(i) Manuel Peredo
Tendo eu participado na "reconquista do Cantanhez” [Op Grande Empresa], queria fazer uma observação. Eu estava presente quando o capitão Valente dos Santos [,comandante do CCP 122,]foi ferido com uma bala que lhe atravessou um braço.
Ele estava incluído no quarto pelotão, que era o meu e
nessa emboscada tivemos quatro feridos,ou talvez cinco: o capitão Valente dos
Santos,o radiotelegrafista Ribeiro,o enfermeiro Azenha e o soldado Severino que
transportei às minhas costas.
Todos foram
evacuados ao mesmo tempo, incluindo o capitão Valente dos Santos que, vendo em
que estava o seu braço, não podia continuar a operação.
Eu li o
livro do major Moura Calheiros (um excelente livro) (***) e a passagem sobre a
evacuação do capitão Valente dos Santos deixou-me surpreendido ao afirmar que o
capitão recusou ser evacuado querendo continuar a operação, o que não
corresponde à verdade.
Em Maio de
2012 estive com o major Moura Calheiros em Tancos no dia da Unidade, onde se
juntam várias gerações de paraquedistas. Dei-lhe os meus parabéns pela obra, mas
disse-lhe que não estava de acordo com ele quando diz que o capitão Valente dos
Santos recusou-se a ser evacuado. Disse-lhe que eu estava presente e que o
capitão foi evacuado quando os restantes feridos, mas ele disse-me que eu
estava errado e que o que escreveu estava certo pois andava a sobrevoar a zona
na Dornier.
Nesse dia da
Unidade encontrei-me com vários elementos do meu pelotão [4º da CCP 122] que fizeram parte
dessa operação e todos estavam de acordo com a minha versão.
Depois de os feridos terem sido evacuados, veio outro pelotão da CCP 122 reforçar o meu grupo e voltámos ao local onde tínhamos sofrido a emboscada, sendo a minha secção a ir na frente do bigrupo.
Encontrámos várias granadas e munições e
quando nos preparávamos para sair daquela zono, fomos atacados novamente e o
furriel Aníbal Martins foi ferido gravemente. Esteve alguns dias no Hospital
Militar, vindo a falecer dos ferimentos. A morte dele deixou-me abalado, pois
éramos amigos e no BCP 12 dormíamos no mesmo quarto.
Também participei na operação Muralha Quimérica, onde o meu pelotão encontrou uma grande quantidade de bandeiras do PAIGC e ainda hoje tenho uma.
"Sou" o Major Moura Calheiros, referido pelo Amigo e camarada paraquedista Manuel Penedo, no seu comentário ao meu livro "A Última Missão ", cujo elogio agradeço.
Mas apresento-me hoje, e aqui, com mais 48 anos — meio século!!! — de vida do que aqueles que então exibia nos tempos que ele recorda, os da "invasão" do Cantanhez, na Guiné...
Tudo aquilo
que ele refere se passou numa clara e muito quente manhã, tipicamente
guineense, no dia 12 de Dezembro de 1972. E foi relatado, no livro, em 2010;
logo, 38 anos depois..., passível, pois, de algumas pequenas imprecisões por
efeito da falta de memória e de relatórios escritos sem muito detalhe e
precisão, pois que aquele período não permitiu tempo para
"burocracias", cuja falta hoje se fazem sentir... e que lamentamos
existirem..
Mão amiga fez chegar ao meu conhecimento o comentário do Amigo e camarada Paraquedista Manuel Penedo a uma imprecisão existente no livro de minha autoria atras referido. E existe na verdade uma imprecisão: contrariamente ao que eu lhe tinha afirmado em Tancos, num Dia da Unidade...
Só que agora
pude recorrer ao Comandante da Companhia, então Cap Paraq Valente dos Santos,
muito mais jovem que eu, logo, com melhor memória. Ele confirmou-me que eu lhe
propus a sua evacuação e de todos os outros feridos, mas que ele se recusara a
ser evacuado sem que tivesse atingido o quartel inimigo; e, diferentemente do
que eu afirmo no livro, os restantes feridos não foram logo evacuados por
decisão sua, pois que não eram graves, mas sim, conjuntamente com ele, logo
após a ocupação do objectivo.
Em resumo: o
Amigo Manuel Penedo tem toda a razão no que afirma no seu Post, mas penso que a
inexatidão não é relevante, pois em pouco ou nada o momento da evacuação é
importante na narrativa; excepto, claro está, para os feridos... E felizmente
tudo correu bem com eles... E com tudo o resto nesse dia, com excepção do raio
do desembarque em Cadique...
As minhas
desculpas aos leitores do meu livro por esta minha — quanto a mim, ligeira —
imprecisão; e também ao Amigo e camarada Manuel Penedo, com o meu pedido de
desculpas pelas minhas afirmações em Tancos, no Dia da Unidade. Como
compensação, vai daqui um forte abraço para ele.
E, para
terminar, saúdo os seguidores deste magnífico Blog, que em tempos idos eu
visitava com muita frequência. Mas a idade não perdoa... (****)
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(*) Vd.poste de 18 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21779: Notas de leitura (1334): As Grandes Operações da Guerra Colonial, a Guiné, 1972 a 1974, por Manuel Catarino (Mário Beja Santos)
3 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional