o Setor S-2, no Sul da Guiné. 

Este batalhão estacionava em Aldeia Formosa, em Nhala e em Buba, reforçado com mais três companhias operacionais que já se encontravam no Setor sob o comando do COP 4; o batalhão passou também a contar com o apoio de várias subunidades. Tinha sob controle operacional o Destacamento dos Fuzileiros Especiais 3, sediado em Buba, duas companhias de milícias em Empada e Mampatá, e um grupo de caçadores nativos.

O batalhão assumiu a responsabilidade operacional em novembro de 1969, assumia quatro tarefas prioritárias:

  •  proteção aos trabalhos de construção na pista de aterragem em Aldeia Formosa (concluída em março de 1970);
  •  contrapenetração nos eixos usados pelo PAIGC para reabastecer e rodar efetivos das suas bases no interior em Injassane (norte do Rio Grande de Buba) e em Xitole; 
  • controlo da região de Contabane, fronteiriça com a República da Guiné; condução da Ação Psicossocial.

 Na prática, e de acordo com a Ideia de Manobra, havia que proceder a ações de contrapenetração em corredores que constituíam os principais eixos de abastecimento do PAIGC para o interior sul, proceder a uma constante nomadização e emboscadas nas imediações das zonas mais favoráveis aos grupos do PAIGC para instalação de base de fogos para flagelações. F

Foi neste ambiente geográfico, humano e operacional que, em janeiro de 1971, se integrou a CCAÇ 18, acabada de formar, e comandada pelo capitão Rui Alexandrino, veio render a CART 2521.

A CCAÇ 18 era constituída por Fulas, parte deles oriundos da região do Quebo, tinham experiência operacional, haviam pertencido a pelotões de milícias e caçadores nativos. Mal chegados a Quebo, e no período de sobreposição, atuaram no corredor de Missirá, foi uma estreia com emboscada, desbarataram a coluna do PAIGC, Rui Alexandrino reorganizou as suas tropas e transferiu a emboscada para outro local, uma hora mais tarde novo contacto, causou baixas e capturou armamento.

 Depois o BCAÇ 2892 foi rendido pelo BCAÇ 3852, a CCAÇ 18 continuou a reforçar o novo batalhão, com bons resultados em novos contactos no corredor de Missirá.

 Ao terminar a sua comissão, em finais de 1972, Rui Alexandrino foi condecorado com uma Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

Voltemos à narrativa pessoal do autor, como ele foi encontrar a Guiné após dois anos de ausência. Ele descreve a personalidade de Spínola e o que procurou fazer não só no campo militar como no desenvolvimento socioeconómico da região. 

Antes de ir para Bolama, Rui Alexandrino esteve no Pelundo, conta as suas memórias, conta-nos como viveu a formação da CCAÇ 18 em Bolama e depois a sua adaptação ao Quebo, a originalidade de ele e os seus oficiais e sargentos viverem em instalações na tabanca, lá foram arranjando comodidades, a ponto do seu quarto se ter transformado em ponto turístico da Aldeia Formosa.

 Faz um esquiço dos cuidados que a contrapenetração impunha, a dureza da atividade operacional de estar para ali horas camuflados, não fazer barulho, não tossir, não mexer, não espreguiçar e sobretudo não perder a concentração, além de ser imperativo não fazer modificações no ambiente que pudessem indiciar a existência de emboscada, e o autor aproveita para contar algumas peripécias e juntar alguns depoimentos de ex-camaradas.

Depõe como observador sobre os usos e costumes dos Fulas, a impressão que lhe provocava a maneira indigna como as mulheres eram tratadas, tece as suas lembranças sobre os militares metropolitanos e, inevitavelmente, vem exprimir a sua gratidão pelo seu guarda-costas, Ieró Embaló, feito prisioneiro depois da independência, passou onze anos nas masmorras, depois de muitas peripécias veio até Portugal, foi uma verdadeira odisseia vir a ser aceite os seus direitos de ser português, faleceu súbita e inesperadamente, e conta sumariamente a sua história:

“Raptado ainda muito novo, foi levado à força para a Guiné-Conacri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC. Tendo sido colocado numa base operacional do partido, mesmo junto à nossa fronteira, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas. 

Tinha um conhecimento profundo quer das formas de atuar do inimigo quer da tropa portuguesa. Era de um espantoso espírito de observação e de uma imensa capacidade de adaptação. Uma inteligência superior à média, tal como muitos Fulas, falava fluentemente o português, o fula e o crioulo, e igualmente o francês. Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas normas e preceitos do seu Deus.”

Rui Alexandrino recorda os atos de bravura do seu guarda-costas.

Entram agora na conversa dois coronéis, Gertrudes da Silva e Vasco Lourenço, falar-se-á do coronel Agostinho Ferreira, comandante em Aldeia Formosa, o autor deixa a sua lembrança sobre o fim da comissão do BCAÇ 2892, a chegada do BCAÇ 3852, veio de férias, regressou à guerra, temos de seguida o depoimento de outro capitão de Aldeia Formosa, Horácio Malheiro, e uma noite de horrores de conflito entre tropa metropolitana e gente da CCAÇ 18, haverá vítimas inocentes, como se contará a seguir.

