sábado, 4 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24037: Os nossos seres, saberes e lazeres (554): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (88): Leeds, a próspera, sempre em renovação, aqui dá gosto ser pedestre (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Era a véspera do regresso, assim se programou esta visita relâmpago a Leeds, uma metrópole que se orgulha de ser gigante mas onde tudo (ou praticamente tudo) se pode fazer a pé, saí do autocarro, andei a farejar as novidades (pus aqui os pés um pouco antes da pandemia), dirigi-me aos meus locais de culto, fui bem compensado, até encontrei promoções a uma libra de cd's na Grande Biblioteca, deslumbrei-me com as mudanças na arquitetura, olhei sempre com admiração para o quadro de Francis Bacon, dei pela falta da Paula Rego, andava em itinerância, fechei os olhos agradecido por tão belo passeio, houvesse tempo e até iria visitar com imenso gosto a uns quilómetros daqui Harewood House, uma propriedade que pertenceu a uma princesa real e que tem uns jardins de sonho, nestas, como noutras coisas, pensa-se que a vida nos tem dado enormes dádivas e compensações, oxalá que possa voltar a este Yorkshire tão amigável.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (88):
Leeds, a próspera, sempre em renovação, aqui dá gosto ser pedestre


Mário Beja Santos

Imponente pela arquitetura, praça financeira de indiscutível importância, aqui respira-se prosperidade. Pega-se no guia do visitante e fica-se a saber que depois de Londres é a única cidade que tem companhias de ópera e ballet residentes, a Opera North e o Northern Ballet, atuam num espaço opulento, a Leeds Playhouse e no Leeds Grand Theatre.
Desembarca-se no terminal rodoviário, ali perto fica uma praça que nos deixa boquiabertos, uma magnificência escultórica entre arranha-céus, muitas obras, muito dinamismo, ora vejam este triunfalismo arquitetónico e no ponto central da praça a estátua do lendário Príncipe Negro.

Daqui, com o mapa na mão, procuro a Leeds Art Gallery, encravada entre o Instituto Henry Moore, a Biblioteca Central e o magnificente edifício da autarquia. Perguntei por uma pintura de Paula Rego que em visita anterior estava exposta no vestíbulo, frente a um quadro de Francis Bacon, tinhas ido para uma exposição, voltava em breve. Entrei e fui ver a sala dos românticos e naturalistas, nada de assombroso, mas há para ali quadros que a retina acolhe muito bem, saíram da mão de mestres, aqui deixo alguns exemplos.
Escultura de Barbara Hepworth, a minha escultora contemporânea preferida

A Galeria de Arte de Leeds tem em permanência exposições, não resisti a visitar a exposição “Rebellion to Romance”, dedicada à 2ª geração de britânicos provenientes das Índias Ocidentais, um trabalho brilhante de levantamento etnográfico e etnológico, acho que esta imagem vale por mil palavras.
Era inevitável contemplar este genial Francis Bacon e depois o escultor Antony Gormley e sua maquete para o Homem de Tijolo de Leeds. É sempre com enorme prazer que aqui venho, oxalá volte depressa, também tenho saudades de ir contemplar outro génio, Henry Moore, num instituto aqui ao lado, tem mesmo de ficar para a próxima, ainda quero amesendar na cafetaria da Biblioteca, adoro o edifício, estes interiores marcados pelos períodos vitoriano e eduardiano são fabulosos, aqui fica uma amostra.
Com o estômago reconfortado, prossegue a viagem, este palácio autárquico parece ser o cartão de visita da prosperidade de Leeds, outrora uma cidade cerealífera e têxtil de largos poderes, hoje zona financeira só superada pela City londrina, não esconde ser uma praça das artes (recordo que possui um importante concurso internacional de piano, Artur Pizarro foi primeiro prémio há umas décadas), capricha, para além do mundo dos negócios em ser uma atração turística e possuir uma enorme capacidade de adaptação dos seus armazéns marítimos em prédios de habitação. Vamos então prosseguir viagem.
Um gigantismo de pedra a rivalizar com os gigantismos de Londres, a torre do relógio é uma beleza, transfigura todo aquele tamanhão de pedra e a pomposidade da colunata
Imagens avulsas do passeio pedestre, a elegância da escadaria para a Galeria de Arte, onde avulta a escultura “A Mulher Reclinada” de Henry Moore, as flores outonais e um impressionante design aposto à Galeria de Arte, inteligente e suscetível de uma leitura rápida e completa
Leeds é famosa pelo seu comércio no chamado Victoria Quarter, sãos as arcadas vitorianas que dão pelo nome de Queen’s Archade, Thornton’s Archade, Grand Archade, de ourivesaria às boutiques de maior luxo tudo aqui se pode encontrar.
Imagem do interior daquele que será o edifício mais icónico de Leeds, The Corner Exchange, a Bolsa dos Cereais transformou-se num centro comercial onde primam os valores da contemporaneidade, o contraste é uma guloseima para os olhos
Vista do exterior da Bolsa dos Cereais
Estou a despedir-me de Leeds, aqui estão os velhos armazéns e a prova de que a arquitetura pode andar ao lado da pintura, da escultura, o que estamos a ver são belas-artes, a sublime capacidade de reaproveitar o que parecia destinado à demolição num espaço de arquitetura com laivos modernizantes com inserções de bom gosto e que garantem a Leeds estar na vanguarda da inovação. Adeus, até ao meu regresso.
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Notas do editor

Vd. poste de 28 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24018: Os nossos seres, saberes e lazeres (552): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87): Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24026: Os nossos seres, saberes e lazeres (553): As matanças eram tempos de celebração e de paz entre as famílias (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Guiné 61/74 - P24036: Blogues da nossa blogosfera (176): revisitando e revendo mais 13 da nossa velha lista (de L a N)


Memórias de Jolmete - Ex-alf mil Manuel Resende, CCAÇ 2585 (1969/71), o régulo da Tabanca da Linha

1. Continuamo a rever a nossa lista (já antiga e que nunca tinha sido  atualizada, aumentada, corrigida,  melhorada...) dos cento e poucos blogues e outras páginas na Net  que faziam parte da nossa blogosfera (c. 110)... Constava/consta da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo.

Hoje fizemos a verificação, desses blogues e páginas, de L a N (n=13). Metade desses sítios já não existem, foram descontinuados, mudaram de URL... 

Como temos dito, é o preço que se paga por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores (alguns que já não existem, como o Clix, o Sapo, o Terràvista... O Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do Sapo, por exemplo, foi descontinuado em dezembro de 2012.)

