segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21464: (De)Caras (164): Cecília Supico Pinto, a líder do Movimento Nacional Feminino: visitou 4 vezes o CTIG (em 1966, 1969, 1973 e 1974), mas nunca deve ter ido a Madina do Boé...


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Destacamento de Carenque > 1973 > A Cilinha a "cantar o fado"... perante um grupo de soldados... (Carenque ficava a norte da ilha de Pecixe, na margem direita do Rio Mansoa.)

Espantosa  foto, de antologia, de António Tavares dos Santos [, presumivelmente, fur mil, 2.ª C/BCAÇ 4615 e CCaç 19. Guidaje, 1973/74]... Cortesia da página Arquivo Digital, alojada em Agrupamento de Escolas José Estêvão, Projeto Porf 2000, Aveiro e Cultura.




Guiné > s/l > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto,  falando para um grupo de militares; em segundo plano, um dos seus "braços direitos", também elemengo da comissão central do MNF, [Amélia] Renata [Henriques de Freitas] da Cunha e Costa . 

Fotogramas do vídeo (6' 43'') da RTP Arquivos > 1966-02-01 > Cecília Supico Pinto visita Guiné (Com a devida vénia...)


S/l > S/d > c. 1971 >  Cecília Supico Pinto, com o seu inseparável cigarro, e  Renata da Cunha e Costa, viajando de helicóptero ao enconto de um grupo de militares no mato, possivelmente em Angola ou Moçambique.

Fotogramas do vídeo (25' 00'')  da  RTP Arquivos > 1971 - 05- 17 > Um Dia Com… Movimento Nacional Feminino (Com a devida vénia...)


1. Quantas vezes esteve na Guiné e por onde andou, a Cecília [Maria de Castro Pereira de Carvalho] Supico Pinto (1921-2011), fundador e presidente da comissão central do Movimento Nacional Feminino (MNF) ? Por exemplo, será que alguma vez esteve em Madina do Boé ?

Esteve quatro vezes na sua "Guinesinha", em 1966, 1969, 1973 e 1974... Alguns dos sítios que visitou, no mato, estão documentados. Mas seria preciso recorrer às revistas do MNF, como a "Presença" e a "Guerrilha", para saber mais pormenores, para não falar do seu arquivo...

No livro da investigadora Sílvia Espírito Santo, “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.), de que possuo um exemplar autografado (“Ao Luís Graça, com simpatia. Sílvia Espírito Santo, fev 08”), as viagens à Guiné estão mal documentadas. 

Há apenas duas ou três páginas com escassas referências à Guiné:

"Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". (Entrevista dada em 2004, em Cascais, excerto transcrito no livro, na página 116.)

Houve, por certo, erro (grosseiro) de transcrição dos topónimos, imputável  à investigadora. Com quatro viagens à Guiné, a presidente do MNF sabia, por certo, soletrar os nomes das principais povoações, não chamando Gadamaela a Gadamael (que, de resto, visitou a pouco menos de um mês do 25 de Abril de 1974)... Ou queria referir-se a Gandembel ? 

Na página 117 do citado livro, é referido que a “Cilinha”, como gostava de ser tratada por toda a gente, foi promovida duas vezes, a título honorífico: de soldado Pinto a 1º cabo Pinto, com direito a camuflado e a uma G3, em Bula, ao tempo do ten cor cav  Henrique Calado, comandante do BCAV 790 (Bula, 1965/67). 

Esta visita só pode ter  acontecido em 1966, a primeira vez que ela fez à Guiné, com partida a 1 de fevereiro, era então governador-geral e comandante-chefe o gen Arnaldo Schulz, Esta visitada está documentada em vídeo dos Arquivos da RTP,  disponível aqui, infelizmente sem som (***). 

