Assessor, aposentado, da Direção Geral do Consumidor, reputado especialista de direito do consumidor , a nível nacional e internacional, foi alf mil, cmdt Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70); é autor de dezenas de títulos, incluindo, os mais recentes, sobre a experiência de guerra na Guiné, a história e a cultura da Guiné, a bibliografia da guerra colonial. Tem 3145 referêncvias no nosso blogue, de que é um dos "históricos".
A Nossa Poemateca (2) (*)
Lágrima de preta | António Gedeão
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão, "Máquina de Fogo" (1961) (**)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 27 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26318: A Nossa Poemateca (1): "Ladainha dos Póstumos Natais" (1971), de David Mourão Ferreira (1927-1996) (escolha de Valdemar Queiroz, minhoto de criação, alfacinha por adoção)
(**) António Gedeão é o pseudónimo literário de Rómulo Carvalho, (1906 - 1997): licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade do Porto, foi professor do ensino secundártio, pedagogo, poeta, autor dramático, cientista e historiador.
O poema "Lágrima de Preta" aparece no o livro "Máquina de Fogo" (1961). Seria depois musicado por José Niza, e cantado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970. A canção foi proibida pela censura na altura. É considerado um hino contra o racismo e a xenofobia.