quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21364: Memórias cruzadas na região de Gabu: dia de luto para o EREC 8840/72, na visita de Cecíiia Supinco Pinto a Canquelifá em 6 de Março de 1974 (Jorge Araújo)

Infogravura do (eventual) itinerário utilizado em Março de 1974 por Cecília Supico Pinto (1921-2011), iniciado na Região de Gabú, Zona Leste, no dia 6 (4.ª feira). No decurso da coluna Piche – Canquelifá, a primeira etapa deste programa, na qual a presidente do MNF se incluía, o Esquadrão de Reconhecimento "FOX" 8840/72 (Bafatá, 1973-1974) registou a sua primeira baixa provocada pelo accionamento de mina anticarro.



Foto 1 – Canquelifá (Região de Gabú) – mais uma imagem da destruição da tabanca de Canquelifá, na sequência das diversas flagelações levadas a cabo pelo PAIGC, iniciadas em 17 de Março de 1974, com recurso a morteiros 120 e foguetões 122. [foto gentilmente cedida pelo Eugénio Pereira, ex-fur mil da CCAÇ 3545 (1973-1974)].


Foto 2 – Estado em que ficou a "White" na sequência da explosão da mina anticarro, durante a coluna Piche – Canquelifá, na qual estava incluída a "Cilinha". (Foto gentilmente cedida pelo Silvino Matos, ao fundo à direita; e à esquerda o João da Costa Araújo "Jonas".



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior; vive em, Almada: acaba de regressar de Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos, onde foi "apanhado" durante vários meses pela pandemia de Covid-19; tem mais de 260 registos no nosso blogue... e já está a preparar o próximo ano letivo, que não vai ser fácil paar ninguém: professores, e demais pessoal da conunidade escolar: pessoal não docente,alunos, pais e encarregados de educação, etc.


MEMÓRIAS CRUZADAS NA REGIÃO DE GABU: DIA DE LUTO PARA O EREC 8840 NA VISITA DE CECÍLIA SUPICO PINTO A CANQUELIFÁ EM  6 DE MARÇO DE 1974 



► ADENDA AO P21361 (15.09.20) (*)


A expressiva e bem conseguida reportagem sobre a visita a Nhacra da Presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (1921-2011), realizada pelo camarada António Murta, em 10 de Março de 1974, domingo, que agradecemos, hoje postada no P21361, levou-me a acrescentar mais alguns elementos históricos, já que não é todos os dias que surgem oportunidades para nos referirmos à líder daquele Movimento, por si criado em 28 de Abril de 1961.


Entretanto, na 4.ª feira anterior à sua chegada a Nhala, em 6 de Março de 1974, Cecília Supico Pinto saiu ilesa durante a coluna Piche – Canquelifá, onde ia visitar o contingente da CCAÇ 3545 [, vd. foto acima nº 1], após um carro de combate "White", do EREC 8840, unidade comandada pelo Cap Cav Xavier Silveira Montenegro Carvalhais, ter explodido ao accionar uma mina anticarro durante o referido itinerário.[Vd. foto acima, nº 2]



Do «Caderno de Memórias" [, Diário,]  de Silvino Neto Matos, edição de autor  do qual possuímos um exemplar, e por ter participado naquela missão, retirámos a seguinte passagem:


"Em 06 de Março de 1974 (4.ª feira), durante a coluna a Canquelifá, rebentámos uma mina anticarro reforçada, onde morreu o meu muito grande amigo "Cunha" [José Martins da Cunha, sold apont metralhadora, natural da Trofa, distrito do Porto].


Tinha a minha especialidade, e a sua morte passou a ser a primeira do Esquadrão de Reconhecimento "FOX" 8840.

 

Para além desta baixa registou-se ainda a evacuação de mais quatro elementos: o furriel Rodrigues, Afonso, António Nunes Figueiredo "Estarreja" e o Hélder de Jesus Costa.


Nessa coluna, na 3.ª viatura, seguia a D. Cecília Supico Pinto (1921-2011), Presidente do Movimento Nacional Feminino, sendo que a primeira era uma Chaimite, a segunda uma White, a que accionou a mina, depois mais uma Chaimite, mais uma White e, finalmente, a coluna constituída por uma companhia operacional [n/n]." 


Depois de ter apanhado um "valente" susto (digo eu!), a caminho de Canquelifá, Cecília Supico Pinto viria a viver mais "emoções", desta feita, em Gadamael, quando aí, pela manhã do dia seguinte à sua chegada [Março de 1974], "aguentou estoicamente a primeira flagelação do dia". (C. Martins - P21349). [Vd. infografia acima].

 

Termino, agradecendo a atenção dispensada. (**)

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

15Set2020


______________


(**)  Último poste da série > 31 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21306: Memórias cruzadas na região do "Macaréu" (Bambadinca) em 1971: a realidade e a ficção (Jorge Araújo)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Apesar de, em certas noites, dependendo das condições metereológicas, podermos ouvir os"embrulhanços" uns dos outros, a muitos quilómetros de distância, não sabíamos os detalhes: os estragos, as mortes, os feridos, etc. Na prática, estávamos isolados uns dos outros, como convinha, por causa do "moral das tropas"...

Seguramente que o Murta, em 10/3/2020, domingo, não sabia o que se havia passado, na quarta feira anterior, na estrada de Piche-Canquelifá, a menos que a Cilinha tenha "dado à língua",o que era pouco provável... Ao fim daqueles todos anos, a viajar pelos 3 teatros de operações, e a aventurar-se pelas medonhas estradas da Guié, a líder e carismática Celinha, já devia ter interiorizado a "disciplina militar" e os "imperativos da segurança"... O que não a impedia de ter uma imagem provavelmente pessimista da evolução político-militar da Guiné. que ela tanto aprendeu a amar...

