Queridos amigos,
Ainda mal refeito da viagem às ilhas de S. Miguel e de Sta. Maria, tinha combinado com gente muitíssimo amiga uns 12 dias a viajar entre o condado de Oxford, localidades do Norte de Inglaterra e depois uma passeata por Londres, os museus são fabulosos e gratuitos e há galerias onde se podem ver grandes mestres por 10 libras. Sempre com aquela consigna de José Saramago de que o se vê de manhã não é o que se vê à tarde, do que se vê na primavera não é o que se vê no outono, meto-me ao caminho com a curiosidade resguardada, pronto para qualquer surpresa, a bússola é sempre o inesperado, procuro aproximações e as necessárias distâncias entre os nossos usos e costumes e os britânicos, apraz ver a beleza destes jardins, têm eles, como nós, serviços públicos pelas ruas da amargura, desde os correios às operações cirúrgicas, os preços da habitação são devastadores, esta localidade recebe cada vez mais gente da cidade de Oxford; perderam o pequeno comércio, os grandes supermercados abastecem integralmente Faringdon, o pequeno comércio que resiste é pouco mais que o Fish and Chips. Aqui perto, em Swindon, uma cidade que há 20 anos podia ser uma joia e um farol do desenvolvimento, ficou arrasada pelo Brexit, as grandes fábricas multinacionais saltaram para o continente, Swindon parece uma cidade fantasma. Vamos continuar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (181):
From Southeast to the North of England; and back to London – 1
Mário Beja Santos
Saio de manhã pela fresquinha, bem pequeno-almoçado, atravesso The Pines, depois Canada Lane, encaminho para o centro de Faringdon, condado de Oxford, é o primeiro dia de redescoberta de um lugar de que guardo as melhores recordações, princípio de uma viagem que depois me levará às Midlands, Peak District, depois Ashbourne, depois Wakefield, Leeds, Bath, e depois uma descida a Londres, acomodado em Richmond, a beijar o Tamisa, museus e exposições, daqui o metro até Heathrow, regresso à procedência. A primeira etapa, em nome da curiosidade, sempre sôfrego por um traste especial, entra-se numa charity shop (loja que tem o timbre de uma causa, vende objetos doados para angariar receitas, desde o inumerável bricabraque, passando por roupas e livros, há de tudo como na botica), fareja-se um tesouro, é um belo prato, não há que hesitar, traz-se música espantosa, de Monteverdi a Sibelius. A viagem prossegue até ao centro de informação local, farejo exposições, horário de autocarros, para meu desgosto não há nenhuma carreira que percorra o Cavalo Branco, tem panoramas fabulosos e uma escultura que lembra um cavalo branco, obra da Idade do Bronze, nada feito. Aproveito para visitar o museu local que dá honras a Lord Berners, um excêntrico aristocrata que compadecido com o desemprego entre as guerras mandou fazer uma torre em 1935, para dar trabalho (dela falaremos mais adiante). Berners era amante das artes plásticas, recebeu nas suas propriedades gente como Salvador Dali e apoiou os republicanos espanhóis exilados. Vou percorrendo estas imagens de chapéu na mão, honra a Lord Berners.
É inevitável, paro diante da escultura em pedra do escafandrista, um dos ícones de Faringdon, agora faço uma pausa nos jardins cemiteriais da Igreja de Todos os Santos, estes cemitérios são silenciosos, a despeito do trinado das aves e dos coelhos à solta, li uns tantos parágrafos de Homero e ponho-me a caminho, a bisbilhotar singularidades, deixo aqui algumas imagens, à tarde meto-me ao caminho, há mais Faringdon para referenciar, estou em pulgas para fazer duas milhas até chegar a um histórico celeiro do tempo do rei João sem Terra, Great Coxwell Tithe Barn, de que gosto muito. Até já!
O centenário do edifício da câmara municipal de Faringdon, Oxfordshire
Homenagem a Salvado Dali que convidado por Lord Beners andou vestido de escafandrista por uma exposição em Londres, em 1936Faringdon, condado de Oxford, no fim da época vitoriana. Imagem retirada do site Faringdon & District Archeological & Historical Society
Mostra de Lord Berners como artista plástico
Chama-se Igreja de Todos os Santos, o corpo principal trata dos séculos XII e XIII
A serenidade de um cemitério inglês, aproveito um banco e fico ali a ler
Honra a um velho combatente
Uma bela casa de Faringdon à espera de comprador. Vim aqui pela primeira vez, há mais de um quarto de século, era uma loja onde se vendiam artigos de vestuário e armas para caçaEdifício da velha Bolsa de Cereais, ali funciona uma loja de caridade, comecei o dia a comprar um prato da fábrica Lille, 1767, e uma carrada de CDs, cada um aí a 30 cêntimos, esta loja de caridade contribui para apoiar as vítimas da violência infantil
Os jardins ingleses não deixam ninguém indiferente, veja-se este caramanchão de hipericão, todo ele luzidio a encher o balcão
Podem ser traseiras, mas a crise da habitação em Inglaterra é tão ou mais aguda que em Portugal, aproveitam-se todas as instalações para fazer casas
Quem tem a mais dá, põe-se à porta de casa, quem precisa leva
Vista aérea de White Horse Hill Uffington, Faringdon
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Nota do editor
Último post da série de 23 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26185: Os nossos seres, saberes e lazeres (655): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (180): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (9) (Mário Beja Santos)