Na chegada a Bissalanca, há militares da CCAÇ 618 (São Domingos, 1964/68) que estavam já em Bissau,  de regresso à Metrópole (marcado para 9 de fevereiro), e que fizeram as honras da receção (mais ou menos protocolar).  Na viagem ao interior da Guiné, em DO 27, não há indícios de ter ido a Madina do Boé. De qualquer modo, já nessa altura seria de todo "desaconselhável" lá ir, de heli ou DO-27, por razões de segurança (*)...

Em 11 de maio de 1969, a “Cilinha”, de visita ao Olossato, na região do Oio, é promovida a capitão, pelo comandante da CCAÇ 2402, cap inf Vargas Cardoso. (****). Na visita a Jolmete, nesse mesmo dia,  ela terá vindo expressamente de Bissau, de helicóptero, na companhia de Spínola e da esposa Maria Helena.

Na pág. 119, é referido ter sido ela  atingida por um estilhaço (, em março de 1974, numa coluna de Nova-Lamego a Piche]. O seu batismo de fogo teria sido nos arredores de Mueda, Moçambique, em 1966, em que seguia com Renata da Cunha e Costa (pág. 116). 



Capa do livro de Sílva Espírito Santo, “Cecília Supico Pinto: 
o rosto do movimento nacional feminino” 
(Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.) 


Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi, na qualidade de presidente do MNF. Por exemplo, em entrevista à revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte ao cor inf Manuel A. Bernardo (**):

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...) 

Sabemos que em maio  de 1969 esteve também no Leste da Guiné (*): Bambadinca, Nova Lamego,  Buruntuma (a 4, segundo o nosso camarada Abel Santos) , e noutros sítios, por certo... Mas Madina do Boé já tinha sido evacuada um mês antes, em 6/2/1969. 

Em março de 1973, esteve em Mansoa, Teixeira Pinto, Carenque… Mas também na região de Quínara: por exemplo, em Nova Sintra, (Nessa altura, ainda teve direito a viagem de heli, com apoio de helicanhão; dias depois, em 25/3/1973 era abatido por um Strela a primeira aeronave da FAP.)

Podia-se discutir se, face à penúria de meios aéreos no CTIG, fazia sentido a presidente do MNF, em viagem "quase de Estado", andar normalmente de heli, no mato, ou de DO-27... Em geral, ela  viajava "by air"... 

Mas houve exceções: a viagem de Nhala para Aldeia Formosa, na nova estrada, em 11 de março de 1974; a viagem de Nova Lamego-Piche-Canquelifá, em estrada alcatroada, na mesma altura (em que coluna apanhou com uma mina A/C).

De qualquer modo, já em março de 1969, o heli (e ainda mais o helicanhão) era uma arma considerada caríssima:  15 contos por hora, cerca de 4600 euros, a preços de hoje!...
 
Não sabemos se os "privilégios" do MNF se alteraram com a mudança de líder do regime, Marcello Caetano, substituto de Salazar, de quem a Cecília Supinco Pinto guardou uma imagem de "fraco"... O que era compreensível: Salazar, para ela, só poderia haver um...

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (****).

2. Portanto, pelo que conseguimos apurar, a Cecília Supico Pinto esteve então  por 4 vezes no CTIG: 1966, 1969, 1973, 1974… 

Em 1974, esteve em Nhala e Aldeia Formosa. Mais exatamente, sabemos que esteve em Nhala, em 10/3/1974, pernoitando em Aldeia Formosa nesse dia, a menos que tenha regressado a Bissau de helicóptero, nesse fim de tarde, o que nos parece menos provável (*****)… 

Visitou Gadamael também nessa altura, em março de 1974, em data que não podemos precisar. Fez-se acompanhar por um pelotão do destacamento de Fuzileiros de Cacine.

Portanto, se  alguma vez teve oportunidade de  visitar Madina di Boé, só poderia  ter sido em  fevereiro de 1966, no tempo seco, de heli ou DO-27.  (******)

 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

  17 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21457: (Ex)citações (377): As visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

11 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (128): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?