E, tanto quanto sabemos, não morria de amores pelo Marcelo Caetano...Também o sobrinho, Pinto Balsemão, o fundador do "Expresso, cedo se desiludiu com a falsa "primavera politica" marcelista...

De qualquer modo, muitos combatentes não deixavam de ter alguma simpatia por esta mulher que levou, até ao fim, a sua cruz, a sua paixão...Foi coerente, e inegavelmente corajosa...Mas a coragem não chega para se ficar na História...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O que dirão os nossos descendentes, daqui a 50 anos, sobre a "Passionara" do Estado Novo ?... E-me completamente indiferente, já não estarei cá...

Abilio Duarte disse...

A mim, nada do que essa senhora fez ou participou, não me aquece ou arrefece, pois ela estava lá de alma e coração a defender os seus ideais, a cavalo da tropa continental e guineense.
O que estas fotos mostram, e mostram e mostram é o sacrifício, a ansiedade o medo e tudo mais por uma guerra, que era dela e dos seus interesses, e não da maioria dos portugueses que deram com os costado em tal terra.Muitos dos que deram o seu suor e sangue, só conheciam Lisboa quando embarcavam, e iam parar a uma terra, em que o seu semelhante, não tinha nada a ver com a sua pele, educação e religião.
Mas a vida de todos nós é feita destas pequenas ou grandes coisas, a mim o que mais me custou, foi lá estar 22 meses, como antes de mim estiveram outros, e depois de mim outros estiveram, e a merda, de que era uma questão de policia como dizia o botas de Santa Comba, nunca mais terminava.
Mas estou de consciência limpa,e durmo bem, pois apesar de não estar de acordo com tal situação, cumpri e não fugi,

Abílio Duarte

Valdemar Silva disse...

Uff!!! 'té qu'enfim.
Já tenho o meu computador arranjado, tal como eu estava com falta d'ar, teve que levar uma ventoinha nova.
Foram 15 dias de nervoso miudinho, tratava-se duma computo dependência.
No meu caso, com a minha doença e, agora, com os cuidados covid mais dificilmente saía de casa.
O computador para mim é como estar a conversar com os amigos no café, ler jornais, visitar exposições, ir ao cinema ou ao teatro, entrar à conversa com a rapaziada da Guiné aqui no blogue e principalmente comunicar com os meus netos que vivem na Neerlândia.
Dediquei-me à leitura, relendo a "Viagem a Portugal", de José Saramago, por não aguentar os atestados de estupidez dos programas televisivos da sic e tvi: de manhã casos de polícia e tal, à tarde casos de doenças e tal com promoções das medicar privadas que trata de tudo não se sabendo o que se paga por tudo tratado.
É um autêntico abuso da paciência das pessoas, que levam de manhã com os crimes do 'estava completamente morto' e à tarde com a doença da mulher com abusava do 'coiso'.
Podiam ter a ideia, que aparece no livro do Saramago, nas manhãs dos crimes e tal desvendarem a história do soldado transmontano José Jorge e nas tardes de doenças e tal visitarem a aldeia minhota de Covide sabendo se por causa disso têm mais ou menos convid ados.

Duarte, exactamente.
Não me recordo bem se a pequena nos foi visitar, mas tenho uma ideia daquela 'quem é do Benfica?' e depois oferecia uma bola de futebol.
Está a passar o tempo das sardinhadas e ainda não foi desta que fomos atacar umas aqui prós meus lados.

Ab., saúde da boa e nada de confiança ao bicharoco.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, entendo a tua "felicidadee e partilho-o... Podes crer que já estava a ficar preocupado com o teu estranho e prolongado silêncio... Pensei cá com os meus botões: "De duas uma, ou o rapaz teve ordem de soltura e foi apanhar o ar fresco do campo, ou então foi "co(n)vidado e nesse caso está amarrado a um dessas terríveis máquinas a que chamamos ventiladores, lá nos cuidados intensivos do hospitak mais próximo, de que Dwus nos libre!"...


Confesso que não ganhei para o susto... Afinal, foi apenas a "ventoinha" do teu computador que bifou!... Bolas, já estava a ver os malditos dos jagudis à volta do telhado da tua morança!... É que os gajos cheiram a desgraça a quilómetros de distância.

Bem vindo a bordo, de novo, camarada!

PS - Também não me lembro de a "Senhora" visitar a nossa tropa-macaca da CCAÇ 12... Também não admira, nunca estávamos no quartel, o nosso poiso era o mato... Tambem nunca nos ofereceu nenhum conjunto musical... A nossa música era outra...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As partidas e as chegadas da Cilinha eram um acontecimento social... A RTP não perdia pitada...

Pesquisem no Google: "Cecília Supico Pinto" + "RTP Arquivos"

Valdemar Silva disse...

Luís, obrigado pela preocupação.
Fosga-se com essa lembrança dos jagudis, julgo que nem esses querem alguma coisa connosco: este é um daqueles que aguentou a guerra na Guiné, pensarão os passarões lá do alto da sua coca.
Foram uns dias lixados, já que estou muito habituado ao uso do computador para tratar dos mais diversos assuntos devido às dificuldades de me deslocar a qualquer lado.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Abilio Duarte disse...

Olá Valdemar,
É verdade não fomos com o Monteiro e o Macias á sardinhada, vamos lá ver se vamos comer um bom bacalhau assado proximamente.

As tuas melhoras.
Abraço