Estamos perante o caderno de memórias, o autor aproveita a oportunidade para se ressarcir de imprecisões existentes no seu primeiro livro, revela poesia dedicada às filhas e convoca um bom punhado de antigos camaradas para relembrar acontecimentos vividos nesta segunda comissão.


Aldeia Formosa, 1973. Fotografia de José Mota Veiga já publicada no nosso blogue

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 7 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26661: Notas de leitura (1787): Libelo acusatório sobre o colonialismo, como não se escreveu outro, no livro "Discurso Sobre o Colonialismo", por Aimé Césaire, editado em 1955 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26513: Imagens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte III: A CART 3494 no Xime para render a CART 2715


Foto nº 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 >  O fur mil António Bonito, do 2.º Gr Comb da CART 3494, preparado para a Op Desfle Festivo (14/15 de março de 1972)

Foto (e legenda): © Luciano Jesus (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime, Mansambo e Xitole,  localidades onde ficaram estacionadas as subunidades do BART 3873, respectivamente CART 3494, CART 3493 e CART 3492 (infografia acima).

Acrescentaram-se as subunidades do BCAÇ 3872:  CCAÇ 3489, em Cancolim; CCAÇ 3490, no Saltinho  e CCAÇ 3491, em Dulombi.


Infografia: Jorge Araújo (2025)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime, Vista do cais do Xime situado na margem esquerda do rio Geba onde a CART 3494 se aquartelou assegurando o apoio à população da Tabanca (com o mesmo nome) e executando todas as missões que lhe foram atribuídas.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 >  “Porta d’Armas” do aquartelamento do Xime – entrada norte junto ao Cais seguindo a picada da imagem acima. O Jorge Araújo em março de 1972 (portanto há 53 anos).


Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



IMAGENS DAS NOSSAS VIDAS NA GUINÉ (1971-1974) - PARTE III

A CART 3494 NO XIME PARA RENDER A CART 2715




► Continuação do P24326 (II) (19.05.2023) (*)

1 – INTRODUÇÃO

Após um interregno superior a um ano, motivado por questões de saúde relacionadas com distúrbios na visão, que me levaram ao bloco operatório, retomamos a série "Imagens das nossas vidas na Guiné (1971-1974)” (*), com recurso ao álbum do meu/nosso camarada Luciano de Jesus, fur mil da CART 3494, organizado ao longo dos mais de vinte e sete meses da sua permanência no CTIG, e que fez questão de me oferecer uma cópia, para partilha no blogue.

Com estas imagens carregadas de demasiadas histórias e de outras tantas emoções e sentimentos, onde todas/todos se situam a uma distância temporal superior a meio-século, procura-se também recuperar a história da nossa vida militar, enquanto milicianos, contribuindo deste modo para uma crescente evolução do puzzle de memórias da nossa juventude na guerra da Guiné (1971-1974).

Na Parte I (P24191 - 3.4.2023), “Em Bolama para o I.A.O.”, historiamos o itinerário náutico desde Lisboa a Bissau e, depois, a estadia na Ilha de Bolama, para, no C.I.M., se concluir o processo de instrução global para a “guerra de guerrilha”, denominado de I.A.O.

Na Parte II (P24326 - 19.5.2023), “De Bolama ao Cais do Xime em LDG”, divulgamos o contexto relativo à viagem efectuada a bordo de uma LDG, em 27 de Janeiro de 1972, 5.ª feira, desde Bolama até ao Xime, local reservado à CART 3494 para cumprir a sua missão ultramarina.

Nesta viagem de “Cruzeiro no Geba ” - a primeira, pois outras haveriam de ser feitas ao longo da comissão - para além do contingente da CART 3494, seguiam as restantes unidades de quadricula do BART 3873, comandado pelo Cor Art António Tiago Martins (1919-1992), cuja CCS e Comando tinham como destino Bambadinca (a sede), a CART 3492, o Xitole, e a CART 3493, Mansambo (ver infografia acima).

Tendo por objectivo geral efectuar a sobreposição e render
 a CART 2715, do BART 2917, em final de período operacional visando o seu regresso à Metrópole, foram realizadas diferentes actividades até 15 de Março de 1972, delas fazendo parte algumas operações.

2 – PRINCIPAIS ACTIVIDADES OPERACIONAIS NA SOBREPOSIÇÃO
(Mata do Fiofioli)


► -Operação «Periquito Raivoso» = em 10 e 11fev72

● Forças da CART 3492 e CART 2716, com patrulhamento às áreas de Satecuta e Galo-Corubal.

● Forças da CART 3494 e CART 2715, com patrulhamento á Ponta do Inglês - Ponta Varela - Poidon. O 1.º Agrupamento (E, F) destruiu 16 palhotas e apreendeu 1 granada de RPG; o 2.º Agrupamento (A, B) sofreu uma flagelação da margem esquerda do Rio Buruntuma sem consequências e capturou 1 granada de RPG. Nas zonas do Rio Bissari e Rio Samba Uriel, forças da CART 3493 formam o 3.º Agrupamento (C, D). Em Bambadinca, 1 Avioneta DO, armada, assegurava o apoio aéreo.