 

(...) Resumo Analítico: Cecília Supico Pinto é recebida por militares portugueses; cumprimentos; visita instalações militares; avioneta militar em vôo; a aterrar; Cecília Pinto sai de avioneta; visita a região; zona habitacional dos militares; cerimónias com militares portugueses; discurso de Cecília Supico Pinto; militares oferecem presentes a Cecília; visita às instalações do aeroporto militar; oficinas; aviões a serem reparados; Cecília Pinto fala com militares. (...) 


(...) Programa sobre o Movimento Nacional Feminino, onde Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento, apresenta e comenta as várias atividades desenvolvidas pela organização (...)

15 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luís.
Se a senhora esteve em Maio de 1969, na zona leste, julgo que a cena do 'quem é que é do Belenenses?', que eu me recordo, se teria passado em Contuboel.
Em Maio também estavas em Contuboel, recordas-te deste acontecimento, ou. então, eu continuo a fazer uma grande confusão.

Outra questão totalmente diferente. Dizes que vais fazer uma intervenção cirúrgica ao joelho e tens andado de canadianas. Lembrei-me dumas stations americanas com a carroceria em madeira dos 1950/60 que chamavam canadiana e vinha equipada com um rádio. Parece que a bófia andava sempre a chatear os donos dessas carrinhas que se dizia poder ouvir a rádio Moscovo nesses rádios.

Abracelo e tudo a correr bem
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bom dia, obrigado pela tua pergunta sobre a senhora do MNF...

Ela esteve la no teu tempo, no Leste, em meados de 1969, é bem possúvel que tenha visitado Contuboel: visitou Bambadinca, Bafatá... Eu ainda nem sequer ia caminho... Parti em 24 de maio de 1969, no "NIassa", com o Jerónimo de Sousa e outros mil e tal anónimos tugas... CHegou a Contuboel a 2 de junho. Sou "periquito" a teu lado... E regressei em março de 1971, pelo que nem vi a senhora, no meu temo, muito menos em cima de um poilão...

Quanto à pergunta sobre o Belenses..., naquele tempo havia gente fina que era do clube de Belém... Se calhar era o caso.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Repara, Valdemar, que há unidades que nem sequer registam a visita da Senhora, pelo menos na sua História: é o caso do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Não há uma linha sobre esta visita em Maio de 1969 (a 10 ou 12, segundo os meus cálculos; em 11 esteve no Olossato e em Jolmete; 4 em Buruntuma, e seguramente em Nova Lamego...).

Eu só fui (fomos, a CCAÇ 2590/CCAÇ 12) para Bambadinca em 18 de julho de 1969, depois da instrução de especialdiade e IAO em Contuboel... Mesmo se ela tivesse ido a Bambadinca nessa altura, a nossa companhia (de portugueses de 2ª classe...) estaria a fazer segurança no subsebtor...

Em suma, nunca a vi em carne e osso, nem nunca utilizei os serviços do MNF... Nem sequer fumei os célebres cigarros de "contrabando" que as Senhoras nos ofereciam na altura do embarque... Até tinham um "marca" e tudo!... "Lucky Strike"... Dizia-se que eram feitos com tabaco reciclado, apanhado no "contrabando" pela Guarda Fiscal...

A Supico Pinto fumava muito, mesmo em cerimónias oficiais e à frente do Salazar. Na época era mal visto um mulher fumar, e para mais em público... Havia excecoes: artistas, fadistas, vedetas... Ela estava acima dessas comvencões, até porque pertencia a uma família da "alta burguesia financeira", o pai era administrador do Banco de Portugal, quando ela se casou em 1945, com o Luís Supico Pinto, ministro da economia do Salazar...

Mas sera que fumava "Três Vintes" ou "Lucky Strike" ?, pergunto me eu...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Çucky Strike ou Três Vinténs ?... Agora tenho dúvidas... Há quem se lembre da "marca" de cigarros distribuidos na hora do embarque, pelas senhoras d MNF ?


