AS NOSSAS FÉRIAS
As férias eram assunto esperado todo o ano. Até ir para a tropa as minhas férias tinham preliminares logo desde Maio com futeboladas no areal, seguida de banhos nas águas ainda frescas da Nazaré e S. Martinho do Porto ali tão perto.
Depois, as férias oficiais eram rotativas durante os meses de Junho Julho e Agosto na secção de pintura da Crisal. Por vezes faziam-se trocas que favorecessem ambas as partes. Sendo trabalhador, não tendo assim ligação directa no dia a dia com os outros jovens do meio estudantil, mantive boas relações com o grupo. E sendo eu o único trabalhador sindicalizado, nunca me sentido excluído.
Era comum passarmos 15 dias na Nazaré quando se podia lá alugar casa, longe dos preços praticados hoje, que ultrapassam os do Algarve. Dias na praia, noites na moina, que implicavam a ida à padaria volta das três da manhã onde comíamos pão quente com manteiga. Essa era a hora que os pescadores se aviavam de pão para ir para os meus turnos no friso de traineiras no horizonte e de onde regressavam os do turno anterior com o pescado.
De notar, que nesse tempo não havia porto de abrigo e estas manobras eram por vezes arriscadas e punham em perigo os ocupantes das barcaças a remos. Quando o mar estava picado, era comum as mulheres e as mães juntarem-se no areal numa moldura trágica com rezas envoltas dos seus xailes negros.
Talvez com os meus 18 anos comecei a ir para o Algarve. Os parques de campismo, a vida ao ar livre, os relacionamentos eram o que nos aproximavam dos perfumes do movimento Flower Power que marcaram que aqueles anos também por cá. Paz & Amor, façam amor e não a guerra e o relacionamento com jovens vindas de países onde não existiam os tabus vigentes da nossa sociedade, mostravam-nos um Mundo que nem sabíamos que existia. As férias era assim um prémio para um ano de trabalho e a recordação que nos acompanharia até às próximas.
Mas veio o serviço militar que interrompeu tudo de forma a não deixar dúvida durante os três anos seguinte. Não foi por falta de calor mas voltei a fazer as férias da praxe de 35 dias que gozei praticamente no Invern, por isso fiquei longe do mar. Foram umas férias estranhas pois tive sempre a sensação de nem cá estar, nem lá estar. Quando embarquei no avião de regresso numa noite chuvosa e fria, fiquei sem dúvida uma vez que não havia escolhas.
Regressei, casei, nasceu a minha filha e voltei a fazer férias no campismo, visitando praias, apreciando um bocadinho das recordações da juventude sem cabelos compridos nem camisas compradas nos Porfirios e calças de ganga de candonga que vinham das Canárias.
Hoje as férias são passadas em função da minha utilidade, onde o descanso é o mais apreciado no alvorecer deste mundo novo, onde ideia luminosa prevê vir a comprar férias e onde tantas regalias ganhas com luta estão em perigo.
04/08/2025
Juvenal Sacadura Amado
_____________
Nota do editor
Último post da série de 5 de Agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27092: Felizmente ainda há verão em 2025 (9): Tu comeste batatada de peixe seco... ontem, na Ventosa do Mar, freguesia da Marquiteira, Lourinhã.. Mas, bolas, Eduardo, João, Rui, amigos, camaradas, como é difícil, em agosto, juntar a gente toda de quem a gente gosta!... (Luís Graça)
Talvez com os meus 18 anos comecei a ir para o Algarve. Os parques de campismo, a vida ao ar livre, os relacionamentos eram o que nos aproximavam dos perfumes do movimento Flower Power que marcaram que aqueles anos também por cá. Paz & Amor, façam amor e não a guerra e o relacionamento com jovens vindas de países onde não existiam os tabus vigentes da nossa sociedade, mostravam-nos um Mundo que nem sabíamos que existia. As férias era assim um prémio para um ano de trabalho e a recordação que nos acompanharia até às próximas.
Mas veio o serviço militar que interrompeu tudo de forma a não deixar dúvida durante os três anos seguinte. Não foi por falta de calor mas voltei a fazer as férias da praxe de 35 dias que gozei praticamente no Invern, por isso fiquei longe do mar. Foram umas férias estranhas pois tive sempre a sensação de nem cá estar, nem lá estar. Quando embarquei no avião de regresso numa noite chuvosa e fria, fiquei sem dúvida uma vez que não havia escolhas.
Regressei, casei, nasceu a minha filha e voltei a fazer férias no campismo, visitando praias, apreciando um bocadinho das recordações da juventude sem cabelos compridos nem camisas compradas nos Porfirios e calças de ganga de candonga que vinham das Canárias.
Hoje as férias são passadas em função da minha utilidade, onde o descanso é o mais apreciado no alvorecer deste mundo novo, onde ideia luminosa prevê vir a comprar férias e onde tantas regalias ganhas com luta estão em perigo.
04/08/2025
Juvenal Sacadura Amado
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Nota do editor
Último post da série de 5 de Agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27092: Felizmente ainda há verão em 2025 (9): Tu comeste batatada de peixe seco... ontem, na Ventosa do Mar, freguesia da Marquiteira, Lourinhã.. Mas, bolas, Eduardo, João, Rui, amigos, camaradas, como é difícil, em agosto, juntar a gente toda de quem a gente gosta!... (Luís Graça)
1 comentário:
Bela crónica, Juvenal. Faz-me recuar mais de 60 anos... E a gente a pensar que iríamos ter sempre as férias grandes de verão!... Julho, agosto, setembro!...O que é bom acaba de depressa. Para os pobres, os filhos dos pobres... Que éramos todos, nesse tempo.
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