sábado, 19 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21374: (De) Caras (163): A Cilinha veio de helicóptero a Nova Sintra, em março de 1973: na despedida estávamos todos a olhar para o helicanhão... (Carlos Barros)



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011).  O terceiro, a contar da esquerda para a direita, "magricelas e de bigode", era o Carlos Barros.

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde  (, não visível na foto).  Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros esclarece agora o "mistério"...
 
Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros


1. M
ensagem do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande, nº 815, natural de Esposende]

Date: sábado, 19/09/2020 à(s) 16:00
Subject: A visita da Cilinha a Nova Sintra, 1973

Luís:

Para não adensar o "mistério", pelo contrário, quero "desmistificá-lo, penso que tenho uma explicação sobre os "olhares" dos militares na despedida da Cilinha do MNF. (*)

Ela chegou de helicóptero e vinha um "helicanhão" na sua proteção e estávamos todos a olhar para o Héli que sobrevoava a pista,  daí a razão da nossa observação e admiração pela atuação do helicóptero na vigilância sobre a mata que circundava o destacamento de Nova Sintra.

Ela fez um discurso sobre o valor e coragem dos nossos soldados, fazendo a "apologia" da Guerra Colonial e não o combate ou crítica à mesma, o que era natural já que o regime assim o exigia.

Estávamos quase todos em tronco nu porque fazia muito calor e o Comandante Interino Alferes Figueira deixava-nos à vontade... O tempo era de guerra e o "rigor da farda" era e tinha de ser "esquecido"... (**)

Um abraço
Carlos Barros

PS - A Cilinha usava aquele estilo de cabelo na sua visita a Nova Sintra. A Segurança, por outro lado,  estava garantida e era dentro do destacamento, perto da pista, que ela foi recebida.


2. Pedido de esclarecimento do editor Luís Graça, em 12/9/2020:

Carlos: Esclarece lá o "mistério" desta foto... Ninguém olha para a Cilinha...Isto deve ter acontecido em março de 1973... Confirma. Um ano depois, em março de 1974,  ela está estava de visita a Nhala...

Mantenhas. Luís
____________

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não fazia sentido de outra maneira: a presidente do MNF, em viagem "quase de Estado", andaria normalmente de heli, no mato...

Há exceções: a viagem de Nhala para Aldeia Formosa, na nova estrada, em 11 de março de 1974; a viagem de Nova Lamego-Piche-Canquelifá, em estrad alcatroada, na mesma altura (em que coluna apanhou com uma mina A/C).

Não sabemos se os "privilégios" do MNF se alteraram com a mudança de líder do regime, Marcello Caetano, substituto de Salazar, de quem a Cecília Supinco Pinto guardou uma imagem de "fraco"... O que era compreensível: Salazar, para ela, só poderia haver um...

Anónimo disse...

Lamentavelmente o helicóptero canhão disponível para proteger as visitas da elegante Senhora de Supico Pinto não estava do mesmo modo ao “serviço” dos militares que escoltavam as colunas de abastecimentos de Buba-Aldeia Formosa-Gandembel.

As 24 horas para percorrer pouco mais de 40 quilómetros da picada tinham muito a ver com as dezenas de minas anti-pessoal e anti-carro,somadas aos “fornilhos” e emboscadas que sempre acompanhavam as violentas explosões.
As pontes primitivas sobre terrenos alagados e pantanosos há muito que tinham sido destruídas pelo inimigo.
Os “atascamentos” das viaturas carregadas até ao limite também não ajudava.
Transportaram-se Obuses-14 e as toneladas dos municiamentos respectivos.
Quantos mortos?Feridos graves?
As pernas de “desaparecidos” em explosão de fornilhos múltiplos na estrada de Gandembel penduradas em Ramos de árvores?

Tudo isto é muito mais, MAS.....o helicóptero canhão nunca apareceu a sobrevoar as colunas.

Certamente que os custos em combustível,manutenção,pilotagem,não se justificavam em tal missão.
Simples soldados na picada a cumprir a sua missão.
Gente simplória.
Senhoras “finas”,amigas pessoais do ditador, para mais “vestindo calças brancas-boca de sino e blusa preta” traziam outras PRIORIDADES.
Prioridades criteriosamente estabelecidas por responsáveis militares da cadeia de comando.
Tudo pela Nação!

Um abraço
J.Belo

Valdemar Silva disse...