Os blogues e outras páginas que deixaram de estar "on line" vêm assinalados, em baixo, com um asterico. Nalguns casos têm novos endereços. Alguns destes "sítios" (ou "web pages") poderão ser recuperados através do Arquivo.pt.


Lamparam II, Página de Leopoldo Amado (*)

"Espaço guineense de análises, divulgação de textos e comentários sobre a Guiné-Bissau e o mundo africano. Envie-nos a sua contribuição: leopoldo.amado@gmail.com"...

"Bem-vindo ao Lamparam, espaço guineense de permuta de ideias, reflexões, análises e comentários. Lamparam:  nome escolhido propositadamente para este espaço, justifica-se por verosimilhança,  pois é a palavra ou a expressão por que se designa no crioulo da Guiné-Bissau um engenho tradicional de propulsão normalmente utilizado nas plantações e nas bolanhas da Guiné-Bissau para afugentar a acção predatória das aves sobre as culturas."

Infelizmente teve vida curta: de fevereiro a setembro de 2006... E o nosso amigo e grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, historiador,  também já nos deixou em 2021, vítima da pandemia de Covid-19. Vivia em Bissau. É uma grande perda para a Guiné-Bissau.

Tem um novo "site", com novo "design",  mas o URL é o mesmo, 

https://www.ligacombatentes.org/
"Primeiro estava no Blogue-Fora-Nada, que era uma caserna da tropa. Agora chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné. Blogue-Fora-Nada E vão três. Não desertei. Mudei-me apenas para este Tê Dois. Rés do chão com jardim, barbecue e vista para o mar, as Berlengas da minha infância ao fundo: para poder cultivar as minhas blogarias de luxo. Dispenso a piscina, mas não as falésias de Paimogo ou a praia da Peralta,na Lourinhã. © Luís Graça (2006-2008). Direitos reservados."

... Desde 2013 que não é atualizado... Mas o autor promete voltar, se tiver vida e saúde...



Cortaram-lhe o pio, ao fim de muitos anos. Quem disse que as páginas na Net  morrem de pé?... Mas foi salva, felizmente, pelo Arquivo.pt

Infelizmente já não pode ser atualizada... É uma "peça de museu". Mas tem imensos recursos para quem se interessa por temas como a saúde, o trabalho, as profissões de saúde, a história da medicina e da saúde, etc.



Estava alojada no Sapo. Foi descontinuada. 

http://lusotopia.no.sapo.pt/indexGB.html

Mas mesmo assim foi capturada pelo Arquivo.pt em novembro de 2013




Teve vida efémera. Os "Maçaricos" (ramo a que pertence o nosso editor LG pelo lado paterno) publicaram um livro e fizeram dois encontros. Depois esgotaram as baterias... A página, alojada no Sapo, foi descontinuada... Mas o Arquivo.pt capturou-a 

http://macaricos.no.sapo.pt/


Um pouco de história sobre o clã (interessa a alguém ?):

(...) "Ribamar na época dos Descobrimentos era já um importante centro de construção naval, tendo ainda existido até cerca de 1930 um estaleiro que situava no local onde está hoje a antiga escola primária.

E já nesses tempos idos os Maçaricos eram reconhecidos como especialistas nessa área tendo acompanhado diversas expedições navais. E provavelmente estabeleceram-se também noutras localidades onde existiam estaleiros, possível explicação para haver outras famílias Maçarico espalhadas pelo Pais, como por exemplo em Mira".(...) 

  • Marinha Portuguesa
Portal oficial da Marinha Portuguesa na internet. O endereço correto é:

https://www.marinha.pt/pt



A página já não existe, a banda também não... Criada em 2006, fez mais de 150 cocnertos pelo mundo fora,  durou cerca de 10 anos... Cada um foi à sua vida... O João Graça continua a ser nosso grã-tabanqueiro. E a tocar violino.

https://myspace.com/melechmechaya

"O Portal das Memórias de África e do Oriente é um projecto da Fundação Portugal-África desenvolvido e mantido pela Universidade de Aveiro e pelo Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento desde 1997.

"É um instrumento fundamental e pioneiro na tentativa de potenciar a memória histórica dos laços que unem Portugal e a Lusofonia, sendo deste modo uma ponte com o nosso passado comum na construção de um identidade colectiva aos povos de todos esses países.

https://1950pinto.blogspot.com/

Ainda vai mexendo, desde 2012... O José Pinto pertenceu ao BCav 8320/72  (Bula, 1972/74). Fala sobretudo dos convívios que a malta do batalhão ainda vai fazendo.


"Este Blog destina-se a contar estórias da CCAÇ 2585 passadas em Jolmete (Pelundo) desde Maio de 1969 a Março de 1971, altura da nossa comissão militar. Propomo-nos também divulgar trabalhos e convívios de todas as Companhias que por lá passaram, antes e depois de nós, e que queiram colaborar. Aceitamos estórias reais, ou mais ou menos, desde que tenham um fundo de verdade."

Página do Manuel Reswnde, régulo da Tabanca da Linha (Algés).


Alojado no Sapo, foi descontimaudo me finais de 2012.Mas pode ser consultado aqui, através do Arquivo.pt. Estão cá todos os navios que nos levaram para (e trouxeram da) Guiné. Frota da marinha mercante existente em 1958. 



Ver novo endereço do portal, que abrange o universo da lusofonia:
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Guiné 61/74 - P24035: Parabéns a você (2142): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) e Mário Silva Bravo, Médico Ortopedista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Bedanda, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24020: Parabéns a você (2141): Luís Graça, fundador e editor deste Blogue, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24034: Notas de leitura (1549): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (15) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
Assim se chega ao fim deste primeiro volume, em 1964 o PAIGC dá sinal de vida às suas armas antiaéreas no Cantanhez, as forças portuguesas respondem com operações de bombardeamento e depois com forças (Operação Resgate, Operação Mercúrio, Operação Safari). 1965 será um ano sem perdas para a FAP, mas a guerra alastrou, o PAIGC consolidou-se no sul, no Morés, donde se dissemina até ao norte e ao Geba, está bem implantado no Corubal. Vamos agora esperar pelo segundo volume, assim que os autores tiverem a amabilidade de nos facultar. Bastava ler este volume I para perceber como muita gente que anda a escrever sobre a Guiné e a afirmar impudicamente que a governação Schulz foi atrabiliária, para se ver a ignorância que por aí vai, nem as memórias de José Krus Abecasis tiveram a oportunidade de ler.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (15)


