João Carlos Vieira Martinho, natural de Sobreiro Curvo, A-dos-CVunhados, Torres Vedras, ex-fur mil cav, EREC 8740/3, Bula, morto em combate em 25/5/1973.
Fotos (e legendas): © Eduardo Jorge Ferreira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Exemplo, acima, de um telegrama enviado à família de um militar, morto em 25/5/1973, no CTIG, o fur mil cav João Carlos Vieira Martinho, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, com data de 26 de maio de 1973, às 12h32, assinado pelo Comandante do Depósito Geral de Adidos, Ajuda, Lisboa.
"Nº 602787. Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano João Carlos Oliveira [lapso, Vieira ] Martinho ocorrido dia 25 corrente Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências
"Nº 602787. Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano João Carlos Oliveira [lapso, Vieira ] Martinho ocorrido dia 25 corrente Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências
"Comandante Depósito Geral de Adidos,
Lisboa".
Era o fatal telegrama (*)... Todos temíamos que um dia pudesse chegar também a nossa casa um de igual teor.... Como chegou à casa do José António Canoa Nogueira, do José Henriques Mateus, do João Carlos Vieira Martinho e de tantos outros nossos camaradas mortos durante a guerra colonial.
Arsénio Marques Bonifácio da Silva (1951 - 1972), sold at inf, CCS/BCAÇ 12 (Angola, 1972).
Morreu ao fim de 3 meses, vítima de uma mina A/P, em 4/9/1972
2. O outro telegrama que a família do morto (neste caso o lourinhanense Arsénio Marques Bonifácio da Silva) recebia, a seguir, era do mesmo teor, frio, seco, impessoal, burocrático, desumano (**):
"Nº 604830. Renovando condolências solicito V Exa informar-nos via telegrama máxima urgência se deseja transladação militar falecido por conta Estado caso afirmativo caberá V Exa adquirir local para depósito corpo indicando cemitério destino segue ofício elucidativo. Comando Depósito Gerak Adidos Lisboa"
Fotos (e legendas): © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
O comandante da unidade ou subunidade a que pertencia o militar em questão, comnunicava via rádio as circunstâncias da ocorrência ao superior hierárquico; por sua vez, encaminhava o "assunto" para o departamento responsável, o Depósito Geral de Adidos (DGA), na Ajuda, em Lisboa:
A partir desse momento todas as formalidades eram da competência do DGA, a quem incumbia:
(i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da guerra;
(ii) enviar um "telegrama à família", via CTT, a dar a notícia ("nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!");
(iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo nos primeiros anos da guerra, os militares eram sepultados nos cemitérios locais);
(iv) mandar transladar o caixão chumbado com o corpo do militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas da transladação);
(v) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta "operação"); e,
(vi) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a "pensão de de preço de sangue", quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa "pensão").
A partir desse momento todas as formalidades eram da competência do DGA, a quem incumbia:
(i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da guerra;
(ii) enviar um "telegrama à família", via CTT, a dar a notícia ("nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!");
(iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo nos primeiros anos da guerra, os militares eram sepultados nos cemitérios locais);
(iv) mandar transladar o caixão chumbado com o corpo do militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas da transladação);
(v) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta "operação"); e,
(vi) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a "pensão de de preço de sangue", quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa "pensão").
Em relação ao telegrama enviado aos pais do Arsénio Marques Bonifácio Marques da Silva, seu primo duplo (os pais de um e outro eram irmãos), a irmã mais nova do Jaime, então com 18 anos em 1972, a Esmeralda, disse-nos que foi ela quem recebeu o telegrama diretamente da mão do carteiro, na via pública, à porta do estabelecimento dos tios, no lugar do Seixal, Lourinhã. O carteiro nem sequer entrou no estabelecimento, evitando desse modo o "odioso" de ser o mensageiro da desgraçada, numa terra em que toda a gente se conhecia.
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Notas do editor LG:
(*) Últino poste da série > 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): Como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)
(*) Últino poste da série > 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): Como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)