► Operação «Trampolim Mágico", de 24 a 26fev72

● Forças da CART 3492, com 4 Gr Comb reforçada com 1 Gr Comb da CCAÇ 3489 e outro da CCAÇ 3490, integrando o agrupamento «Laranja»; 4 Gr Comb da CART 3493 reforçada por 2 Gr Comb da CCAÇ 3491, integrando o agrupamento «Castanho», desembarcaram conjuntamente na presença de Sua Excelência o Governador e Comandante-Chefe, após batimento de zona pela Artilharia da LDG e da FAP.

● Paralelamente aqueles agrupamentos atravessam as regiões da Ponta Luís Dias e Tabacuta. Actuaram em apoio, o agrupamento «Azul» (CART 3494 mais 2 Gr Comb da CCAÇ 12), agrupamento «Amarelo» (GEMIL’s 309 e 310); agrupamento «Preto» (CCAÇ 3490); agrupamento «Verde» (CCP 123); 1 parelha de FIAT’s de BISSAU, 1 parelha de T-6, 2 Helicópteros e 1 Heli-Canhão (Bambadinca).

● Foram recolhidos 32 elementos da população, aprendida documentação e material de secundária importância e destruídas várias tabancas. As NT sofreram 10 evacuados por cansaço, insolação e desidratação.

Sobre a Op Trampolim Mágico, ver:












Mata do Fiofioli >1972 > Zona de mato denso onde estavam diversas palhotas que serviam de refúgio a elementos do PAIGC e população que os apoiava e que foram destruídas pela nossa passagem. (Foto de Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi, 1971/74 (imagem repetida no P16396


► Operação «Desfile Festivo» em 14 e 15MAR72

● Executada por 3 Gr Comb da CCAÇ 12; 1 Gr Comb da CART 3494; 1 Gr Comb (+) da CART 2715; 1 Gr Comb da CART 3493; PEL CAÇ NAT 52 (-); Pel Caç Nat  54; GEMIL 309 e 310; PEel Mil  241, 242, 243, nas regiões de Bambadinca, Mato Cão, Enxalé, Xime, Ponta Coli e Mansambo.


Foto nº 1(  à direita ) >  O fur mil António Bonito, do 2.º Gr Comb da CART 3494, preparado (?) para a Op Desfle Festivo.



3 – EM 14.MAR.72 - RENDIÇÃO DA CART 2715 PELA CART 3494



Concluído o processo de sobreposição e substituição da CART 2715, a CART 3494 assumiu na plenitude o controlo do subsector do Xime, desenvolvendo a actividade operacional integrada no dispositivo e manobra do BART 3873, sediado em Bambadinca, através da realização de operações, patrulhamentos, emboscadas, protecção e segurança do itinerário rodoviário Xime-Bambadinca-Xime, bem como garantir a total protecção das populações mais próximas, incluindo a assistência médica (enfermagem) e a redução da iliteracia dos jovens.

4– DESTACAMENTO DO ENXALÉ – 2.º Grupo de Combate


De acordo com a responsabilidade operacional do seu subsector, foi nomeado um Gr Comb para o Destacamento do Enxalé, situado na margem direita do Rio Geba, em frente ao Xime. Essa decisão recaiu no 2.º Gr Comb, comandado pelo alf José Henrique Fernandes Araújo (?-2012), de Arco de Valdevez, e dos furriéis: Luciano de Jesus, de Cascais; António Bonito, da Carapinheira  e Benjamim Dias, do Porto.





Foto 1 - Março de 1972 > Quarteto de comando do 2.º Gr Comb da CART 3494. Da esquerda para a direita:  fur Luciano de Jesus; alf José Araújo; fur Benjamim Dias e fur António Bonito.



FOTOGALERIA DO ENXALÉ - 1972


Em função dos objectivos desta série, foram seleccionadas as primeiras oito imagens do álbum do camarada Luciano de Jesus:



Foto 2 – Principal edifício do Enxalé e instalação das transmissões.



Foto 3 – Mulheres da população pilando o arroz.


Foto 4 – Parque auto a céu aberto


Foto 5 – Jipe de serviço.



Foto 6 – Espaldar da bazuca, vala de segurança e instalações de pernoita.



Foto 7 – Parede de bidões de protecção das habitações (neste caso a da enfermaria).



Foto 8 – Parede de bidões de protecção das habitações (exemplo).


Fotos (e legendas): © Luciano Jesus (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Continua)

Terminamos agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo e Luciano de Jesus

31Jan2025

___________

Nota do editor:

Vd. poste anterior > 3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24191 Imgens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte I: De Lisboa a Bolama

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26312: Convívios (1011): 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74), em Mora, no passado dia 25 de maio (António Duarte)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Bolo comemorativo dos 52 anos do regresso dos graduados de especialistas a segunda geração (1971/72)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Em primeiro plano, de perfil, o ex-alf mil  at inf, José Sobral (hoje médico, vivendo em Coimbra), a cantar com o resto do pessoal  o hino da CCAÇ 12,  atuação  que termina com um bom manguito à moda do Bordalo, o genial criador do Zé Povinho.


