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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21464: (De)Caras (164): Cecília Supico Pinto, a líder do Movimento Nacional Feminino: visitou 4 vezes o CTIG (em 1966, 1969, 1973 e 1974), mas nunca deve ter ido a Madina do Boé...


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Destacamento de Carenque > 1973 > A Cilinha a "cantar o fado"... perante um grupo de soldados... (Carenque ficava a norte da ilha de Pecixe, na margem direita do Rio Mansoa.)

Espantosa  foto, de antologia, de António Tavares dos Santos [, presumivelmente, fur mil, 2.ª C/BCAÇ 4615 e CCaç 19. Guidaje, 1973/74]... Cortesia da página Arquivo Digital, alojada em Agrupamento de Escolas José Estêvão, Projeto Porf 2000, Aveiro e Cultura.




Guiné > s/l > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto,  falando para um grupo de militares; em segundo plano, um dos seus "braços direitos", também elemengo da comissão central do MNF, [Amélia] Renata [Henriques de Freitas] da Cunha e Costa . 

Fotogramas do vídeo (6' 43'') da RTP Arquivos > 1966-02-01 > Cecília Supico Pinto visita Guiné (Com a devida vénia...)


S/l > S/d > c. 1971 >  Cecília Supico Pinto, com o seu inseparável cigarro, e  Renata da Cunha e Costa, viajando de helicóptero ao enconto de um grupo de militares no mato, possivelmente em Angola ou Moçambique.

Fotogramas do vídeo (25' 00'')  da  RTP Arquivos > 1971 - 05- 17 > Um Dia Com… Movimento Nacional Feminino (Com a devida vénia...)


1. Quantas vezes esteve na Guiné e por onde andou, a Cecília [Maria de Castro Pereira de Carvalho] Supico Pinto (1921-2011), fundador e presidente da comissão central do Movimento Nacional Feminino (MNF) ? Por exemplo, será que alguma vez esteve em Madina do Boé ?

Esteve quatro vezes na sua "Guinesinha", em 1966, 1969, 1973 e 1974... Alguns dos sítios que visitou, no mato, estão documentados. Mas seria preciso recorrer às revistas do MNF, como a "Presença" e a "Guerrilha", para saber mais pormenores, para não falar do seu arquivo...

No livro da investigadora Sílvia Espírito Santo, “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.), de que possuo um exemplar autografado (“Ao Luís Graça, com simpatia. Sílvia Espírito Santo, fev 08”), as viagens à Guiné estão mal documentadas. 

Há apenas duas ou três páginas com escassas referências à Guiné:

"Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". (Entrevista dada em 2004, em Cascais, excerto transcrito no livro, na página 116.)

Houve, por certo, erro (grosseiro) de transcrição dos topónimos, imputável  à investigadora. Com quatro viagens à Guiné, a presidente do MNF sabia, por certo, soletrar os nomes das principais povoações, não chamando Gadamaela a Gadamael (que, de resto, visitou a pouco menos de um mês do 25 de Abril de 1974)... Ou queria referir-se a Gandembel ? 

Na página 117 do citado livro, é referido que a “Cilinha”, como gostava de ser tratada por toda a gente, foi promovida duas vezes, a título honorífico: de soldado Pinto a 1º cabo Pinto, com direito a camuflado e a uma G3, em Bula, ao tempo do ten cor cav  Henrique Calado, comandante do BCAV 790 (Bula, 1965/67). 

Esta visita só pode ter  acontecido em 1966, a primeira vez que ela fez à Guiné, com partida a 1 de fevereiro, era então governador-geral e comandante-chefe o gen Arnaldo Schulz, Esta visitada está documentada em vídeo dos Arquivos da RTP,  disponível aqui, infelizmente sem som (***). 

Na chegada a Bissalanca, há militares da CCAÇ 618 (São Domingos, 1964/68) que estavam já em Bissau,  de regresso à Metrópole (marcado para 9 de fevereiro), e que fizeram as honras da receção (mais ou menos protocolar).  Na viagem ao interior da Guiné, em DO 27, não há indícios de ter ido a Madina do Boé. De qualquer modo, já nessa altura seria de todo "desaconselhável" lá ir, de heli ou DO-27, por razões de segurança (*)...