Mário Beja Santos
Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Percorremos já um longo percurso (esta recensão já abrangeu mais de metade da obra), os investigadores socorrem-se de um processo diacrónico, atravessam toda a cronologia de acontecimentos internacionais e nacionais que se prendem com o fenómeno da descolonização africana e como este afetou a Guiné; depois, dão-nos o quadro dos meios aéreos existentes, no início da década de 1960 e a sua evolução até ao desencadear da guerra, a adaptação de infraestruturas (nomeadamente Bissalanca, Cufar e Gabu), o aperfeiçoamento na formação dos pilotos, etc. Seguiu-se uma descrição sobre os comportamentos militares dos primeiros comandantes-chefes e as aquisições efetuadas, designadamente na Europa Ocidental. Por fim, abordou-se a Operação Tridente, começa agora o período da governação Schulz. Pela narrativa destes autores, revela-se à puridade a ideia feita de que Schulz não tinha estratégia adequada para querer contrariar a ofensiva guerrilheira, adotou um modelo de disseminação da quadrícula que era totalmente partilhado por outros potências coloniais a enfrentar a insurgência, e, obviamente, apercebendo-se da natureza do terreno, teria de apostar no apoio aéreo e na capacidade dos bombardeamentos. E os autores explicam claramente as dificuldades surgidas com as aeronaves. Vamos continuar esse relato e acompanhar o período da governação Schulz, e procurar entender a natureza da resposta do PAIGC.

Em meados de 1964, o PAIGC dotara-se de armas de defesa aérea de 12,7 mm, entre elas o DShK ou “Degtyarov-Shpagina de grande calibre”, conseguiu danificar 42 aviões durantes os primeiros oito meses de 1964, foi a frota T-6 que sofreu o maior dano. A intensa atividade antiaérea do PAIGC continuou no ano seguinte. E à medida que o armamento do sistema antiaéreo se tornava mais eficaz, o PAIGC criou equipas de armas que poderiam agir de forma independente ou ligar-se a formações maiores para grandes operações. No início de 1965, o PAIGC tinha reorganizado a sua ala militar regular, as FARP, constituíram-se grupos autónomos de 17-25 combatentes cada, dois grupos formavam um bigrupo que se iria tornar a formação tática padrão das FARP. Cada bigrupo poderia ser reforçado com elementos da defesa aérea ou outras armas empregando morteiros, RPGs, canhões sem recuo, entre outros. Essas forças locais eram importantes para manter uma aparência de soberania do PAIGC nas chamadas zonas libertadas, um pilar fundamental do seu programa político.

O primeiro teste sério à capacidade do PAIGC blindar território “libertado” de ataque aéreo ocorreu na Península do Cantanhez. Em 6 de dezembro de 1965, um C-47 recebe uma autêntica barragem de fogo antiaéreo enquanto sobrevoava o sul da Guiné à noite e a uma altitude de 5000 pés. De acordo com os relatórios da operação, sugeria-se que o PAIGC tinha usado armamento antiaéreo mais pesado, seriam os canhões antiaéreos ZPU de 14,5 mm, era uma metralhadora com alcance de quase uma milha podendo fazer fogo até 4500 pés, o cano podia disparar 600 tiros por minuto. Como observou Krus Abecasis, o inimigo tinha escalado e procurava desafiar o domínio aéreo da Força Aérea, o incidente sobre o Cantanhez exigiu a ativação de uma estratégia, a Força Aérea ia responder ao desafio. Foram preparados planos para tal contingência e em 10 de dezembro Schulz aprovou a proposta de Abecasis para a Operação Resgate, nome escolhido com a intensão de restaurar a nossa liberdade de ação nos céus da Guiné. Schulz e Abecasis esperavam provocar estas equipas do sistema antiaéreo do PAIGC no Cantanhez, puseram em campo toda a gama da capacidade ofensiva: 2 C-47, 12 T-6, 3 Do-27, 2 helicópteros Alouette III e 2 P2V-5 (os Neptune chegaram a Bissalanca vindo das Ilha do Sal a 12 de dezembro trazendo consigo bombas de 325 kg para uso na operação). A Operação Resgate foi desencadeada a 17 de dezembro, um C-47 aproximou-se das posições antiaéreas à altitude de 400 pés, levava apagadas as suas luzes de navegação, atuava como isca, era um barulho destinado a provocar uma reação violenta dos sistemas antiaéreos, expondo as suas posições; atrás desta aeronave seguia outro C-47 que ia iluminar esses locais, a sua missão era identificar os alvos com mais precisão e simultaneamente atrapalhar a visão noturna dos artilheiros, este C-47 também vinha carregado de bombas de fragmentação de 50 kg e latas de napalm de 60 litros. A aeronave isca atraiu o fogo esperado, foram lançados flashes de magnésio e o primeiro bombardeiro Neptune chegou à área alvo dois minutos depois lançando bombas; os Neptunes despejaram as suas munições nos 50 minutos seguintes. Apesar da ferocidade do assalto, os artilheiros antiaéreos das FARP iam vomitando estilhaços de grande calibre contra os nossos aviões, como descreveu Krus Abecasis. Esta primeira onda de ataque foi seguida por mais três em dezembro a 18 de dezembro, completaram a primeira noite da Operação Resgate.

Ao amanhecer, os T-6 começaram a fazer o reconhecimento, a verificar como se processava a infiltração e o abastecimento das FARP, quais as rotas que levavam àquela península. Na avaliação de resultados da primeira noite, o comandante da ZACVG concluiu que houvera êxito na missão, tinham sido descarregadas 30 toneladas de bombas nas posições do PAIGC.

