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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)

 

A legenda e a foto são do padre Bártolo Paiva Pereira... Vêm na página 23 do livro que estamos a recensear. Podem surpreender o leitor, se tivermos em conta que o autor é capelão major reformado, serviu nas Forças Armadas durante 30 anos e tem pelo menos duas condecorações (ele, por modéstia, não o diz). 

Além disso, "não se trata da despedida de um Batalhão, mas de um contingente da PSP; o fardamento (nomeadamente os capacetes com a estrela de seis pontas do respetivo crachá) e a presença do Ministro do Interior, Santos Júnior na ponta direita da foto assim o indiciam"
 (A explicação é dada pelo nosso  camarada Eurico Dias, ex-alf mil, CCaç 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74).

Fonte: "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira (ed. de autor, Vila do Conde, 2025, pag. 23).


1. Não é seguramente o padre Bártolo Paiva Pereira que aparece na foto a benzer (com o hissope ou o asperge) o guião de mais um  batalhão que partia para Angola, ou melhor, de um contingente da PSP (Polícia de Segurança Pública). 

Não lhe façam essa maldade, a  ele que passou pelos 3 TO (Angola, 4 anos, Guiné, 2 anos, Moçambique, 4 anos), que foi capelão do Copcon e do Regimento de Comandos da Amadora, em 1975,  que demonstra grande estima, afeto e admiração pelo seus militares, e em especial pelos seus "comandos", enfim, alguém que, voluntariamente (!), passou a 1/3 da sua vida ao serviço da sua "família militar"...  Enfim, um homem e sacerdote que diz: "A minha Pátria é o Hélder" (o 1º cabo que ia à sua frente, e que morreu numa emboscada, em Cabinda, em 1962, na floresta do  Maiombe, e que terá salvo a vido seu "capelão") (*)

Não se consegue identificar a unidade que parte para Angola. Mas sabemos que não é do Exército, e um contingente da PSP. Pela legenda, terá sido  nos anos de 1961/62, portanto ainda no princípio da guerra. 

Ampliando a imagem, vê-se que o capelão da foto é já graduado em capitão. O Bártolo ainda era nessa data um alferes, com 26/27 anos (será graduado em tenente em 1963, capitão em 1965 e em major já em 1973; além disso, a sua experiência como capelão militar é no Exército.

A fotografia que encima o capº 2 ("Assistência Religiosa às Forças Armadas: Orgânica e Pressupostos" (pp. 23-44) merece uma legenda crítica por parte do autor do livro, o padre Bártolo Paiva Pereira, hoje major na situação de reforma:

  "A fotografia que abre este capítulo, é uma provocação " (sic) (pág. 23).

Uma "provocação" ?  Não, na época, mas à luz dos dias de hoje... O "aggiormanento" da Igreja Católica, mal começara. (O Concílio Vaticano II, vai de 11/10/1962, 1ª sessão, até 8/12/1965, 4ª e última sessão)... 

O que o autor pretende dizer é que os capelães não serviam (nem podiam servir) para "turiferar a guerra e as máquinas de guerra" (pág. 39)...  "Turiferar", diz o dicionário é  "queimar incenso em honra de; incensar" (em sentido figurado,  adular; lisonjear).

Este é um velho debate, entre a "corporação" e os historiadores, que ultrapassa o âmbito desta simples recensão. Segundo o autor, esta "cerimónia de despedida", esta encenação, centrada na figura do capelão, benzendo guiões e flâmulas, terá sido de "curtíssima duração" (sic) (pág. 23).