Em 11 de maio de 1969, a “Cilinha”, de visita ao Olossato, na região do Oio, é promovida a capitão, pelo comandante da CCAÇ 2402, cap inf Vargas Cardoso. (****). Na visita a Jolmete, nesse mesmo dia,  ela terá vindo expressamente de Bissau, de helicóptero, na companhia de Spínola e da esposa Maria Helena.

Na pág. 119, é referido ter sido ela  atingida por um estilhaço (, em março de 1974, numa coluna de Nova-Lamego a Piche]. O seu batismo de fogo teria sido nos arredores de Mueda, Moçambique, em 1966, em que seguia com Renata da Cunha e Costa (pág. 116). 



Capa do livro de Sílva Espírito Santo, “Cecília Supico Pinto: 
o rosto do movimento nacional feminino” 
(Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.) 


Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi, na qualidade de presidente do MNF. Por exemplo, em entrevista à revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte ao cor inf Manuel A. Bernardo (**):

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...) 

Sabemos que em maio  de 1969 esteve também no Leste da Guiné (*): Bambadinca, Nova Lamego,  Buruntuma (a 4, segundo o nosso camarada Abel Santos) , e noutros sítios, por certo... Mas Madina do Boé já tinha sido evacuada um mês antes, em 6/2/1969. 

Em março de 1973, esteve em Mansoa, Teixeira Pinto, Carenque… Mas também na região de Quínara: por exemplo, em Nova Sintra, (Nessa altura, ainda teve direito a viagem de heli, com apoio de helicanhão; dias depois, em 25/3/1973 era abatido por um Strela a primeira aeronave da FAP.)

Podia-se discutir se, face à penúria de meios aéreos no CTIG, fazia sentido a presidente do MNF, em viagem "quase de Estado", andar normalmente de heli, no mato, ou de DO-27... Em geral, ela  viajava "by air"... 

Mas houve exceções: a viagem de Nhala para Aldeia Formosa, na nova estrada, em 11 de março de 1974; a viagem de Nova Lamego-Piche-Canquelifá, em estrada alcatroada, na mesma altura (em que coluna apanhou com uma mina A/C).

De qualquer modo, já em março de 1969, o heli (e ainda mais o helicanhão) era uma arma considerada caríssima:  15 contos por hora, cerca de 4600 euros, a preços de hoje!...
 
Não sabemos se os "privilégios" do MNF se alteraram com a mudança de líder do regime, Marcello Caetano, substituto de Salazar, de quem a Cecília Supinco Pinto guardou uma imagem de "fraco"... O que era compreensível: Salazar, para ela, só poderia haver um...

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (****).

2. Portanto, pelo que conseguimos apurar, a Cecília Supico Pinto esteve então  por 4 vezes no CTIG: 1966, 1969, 1973, 1974… 

Em 1974, esteve em Nhala e Aldeia Formosa. Mais exatamente, sabemos que esteve em Nhala, em 10/3/1974, pernoitando em Aldeia Formosa nesse dia, a menos que tenha regressado a Bissau de helicóptero, nesse fim de tarde, o que nos parece menos provável (*****)… 

Visitou Gadamael também nessa altura, em março de 1974, em data que não podemos precisar. Fez-se acompanhar por um pelotão do destacamento de Fuzileiros de Cacine.

Portanto, se  alguma vez teve oportunidade de  visitar Madina di Boé, só poderia  ter sido em  fevereiro de 1966, no tempo seco, de heli ou DO-27.  (******)

 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

  17 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21457: (Ex)citações (377): As visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

11 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (128): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?

 

(...) Resumo Analítico: Cecília Supico Pinto é recebida por militares portugueses; cumprimentos; visita instalações militares; avioneta militar em vôo; a aterrar; Cecília Pinto sai de avioneta; visita a região; zona habitacional dos militares; cerimónias com militares portugueses; discurso de Cecília Supico Pinto; militares oferecem presentes a Cecília; visita às instalações do aeroporto militar; oficinas; aviões a serem reparados; Cecília Pinto fala com militares. (...) 


(...) Programa sobre o Movimento Nacional Feminino, onde Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento, apresenta e comenta as várias atividades desenvolvidas pela organização (...)