Segundo a Wikipedia, "Lucky Strike é uma marca de cigarros pertencente à British American Tobacco. Criada em 1871, está representada por um logotipo muito conhecido, o bull's eye. Ele está no grupo dos cigarros mais fortes, e é dono de uma imagem de rebeldia (fruto do seu marketing internacional)." (...)

E acrescenta-se:

"O cigarro Lucky Strike foi lançado no mercado em 1853 pela empresa R.A. Patterson na cidade de Richmond, estado americano da Virgínia, sendo a primeira marca de cigarro a ser produzida em massa. O nome 'LUCKY STRIKE0 foi escolhido em referência aos tempos da 'Corrida do Ouro'.

"A marca é vendida em mais de 90 países ao redor do mundo, sendo a mais vendida e valiosa da empresa Brown & Williamson. A marca é popular na França, Alemanha e Espanha." (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucky_Strike

Será que a British American Tobacco também fazia doações ao MNF ?...

A ser assim, era uma vergonha para a Tabanqueira SA, a maior empresa portuguesa produtora de cigarros na época. Uma das marcas mais conhecidas era o SG... Fundada em 1927 por Alfredo da Silva, o homem forte da CUF, foi adquirida pela empresa multinacional Philip Morris International em 1997.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tabaqueira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre marcas de cigarros antigas, ver:

https://www.pinterest.pt/pin/105342078771963377/

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Assim é que eu gosto!
Começámos a falar de algo de que não valia a pena falar e acabámos a falar de marcas de tabaco antigas.
Pela imagem do helicóptero podemos ver que a Dama gostava de se exibir. Quantos de nós terão fumado a bordo de um helicóptero em levar a competente rabecada do piloto?
E aquela do fado. Agora além de enfermeira também era "fadista"? Se calhar achava que aquela era uma maneira de a "Mulher Portuguesa", a genuína, a legítima se afirmar. Quem sabe?
Continuamos a promover uma manobra publicitária do regime, mas esta será uma maneira de se não perder um facto que ficou para a História do nosso país naqueles anos.
Só por isso vale a pena.

Um Ab.
António J. P. Pereira da Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caros/as leitores/as: Podemos não gostar, mas esta Cecíia Supico Pinto vai ficar na História das Mullheres Portuguesas no séc. XX. Por boas ou más razões, não interessa, E, quanto mais não seja, pelo seu exemplo de liderança...Claro, que foi uma mulher de poder, aliada ao Poder... Não foi uma "feminista", nem liderou nenhum "movimento social"... Nem o Movimento Nacional Feminino teve o protagonismo que a sua ideóloga, criadora e líder teve. Mas ocupou (e soube conquistar e manter) um espaço, público, político e mediático, que em geral era negado às mulheres portuguesas até ao 25 de Abril...

E tem esta coisa que alguns admiram nela: a sua coerência e frontalidade que a levou a "fechar-se ao mundo", depois de o "seu mundo" ter desabado... Não foi vira-casacas, mesmo tendo amigos e conhecidos entre os militares que fizeram o 25 de Abril, Costa Gomes, por exemplo, ou amigas entre os intelectuais de esquerda, como a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, ou familiares nos patrões da comunicação social, como o Francisco Balsemão (, fundador e diretor do Expresso, deputado, lícer do PSD, 1º ministro) ... Retirou-se do mundo justamente quando perdeu... Também pode haver dignidade na derrota...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Invenção" ou não portuguesa, o "aerograma" fica para sempre ligado ao Movimento Feminino.

No mato, era também conhecido por "bate-estrada" ou até "corta-capim": o correio era, muitas vezes distribuído em cima de uma viatura, e o aerograma lançado por cima das cabeças dos soldados, à maneira de um boomerang.

O "aerograma" foram uma criação do Movimento Nacional Feminino, dirigida pela Cecília Supico Pinto desde 1961, e o seu transporte era assegurado pela TAP ("uma oferta da TAP aos soldados de Portugal"). Fuzeram-se ou distruibuiram-se cerca de 300 milhões de areogramas.

