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terça-feira, 7 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25488: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23) : Camisa Mara, o guardião e guia deste projeto, votado ao abandono depois da morte do Pepito, em 2014... Aqui recordado numa peça da agência Lusa.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Chegada do Presidente da República, Malam Sanhá Bacai, com a esposa  (à sua esquerda) e o primeiro ministro, Carlos Gomes Júnior, atrás (à sua direita)... 

Embora esteja de perfil,  reconhecemos, de imediato,  de lado direito, cumprimentando o Presidente, o nosso amigo Domingos Fonseca, quadro técnico da AD, então responsável do Núcleo Museológico e membro da Tabanca Grande.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje   > O Primeiro Ministro, Carlos Gomes Jr,  "Cadoco", entre a multidão.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de de Guiledje > A nossa representante na cerimónia, Júlia Neto, viúva do nosso camarada José Neto (1929-2007), em conversa com a combatente do PAIGC Francisca Pereira, sob o olhar do nosso amigo Pepito.

Fotos (e legendas): © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados (Legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine)


1. No passado dia 5 de maio, domingo,  o Patrício Ribeiro, o nosso "cônsul em Bissau", autor da série "Bom Dia desde Bissau", sempre atento e oportuno, mandou-nos um link do portal Sapo, com uma peça da Lusa sobre o antigo quartel de Guileje (ou o que resta dele), e onde se fala de um personagem curioso, o Camisa Mara (e não Cassima Mara, como grafou a jornalista).

O nome desse guardião (e guia local) do que foi "o mais fortificado quartel português nas ex-colónias" (sic), aparece, no programa do Simpósio Internacional de Guiledje, como "Camisa Mara (ex-milícia do Exército Português)" (*), tendo inclusive apresentado, na parte da manhã do dia 6 de março de 2008, uma comunicação oral sobre a vida quotidiana em Guileje, antes do seu abandono em 22 de maio de 1970 pela tropa portuguesa (CCAV 8350 e subunidades adidas).

O título da peça é "O guardião que sonha nova vida para o histórico quartel de Guiledge na Guiné-Bissau". A reportagem da Lusa é assinada por Helena Fidalgo (texto) e Júlio de Oliveira (vídeo). Não vamos, naturalmente, reproduzir na íntegra a peça (até porque tem erros factuais), mas resumi-la, e citar algumas declarações deste histórico guardião e guia local.

Esta história, de resto, interessa-nos, a nós, Tabanca Grande, por que demos muito apoio (incluindo material) à construção do Núcleo Museológico Memória de Guiledje (descritor que tem vinte e tal referências no nosso blogue).

Já suspeitávamos (e temíamos) há muito do desleixo e ruina a que a fora votado este projeto que era tão caro ao nosso Pepito, o engº agr. Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014), e onde colaborámos com muito entusiasmo. 

Diz a jornalista da Lusa, Helena Fidalgo: 

"Este guineense esteve na luta ao lado dos portugueses e agora está empenhado em fazer cumprir o propósito daquele a quem chamavam 'o fazedor de sonhos', conhecido por 'Pepito', e que sonhou para Guiledje o único espaço museológico na Guiné-Bissau sobre a luta de libertação nacional para a independência' ". 

A jornalista constata, catorze anos depois da sua inauguração (em 2010, com a presença do presidente da República e o primeiro ministro da Guiné-Bissau, Malan Sanhá Bacai e Carlos Gomes Jr, respetivamente) (**); que "o projeto parou com a morte do (seu) mentor, em 2014" e ficaram apenas dois pavilhões com algum espólio" (...)... O resto são ruinas. 

O Mara serviu de guia à equipa da Lusa, numa visita recente ao local. E esclareceu a jornalista que ele passou a frequentar o quartel quando tinha entre "15 e 16 anos". Terá, hoje, portanto, cerca de 65 anos (ou mais, não sabendo nós em que ano se tornou "milicia" ou passou a servir no quartel como "djubi", fazendo-nos lembrar a figura do Cherno Baldé, "menino e moço em Fajonquito"). 

O Mara, nascido em Guileje, tem consciência da importância histórica daquele lugar: "a história não se perde, a história valoriza um local". (...) "Sente orgulho quando fala de Guiledje"... E, exagerando um bocado, diz: 

"Aqui era o grande amparo dos portugueses, havia todo o tipo de materiais aqui, inclusive abrigos blindados. Só os militares portugueses eram um batalhão, também havia aqui milícias recrutadas, militares locais muito valentes para os portugueses". (...) 

"O Mara 'fazia alguns serviços para os portugueses, lavava pratos, trazia a comida, levava as roupas para a lavadeira e trazia água para os militares' ". (...) "Também fazia carregamento de munições de armas pesadas quando havia um ataque ao quartel".(...) 

Não saía para o mato, como saíam os milícias e os militares, "mas se houvesse guerra aqui no quartel eu era uma das pessoas que ajudava os portugueses a carregar as munições das armas"... 

Recorda depois o dia (o do abandono das instalações, na noite de 22 de maio de 1973), "em que fugiram juntos e o destino foi Bolama, depois de uma longa caminhada de militares, mulheres e crianças"... 