Carlos Barros
Nesta imagem, com a Cilinha, parece-me que a rapaziada não está a olhar para o heli-canhão, mais parecem olhar para um soldado que subiu para uma árvore e pediu à Cilinha 'voglio una dona', que ela teria respondido 'no porto il gelato'.

Julgo, mas o nosso decano Rosinha poderá esclarecer, nunca houve estrada alcatroada Piche-Canquelifá, e por isso seria muito pouco provável colocação de minas anti-carro na estrada, ou então nem com estradas alcatroadas estávamos descansados (mas isto é outra conversa).

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vademar, o "nosso mais Velho", que trabalhou na Tecnil, o nosso mano Rosinha, já em tempos, há muitas luas, falou desse troço e de um ataque às máquinas da TECNIL...Vou ver se descubro esse poste...

Mas não estou a imaginar a Cilinha a fazer esse troço em "picada", como aquelas, mortíferas, que conhecemos, em que chegava a levar dois dias para fazer 60 quilometros (por exemlo, Bambadinca-Saltinho).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cá está o poste:

12 DE MAIO DE 2016
Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No final da Op Lança Afiada (Narço de 1969), que movimentou 1300 homens, entre militares e carregadores civis, durante 10 dias, o cor inf Helio Felgas concluia que "o heli é uma arma cara (15 contos por hora); mas é indispensável neste tipo de guerra"...

Quantos helicanhões havia na BA 12, Bissalanca ? ... Dois ou três ? Nas operações da CCAÇ 12, em que levámos porrada valer, não me lembro de nenhum helicanhão!...

Pedir o apoio do helicanhão era um luxo!...E 15 contos por hora naquele tempo equivalia, a preços de hoje, a 4.608,65 €!!!...

Quem é que teve apoio de helicanhão ? O Spínola, a Cilinha, os senhores deputados, o Américo Tomás...!...

Porra, camaradas, andaram a brincar com as nossas vidas!... Andaram a gozar connosco|...E não nos indignámos!... Nem hoje nos indigamos, hoje que somos já septuagenários!... Prra, ainda temos direito... a passarmo-nos dos carretos! Ou não ?!

Anónimo disse...

Desculpem esta minha entrada, mas a verdade é que este simples Cap Mil, teve a ousadia de solicitar o Heli canhão, quando encontrou a estrada cortada em Mamboncó e mesmo sem haver fogo, já que o In lá não estava, o Lobo Mau veio e fez o reconhecimento. Seria pelo facto do COP de Mansabá ter poder ou pelo facto de ter uma coluna bem grande de viaturas de Engª e não só, sob a minha responsabilidade? Eu não era nada naquela guerra, mas ac onteceu.

AB

JPicado

Valdemar Silva disse...

Luís
Referi-me à estrada Piche-Canquelifá, a de Nova Lamego-Piche já no meu tempo estava a ser alcatroada. A minha CART 11 (1970) fez segurança às máquinas na TECNIL por várias vezes, assim como na segurança aos vários militares estrangeiros da NATO que lá foram ver as obras em curso.
A emboscada, referida no P16079, foi muito 'esquisita'. Um ataque daqueles, com 250 homens bem podiam ter atacado a própria cidade de Nova Lamego, os 'rapazinhos' a dispararem de cima dos mangueiros estavam mesmo a pedir tiro ao alvo, tudo muito esquisito 250 é muita gente.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Sinceros parabéns ao Camarada e Amigo J.Picado!

O ter obtido o tão útil apoio do helicóptero canhão no período ,e condições referidas, dever-se-á certamente ao facto de o pedido ter sido classificado pelos responsáveis na cadeia de comando como um pedido com prioridade....”Cilinha “!

Um abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Jorge Picado: claro que o helicanhão aparecia, em caso de extrema necessidade... Muitas vezes tarde demais... O helicanhão, o T6, até os Fiats, e claro que a artilharia... Davam-nos um suplemento de alma...

Mas quanta rapaziada não poderia estar hoje viva se tivéssemos melhor cobertura aérea no TO da Guiné?!...

Um albravo, camarada e amigalhão!... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não há aqui nenhuma crítica aos camaradas da FAP,muito menos a malta do "Lobo Mau" (helicanhao), que cumpria, e bem, as missões que eram confiadas... Os "infantes" e demais tropa macaca que andava a penantes no mato achava é que era um luxo dispensar um brinquedo desses, tao caro e precioso às senhoras do MNF...









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