Também foi usados na guerra da propaganda do regime em tempo de guerra, ostentando carimbos de correio com dizeres (, "pobrezinhos", em termos de "marketing político. diga-se de passagem...) como:

(i) "Povo unido, paz e progresso";

(ii) "Povo português, povo africano";

(iii) "Os inimigos da Pátria renunciarão";

(iv) "Muitas raças, uma Nação, Portugal"...
.

Jorge Araujo disse...


Sobre as visitas da Presidente do MNF ao CTIG em 1974, em particular à região Leste, ver também o P21364, de 16Set2020.

Um Ab. Jorge Araújo

Tabanca Grande Luís Graça disse...







16 DE SETEMBRO DE 2020
Guiné 61/74 - P21364: Memórias cruzadas na região de Gabu: dia de luto para o EREC 8840/72, na visita de Cecília Supico Pinto a Canquelifá em 6 de Março de 1974 (Jorge Araújo)



(...) Do «Caderno de Memórias" [, Diário,] de Silvino Neto Matos, edição de autor do qual possuímos um exemplar, e por ter participado naquela missão, retirámos a seguinte passagem:

"Em 06 de Março de 1974 (4.ª feira), durante a coluna a Canquelifá, rebentámos uma mina anticarro reforçada, onde morreu o meu muito grande amigo "Cunha" [José Martins da Cunha, sold apont metralhadora, natural da Trofa, distrito do Porto].

Tinha a minha especialidade, e a sua morte passou a ser a primeira do Esquadrão de Reconhecimento "FOX" 8840.

Para além desta baixa registou-se ainda a evacuação de mais quatro elementos: o furriel Rodrigues, Afonso, António Nunes Figueiredo "Estarreja" e o Hélder de Jesus Costa.



Nessa coluna, na 3.ª viatura, seguia a D. Cecília Supico Pinto (1921-2011), Presidente do Movimento Nacional Feminino, sendo que a primeira era uma Chaimite, a segunda uma White, a que accionou a mina, depois mais uma Chaimite, mais uma White e, finalmente, a coluna constituída por uma companhia operacional [n/n]."

Depois de ter apanhado um "valente" susto (digo eu!), a caminho de Canquelifá, Cecília Supico Pinto viria a viver mais "emoções", desta feita, em Gadamael, quando aí, pela manhã do dia seguinte à sua chegada [Março de 1974], "aguentou estoicamente a primeira flagelação do dia". (C. Martins - P21349).(...)

António J. P. Costa disse...

E a "malta" colaborava no marketing.
Cheguei a ver aerogramas com frases como: "Não dobrar! Contem um par de botas" ou "Contem um xurrasco!"
O humor dos portugueses!
Há, porém, que salientar que o MNF é um bocado como a matemática; "foi o movimento pelo qual, com qual ou sem o qual tudo ficou tal e qual". Mesmo os aerogramas foram copiados de outros correios estrangeiros e poderiam ter sido difundidos e transportados pela TAP, depois de instituídos pelas "autoridades governamentais".
Claro que o MNF deu muito jeito ao "regime" pois assim podia dizer que as "mulheres portuguesas" o apoiavam.

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

(...) "Em 2017, estima-se que o tabaco, incluindo a exposição ao fumo ambiental, tenha contribuído em Portugal para a morte de 5790 pessoas por cancro, 4981 homens e 809 mulheres, o que representou 19,6% do total de óbitos por esta causa registados naquele ano (IHME, 2018).

No que se refere à mortalidade atribuível por grupo etário, segundo estimativas do IHME, o tabaco contribuiu para cerca de uma em cada cinco mortes por cancro observadas em pessoas com idades entre os 15 e os 49 anos e para cerca de uma em cada três no grupo dos 50 aos 69 anos" (...). (Negrito meu).

https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2019/11/RelatorioTabaco2019.pdf.pdf

_____________

Pergunta: quantos dos ex-combatentes morrem, todos os anos, por cancro e outras doenças, por causas atribuíveis ao tabaco ? Não sabemos... Mas não podemos ignorar o facto de muitos de nós, da nossa geração, terem começado a fumar, na tropa e/ou na guerra... Não podemos culpar o MNF por incentivar o consumo do tabaco entre os jovens militares mobilizados para a "guerra do Ultramar"... Infelizmente, a saúde pública, em Portugal, ignorava ou escamoteava os malefícios do tabaco, embora os alertas, no EUA, já fossem de meados da década de 60...