Há aqui um erro de registo ou de interpretação por parte da jornalista: os militares e civis de Guileje foram para o quartel mais próximo, Gadamael Porto. É possível, depois, que alguns civis, para fugir da ewscalada da guerra em Gadamael,  se tenham refugiado na ilha de Bolama.

(...) "Este guineense e outros conterrâneos decidiram voltar para a tabanca depois da independência, quase um ano passado e com o quartel já na posse do PAIGC e do novo Estado guineense." (...)

Mais tarde, por volta de 2006, o Pepito, diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, no bairro do Quelelé, começa a trabalhar a ideia de criar ali o "Núcleo Museológico Memória de Guiledje", com financiamemto externo (União Europeia). E o Camisa Mara foi um dos habitantes locais que deu o seu melhor para ajudar a levar o projeto para a frente (o que está muito bem documentado, aliás, no nosso blogue)..

(...) "No início da construção do museu, tivemos que desmatar o local, porque havia perigo para andar, tinha minas, tinha cobras, fui eu que fiz o caminho e contratei pessoas". (...).

No final o Pepito encarregou-o de gerir o museu (sic). E ele continua a guiar as ocasionais visitas. Mas o que foi feito, "está desprezado", votado ao abandono, por incúria de todos, a comunidade local, a ONG AD, a administração pública, o Governo...

(...) "Gostava que esta ideia, que sonharam juntos (ele e o Ppeito), se concretizasse e que a memória não se apague." (..:)

(...) "Nas memórias guarda o dia da abertura do quartel de Guiledge, em que 'veio um batalhão de artilharia' (sic) "(leia-se um Pelotão de Artilharia).

Lembra-se da visita do próprio António Spínola

(...) "Pepito", como recordou, "fez um grande esforço" para revitalizar este espaço, "mas a canoa ficou pelo caminho" porque "sem sucessor o trabalho não vai".

Ninguém lhe paga nada por esta tarefa, ele tem outras fontes de rendimento. Mas é o seu amor a este projeto que o leva a guiar os visitantes e a zelar pelo que resta. (***)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]




 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje >  > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia. do obus 14.

Foto (e legenda);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]





Guiné < Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Pormenor: posição relativa da povoação de Guileje, situada a cerca de 8 km da fronteira com a Guiné-Cronaki (a leste).

Infografia: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados.

___________

Notas do editor:

(*) Simposium Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008) > Quinta-Feira, 6 de Março, na Assembleia Nacional Popular

Painel 4 > Guiledje: Factos, Lições e Ilações

(depoimentos e testemunhos de elementos da população, dignitários, testemunhos presenciais, régulos, ex-combatentes do PAIGC e ex-milícias africanas do Exército português)

Moderadora: Isabel Buscardini (Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria)

9h00 - 9h30: Úmaro Djaló (Comande Militar do PAIGC) – A minha experiência de guerrilheiro e de comandante no Sul da Guiné-Bissau: achegas para a História de Guiledje.

9h30 - 10h00: Buota Na N’ Batcha (Comandante Militar do PAIGC) – A acção dos bi-grupos e dos corpos de Exército do Sul na guerra de libertação nacional: o caso do assalto ao aquartelamento de Guiledje.

10h00 - 10h30: Joãozinho Ialá (ex-guerrilheiro do PAIGC) – Memórias do Assalto ao Quartel de Guiledje, Gandembel e Balanacinho.

10h30 - 11h00: Francisca Quessangue (Enfermeira do PAIGC) – Os aspectos sanitários-logisticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje

11h00 - 11h30: Pausa Café

11h30 - 11h50: Fefé Gomes Cofre (ex-guerrilheiro do PAIGC) – O meu testemunho sobre o assalto ao Quartel de Guiledje.

11h50 - 12h10: Salifo Camará (Régulo de Cadique) – O papel das populações civis na guerra de libertação no Sul e no assalto ao aquartelamento de Guiledje.

12h10 - 12h30: Camisa Mara (ex-milicia do Exército português) – A vida no Quartel de Guiledje

12h30 - 12h50: Cadjali Cissé (ex-guerrilheiro do PAIGC) – A minha participação no Assalto a Guiledje

12h50 - 13h10: A designar (condutor) – A minha experiência no transporte de munições e mantimentos

13h30 - 15h00: Almoço (...)


(**) Vd. poste de 19 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6020: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (16): Um dia de ronco, um lugar de (re)encontros, uma janela de oportunidades (Parte I)

(***) Último poste da série > 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24982: Boas Festas 2023/24 (8): Anabela Pires, amiga tabanqueira desde 2012, vive em Montenegro, Faro: "Gostaria de ter notícias de cada um@ de vós..."



Foto acima: Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto do nosso saudoso Pepito (1949-2014)... 

Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero, falecido (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide /Amadora), cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; voltou lá,  de novo, em fevereiro de 2018, data em que deixámos de ter notícias dela (*).

Tem c. 30 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande. 


1. Mensagem da nossa amiga Anabela Pires (entrou para a Tabanca Grande em 12/1/2012; não tem página no Facebook):


Data - terça feira, 19dez 2023, 11:16
Assunto - Gostaria de ter notícias de cada um@ de vós

Ex-colegas, amig@s, conhecid@s, familiares,

Os dias, os anos vão passando. Mesmo daquel@s que vivem a 1 Km ... muitas vezes não sei nada. Muitos de nós estamos reformados, cada um mete-se na sua "toca". Outr@s ainda trabalham, continuam muito ocupad@s. Para muit@s o convívio com a família é quanto basta.