Não nos parece: visionámos vídeos antigos da RTP Arquivos (um de 1961 e outro de 1971): em ambos ainda vamos encontrar o capelão perfeitamente integrado na cerimónia de despedida, munido da sua "caldeirinha de água benta" e do "hissope" (ou asperge):
(vídeo 2' 17'')  (sem som)

"Vila Nova de Gaia, Serra do Pilar, contingente militar do Regimento de Artilharia Pesada Nº 2 (RAP 2) recebe a bênção e guião durante a cerimónia de despedida, a propósito da sua partida em missão de serviço para o Ultramar".
(vídeo 2' 44'') (sem som)

"Vila Nova de Gaia, Serra do Pilar, contingente militar do Regimento de Artilharia Pesada Nº 2 (RAP 2) recebe a bênção, guiões e flâmulas durante a cerimónia de despedida, a propósito da sua partida em missão de soberania para o Ultramar".

No espaço de 10 anos a cerimónia não mudou, pelo menos na Serra do Pilar, no RAP2: os militares já não usam é capacetes de aço... mas o capelão não dispensa a caldeirinha da água benta e o hissope...

Fica-se com a ideia de que o autor, enquanto capelão, perdeu um pouco o contacto com o "terreno", ao  passar, na Guiné, em 1965/67,  a chefiar o serviço religioso, a trabalhar no QG/CTIG ou a viver  no  "Vaticano" (o edifício ou moradia onde estava instalado o capelão-chefe, em Bissau), longe dos quartéis do mato). (Curiosamente, ainda não descobrimos a localização do "Vaticano", na Bissau Velha.)

Neste 2º capítulo faz-se também o "historial" da capelania militar, desde a I Grande Guerra. Dispensamo-nos de entrar aqui em grandes detalhes. Mas recomendamos a sua leitura a quem quiser saber mais sobre o tema.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de Luís Henriques (1920-2012) / Luís Graça (202o)


Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Também houve (e muitos, algumas dezenas de milhares de) expedicionários na II Guerra Mundial. Alguns dos nossos pais estiveram em Cabo Verde, outros nos Açores, ou na Madeira, quiçá em Angola e Moçambique.

Estranhas-se,  por isso, que, no auge da "glória" do Estado Novo, no princípio dos anos 40, não houvesse capelões militares,  ou pelo menos um embrião de serviço de assistência religiosa aos nossos militares, destacados em missão de soberania para as ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde) bem  para outras partes do império (nomeadamente Angola e Moçambique). Diz o autor:

"Portual não entrou na 2ª guerra mundial (1939-145). Por isso, não houve capelães destacados para esse conflito mundial" (pág. 24)...

Não é bem assim, estimado padre Bártolo, está a esquecer-se do caso de Timor onde, numa lista dos cerca de uma centena de portugueses mortos durante a ocupação japonesa (1942-1945),  há pelo menos quatro padres católicos:
  • Padre António Manuel Pires, missionário (assassinado em Ainaro, a 2 de outubro de 1942);
  • Padre Norberto de Oliveira Barros, missionário (idem);
  • Padre Abílio Caldas. missionário, natural de Timor (assassinado em Barique, em data ignorada):
  • Padre Francisco Madeira, issionário (foragido, morto no mato, na região de Lacluta, em data ignorada).
E de entre os mais de 40 mil timorenses que se estima terem morrido (ou sido mortos), durante a ocupação japonesa, muitos seguramente seriam católicos ou cristãos.

Ficamos a saber, isso sim, é que "só em 29 de maio de 1966 foi erigida canonicamente a Diocese Castrense", por acordo entre a Santa Sé  e o Governo de Portugal (pág. 24), sendo essa data a da "oficialização" do serviço  de assistência religiosa nas Forças Armadas, cinco anos e tal depois do início da guerra em Angola. 

O primeiro bispo castrensne seria o próprio Patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira. E só no ano seguinte, 1967, se realizou o 1º curso  de capelães.

Isto quer dizer que até então todos os capelães militares eram voluntários, foi o caso do padre Bártolo.

(...) "De início os capelães eram mobilizados na base do voluntariado. Aconteceu comigo e com muitos outros. 

As Forças Armadas pediam à Igreja um sacerdote para enquadrar os seus batalhões. E a Igreja arquitetou um plano militarmente bizarro, pastoralmente muito acertado. (...) 