No vídeo abaixo pode ver-se um grupo de "coralistas", entoando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que o visado seria o 2º comandante do BART 2917 (o então major art Anjos de Carvalho, conhecido na "caserna" como o "alma negra"; militarista, parecia estar ali deslocado na "Spinolândia"; gostava de comandar operações "by air", ou seja, através do PCV - Posto de Comando Volante, em DO-27; por sorte, acabou a comissão antes do aparecimentos dos Strela nos céus da Guiné)




Mora > Fluviário > 25 de maio de 2024 > 51º almoço-convívio  da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > O hino da CCAÇ 12. (**)

Fotos e vídeo  (e legendas): © António Duarte (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Duarte, um histórico do nosso blogue para o qual entrou em 18/2/2006 (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1971/74; formou-se em economia; ex-quadro bancário; vive em Paço d'Arcos, Oeiras):

Data - 24/12/2024, 13:23

Assunto - 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (*)

Boa tarde,  Luís

Segue esta gracinha do último convívio feito, da nossa CCAÇ 12,  com gentes da segunda geração e eu da terceira (Bambadinca e Xime, 1971/74).(**)

Foi no passado dia 25 de maio, em Mora, organizado pelo Vitor Marques, Juntaram-se ainda dois ex-furriéis mil do Pelotão de Artilharía, de 10,5 cm, que coexistiram com a CCAÇ 12 no Xime no ano de 1973.

Grande Abraço para ti e restantes camaradas,
António Duarte

Cart 3493 e Ccaç 12 (de dez 71 a jan 74)


_______________

Notas do editor:

(**) Vd. postes de:


31 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

30 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...

domingo, 8 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26245: Os felupes que eu conheci (2): O Dudu veio para Portugal, obteve a nacionalidade portuguesa, era DFA, vivia em Torres Vedras (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)


Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012 (foto à direita);

1. Comentário de Eduardo Estrela ao poste P26238 (*)



O nosso querido amigo Carlos Fortunato talvez não saiba mas o Dudu veio para Portugal, ou na sequência dos ferimentos recebidos em combate e/ou após a sua recuperação. Tinha uma placa metálica a reforçar a zona craniana a qual lhe alterava ligeiramente a face.

Tive o privilégio de privar com ele e o Ampanoa na Guiné pois foram connosco,  Ccaç 14, para a zona operacional de Cuntima. Posteriormente foram para o chão Felipe. 

Com o Dudu, que vivia na zona de Torres Vedras, ainda estive em vários almoços.

Conseguiu a nacionalidade portuguesa e tinha uma pensão de pouco mais de mil euros resultante das sequelas que transportava.
Eram muito boa gente.


(ii) Luís Graça:
 

Eduardo, é caso para dizer... o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande!
 
Pois é, Eduardo, já me esquecia que vocês, CCAÇ 2592  (eu, CCAÇ 2590, o Carlos, CCAÇ 2591 e tu, CCÇ 2592, e mais 1700 e tal somos no T/T Niassa para a Guiné em 24/5/1969), tinham pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe (a que pertenciam o Dudu e o Ampanoa).

A 2ª fase da instrução de formação foi no CIM de Bolama, mas o pelotão Mandinga foi no CIM de Contubooel, juntamente com os soldados das futuras CART 11 e CCAÇ 12 (a minha CCAÇ 2590)... 

Lembro-me do nosso camarada António Bartolomeu, furriel, de resto nosso grão-tabanqueiro. Nunca percebi por que é que houve esta segregação étnica, manjacos e felupes para um lado (Bolama), mandingas para outro (Contuboel)... 

Os mandingas eram do Leste, ficavam mais ao pé de casa, foi isso ?!

6 de dezembro de 2024 às 17:51 


(iii) Eduardo Estrela:

Tudo gento boa, Luís!

Algarvios, beirões, alentejanos, fulas, mandingas, manjacos,  transmontanos,  felupes, gente doutra cultura costumes e forma de comunicar.

Amigos!

Com eles aprendemos coisas que nos prendem à vida. Com eles aprendemos o respeito no  mundo e na sociedade mas mentes obtusas aniquilaram

A guerra,  para quê?

Puta que pariu a guerra!

Pódiamos ter escrito uma brilhante história de humanismo.

___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 6 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26238: Os felupes que eu conheci (1): O valente soldado Dudu: Bolama, 1969 (Carlos Fortunato)


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26157: Casos: A verdade sobre... (49): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Luís Graça)



Umaru Baldé (c. 1953- c.2004, Bambadinca, meados de 1970
Foto: Benjamim Durães (2010)



Umaru Baldé (c. 1953-c. 2004), recruta do CIM Contuboel,
 c. março de 1969 

Foto: Valdemar Queiroz (2014)


1. Resposta do editor LG ao Valdemar Queiroz (*): 

Valdemar, obrigado pela tua preciosa "lembrança"... Reconheço estes putos ou pelo menos três, os que pertenceram à CCAÇ 12, e que fizeram a guerra comigo (*)...

Quanto ao Umaru Baldé (c. 1953- c. 2004), o "menino de sua mãe", tens aqui  duas fotos dele (uma é do teu álbum, o recruta Baldé, no CIM de Contuboel, com cara e corpo de "djubi"; a outra, um ano mais tarde,  de meados de 1970, tirada em Bambadinca, já com o BART 2917).