Eu vivo em Montenegro (Faro). 

Sinceramente gostaria de ter notícias de cada um@ de vós. Não sou a maior amante de passar muito tempo ao telefone, mas gosto de escrever e receber mensagens, e-mails.

Espero que estejam bem de saúde, assim como todos os vossos. É realmente o mais importante. Com esta premissa desejo-vos umas Festas Harmoniosas. Que cada um/a se sinta confortad@, tanto fisicamente como no coração. 

Votos de um ano 2024 com tudo de melhor, nem que isso seja a coragem para ultrapassar momentos e circunstâncias mais difíceis. (**)

Um abraço suficientemente grande para a tod@s abraçar.

Anabela

2. Comentário do editor LG:

Querida Anabela:  tens razão, cada um anda metido na sua "toca" (é a imagem apropriada).. A nossa tendência para o "encapsulamento" agravou-se com a maldita pandemia de covid-19. A nossa Tabanca Grande, por exemplo, ainda não arranjou forças para voltar a realizar o seu encontro anual (fez-se ininterruptamente desde 2006 a 2019, e desde 2010 em Monte Real). 

A idade, as doenças crónicas, as dificuldades financeiras, os netos, as viagens, etc. são geralmente razões invocadas para uma cada vez menor participação nos nossos convívios (há mais tabancas, regionais) e outras iniciativas. 

A menor participação também é visível nas nossas redes sociais (blogue e facebook). É difícil, se não impossível, reverter a tendència. O nosso blogue vai comemorar os seus 20 anos de existência em 23/4/2024. Estás convidada para colaborar nos festejos, que em princípio continuarão a ser "virtuais"... Mas até lá pode ser que  haja uma milagre e apareça uma "c0missão organizadora" a convocar as "nossas tropas" para irmos tomar um copo todos juntos... Amigos, amigas e camaradas...

Folgo em saber que estás viva e te recomendas... Feliz Natal e Melhor Ano Novo de 2024. 
Um beijinho da Alice Carneiro. 
Mantenhas, 
Luís Graça
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(**) Último poste da série > 19 de dezembro de 2023 >  Guiné 61/74 - P24976: Boas Festas 2023/24 (7): Mensagens natalícias dos nossos camaradas Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art da CART 2479/CART 11; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2208 e Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2721

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
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Notas do editor:

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18295: (In)citações (116): A 'mindjer grandi' Anabela Pires, de visita a Iemberém, até 2ª feira... Vai ser confrontada com uma série de memórias dolorosas: as perdas sucessivas dos nossos amigos comuns Cadi, Pepito, Alicinha... Esperemos que tenha notícias do nosso grã-tabanqueiro António Baldé, que voltou de mãos vazias, de Alfragide para Caboxanque, com o sonho desfeito de ser apicultor e dar um futuro melhor à Cadi e à Alicinha


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi...Morreria 2 meses depois...

Eu e a Alice conhecê-la-íamos em março de 2008. O nosso filho, médico e músico,João Graça, conhecê-la-ia, grávida, em Iemberém, em dezembro de 2009, a um mês de ter uma linda criança. a Alicinha do Cantanhez... Ficou com o nome da sua madrinha, a Alice de Candoz. O elo de ligação entre mãe, filha e madrinha era o Pepito, que entretanto morre em em fevereiro de 2014. Pouco tempos é a vez da Alicinha, que o pai, o nosso camarada António Baldé, a viver em Portugal, nunca chegará a conhecer!...É uma sucessão, dolorosa, de perdas...


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Casa do Pepito e da Isabel Levy > 2010 > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita), que tem na Alice de Candoz (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Não fala português, só um pouco de crioulo, para desespero da Alice de Candoz que de vez em quando lhe telefona... De tempos a tempos, esta manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai-se rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja a menina (e a mãe)... Da cólera, do paludismo, das desinterias, da fome e das mil e uma causas de morte infantil na Guiné-Bissau...

Foto: © Pepito (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > região do Cacheu > São Domingos > 15 de março de 2012... A Cadi, já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal... E a Alicinha morrerá mais tarde, em Farim do Cantanhez. sem chegar aos cinco anos. (**)


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem, que nos acabou de chegar de Bissau,  ontem, da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires:



[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos amig@s:
Parece que é amanhã que vou para o Sul, para Iembérém, Cantanhez, onde estive há 6 anos.  E digo parece porque só quando lá chegar é que direi "Cheguei!". 

Vou apanhar um autocarro de manhã cedo até Mampatá, a meio caminho, e depois irá um carro de Iembérém lá buscar-me. Vai correr tudo bem e talvez regresse na próxima 2ª feira. 

Lá não terei Internet e como tal a única forma de contacto é o meu nº de telemóvel português, quando é possível estabelecer ligação.

A situação política está mais calma mas .... bem, em Iembérém não há problemas desse género.
Darei notícias após o regresso.