A Igreja nunca concedeu padres ao Estado, apenas os emprestava por um período de vinte anos, ou até se alcançar o poste de major. Findo esse tempo, voltavam à diocese. A imposição aparece com o primeiro Curso Oficial de Capelães, em 1967 (...) (pág. 52, negritos do autor).

E parece que essa medida eclesiástica não foi de todo pacífica:

(...) "Começa a obrigatoriedade  da mobilização. Começa o conflito eclesiástico. Começa o sarilho  da relação de muitos padres com os seus superiores religiosos, Começa o choro da  consciência  de alguns reverendos que não desejavam  exercer a pastoral castrense  em clima de guerra" (pág, 52)...

Temos no nosso blogue várias histórias desse conflito, que começa por ser um conflito de consciência... 

O padre Bártolo também refere e analisa o caso de vários antigos capelães, três dos quais mais polémicos, o meu  primo Horácio Fernandes, o Padre Mário de Oliveira (ou Mário da Lixa) e o Arsénio Puim... Todos eles membros da nossa Tabanca Grande. O Mário da Lixa, já falecido, infelizmente. Os outros dois acabaram por pedir a "redução ao estado laical", um tabu antes do Concílio Vaticano II. (**)

 (Continua)
___________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. postes anteriores da série:




(**) Poste anterior da série > 29 de setembro de 2025 > 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27291: Notas de leitura (1847): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte II: "Ó Beatle, queres mesmo ir para a Guiné ?", perguntou-lhe o antigo patrão, o sr. António Muchaxo... (Luís Graça)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27253. Timor-Leste: passado e presente (33): tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895 - Díli, 1944): os timorenses não o esqueceram, Portugal levou muito tempo a reabilitar a sua memória




Homenagem de Timor- Monumento erigido em Dili: "Ao adminsitrador Ten. Manuel de Jesus Pires (1895-1944)". Foto: Ludwig Müller. Cortesia: Wikimedia Commons


O actor Marco Delgado no papel de Tenente Pires, na série "Abandonados" (realização de Francisco Manso, produção RTP, 2022). 
A série, em sete episódios, pode ser vista iu revistra na RTP Play.

Imagem: cortesia de RTP e
 

1. Oitenta anos depois da rendição do Japão aos Aliados e da retirada das suas tropas do território de Timor-Leste, a patir de 6 de setembro de 1945 (*), há uma história que não pode ser esquecida, a do tenente e administrador colonial Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895 - Dili, 1944). Os timorenses não o esqueceram. Portugal levou muitos anos a reabilitar a sua memória. Tem oito referências no nosso blogue.

(...) "É uma história de filme, um drama épico. A história de um oficial português que ajudou a evacuar de Timor, invadido pelos japoneses, centenas de portugueses, em três operações heróicas. Morreu às mãos do invasor".

In: Tenente Pires | São José Almeida | Público, 10 de Fevereiro de 2008, 0:00


Deste artigo, de 10/2/2008, permitimo-nos fazer uma condensação, a partir de alguns excertos. Este homem, este militar, este português, merece ser melhor conhecido. Morreu, há 81 anos, às mãos dos carrascos, sem ver a terra, Timor, que ele tanto amava, liberta dos seus invasores e ocupantes nipónicos.

Maria de Lourdes Cal Brandão, viúva de Carlos Cal Brandão (1906-1973) tinha 93 anos quando deu esta entrevista ao "Público", em 2008. Ficamos a saber, por este valioso  trabalho de pesquisa da jornalista São José Almeida, que:

  • em 1943 tinha 27 anos;
  • era a esposa de um deportado político (em Timor desde 1931), o dr. Carlos Cal Brandão, jovem advogado do Porto;
  • nesse ano conheceu Elisa Pires, a filha do tenente Manuel de Jesus Pires, e de uma timorense, Domingas Boavida, que tinha apenas 8 meses;
  • tornou-se amiga da Elisa e da mãe num campo de refugiados na Austrália.