Isto só para dizer que esta "imagem de marca", da presidente do MNF, a fumar, já era um mau exemplo...Tal como o do triste espetáculo da distribuição de maços de cigarros no Cais da Rocha Conde de Óbidos, na nossa despedida... Eu fumei vinte anos, a partir de maio de 1969, mês em que embarquei no "Niassa" para a Guiné...Felizmete, há 30 que deixei de fumar...



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ainda segundo a mesma fonte, "PROGRAMA NACIONAL PARA A PREVENÇÃO E CONTROLO DO TABAGISMO, PORTUGAL, 2019"

https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2019/11/RelatorioTabaco2019.pdf.pdf


(...) Em Portugal, segundo estimativas elaboradas pelo IHME, em 2017 o tabaco contribuiu para a morte de 3225 pessoas por doenças cérebro-cardiovasculares, 2462 homens e 763 mulheres, o que representou 8,7% do total de óbitos por esta causa registados naquele ano.
Deste total, 1747 óbitos resultaram de acidentes isquémicos cardíacos e 1221 de acidentes vasculares cerebrais (IHME, 2018).

No mesmo ano, o tabaco contribuiu para cerca de quatro em cada dez óbitos por enfarte do
miocárdio e por AVC no grupo etário dos 15 aos 49 anos e para cerca de três em cada dez, no grupo dos 50 aos 69 anos. (...) (Negrito meu).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais malefícios do tabacom segundo a fonte que temos vindo a citar:


Em 2017 a diabetes mellitus contribuiu com 3,8% do total de óbitos ocorridos (Instituto Nacional denEstatística IP, 2019).

Fumar aumenta o risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, dificulta o seu controlo e aumenta o risco de complicações (US Department of Health and Human Services, 2010, 2014).

Em 2017, segundo estimativas do IHME, o tabaco contribuiu para a morte de 334 pessoas por esta doença (201 homens e 133 mulheres), o que representou 9,8% do total de óbitos por esta causa registados naquele ano. No mesmo ano estima-se que o tabaco tenha contribuído para cerca de uma em cada cinco mortes por diabetes mellitus tipo 2 observadas em homens dos 50 aos 69 anos" (...)

... E não vale a penas massacrar mais os nossos leitores!

Valdemar Silva disse...

Ó Luís, pf chega de bater no ceguinho, mas estas sovas nunca são demais.
Em 2010, por causa da merda dos cigarros, comecei a fumar aos 15/16 anos, tive quase a ir prós torrões, a minha sorte foi ter «apenas» um enfizema provocando a DPOC e cumprindo devidamente o tratamento, embora muito debilitado, cá me tenho aguentado.
Já fumava antes de ir pra tropa, mas ter estado na Guiné aumentei o consumo dos cigarros.
Depois, senti-me autorizado a fumar em casa e no trabalho, e fumei durante 50 anos.
Mas,.. 'whisky antes e um cigarro depois', ou o 'dá quilómetros de prazer' do anúncio dos cigarros Kart, ou 'Para um trabalho de responsabilidade-Cigarros Porto na base da sua decisão' com a imagem do um médico, não faltavam apelativos para se fumar. Agora, com as proibições, o conhecimento de doenças mortais devido ao do tabaco, baixou bastante o consumo, pese embora começar a notar-se o investimento das tabaqueiras no cinema financiando filmes de época em que quase todos fumavam.
Parece-me que a Cilinha, no heli, está a fumar SG Gigante.

Abracelos
Valdemar Queiroz