Um abraço,
Anabela (*)


2 Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Olá, Anabela!..Que faças boa viagem até Iemberém... E, já agora, vê se tens notícias do pai da Alicinha, a filha da Cadi. O seu nome é António Baldé, acho que nunca o chegaste a conhecer, vivia aqui em Alfragide. Vive hoje em Caboxanque (setor de Bedanda), a norte de Iemberém. Não chegou a conhecer a filha, a não ser por foto. Voltou para a sua terra, com o sonho (desfeito) de ser apicultor, levar com ele uma pequena reforma portuguesa e dar um futuro  melhor à Cadi e à filha de ambos... Foi um sucessão de tragédias... A Alice Carneiro era a madrinha, como sabes, o Pepito o nosso elo de ligação. Os três já morreram: a Cadi, a filha e o Pepito... Inevitavelmente vais reviver estes acontecimentos, dolorosos para todos nós...Eram nossos amigos comuns,,, O pai da Cadi ainda será vivo ? Vivia em Farim do Cantanhez, antigo combatente do PAIGC... Abdul Indjai, de seu nome, ficou sem uma perna numa mina.

Olha, dá depois notícias... Amanhã ponho notícia no blogue da tua partida. Boa estadia em Iemberém.... Bons encontros. Bj meus e da Alice. Luis

PS - Ah!, é vê se tens boas notícias da tua afilhadinha, de Catesse, e do projeto do Ecoturismo em que tiveste envolvida em Iemberém... A AD, parece-me,  ficou órfão do Pepito, perdeu o elã, entrou em entropia, não temos neste momento ligações diretas com a direção da ONG... É uma pena... Encontrámos há tempos em Lisboa a Isabel Miranda e o marido. Foi bom revê-los.  Boa noite. Luis.



Amadora > Alfragide > 27/7/2012 > O António Baldé com o nosso editior Luís Graça, foram vizinhos em Alfragide. O Baldé trabalhou em tempos com o Pepito no DEPA. É naural de Contuboel, onde fez a 4ª classe. Vive em Caboxanque e tem a nacionalidade portuguesa. Pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e à CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71). Era 1º cabo art.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014). 

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. Recorde-se aqui o mail que a Anabela Pires nos mandou, em 20 de fevereiro de 2013,  por ocasião da morte da Alicinha:

Luís, acabei de receber o teu e-mail e estou em estado de choque. Nunca percebi de que mal padecia a Cadi mas depois de ir para o Senegal e para o hospital de Comura,  nunca pensei que o desfecho fosse este. Não imaginas como lamento esta notícia. E cuidado com a menina que pouco depois da mãe adoecer também ela andava doentita. Nunca me esqueço delas até porque no dia em que a Alicinha fez 2 anos (dia da minha chegada a Cantanhez) também eu ganhei uma "afilhada" em Catesse que tem o meu nome. As nossas "afilhadas" têm exactamente 2 anos de diferença. E não esqueço a visita que recebi da Cádi, da sua mãe (lindíssima mulher também), da Alicinha e do Ansumané (irmão mais novo da Cadi). Para sempre ficarão também no meu coração. Um grande abraço para ti e para a Alice.

Anabela Pires

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Notas do editor:



(**) Vd. postes de:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)


19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18269: (In)citações (115): A nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, de volta à Guiné-Bissau, seis anos depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 10 de dezembro de 2009 > Mulheres...

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de hoje

Queridos familiares e amig@s,

Estou na Guiné desde o dia 18  (*). A primeira semana foi agitada com passeios por Kéré nos Bijagós, depois Cacheu, Cachungo, Quinhamel.

Os últimos dias tenho-os passado num remanso calmo na residência dos meus amigos, a ler, com algumas saídas para almoços ou jantares enquanto tento descobrir como vou ao Sul, a Iemberém, onde estive há 6 anos. 

Tive um encontro breve com a Isabel Levy (mulher do Pepito) e espero voltar a estar com ela com mais tempo. Para já pareceu-me bem.

Entretanto o clima político na Guiné está bastante tenso. Hoje deveria começar o Congresso do PAIGC, maior partido nacional que ganhou as últimas eleições mas há 2 facções em confronto e a temperatura começou a subir na última noite. 

Bem, os que vos quero dizer é que se ouvirem notícias não fiquem preocupados. Pode ser que isto seja só fumaça mas se não for eu estou muitíssimo segura mesmo estando em Bissau. E se entretanto for para Iemberém também estarei em segurança pois todas estas tricas não passam, regra geral, de Bissau. Nada de preocupações ou alarmismos, neste país estas coisas são recorrentes.

Beijinhos e abraços,
Anabela (**)

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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18147: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (15): Anabela Pires, que vai voltar à Guiné-Bissau por quatro semanas, em 18 de janeiro...


Um Natal em Harmonia e um Feliz 2018, são os votos da Anabela Pires, ecologista, defensora da permacultura, e que nos manda um "cartanito" com a sua horta que dá de tudo (e que presumo que seja comunitária)...

Foto: © Anabela Pires (2017). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de 22 do corrente




[Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; vai lá voltar em 2018; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos familiares, amig@s, ex-colegas, vizinhos ....

Hoje é dia de começar a preparar o Natal que passarei em Alcobaça com a minha irmã e sua família. Por razões profissionais os meus filhos não poderão estar presentes mas a 28 voarei até à Dinamarca para festejar o 2º aniversário do meu neto e a passagem de ano. 