Vamos pô-lo a nascer por volta de 1953 para salvar a "honra do convento", isto é, para que a NT não sejam acusadas de recrutar crianças para a guerra, como acontecia com o PAIGC...

Soldado do recrutamento local, nº 82115869, o Umaru tirou a recruta   (com a CART 11) e a especialidade (com a CCAÇ 12), no CIM de Contuboel (um um um "oásis de paz", como eu lhe chamei, em junho de 1969). 

Foi exímio apontador de morteiro 60, soldado arvorado e depois 1º cabo at inf  da CCAÇ 2590 /  CCAÇ 12 (1969-1972), no 4º Gr Comb,  3ª secção [comandada inicialmente pelo fur mil 11941567 António Fernando R. Marques: DFA, vive hoje em Cascais, empresário reformado, membro da nossa Tabanca Grande].

O Umaru Baldé, que era de Dembataco (ou Demba Taco),  cresceu com a guerra: Demba Taco pertencia ao subsetor do Xime, um dos primeiros a conhecer a crueldade da guerra.  Foi recrutado em 12/3/1969,  como ele conta em carta pungente que te escreveu, trinta anos depois, já a viver na Amadora. 

Tirou a recruta no CIM Contuboel e fez o juramento de bandeira em Bissau, em cerimónia a que assistiu o gen Spínola.  Em junho e julho de 1969 fez a especialidade, já com os graduados da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 como instrutores... Juntos formamos companhia e fizemos a IAO.  Em 18 de julho de 1969 ficámos à ordem do comando do sector L1, e fomos colocados em Bambadinca.  Seis dias depois tivemos o batismo de fogo em Madina Xaquili, que será abandonada, dois meses e tal depois, em outubro.

O Umaru Baldé fez a guerra  entre meados de 1969 e 1972,  foi depois colocado, nesse ano,  em Santa Luzia, Bissau, no quartel do Serviço de Transmissões, onde ficou até ao fim da guerra.  (Julgo que depois de ter sido ferido em combate, ainda na CCAÇ 12, que entretanto passará a unidade de quadrícula, colocada no Xime em março de 1973.)

Conheceu, em mais de metade da sua vida, a amargura e a solidão do exílio. Não sei se chegou a ter mulher e filhos.  Percorreu meia África, em busca de liberdade e seguranças. Veio a morrer, aos 50 anos,  em Portugal, no "terminal da morte", que era então o, hoje  já extinto,  Hospital do Barro, Torres Vedras (onde também, por ironia do destino,  viria a morrer Luís Cabral, uns anos depois, em 2009).

O "puto" Umaru,  como sempre o tratámos, contou apenas com o apoio e a ajuda de alguns dos seus antigos camaradas de armas, "tugas",  da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, mas também da CART 11 (como tu, Valdemar Queiroz,  e outros). 

Não posso confirmar, com rigor, o ano em que nasceu e o ano em que morreu. Nunca mais o vi desde que regressei a casa em 17 de março de 1971. Tenho uma foto com e com o Zé Carlos.

 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fevereiro de 1970 >  Região do Xime >   1º  Grupo de Combate, comandado pelo Alf Mil Inf Op Esp Francisco Moreira, no decurso da Op Boga Destemida, uma operação sangrenta...  A CCAÇ 12, que integrava a "nova força africana" (que era a menina dos olhos de Spínola) foi uma subunidade de intervenção, duramente usada e abusada pelo comando dos BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72) 


Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Aproveito para retomar aqui, com algumas alterações,  um comentário meu que já tem 18 anos sobre  "a lista dos Baldés" da CCAÇ 2590 / 12, e que publicitei, em 2006 (**), depois de ponderar os prós e os contras: eram 100 os "Baldés", que foram integrados na CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), em Contuboel... Muito poucos deles estariam ainda vivos nessa altura. E hoje já não estará nenhum.

Na altura, podia parecer fastidiosa, inútil, irrelevante... a minha lista de Baldés...    Mais: até imprudente, podendo pôr em risco a liberdade e a segurança dos nossos antigos camaradas guineenses,  os sobreviventes, os que ainda estariam vivos (como, por exemplo, o José Carlos Ussumane Baldé, o único 1º cabo que existia no meu tempo).

Não pensava o mesmo , em 2006: podia ter (ou vir a ter) algum interesse documental, historiográfico, eu sei lá... Podia facilitar a pesquisa de informação, de testemunhos, de depoimentos...E quanto a ajustes de contas, infelizmente já tinham sido feitos sob o regime de Luís Cabral...

Entendia que era um pequeno, modestíssimo, gesto de elementar justiça para com aqueles guineenses que lutaram ao nosso lado, que fizeram parte da CCAÇ 12 e, portanto, da 'nova força africana'  com que sonhou Spínola e que tanto atemorizou o PAIGC (eles e não apenas a "tropa especial", com destaque para os Comandos Africanos).

Infelizmente, uma grande parte deles (quantos, exactamente?) já não estariam vivos em 2006. Uns tinham sido fuzilados, como o Abibo Jau, logo em 1975, outros andaram fugidos, a maior parte terá morrido de morte natural, que a sua esperança de vida era muito menor que a nossa, em 1969...