A punição recomeçou duas noites depois, a 19 e 20 de dezembro, as aeronaves da FAP lançaram a segunda série de ataques na região do Cantanhez. Observou-se logo um declínio acentuado no fogo antiaéreo, presumivelmente devido aos danos causados durante a primeira noite da Operação Resgate. A FAP não perdeu nenhuma aeronave durante estes dias de operação, embora dois T-6 tenham sido atingidos no dia 19 e um P2V-5 ficou ligeiramente danificado pelas defesas antiaéreas durante a noite final da operação. Até ao fim do ano fizeram-se voos noturnos para avaliar os resultados, e havia o intuito de preparar uma operação conjunta para expulsar em definitivo o PAIGC do Cantanhez. Embora os sistemas antiaéreos do PAIGC estivessem piados, as FARP continuavam numa total liberdade de movimento naquela península densamente florestada e frequentemente inundada. Na sequência da Operação Resgate ocorreu a Operação Safari em 3 e 4 de janeiro de 1966, envolvendo paraquedistas e fuzileiros, fizeram vários desembarques simultâneos na Península de Cantanhez. Apesar de alguns sucessos iniciais, incluindo a destruição do que se considerou uma bases central das FARP, as forças portuguesas encontraram uma forte oposição e foram obrigadas a retirar-se. Retornou-se ao Cantanhez dois meses e meio depois, as forças portuguesas desembarcaram com a proteção de aeronaves, era a Operação Mercúrio, em 19 de março de 1966; pela primeira vez, alguns DO-27 foram utilizados para atacar, empregando granadas de mão como bombas de fragmentação improvisadas – um método não isento de riscos para o avião e a tripulação. A Operação Mercúrio foi considerada um sucesso tático, não encontrado resistência da guerrilha e não houve vítimas do lado português a assinalar.

Noutro lugar desta volátil Região Sul, em 1 de agosto de 1966, a ZACVG lançou a Operação Ribalta, com a duração de três dias, abarcando a fronteira sudeste com a República da Guiné, operação que foi precedida por bombardeamento noturno, procuraram afetar unidades guerrilheiras que flagelavam os destacamentos de Beli e Madina do Boé. A operação foi um êxito, os guerrilheiros sofreram 60 mortos e o remanescente das unidades de guerrilha teve de fugir.

Atenuou-se, mas não se destruiu esta dinâmica do PAIGC. Ao longo de 1966, a região sul iria permanecer como o teatro de guerra mais ativo, o PAIGC consolidava o seu controle em zonas pouco povoadas de florestas, pântanos e mato. As FARP também aumentaram a sua presença e atividades no noroeste da Guiné ao longo da fronteira com o Senegal, explorando a escassez de forças portuguesas na área. As FARP estavam bem instaladas na região do Morés e dali partiam operações para todo o oeste. No leste, o PAIGC encontrou forte resistência por parte da população Fula dominante, mas conseguiu estabelecer uma presença disruptiva no setor, fazia-o mediante forças que se infiltravam na fronteira e que depois regressavam aos seus santuários da Guiné-Conacri.

Felizmente para a ZACVG, 1965 foi um ano relativamente bem-sucedido, não se perdeu nenhuma aeronave desde dezembro de 1964. Um dos oficiais superiores que trabalhavam com Schulz, o Tenente-Coronel Castelo Branco descreveu os problemas que estavam a ser enfrentados pelas tropas portuguesas em carta enviada ao Comandante-Chefe: insuficiência de recursos em tropas, veículos, aeronaves e pilotos; a guerrilha estava profundamente entrincheirada no sul da Guiné. O tenente-coronel considerava que o Governo teria de se comprometer mais com uma guerra em grande escala que queria reconquistar a região e as gentes, e escrevia: “Em suma, o inimigo colocou a mão no nosso pescoço, como um bom lutador de judo, e estamos com imensa dificuldade de sair desta posição.” Ora, para grande desconforto da ZACVG, deu-se a retirada do F-86, as funções de apoio de fogo iam ser centradas nos velhos T-6. As FARP aumentavam a frequência da sua presença e as forças terrestres mostravam dificuldade em responder com oportunidade célere às atividades da guerrilha.

As iniciativas diplomáticas desenvolvidas por Lisboa junto de Paris e Bona tiveram sucesso, conseguia-se contornar o embargo de armas norte-americano, adquirindo aeronaves pelos parceiros europeus. Estava iminente a entrada em cena dos Fiat G.91 da República Federal Alemã e a entrega dos helicópteros Alouette III, o que trouxe algum otimismo tanto a Schulz como a Abecasis, supunha-se que estas aeronaves iriam trazer novas capacidades e fazer pender a balança graças a uma fase qualitativamente nova da guerra aérea, na Guiné Portuguesa.

Fim do volume I.


Um caça Fiat G.91
Uma metralhadora antiaérea Degtyarev de 12,7 mm
Guerrilheiros do PAIGC com uma arma antiaérea ZPU-4 de 14,5 mm
Metralhadora pesada ZPU-4.

OBS: - As quatro imagens acima apresentadas foram retiradas do trabalho de José Matos intitulado “A GUERRA DAS ANTIAÉREAS NA GUINÉ (1965/1970)”, com a devida vénia
Quadro da penetração do PAIGC em meados de 1966 (Matthew M. Hurley)
Quadro que reporta as perdas em combates e acidentes de aeronaves na Guiné (1962-1966)
F-86 destruído em 31 de maio de 1963, na sequência de um bombardeamento que correu mal (Arquivo Histórico da Força Aérea)
À atenção do leitor: estes dois volumes de memórias de José Krus Abecasis continuam a ser leitura fundamental para análise do comportamento da FAP na Guiné, neste período
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Notas do editor

Vd. Postes anteriores de:

6 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23956: Notas de leitura (1540): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (11) (Mário Beja Santos)

13 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23979: Notas de leitura (1542): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (12) (Mário Beja Santos)

20 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23998: Notas de leitura (1545): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (13) (Mário Beja Santos)
e
27 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24015: Notas de leitura (1547): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24023: Notas de leitura (1548): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24033: (De)Caras (194): O mecânico-desempanador Mota, da CCAÇ 3535 (Zemba, Angola, 1972/74), mais conhecido por "Matraquilho" (Fernando de Sousa Ribeiro)

1. Comentário do Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Angola, Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74), ao poste P24012 (*)

É a primeira vez que encontro uma referência à especialidade de desempanador. Para mim é uma completa novidade, não sabia que existia semelhante especialidade. Que eu saiba, no meu batalhão em Angola,  não havia nenhum mecânico desempanador, porque todos acabavam por sê-lo, mais cedo ou mais tarde.

Na região dos Dembos, em todas as colunas auto seguia obrigatoriamente um mecânico, porque a vetustez das viaturas e o acidentado do terreno a isso obrigava. 

O "desempanador-mor" da minha companhia era um soldado mecânico chamado Mota (ainda está vivo, e espero que por muito mais tempo ainda), que resolvia sempre todos os problemas da maneira mais criativa possível. Servia-se de paus de fósforos (para substituir algum parafuso partido, por exemplo, renovando os paus quando eles mesmos também se partiam), chicletes (nomeadamente para vedar alguma fuga de óleo ou de combustível), etc. 