Projetos para 2018: 

(i) dia 5 de Janeiro venho por aqui para levar os meus pertences para Coimbra e fazer a mala para ir a 18 quatro semanas à Guiné-Bissau; 

(ii) a 15 de Fevereiro regresso e começarei então a fazer o caminho de volta ao Algarve ao fim de 6 anos. 

Esta é a parte que vai ser mais complicada pois já me falta muito a paciência para arrumar e desarrumar, mas tem de ser. Bem, uma nova fase vai começar. Depois de colocar de novo todos os meus pertences no apartamento do Montenegro - o que vai levar tempo .... logo se verá o que vou fazer. 

Desejo-vos um Natal muito harmonioso e se possível muito alegre e que continuem todos em grande forma em 2018.

Reencontramos-nos em 2018? Desejo que sim! Em finais de Fevereiro estarei no Algarve muito embora depois ainda tenha de vir cá acima buscar caixotes e vasos.

Mil beijos e abraços para todos,
Anabela


P.S. Terminei ontem os meus trabalhos aqui na horta, a qual ficou conforme as fotos que mando em anexo [e de que se reproduz uma, acima]. Ainda falta plantar morangueiros Diamante e mais alfaces. As ervilhas de trepar, as favas, as cenouras, os espinafres, os canónigos (ou alfaces cordeiro) ainda não nasceram! Espero que chova! Colhi as últimas pastinacas (Cherovias ou Chírivias).

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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16887: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (22): Anabela Pires, amiga grã-tabanqueira e "globetrotter"


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 22 de Janeiro de 2012 > A Anabela Pires, bendita entre as mulheres...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento / Pepito (2012). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem natalícia da nossa amigfa grã-tabanqueira Anabela Pires [nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012,  integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau]


Assunto - O Amor no Natal e no Ano Novo


Queridos familiares, amig@s, ex-coleg@s, vizinhos,

O Natal está a chegar! Para mim o Natal é, ou deve ser, uma época especial dedicada ao AMOR pelos outros. Por isso nestes dias há temas que não me saem do pensamento:

(i) Aleppo, atentados, refugiados, guerras ....

(ii) corrupção, ganância, falta de vergonha, a grande desigualdade social atribuída às diferentes profissões, discussão do salário mínimo nacional comparado com os salários usufruídos por outros, a pobreza mesmo de muitos que trabalham todo o ano ....

(iii) depreciação constante de valores fundamentais tais como a Honestidade, a Educação (não a escolaridade, mas sim a correção com que tratamos os outros), a Sinceridade, a Humildade, a Gratidão, a Bondade, a Generosidade, a Igualdade, a Paz ....

(iv) o tão imperfeito apoio dado pelos nossos governantes às pessoas portadoras de deficiência ..... onde encontramos tant@s heróis e heroínas.

Porque os meus pensamentos andam por estes temas e porque penso que é disto que o nosso país e o mundo precisa, os meus votos de Natal e para o Ano Novo são para que cada um de nós se esforce por ser mais honesto, mais humilde, mais grato, mais generoso, mais pacífico e mais defensor da igualdade social.

Votos pessoais de um Natal e Ano Novo harmoniosos, para vós e vossas famílias, onde não falte a Coragem aos que estão a viver momentos difíceis.

Abraço cada um de vós em particular, com muita força, e quero expressar a minha gratidão a todos aquel@s que me manisfestaram o seu carinho no ano que agora termina.

Anabela Pires

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira

terça-feira, 21 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11604: Guiné-Bissau, manga di sabe (2): Vídeo: Dança de bajudas nalus na tabanca de Catesse, no Cantanhez (José Teixeira)




Vídeo (2' 06''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...


1. O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos visitantes do nosso blogue (*). 

Da visita à tabanca de Catesse, na região de Tombali, Cantanhez, trouxe esta dança de bajudas nalus. A nossa tabanqueira Anabela Pires vai adorar, ao rever estas acrobáticas bajudinhas, suas amigas. Recorde-se que ela esteve, em 2012, cerca de três no chão nalu, como voluntária do projeto de ecoturismo,  desenvolvido pela AD - Acção para o Desenvolvimento. Foi a priemria tabanca que conheceu, depois de Iemberém. A Anabela está neste momento a viver em Auroville, no sul da Índia. Não temos tido notícias dela, mais recentemente. (LG)

PS - Sobre os nalus, tandas, sossos, balantas e fulas do Cantanhez, ver texto histórico-antropológico do nosso amigo Pepito. (P3070, de 18 de julho de 2008).
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sábado, 13 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11386: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (15): Em Catesse e em Cabedu... Os jovens por aqui, hoje, não querem fazer nada, talvez por influência do que lhes chega de outros mundos, através da TV


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 22 de Janeiro de 2012 > A Anabela Reis, bendita entre as mulheres...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


Guine-Bissau > Aruipélagos dos Bijagós > Bubaque > 13 de dezembro de 2009 > 14h50_> Regresso, de barco, a Bissau. Uma juventude, aparentemente despreocupada, que viver o seu tempo...