Eu estava à vontade para publicar essa lista: sempre critiquei a africanização da guerra da Guiné, embora longe de imaginar que, no dia seguinte à nossa retirada, começasse a caça aos "traidores", aos "contra-revolucionários", aos "mercenários", aos "colaboracionistas", aos "cães dos colonialistas", aos "cachorros dos tugas"...

Eu já não estava lá, em agosto de 1974, quando foi extinta a CCAÇ 12 e as demais subunidades da "nova força africana" (incluindo a CCAÇ 11, herdeira da CART 11). E, confesso que, desde que cheguei, em março de 1971, e até ao final da década de 70, pus uma tranca à porta da "memória da guerra". E só no princípio de 1980, comecei a tentar "exorcizar os fantasmas da guerra colonial" (sic) (uma expressão minha, que paga direitos de autor...).

Em 1969, ainda estava vivo o Amílcar Cabral e eu, na metrópole,  admirava-o, em abstrato,  intelectualmente, pelo pouco tinha lido dele (náo tenho pejo em admito-lo hoje). 

Achava que na Guiné, depois da independência, "abadá a guerra e feita a paz", tudo seria diferente, e não aconteceriam os ajustes de contas que se verificaram noutras revoluções ou guerras civis, na Rússia, na China, na Espanha franquista, na França depois da libertação, na Argélia, em Cuba, etc. Pobre de mim, ingénuo...

Mas, por outro lado, também fui cúmplice da integração destes "putos" no nosso exército: mesmo sendo  da especialidade de armas pesadas, e não fazendo  parte formal, organicamente,  de nenhum dos quatro grupos de combate da CCAÇ 12, acabei como vulgar atirador de infantaria, já que a companhia não tinha instalações a defender e  era de intervenção ("uma companhia de nharros, carne de canhão", rosnávamos nós, entre os dentes, sempre que saíamos para o mato...).

Participei, por isso, em muitas das operações em que estes participaram, fui testemunha da sua coragem e do seu medo, dormi com eles nas mais diversas situações, incluindo nas suas tabancas, transportámos às costas os nossos feridos e os nossos mortos... 

Foram meus camaradas, em suma.

Alguns (ou até bastantes) vieram das milícias, a maior parte já tinha alguma experiência de combate. E quanto à sua origem geográfica, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (originalmente, CCAÇ 2590), eram oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé, com exceção de um mancanhe, escolarizado,  oriundo de Bissau (que se fartou de levar "porradas", por ser "reguila" e "indisciplinado").

“Todos falam português mas poucos sabem ler e escrever", lê-se na história da CCAÇ 12. (O que só era verdade 21 meses depois de os termos conhecido e instruído em Contuboel, em junho e julho de 1969: nunca tiveram tempo sequer de ter aulas regimentais, o português que aprenderam, a falar e a escrever foi connosco.)

Foram incorporados no Exército como "voluntários" (sic), acrescentou o escriba (fui que escrevi a "história da unidade"), para branquear a insustentável (historicamente falando) situação dos jovens fulas, condenados a aliarem-se aos tugas e a pagarem a fatura do "colaboracionismo" no dia a seguir à nossa partida... 

Mas devo acrescentar: mal ou bem, a tropa e a guerra acabaram por ser um "modo de vida" para muitos deles... Teria o Umaru Baldé alguma alternativa ? Seguramente que não. O Salazar, o Tomás, o Caetano queriam-nos,  a todos,  heróis ou... mortos!
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Notas do editor:

(*) Ultimo poste da série : 14 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26153: Casos: A verdade sobre... (48): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Valdemar Queiroz)

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26153: Casos: A verdade sobre... (48): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Valdemar Queiroz)


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Samba Baldé (Cimba), nº mec 82110969... Futuro Ap Metr Lig HK 21, 3º Gr Com 3º Gr Comb [Comandante: alf mil inf 01006868 Abel Maria Rodrigues [bancário reformado, Miranda do Douro], 1ª secção [fur mil at inf Luciano Severo de Almeida, já falecido]...  De origem fula.


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras  CART 11 e da CCAÇ 12 > Salu Camara, nº mec 82103469. Provavelmente de origem futa.fula. Integrou a CART 11.


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras  CART 11 e da CCAÇ 12 >  Sori Baldé, nº mec 82111069,  De origem futa. Integrou a CCAÇ 12, como sold at inf. Pertenceu O 4 º Gr Comb [ comandante: alf mil  at cav  10548668 José António G. Rodrigues, já falecido, vivia em Lisboa], 3º secção [1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação, vive em Barcarena]... [O Valdemar Queiroz identifica-o, erradamente, como sendo o Tijana Jaló, esse sim, devia pertencer à CART 11, mas com outro nº mecanográfico... Estou bem recordado do Sori Baldé, um dos meus soldados, quando estive no 4º Gr Comb.]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Mamadu Jaló, nº mec 821179669, De origem futa. Integrou a CCAÇ 12, como sold arvorado. . Pertenceu ao 1 º Gr Comb 3ª secção [fur mil at inf 19904168 António Manuel Martins Branquinho, reformado da Segurança Social, Évora, já falecido]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > 1º trimestre de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Alceine Jaló, nº mec 82114669, De origem futa ou futa-fula. Pertenceu à CART 11.



Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Narço de 1969 > Silhueta do recruta Umaru Baldé, natural de Dembataco, regulado de Badora, setor L1 (Bambadinca), nº mec 82115869.

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar  > c. março / abril de 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno Baldé, Sori Baldé e Umarau Baldé (que irão depois para a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12).

Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade. Eram do recrutamento local. Os da CCAÇ 12 eram fulas, oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Umaru Baldé (c. 1953-2004), soldado do recrutamento local,  nº 82115869, tirou a recruta e a especialidade no CIM de Contuboel. Foi apontador de morteiro 60, soldado arvorado e depois 1º cabo infantaria da CCAÇ 12 (1969-1972). Foi depois colocado, em Santa Luzia, Bissau, no quartel do Serviço de Transmissões, até ao fim da guerra. Conheceu, em mais de metade da vida, a amargura  e a solidão do exílio. Veio morrer a Portugal onde teve grandes camaradas e amigos, solidários, que o ajudaram.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Reedição de mensagem do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70], só publicada quase cinco meses depois, por lapso dos editores (*):

Data: terça, 5/11/2019, 23:22

Assunto: O que será feito dos 'Putos-Soldados' do CIM de Contuboel

O que será feito dos 'Putos-Soldados'?

Passaram 50 anos que muitos 'putos' foram chamados prá tropa e receberam instrução militar em Contuboel.

Alguns apresentaram-se descalços, com as suas roupas usadas habituais e notava-se que eram muito jovens, mas diziam que tinham 18 anos.

Soube-se mais tarde que houve situações de recrutamento forçado, mas na maioria apareceram com vontade ser soldados. 'Manga de ronco' e 'manga de patacão' que lhes iria acontecer.

Não sabemos, eu não sei nem me lembro de contarem, como foram contactados e por quem (régulo/chefe de tabanca), e se lhes foi dito que iriam ser soldados para entrarem directamente na guerra, que eles já tão bem conheciam.

Não sei se vieram assentar praça, como um serviço militar obrigatório se tratasse, com a diferença de serem ainda menores, ou como uma espécie de voluntariado forçado (ideias de Spínola a fazer lembrar o recrutamento de crianças pelos nazis no final da guerra?).

E assim se formaram a CART 11 e a CCAÇ.12.

Também não soubemos se queriam ser soldados para fazerem guerra contra os 'bandidos' ou para ajudar (como já acontecera em séculos anteriores) os portugueses na guerra contra, neste caso, o PAIGC que queria a independência da Guiné.

Mas, a guerra acabou. Felizmente a guerra acabou.

Os 'putos-soldados' deixaram de ser soldados do Exército Português e passaram, automaticamente, à peluda da sua desgraça. 

Muitos houve que fugiram para não serem sumariamente executados, muitos outros não tiveram essa sorte e foram assassinados, os restantes resignaram-se voltando, já homens, às suas tabancas para serem o que já tinham sido. Foi sempre assim quando acabam as guerras.

E passados 50 anos o que será feito daqueles que conseguiram sobreviver?

Os que eram mais jovens devem ter, agora, 66/67 anos de idade. O que será feito deles?

Julgo que eram todos Fulas e maioritariamente eram das regiões de Gabu/Piche, os da CART 11, ou de Bambadinca/Xime, os da CCAÇ.12.

O Alceine Jaló era do meu Pelotão, casou-se muito novo com uma bajuda (Saco ou Taco?) e levou-a com ele para Guiro Iero Bocari. As mulheres e os filhos dos nossos soldados também dormiam connosco nas valas e aí aguentavam quando havia ataques à tabanca.

O que será feito deles?

Gostava muito de saber deles e peço um favor muito especial ao nosso grande amigo Cherno Baldé de tentar saber se eles ainda são vivos.

Como curiosidade com os 'putos', havia quatro soldados arvorados, e frequentavam a escola de cabos, em cada Pelotão sendo a escolha feita entre eles e um da nossa escolha. Dos quatro do meu Pelotão o da nossa escolha recaiu no Saliu Jau por ser impecável, mas deu algum recusa por parte dos restantes por o considerarem 'ser djubi mesmo pra cabo'.

Valdemar Queiroz

PS - Anexo fotos de alguns 'putos-soldados' , falta a do Umaru Baldé, talvez o 'puto mais puto', e que me foi oferecida quando estive com ele na Amadora.

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)


2. Comentário do editor Luís Graça:


Vá temos falado sobre este tema, que nos é caro, tanto ao Valdemar quanto a mim e outros camaradas do blogue, o caso dos "meninos-soldados", que estiveram de um lado e do outro, do PAIGC e nas NT  (**). 

No nosso caso, podemos (e devemos) perguntar se houve "ética" (e respeito pela legalidade) no seu recrutamento...

Eu, o Valdemar e outros gradudados da CART 2479 / CART 11,  e da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 fomos instrutores destes putos, no CIM de Contuboel e eles estiveram sob as nossas ordens na guerra, uns na regiáo de Gabu, setor de Nova Lamego, outros região de Bafatá, setor L1 (Bambadicna). 