Com ele, todas as viaturas chegaram sempre ao seu destino pelos seus próprios meios. Uma vez, partiu-se a mola do acelerador de um unimog, mola esta que tinha por função manter o pedal do acelerador levantado. O Mota resolveu o problema substituindo a mola partida pelo elástico que tirou das suas próprias cuecas!

27 de janeiro de 2023 às 03:05

2. Comentário do editor LG:

Uma história incrível, Fernando, essa do Mota, o mecânico "desenrascador" e "desempanador". Que importa que não tivesse o "diploma" nem o "título"?! 

Também os houve na Guiné, havia mecânicos das Daimlers, por ex., que conseguiam manter operacionais essas relíquias da II Guerra Mundial... O Mota, mesmo que  vocês tenham estado em Angola, merece um poste no blogue dos amigos e camaradas da Guiné. Uma homenagem a todos os nossos mecânicos. Tens uma foto dele ou com ele? Candando (abraço, em angolês). 

Luís

3. Resposta do Fernando Ribeiro:

Data - sábado, 28/01/2023, 03:01

Caro Luis,

A única fotografia que tenho do mecânico Mota é esta (à esquerda), que data de 2016 e foi feita no convívio do meu batalhão realizado aqui no Porto. Ninguém o conhecia por Mota, mas sim pela alcunha de Matraquilho.

Quando a minha companhia chegou a Zemba, estavam num canto do bar dos soldados uns matraquilhos estragados. O Mota foi pedir ao capitão, Lamas da Silva, licença para reparar os matraquilhos. O capitão respondeu-lhe que não tinha que lhe dar licença nenhuma, porque os matraquilhos não faziam parte do espólio da companhia e, por isso, não tinham dono. Acrescentou que, se o Mota quisesse ficar com os matraquilhos, que ficasse, e fizesse deles o que muito bem entendesse. 

Isto foi música para os ouvidos do Mota, que tratou logo de reparar os matraquilhos e pô-los a render. E como renderam! Zemba era um cu-de-judas onde não havia comerciantes, nem "meninas", nem nada onde a malta pudesse gastar o seu dinheiro, a não ser o bar dos soldados. 

Os matraquilhos do Mota foram por isso um enorme sucesso, que a malta toda usava de manhã até à noite, metendo todas as moedas necessárias para jogar. O Mota a partir de então passou a ser conhecido pela alcunha de Matraquilho, o mecânico que personificava o portuguesinho desenrascado.

Um abraço, Fernando Ribeiro

4. Novo comentário do editor LG:

O teu Matraquilho faz-me lembrar, com as devidas distâncias (até geográficas e históricas...) o MacGyver, o herói de uma série que passou na RTP, em 1987, e era muito popular... É caso para perguntar quem imitou quem... Entre um e outro há uma distância de 15 anos... 

Lembras-te das aventuras do MacGyver?

(i) Aqui vai um excerto da RTP > Programas TV

"As aventuras de MacGyver: a sua mente é um autêntico canivete suíço

Richard Dean Anderson é Macgyver (foto à esquerda, cortesia da RTP), um agente astuto e muito inteligente, que opta por resolver situações de conflito sem recurso às armas e à violência. Um herói que arrisca a sua vida em delicadas operações de salvamento, utilizando como únicas armas, os utensílios que existem à sua volta" (...)

(ii) Na Wikipédia também se pode ler:

MacGyver (Profissão: Perigo no Brasil) foi uma série de televisão americana de ação-aventura criada por Lee David Zlotoff (...) . MacGyver durou 7 temporadas, de 1985 a 1992, no canal ABC nos Estados Unidos. A série foi filmada em Los Angeles  (...) e  em Vancouver (...) . O último episódio foi exibido a 21 de maio de 1992.

A série segue o agente secreto Angus MacGyver, interpretado por Richard Dean Anderson, que trabalha como “um solucionador de problemas” para a Fundação Phoenix em Los Angeles e como agente para o Departamento Governamental de Serviços Externos (DXS), ambas fictícias. 

Educado como cientista, MacGyver serviu na Guerra do Vietnã como técnico da brigada antibombas ("Countdown"). 

Muito versátil e possuidor de um conhecimento enciclopédico de ciências físicas, MacGyver resolve problemas complexos ao criar coisas a partir de objetos comuns, grande parte das vezes com a ajuda do seu canivete suíço; MacGyver também porta consigo fósforos e fita adesiva em alguns episódios. Prefere resolver suas missões sem violência e não gosta de usar armas de fogo devido a uma morte acidental que envolveu um de seus amigos de infância. (...)

[ Seleção / revisão e fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24032: Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68) (Parte II)




Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (FulacundaMejoAldeia Formosa e Buba, 1966/68), autor do livro "Noites de Mejo - Histórias Singulares da Guerra na Guiné", obra recenseada pelo nosso camarada Mário Beja Santos.

Foto 7 > Aspecto da Tabanca do Mejo. À esquerda, o espaldão do morteiro 8 cm (1966)
Foto 8 > Aspecto da Tabanca do Mejo (1966)
Foto 9 > Aspecto da Tabanca do Mejo (1966)
Foto 10 > Abrindo o poço no leito seco do "rio" de Mejo para abastecimento da Companhia. A água barrenta é de um vermelho vivo (1966)
Foto 11 > Vista parcial da Porta D'armas de Mejo e da Enfermaria (1966/67)
Foto 12 > Vista parcial do aquartelamento do Mejo. À esquerda, uma caserna (1966)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24013: Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68) (Parte I)

Guiné 61/74 - P24031: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte I: Ainda não foi desta que o autor nos contou toda a verdade...

Capa do livro de memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009), "Crónica da  Libertação", Lisboa, "O Jornal", 1984, 464 pp. (Capa: de João Segurado segundo foto de Bruna Polimeni)


1. O nosso crítico literário, Mário Beja Santos, já aqui fez uma exaustiva e brilhante  recensão do livro do Luís Cabral (*), livro de memórias, talvez um pouco  esquecido,  do meio-irmão de Amílcar Cabral, escrito no seu exílio.

Recorde-se que Luís Cabral esteve  detido mais de um ano no Forte da Amura, em Bissau, logo a seguir ao golpe militar de 'Nino' Vieira, seu primeiro ministro, em 14 de novembro de 1980,  até ser liberto por pressões internacionais, acabando por seguir para Cuba e Cabo Verde e por fim para Portugal, em 1984, país onde viveu até à sua morte, em 2009, vítima de doença prolongada. (Ironicamente, um mês depois de 'Nino' Vieira.) (**). 