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > São Domingos > 18 de dezembro de 2009 > O risco de perda de identidade ?... 1º Festival Cultural de S. Domingos, sob o lema "Nô Laba Rostu di Nô Guiné". Dopis jovens mulheres em dança tradcional ... Foto tirados pelo João Graça no penúltimo último dia da sua viagem à Guiné-Bissau (5-19 de Dezembro de 2009)


Fotos: © João Graça  (20009). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XV) (*)


25 de Março de 2012

Fiquei novamente mais de 8 dias sem nada escrever. Desde que comecei a dar as aulas de alfabetização às 8.30 da manhã deixou de me dar jeito escrever pela manhã.

A semana que passou, além de me dedicar às aulas de português, preocupei-me com a gestão financeira dos alojamentos e por isso o meu trabalho foi feito sobretudo com a Maria Pónu. Agora, sabendo o dinheiro que efetivamente temos em caixa teremos de decidir o que podemos comprar. Há muitas melhorias a fazer mas só podemos fazer aquelas para as quais houver dinheiro.

Com a Satú voltei a fazer doce de laranja mas em vez de cortarmos as cascas aos bocadinhos ralámos. É mais fácil de fazer muito embora eu prefira com as cascas aos bocadinhos. O doce ficou bastante bom, com o ponto certo. Já fiz os rótulos para pôr nos frascos mas ainda não os colámos pois a Satú tem estado doente.

Nas aulas de alfabetização percebi que havia dificuldades de aprendizagem e,  como não estava a perceber bem quais eram,  na 6ª feira fiz exercícios e agora já entendi as dificuldades de cada um dos grupos. Precisava de trabalhar mais tempo com o grupo mais atrasado mas não sei se quererão disponibilizar mais meia hora por dia. Tenho também uma enorme dificuldade em arranjar imagens para que possam associar as palavras às imagens. Sem internet estou bastante condicionada e o meu jeito para desenho é nulo.

Esta semana fiz também uma pequena reunião com as 3 formandas com quem irei à Gâmbia – a Satú, a Pónu e a Fatu de Farosadjuma. Nunca tive de preparar uma visita de estudo sem ter qualquer informação do que vamos visitar. Só sei que iremos a um ecoturismo na Gâmbia e ainda não sei quando.

Ontem, pela 1ª vez, saí de Iemberém, o que me soube muito bem apesar do calor e da “canseira”. Fui a Catesse, onde tinha estado no dia em que cheguei, fazer uma pequena reunião com a Associação de Mulheres. Elas estão a construir com o apoio da AD uma casa para hóspedes. Esta casa não se destina a turistas mas a locais que passem em Catesse a caminho da Guiné-Conacri ou de outras terras da Guiné-Bissau pois a AD está também a apoiar a reconstrução do porto e a aquisição de um barco. 

Nesta primeira reunião com as mulheres de Catesse o objetivo foi alertá-las para pensarem na forma como vão gerir a casa de hóspedes e nos acabamentos, materiais e utensílios que vão colocar considerando as dificuldades de manutenção. As pessoas acham muito bonito pintar as paredes de branco ou azul mas elas só estão limpas nas primeiras 24 horas – adultos e crianças, sempre com as mãos sujas da terra vermelha, põem as mãos nas paredes e pronto! Em menos de um ai está tudo um nojo. Elas decidiram o que fazer com a certeza de que terão de lavar paredes, trabalho que nunca fizeram e ao qual os seus corpos não estão habituados. 

Catesse é uma tabanca muito bonita, razoavelmente limpa e com um povo muito hospitaleiro. Assim que tenham um quarto pronto e a casa de banho estou disposta a ir para lá uns dias trabalhar com as mulheres. Quando entramos em Catesse encontramos quase uma avenida com árvores de um lado e de outro, as moranças ao longo da “avenida” e não se vê a sujidade que há, por exemplo, aqui em Iemberém, designadamente com os malditos “oleados” (sacos de plástico). 

Conheci finalmente a menina que nasceu no dia em que cheguei e a quem puseram o meu nome. A pequena Anabela tem bochechas como eu e é a 1ª filha de uma jovem de 17 anos, chamada Fatu. Fiquei preocupada pois tinha muitos bicos no corpo alguns dos quais bem infetados. Recomendámos à mãe que fosse com a bebé ao enfermeiro mais próximo e dei-lhe uma ajuda financeira para isso. Alice, agora também tenho uma Anabelazinha na Guiné, exatamente dois anos mais nova do que a tua Alicinha, pois nasceu a 17 de Janeiro.

Depois de Catesse, onde comemos (eu, o Abubacar e o Antero, motorista da AD, todos da mesma tigela, cada um com a sua colher) um arroz com pó de lolo (umas folhas que secam e pilam e que depois põem na comida para dar gosto) e mafé (molho, acompanhamento) de peixe fumado e óleo de palma, fomos para Cabedu, uma tabanca grande com 8 bairros, também bem bonita e organizada. Lá tivemos uma reunião com uma já antiga associação de mulheres que a AD ajudou há 20 anos na construção de uma casa de hóspedes que tinha como objetivos terem uma divisão para guardarem arroz para a época das chuvas e fazerem dinheiro para comprarem arroz para a época da “fome”. 

Na época das chuvas o arroz da campanha anterior escasseia e como tal sobe muito de preço. Então as mulheres da associação compravam arroz quando estava mais barato e guardavam-no para distribuírem entre as associadas na época em que subia de preço. Não se preocuparam e talvez não o soubessem fazer em manter/conservar a casa, a qual está hoje muito degradada e a precisar de grandes obras. Pediram agora ajuda à AD para isso mas é preciso que entendam que têm de saber conservar aquilo que têm. 