Foram extraordinários soldados e grandes camaradas, estes "meninos-soldados" que, no fina,l da guerra, tiveram um destino cruel. O mesmo que tiveram os comandos africanos cujo drama volta agora à ordem do dia,  retratado em reportagem de investigaçáo jornalística (do jornal digital "DivergenTE"), depois publicada em livro e POR FIM em documentário (de longa metragem), que está nas salas de cinema (***).

Em próximo poste serão publicados  comentártios dos nossos leitores sobre este(s) caso(s) (****).
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  10 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20720: (De)Caras (147): O que é feito destes 'putos-soldados' da CART 11 e da CCAÇ 12 ? (Valdemar Queiroz)

(***)  13 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26149: Agenda cultural (868): Por ti, Portugal, eu juro!: documentário, de Sofia Palma Rodrigues e Diogo Cardoso (Portugfal, 2024, 98 minuto), sobre o drama dos Comandos Africanos da Guiné... Estreia mundial no doclisboa 2024, e agora nos Cinema

(****) Último poste da série > 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25977: (In)citações (263): Eduardo Estrela, espero poder dar-te um abraço, ao vivo, com um atraso de 55 anos (!), na próxima quinta feira, em Algés, no 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha (Luís Graça, editor)

1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012;


Data - quarta, 18/09/2024 14:29 
 
Assunto - Afastados e tão próximos (*)

Luís!!

Há 55 anos, uns mal encarados indivíduos inscreveram-nos numa viagem para a qual não nos tínhamos voluntariado.

Durante o tempo da mesma fomos companheiros de mais de mil jovens portugueses lançados para a defesa da pátria e do império, tendo a casa Gouveia como seu representante local. 

Quantas vezes nos teremos cruzado no Niassa, no bar ou na sala de jantar. Quantas vezes teremos assistido à trágica e criminosa forma de transportar pessoas amontoadas como bichos nos porões do navio. 

Antes já tinhamos sido contemporâneos no CISMI em Tavira, durante o quarto trimestre de 1968.

Não obstante, não nos conhecemos pessoalmente.

Na Guiné reforçámos a nossa revolta perante uma situação absolutamente irracional e que continuava a contribuir para aumentar a perda de vidas e de estropiados.

Fomos capazes de regressar, com o beneplácito dos bons irãs e da fé que transportamos connosco duma forma ou outra.

Deixámos dois dos nossos melhores anos de juventude nos tarrafes e bolanhas da Guiné. Ainda hoje há mosquitos descendentes dos que nos golpearam.
 
Sofremos, lutámos, embebedámo-nos com álcool e com companheirismo.

No blogue que,  em hora de felicidade criaste,  é possível o reencontro. É possível falar, é possível trocar ideias contrárias e é possível aumentar a carga emocional de amor pela terra vermelha e pelas gentes que lá vivem e que trazemos no coração.

Bem hajas.
Um dia destes vamos poder dar um abraço fraterno.

Eduardo Estrela





N/M Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979. Dados técnicos:  (i) comprimento: mais de 151 metros; (ii) arqueação bruta: c. 10.742 toneladas; (ii) potência: 6.800 cavalos ;  (iv) velocidade normal: 16,2 nós; (v) alojamentos:  22 em 1ª classe, 300 em classe turistica, no total de 322 passageiros; (vi)  nº de tripulantes: 132;  (vii) armador; Companhia Nacional de Navegação - Lisboa. 

Tendo embarcado no Niassa a 24 de maio de 1069, a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), juntamente com outras Companhias independentes como a 2591 e 2592 [futuras CCAÇ 13 e 14], chegou ao CTIG em 29, pelas 21h00, tendo desembarcado em Bissau no dia seguinte de manhã.





Lista (ainda) provisória dos 71 inscritos no 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 5ª feira, dia 26 de setembro de 2024 (**). Quatro deles pelo menos (António F. Marques, Eduardo Estrela, Humberto Reis e Luís Graça) partiram do Cais da Rocha Conde d' Óbidos, para o CTIG, no mesmo dia e no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969.


2. Comentário do LG:

Eduardo,  estivemos juntos em Tavira, no 4º trimestre de 1968,  e partimos para a Guiné, no mesmo navio, o T/T Niassa, em 24/5/1969, tu integrado na CCAÇ 2592 e eu na CCAÇ 2590... 

No meio de 1735 homens, entre oficiais, sargentos e praças, não deu para  nos conhecermo-nos pessoalmente; foi afinal o blogue que nos aproximou... Espero poder dar-te  um abraço, ao vivo, com o atraso de 55 anos!... A ti, e aos demais passageiros desse "cruzeiro inesquecível", que vão estar connoso (o António F. Marques  e o Humberto Reis)... Até 5ª feira, em Algés, na Magnífica Tabanca da Linha (**)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25974: (In)citações (262): "No dia em que deixarmos de sonhar, mandem-nos flores brancas!" (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16 - Mansoa, 1964/66)

(**) Vd. poste de 22 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25965: Convívios (1006): 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 5ª feira, 26 de setembro de 2024: 60 inscritos até hoje