No prefácio do livro de 461 pp., com data de outubro de 1983, e escrito na Praia,  Cabo Verde, ele diz que nunca lhe tinha passado pela cabeça escrever um livro sobre a sua vida e a sua luta. Foi na solidão da Amura, que foi tentado a escrever. E fê-lo sobretudo em homenagem ao Amílcar e demais companheiros: 

(...) "Mais tarde, já em liberdade, alguns dos meus antigos companheiros dão o seu apoio e uma apreciação amiga a este primeiro trabalho sobre a vida e a luta com o Amílcar, e, fornecendo-me importantes precisões sobre factos descritos sem qualquer documentacão e encorajando-me a continuar a escrever as minhas lembranças sobre a heroica luta que conduziu os nossos povos à liberdade e independênci nacional" (pág. 9).

E no fim acressenta:

(...) Se é que tenho a uma pretensão, é a de considera que fiz o melhor do meu esforço para que tudo o que foi dito neste trabalho corresponda à verdade dos factos registados, embora com a consciência de, em muitos casos, não ter ainda chegado o momento de dizer toda a verdade" (pág. 11).

Não sei se o Luís Cabral chegou a ter a oportunidade, nomeadamente em entrevistas que foi dando, de "dizer toda a verdade" até ao momento da sua morte, em 2009, no antigo Hospital do Barro, nos arredores de Torres Vedras.  Ao que parece, estava nos seus planos escrever um segundo livro de memórias sobre a sua experiência como presidente da República da Guiné-Bissau. Teve 25 anos para o fazer, antes de morrer. Não chegou, infelizmente,  a escrevê-lo ou a publicá-lo. O que é pena.

Temos, todavia, que concordar que este seu primeiro (e único) livro é um documento importante para a historiografia da guerra colonial na Guiné, tanto mais que Luís Cabral era o nº 2 ou 3 do PAIGC, membro do "Bureau Político" e do "Conselho de Guerra", além de ter sido o primeiro presidente do conselho da República da Guiné-Bissau. Foi, além disso, íntimo confidente, grande admirador e fiel executante do pensamento e da estratégia  do irmão. Por outro lado, sabemos que os seus antigos companheiros, da cúpula do PAIGC,  já morreram todos ou quase todos, tendo levado para a cova os seus segredos, as suas melhores e piores memórias. Tirando Luís Cabral e Aristides Pereira, quem escreveu mais ? Ou dá a cara, falando em público, como é o caso do 'comandante' Pedro Pires ?!

Alguns antigos combatentes, membros da Tabanca Grande e/ou leitores do nosso blogue, nem sempre se sentem confortáveis quando falamos aqui do PAIGC, dos seus dirigentes, do seu pensamento e da sua história...como se o IN que combatemos, no TO da Guiné, não tivesse  um nome e protagonistas com um rosto... Como se tivéssemos combatida contra extra-terrestres!... Amílcar Cabral e Luis Cabral, por exemplo, estão na "lista negra"... Fazem parte dos ódios de estimação de alguns de nós... 

Mas se voltamos hoje a uma (re)leitura da "Crónica da Libertação" não é para santificar ou diabolizar ninguém, é apenas para melhorarmos e enriquecermos o conhecimento que temos daquele conflito em que estivemos envolvidos. E que não foi um conflito qualquer, Foi uma guerra prolongada e, em muitos casos, sangrenta e cruel. E, ainda mais do que isso, completamente estúpida e inútil.

Neste caso há "factos & mitos" que devemos pôr em evidência, numa linha que nos é cara, aqui, no blogue, que é a exploração das "memórias cruzadas", na continuação dos escritos de camaradas nossos como o Jorge Araújo, o Mário Dias, o António Rosinha ou o Patrício Ribeiro (estes dois últimos já como "paisanas", na República da Guiné-Bissau)...

Não vou cotejar o que diz (e muito menos o que omite, esquece, branqueia ou falsifica) Luís Cabral com o que os biógrafos de Amílcar Cabral  investigaram e escreveram. E são já  várias  as biografias do líder histórico do PAIGC.  Confesso que ainda não as li, conheço-as apenas das recensões que têm sido feitas, e nomeadamente pela mão do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos. É preciso tempo e vagar para se ler, e a lista de prioridades de cada de um de nós é diferente. 

Da "Crónica da Libertação" vou, ao longo de vários postes, reter alguns pontos que me chamaram a atenção e que julgo ser também do interesse dos nossos leitores conhecer ou apurar melhor...  Por exemplo, a relação do PAIGC com os fotojornalistas e os cineastas, nomeadamente europeus, que ajudaram a alimentar o mito das "áreas libertadas", do "poder popular", dos "armazéns do povo",  das escolas e dos hospitais de campanha... 

Noutros casos, há perguntas que ficam no ar: teve ou não Luís Cabral um "copydesk" (editor literário) que o ajudou na feitura do seu livro ? Recordo-me de o saudoso Leopoldo Amado (vítima da pandemia de Covid-19, em 2021) me ter confidenciado, há uns largos anos atrás, na Feira do Livro de Lisboa, que a obra "O Meu Testemunho: Uma Luta, Um Partido, Dois Países", de Aristides Pereira  (Lisboa, Editorial Notícias, 2003, 974 pp.)  tinha sido em grande parte escrita por ele...

Não há nenhum mal nisso: muitos políticos e outras celebridades (nomeadamente do mundo do espetáculo) recorrem a jornalistas e escritores profissionais, como "copydesks", ajudando-os a publicar as suas memórias ou autobiografias...

Na ficha técnica do livro de Luís Cabral, editado em 1984 sob a chancela de "O Jornal", não há menção sequer de um revisor técnico e/ou de texto. Mas admitimos que tenha tido a ajuda de alguém na parte da escrita. No prefácio, o autor agradece, sem os citar, a "alguns dos seus antigos companheiros" que, além do apoio e estímulo, lhe forneceram "importantes precisões sobre factos descritos sem qualquer documentação".

O livro foi publicado em julho de 1984. O prefácio escrito em outubro de 1983. E a detenção na Amura decorreu, presumivelmentre,  entre novembro de 1980 e o  final do ano de 1981 (13 meses). Esteve depois exilado  em Cuba e a seguir em Cabo Verde, nos anos de 1982 e 1983. 

O "making of" do livro deve ser deste período, mas curiosamente as referências a Cuba e à participação dos "internacionalistas cubanos" na luta ao lado do PAIGC são escassas ou discretas... Fala de um ou outro médico, mas nem sequer nos dá um número (mesmo que aproximado) dos cubanos que participaram na "luta de libertação", desde 1966. Como se isso se tratasse de um "segredo de Estado"...