Pedi-lhes então que me contassem a história da associação e da casa para que percebessem que não tinham tido o cuidado da conservação e que isso era fundamental pois a AD não pode constantemente repor o que as pessoas deixam estragar. Estava na reunião o Homem Grande de Cabedu que pediu que eu fosse dar formação e apoiar as mulheres da associação pois elas estão um pouco desorientadas. Uma dúvida, no entanto, me ficou – as mulheres que formaram a associação e que a fizeram viver durante 20 anos, são de uma determinada época histórica e estão hoje com idade para descansar. Segundo o que elas mesmo disseram as jovens não têm o mesmo espírito que elas tinham e não querem trabalhar. Quem será então que vai trabalhar, gerir, manter a casa de hóspedes se ela for renovada? O Homem Grande disse que as jovens terão de o fazer mas se as suas aspirações forem outras? 

Segundo me disse o Abubacar depois, no carro, os jovens por aqui, hoje, não querem fazer nada. Talvez por influência do que lhes chega de outros mundos, através da TV e não só, os jovens desejem vidas diferentes mas a verdade é que essas vidas não lhes estão assim tão acessíveis – basta dizer que a escolaridade é muito baixa e que a maioria nem português fala. Terei de ter estes aspectos em atenção e ver com os responsáveis da AD se vale a pena voltar a investir naquela casa.

Hoje, sendo Domingo, não vou à pesca. Vou com o Abubacar a uma outra tabanca para assistir a uma cerimónia de choro dos Balantas. Um professor Balanta (animista) faleceu há 3 meses e hoje a família fará uma cerimónia em sua memória em que matarão vacas e porcos (os Balantas comem porco mas como muitos dos presentes são muçulmanos matam vacas para lhes servirem) e dançarem em memória do falecido. 

A AD mandou uma viatura para aqui durante 5 dias para eu poder fazer outros trabalhos e ter outros contactos. Nos próximos 3 dias irei para Farosadjuma trabalhar com a Fatu (que também tem bungalows). Está a saber-me bem esta mudança pois aqui há agora que esperar para ver o que fazem as formandas sem eu andar em cima delas.

Havia muitos dias que não via o Neca. Há pouco o Abubacar chamou-me para me dizer que ele estava aqui nas árvores em frente da casa. Fui buscar uma laranja, cortei-a ao meio e chamei-o. Lá veio e pela 1ª vez veio buscar as metades da laranja à minha mão. Ainda não subiu os degraus da minha casa, eu é que tive de descer, mas já veio buscar a laranja à minha mão. Foi um bom avanço nas nossas relações. Os macacos são a minha perdição. Adoro passar tempo a observá-los e só tenho pena deles, à excepção do Neca, não se aproximarem.

São já 9 horas, aqui a hora não muda, e como vamos sair às 10 tenho de me ir despachar. Uma nota final – hoje adquiri a primeira ferramenta agrícola da minha vida! Uma pequena sachola, com a qual posso sachar o meu canteiro de flores e com a qual espero poder aprender a fazer uma horta. É muito bom não estar sempre ao computador e poder fazer outras coisas com o corpo (esta frase irá suscitar pensamentos maliciosos em muitos mentes mas foi escrita sem qualquer pensamento mais “pecaminoso”!).

[Termina aqui o diário de Iemberém. Por razões de segurança, e na sequência do golpe de  Estado de 12/13 de abril de 2012, a Anabela teve de seguir inesperadamente para Dacar,. por decisão da AD - Acção para o Desenvolvimento. Sobre essas peripécias, falaremos em próximo poste. LG].

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P11359: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (14): Como é difícil suportar o calor na época seca... e dormir a sesta



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11359: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (14): Como é difícil suportar o calor na época seca... e dormir a sesta

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XIV) (*)


[, Foto à esquerda; créditos fotográficos: JERO]

O Diário de Iemberém é da autoria da nossa grã-tabanqueira Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora)...

Em 2012, esteve na Guiné-Bissau cerca de três meses (, de meados de janeiro a meados de abril). Mais exatamente, em Iemberém, Parque Nacional do Cantanhez, região de Tombali, onde esteve a trabalhar como voluntária no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento. Devido ao golpe de Estado de 12 de abril , acabou por sair da Guiné-Bissau, por razões de segurança, passando  um mês em Dacar, no Senegal. Regressou a Portugal, fez agricultura biológica e, neste momento, vive na Índia, em Auroville (onde pensa ficar até meados deste ano).

Chegou em Iemberém no dia 17/1/2012. E ficou hospedada nas instalações locais da AD, a ONGD que é dirigida pelo nosso amigo Pepito. Levou o seu portátil, mas não trem internet. E luz elétrica só há 4 horas por dia (LG).


17 de Março de 2012

Há uma semana que não escrevo! Faz hoje 2 meses que cheguei a Iemberém! O calor começa a incomodar! Mesmo aqui dentro de casa, se estou a fazer algum trabalho físico/manual o suor cai “em bica”! Estivemos 15 dias sem energia elétrica e 12 sem água nas torneiras, mas já passou! Chegou um gerador novo e já temos 4 horas de luz por dia e água nas torneiras (que só tenho na casa de banho). E …EUREKA … já tenho impressora a funcionar! E papel A4! Falta a Internet mas esta já tenho muito pouca esperança ...

Esta última semana foi um bocado complicada pois no Domingo, dia 11, foram-se embora as visitas e clientes que cá estavam e só tínhamos uma reserva de 4 pessoas para 3ª feira, dia 13. Pois nesse dia, além dos “reservados”, apareceram 3 dinamarqueses e 1 sueco com 3 acompanhantes guineenses, 2 espanhóis e 1 acompanhante guineense, e no dia 14 mais 3 franceses. A Satú teve de ir a Bafatá, ao funeral de um tio, e eu tive de ajudar no restaurante.

Para compensar a “canseira”, comecei na 2ª feira as aulas de português para as pessoas que aqui trabalham e que querem aprender. Comecei com 6 mulheres, das quais 2 são analfabetas, muito embora já tenham frequentado cursos de alfabetização, e 1 homem. Tirando a Mariama e a Duturna todos os outros têm alguns anos de escolaridade. O Canha fez a 7ª classe mas como quase nunca falava português e a escolaridade é de muito baixa qualidade está a reaprender. A heterogeneidade do grupo torna a formação um pouco mais difícil mas eles próprios acharam que eu devia fazer uma só turma.

Agora tenho também o Gassimo, o menino meu amigo que vai fazer 15 anos e que é filho da Mariama e talvez venha também a Mimi que é a mulher do Abdulai, técnico da AD. O Gassimo está a preocupar-me. Eu já tinha percebido que ele tem um coração de ouro mas não é muito inteligente. Ainda só anda na 2ª classe e só este ano foi para a escola de um dos padres brasileiros. De vez em quando batalho com ele na tabuada. Está agora a aprender a dos 4. Como ele, apesar de lidar comigo quase todos os dias, continua a perceber-me muito mal e quase não diz nada em português, sugeri-lhe que viesse às aulas. E agora estou preocupada pois não sei se o menino não terá dislexia. Queria ter Internet para pesquisar os sintomas desta perturbação mas não tenho. E aqui não tenho ninguém a quem recorrer. Vou tentar falar com a Tumbulu, a nossa enfermeira, mas não sei se ela saberá alguma coisa do assunto.

[Foto, à direita: Meninos de Iemberém, 6 de dezembro de 2009. © João Graça (2009. Todos os direitos reservados (Edição: L.G.]

Ontem falei disto com o Abubacar e ele contou-me que o Gassimo pertence a uma família que tem já vários
casos de “loucura” que começaram com a sua avó paterna. Tem 2 tias que andam por aí a falar sozinhas e o pai parece que às vezes também já o faz. Para a maioria das pessoas daqui isto é uma “praga” da família e parece que começa a haver alguma relutância dos homens em se casarem com mulheres da família, que, diga-se, são lindas. Ora, isto deve ser um problema neurológico, transmissível, mas aqui não há como sabê-lo e menos ainda como tratá-lo ou preveni-lo. 

Vou continuar a tomar atenção ao Gassimo e quando tiver oportunidade tentarei contatar a Dra. Sónia (a médica alemã que cá esteve). Ela e o marido “apadrinharam” o sobrinho do Gassimo e,  como têm a ONG chamada “Tabanka”,  na Alemanha, através da qual financiam aqui muitos projetos, e até fala crioulo, será a pessoa certa para ver o que se passa com esta família. Nas aulas vi que o Gassimo é canhoto mas o que me preocupa é o facto de, quando lhe peço para escrever alguma coisa no quadro, ter a sensação de que ele troca letras. Vou continuar a observar e a trabalhar com ele individualmente para tentar perceber se o menino terá alguma dificuldade especial. 

As aulas têm sido divertidas mas as pessoas faltam muito e assim não sei o que vão conseguir aprender. Estou a seguir o método de alfabetização através de um manual que os professores portugueses que aqui vieram logo quando cheguei fizeram o favor de me oferecer.

As minhas rotinas começaram a ser alteradas. O Pepito recomendou-me que deixasse agora o pessoal dos alojamentos à vontade para ver o que fazem sozinhas. Assim, depois da aula de português que é às 8.30 da manhã,  venho para casa e começo a fazer com mais intensidade outros trabalhos no computador ou falo com a Maria Pónu sobre questões ainda pendentes nos alojamentos. Tenho muitos documentos para trabalhar no computador e agora que já tenho impressora – das 19 às 23 horas – será muitíssimo melhor.

Almoço a hora variável, normalmente entre as 13 e as 14 horas,  e a seguir ou tenho um trabalho em que me mexa ou tenho de dormir a sesta. Trabalhar no computador depois do almoço e com este calor não dá! Adormeço à mesa de trabalho. 

O Pepito está sempre a recomendar-me que durma a sesta mas isto é um problema para mim pois levo uma meia hora a adormecer e depois tenho de dormir 2 horas e mais meia para me pôr de novo capaz de fazer alguma coisa, são 3 horas que me fazem falta! Esta semana não dormi dia nenhum depois do almoço pois arranjei sempre alguma coisa para fazer que não fosse estar à secretária.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11336: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (13): Um batizado muçulmano