O autor é também avaro ou omisso quanto a outros números: população sob controlo do PAIGC, tabancas, escolas, hospitais, armazéns do povo, "barracas" ou "bases", homens armados (incluindo milícias), mortos e feridos, ajuda externa, etc. (Quanto a desertors portugueses, acolhidos pelo PAIGC, fala em 20, se não erro.)

Luís Cabral nunca foi um "operacional", ou um "combatente", de armas na mão... Nem devia ter qualquer formação militar específica... De resto, nunca foi tratado como um comandante, como 'Nino' Vieira, Domingos Ramos, Osvaldo Vieira ou Pedro Pires.  Pertencia ao aparelho político, ao "bureau"...  Mas tinha como pelouro, no interior do território da Guiné, a "reconstrução nacional das áreas libertadas" (sic). E, como Amílcar Cabral não tinha tempo para andar no mato, a caminhar, a pé, dias e dias, até à fronteira, o "mano" fazia as funções de "inspetor-geral"... dos combatentes e da população que os suportava... Em contrapartida, tinha boa memória para nomes, o Luís... 

De qualquer modo, é o homem de confiança do irmão para missões difíceis, nomeadamente na Região Norte e no Senegal (cujas autoridades só tardiamente abrem, ao PAIGC, o "semáf0ro verde" para o trânsito de homens armados, e de carregamentos  de armas e munições; e por essa razão o Luís passava mais tempo em Dacar, enquanto o Amílcar percorria as capelinhas a "ajuda internacional" e fazia o "marketing político" da sua "revolução africana").

A narrativa conserva um estilo de alguma oralidade, mas o autor raramente é traído pelo  crioulo guineense com que, supomos, se exprimia no dia-a-dia, para mais sendo casado com uma senegalesa, de origem cabo-verdiana, Lucette Andrade (ou uma filha de pais cabo-verdianos, da ilha de Santiago, a viver em Dacar), e lidando com muita gente de PAIGC de diferentes etnias. 

No final há um glossário, com 27 termos, para uso do leitor português (sem novidades para nós). O livro é ainda ilustrado com 3 dezenas de fotografias.

Numa primeira impressão, o livro tem algo de hagiográfico: o Luís Cabral viveu muito em função do irmão, que admirava acriticamente, pondo-o  no altar dos deuses ou semi-deuses (que para os gregos eram os heróis). E não é por acaso que as suas memórias acabam com as derradeiras recordações do Amílcar, no dia a seguir à sua morte em Conacri... 

Um dia depois, a 21 de janeiro de 1973, Luís chega a Dacar, e só então sabe da trágica notícia... É o último a saber, cruel ironia!... Senghor põe então um avião à disposição da delegação do PAIGC que se desloca a Conacri para as cerimónias fúnebres"...

Trata-se, mais do que um trajeto pessoal (o do guineense Luís Cabral, filho de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa, antigo contabilista da Casa Gouveia, para onde entrou com uma cunha do irmão, conceituado engenheiro agrónomo): é, de facto, uma crónica da "luta de libertação",  mas ao mesmo tempo é também a crónica de uma morte anunciada,  parafraseando o título de um dos romances do colombiano Gabriel Garcia Márquez.  

Ao longo destas quatrocentas e tal páginas, que seguem um fio cronológico, embora sejam avaras em datas precisas, o autor não esconde que o seu irmão foi sendo alvo de várias tentativas de assassinato por parte de homens do seu partido... (A lista parece ser bem maior do que as referidas por Luís Cabral.) (***). A última, em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, foi fatal. 

Mas o Luís é incapaz de perceber as razões e as motivações que estão por detrás desta tragédia: como é que um homem como o irmão, Amílcar,  tão amado e até idolatrado por tantos, podia ser também tão odiado por alguns, para mais estando dele tão próximos ?

(Continua)
_________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(...) É uma crónica em que quase se endeusa o líder máximo do PAIGC, tal a admiração de Luís pelo irmão. Do princípio ao fim destas memórias, Amílcar Cabral é o autor do pensamento que guia o movimento revolucionário, é o teórico indiscutível, é ele quem elabora os documentos fundamentais, quem tece a estratégia da guerra, quem representa com fulgor o PAIGC nos areópagos internacionais, está no centro da gestão dos conflitos com os países limítrofes, é o militante infatigável, a fonte de coragem que animou um movimento de libertação desde que se constituiu a partir de um simples conjunto de pequenos burgueses de Bissau até ao Exército que se confrontou e fez respeitar pelas Forças Armadas portuguesas. (...) 

(**) Vd. poste de 1 de junho de  2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)

(***) Vd. poste de 22 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23905: Antologia (87): Apresentação do livro de Daniel dos Santos, "Amílcar Cabral: um outro olhar", pelo eng.º Armindo Ferreira, na Praia, em 5/9/2014

Guiné 61/74 - P24030: (In)citações (229): A matança do porco... do nosso contentamento (Francisco Baptista / Alberto Branquinho / Joaquim Costa / José Belo / Luís Graça / Valdemar Queiroz)

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias".


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "É hora de levantar cada um a sua parte e comer em família, cada um em sua tabanca [morança]".

Fotos (legendas): © José Manuel Lopes (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O texto, de cinco estrelas, que escreveu o Francisco Baptista sobre a matança do porco em Brunhoso, na terra fria transmontana, já mereceu uma boa mão cheia de comentários... Reporta-nos para as memórias, os sabores, os paladares, as brincadeiras,  a ruralidade, as festividades cíclicas, as geografias emocionais da nossa infância, enfim, para um Portugal que não existe mais e donde saiu um milhão de homens para fazer a guerra em África (1961/74), e que eram capazes de vender, não digo a G3, mas pelo menos a alma ao diabo,  por um salpicão, umas chouriças ou um naco de presunto do fumeiro da santa terrinha... (que isso, sim, é que era pecado, para os nossos amigos e leais fulas, respeitadores da lei de Maomé).

Na Guiné os animistas como os balantas criavam uns porquinhos que, com relutância, vendiam à tropa,  às vezes eram atropelados pelo "burrinho" (o Unimog 411), que entrava pela tabanca dentro sem respeitar os "sinais de trânsito" e as orientações da "psícola" do Spínola,,, Outras vezes, havia uns corajosos e sortudos caçadores que lá apanhavam, no mato,  fora do arame farpado, um porco selvagem ou javali... 

Nesses dias havia festa no quartel, como documentam as fotos que acima reproduzimos... (E a propósito, não me lembro de ter comido carne de porco, da "pocilga do vagomestre", mas tenho que admitir que havia vagomestres engenhososos, criativos e nossos amigos que criavam uns porquinhos, com as sobras do rancho...).

Vale a pena, entretanto,  selecionar alguns dos comentários ao poste P24026 (*)

(i) Valdemar Queiroz:

Que apetitoso texto. Com cheiro a porco chamuscado e às tripas que tiravam da barriga ainda a fumar. Só faltou ouvir o porco guinchar antes, durante e no fim da matança.

Em criança de 9 anos, lembro-me de ter ido a uma matança do porco na casa da tia Rosa Verde. Pelo guinchar de outras paragens, o matador devia estar a chegar.

Eram só mulheres a tratar da matança, apenas dois homens a agarrar e atar o porco em cima do carro das "piscas". A minha avó era do grupo que tratava da lavagem das tripas, e eu ia com ela à foz do rio junto ao mar lava-las com areia(?) e limões.

Depois era toda a gente a encher chouriços e os rapazes e raparigas desapareciam nas brincadeiras.

Que pena eu não saber escrever como o Francisco Baptista. (...)

31 de janeiro de 2023 às 23:14  

(ii) Francisco Baptista:

Camarada e amigo Valdemar Queiroz, tu escreves bons comentários também saberás escrever bons textos.

Os porcos grunhem, não guincham, confesso que, à distância de muitos anos, esse grunhir queixoso me incomoda mais do que no tempo real em que acontecia, talvez porque com mais idade, com outra experiência de vida e mais conhecimentos, me tenha dado  conta que há a inteligência humana dos bípedes como nós e a inteligência animal. Talvez os porcos,  ao serem puxados com uma corda e ao depararem com tantos homens,  adivinhassem que era o fim da boa vida e das comezainas. 

Lembro-me da minha mãe que durante muitos anos matou as galinhas e os perus e, com mais idade, deixou de o fazer. Enfim com a idade ficamos mais humanos e passamos a ficar mais próximos e a compreender melhor os animais.

Continuo a gostar da carne de porco, ainda ontem comi um bom cozido dessa carne.

1 de fevereiro de 2023 às 11:07

(iii)  Luís Graça;

Francisco, é um texto de valor etnográfico. É bom poder voltar a ler os teus escritos. Este Portugal, da matança do porco, do fumeiro, da salgadeira..., já não existe mais. Há anos que deixámos de matar o porco em Candoz, no Norte... Mas faz parte das minhas memórias de infância, quando eu, menino e moço, ia à aldeia da minha mãe, Nadrupe, a 3 km da vila da Lourinhã, ma Estremadura, para participar na "festa" da matança do porco... Era sempre por esta altura, no inverno. Ao pé do mar, não se fazem presuntos, mas havia também um bom fumeiro, à base de chouriços.

(,,,) "Lembras-te da matança do porco, do facalhão com que matavam o porco, o alvoroço do povo, de forquilha e sachola na mão, os gritos do porco, o sangue aos borbotões, parirás com dor, os uivos do louco, e comerás o pão com o suor do teu rosto, a agonia do porco, a casa farta, o sarrabulho, o terror da morte, o cruel fatalismo dos provérbios populares, hoje com saúde, amanhã no ataúde, os corpos a sangrar de saúde, filho sem dor, mãe sem amor, a lição de anatomia, se queres conhecer o teu corpo, mata o teu porco, a lição de medicina, o que faz bem ao braço, faz mal ao baço, as partidas que os grandes pregavam à pequenada, a bexiga do porco, alegria de pequenos e graúdos, transformada em bola de futebol por menos de uma hora. Que, afinal, a vida tem uma porta só, a morte tem cem." (...)

1 de fevereiro de 2023 às 12:12

(iv) Joaquim Costa:

Em minha casa todos os anos se matava o porco. Era dia de muitas emoções para mim. O frenesim começava de manhã cedo com os preparativos e terminava ao fim da tarde com a chegada do especialista, com o seu facão para aplicar o golpe de misericórdia no sítio certo de forma a evitar o sofrimento do bicho. Este parecia que adivinhava o que vinha aí,  já que desde muito cedo mantinha um comportamento anormal. O caminho do calvário (corredor da morte) da pocilga até à rudimentar mesa onde era atado, esperneava, grunhia e gritava (...). . Era uma cena macabra. Ainda o bicho ofegava e já era chamuscado com tochas de palha a arder.

Depois era o lavar das tripas, fazer os enchidos e proceder à salga... Mas o que mais me impressionava era a matança da galinha, com a minha mãe cortando a cabeço à pobre ave (que esperneava sem cabeça) que durante meses era tratava com zelo e carinho.

Mas verdadeiramente arrepiante era a matança do coelho com as pancadas dadas no cachaço do fofinho animal. Fugia daquela cena arrepiante, razão pela qual nunca comi coelho na minha vida. 

Felizmente hoje a matança é … mais fofinha ! ?

1 de fevereiro de 2023 às 12:14



(v) Alberto Branquinho

Ó Francisco! Gostei muito do teu texto. Fez-me voltar à infância.

Na minha santa terrinha, que não é muito longe da tua (o Douro separa-nos), aos pulmões não chamam "boches", mas "bofes" e ao teu "piche" chama-se "alpechim" (origem árabe, vê tu, em terra de judeus...).

E com o auxílio de "fachas" de palha a arder não tiravam as unhas ao bicho para dar à garotada? Que as coloca no nariz e berrava: "Cheira a "carrapé"!

E não faziam cruzes no sangue com palhinhas para "coalhar" mais depressa?

O "unto", homem, o "unto"! É capaz de ser por causa disso que o pessoal não tem colesterol... Ou tem?

A matança, pois! Há uns poucos anos assisti a uma (clandestina), mas a pressa de matar (?!) era tanta, com medo de aparecer a fiscalização...

 1 de fevereiro de 2023 às 16:33

(vi) José Belo (... from Key West, Florida, USA):

Fantástico poder de observação. Minuciosos detalhes que transformam uma recordação em algo de vivo e actual.

Será…”todo um mundo que desapareceu “?

Ou antes páginas viradas de um mesmo livro?! Páginas (as viradas e as por virar) que mais não são que um “continuum” existencial?!

Encontram-se no interior do livro o passado, o presente e o futuro?! Entramos neles de acordo com a página,ou capítulo que (de momento) abrimos?!

E,mais uma vez, estou-te grato por teres folheado o teu “livro”.