Maria de Lourdes havido fugido de Díli com mais 80 pessoas. O grupo havia atravessado a ilha pelo Monte Ramelau ( "Foho Ramelau", em tétum, a mais alta montanha da ilha, que se eleva a quase  3 mil metros). A fuga fora organizada pelo marido e pelo tenente Pires.

(...) Quando chegou ao sul, embarcou num dos navios australianos que transportaram 700 pessoas, todas brancas, a partir da praia de Betano.(...)

A Elisa e a mãe, timorense, embarcariam a 10 de janeiro de 1943, na praia de Aliambata, com mais 54 pessoas, num navio holandês. O embarque foi organizado pelo tenente Pires. Foi o primeiro, com destino à Austrália, em que foram evacuados timorenses.

(...) Este é o resultado (...) de uma bem sucedida pressão do tenente Pires e de Cal Brandão junto dos australianos para que a evacuação inclua também timorenses. (...).

A jornalista cita o investigador António Monteiro Cardoso em "Timor na 2ª Guerra Mundial - O Diário do Tenente Pires" (editado pelo ISCTE). (O historiador morreu, entretanto, aos 65 anos, em 2016.)

A partir da Austrália, e com apoio dos australianos, os dois resistentes portugueses, o Cal Brandão e o tenente Pires, empenham-se em salvar mais gente, e nomeadamente mulheres e crianças.

(...) Um mês depois, a 10 de fevereiro de 1943, a partir da praia de Barique, o tenente Pires aceita ser evacuado com um grupo de timorenses e portugueses num submarino americano, porque acredita que fazer contactos diretos na Austrália será mais eficaz para salvar os que ficaram para trás. (...)

E até junho desse ano, de facto, o tenente:
  • desdobra-se em contactos com as autoridades australianas;
  • escreve a diversas personalidades (Salazar e Getúlio Vargas, presidente do Brasil, entre outros outros);
  • o seu apelo ("libertem Timor e salvem os portugueses e timorenses escondidos nas montanhas") não é atendido;
  • tem, contra si, um conjuntura geopolítica e militar desfavorável.

Timor, de facto,  era um mero peão no "tabuleiro de xadrez" da guerra do Pacífico. Os Aliados (a começar pelos EUA) tinham outras prioridades.

Salazar, por outro lado,  sempre se manifestara contra toda e qualquer evacuação: os portugueses residentes em Timor tinham o dever de ficar, mesmo à custa da vida de alguns (ou até da maior parte), sendo essa a única forma de garantir a recuperação, a reafirmação e o reconhecimento da soberania portuguesa no final do conflito.

Era, além disso, contra toda e qualquer manifestação de hostilidade em relação aos japoneses (com medo, nomeadamente, de perder Macau). Cautelosamente devia esperar que o peso das armas começasse a pender para o lado dos aliados.

Estima-se que terão morridos mais de 10 por cento 
(c. 40 mil) da população da ilha 

(...) "É então que o tenente Pires, persistente, consegue que os australianos o levem de novo para Timor com um pequeno grupo de operacionais portugueses - Patrício Luz, Casimiro Paiva e Alexandre Silva. (...)

No início de julho de 1943, ele e os seus companheiros juntam-se ao grupo de Cal Brandão. Fiel à sua palavra, a 3 de agosto faz evacuar para a Austrália, a partir de Barique, mais 87 civis, portugueses e timorenses.

Fica em Timor, à espera de boas novas dos Aliados e do Estado Português. Um mês e tal depois, já em setembro, o tenente Pires tem a infelicidade de ser ferido numa anca. Num terreno extremamente acidentado como o Timor, isso era fatal. É feito prisioneiro pelos japoneses, ele e os companheiros. Já não chegará a conhecer a alegria da vitória, morre mais de um ano antes. No cativeiro, em Dili, em circunstâncias que nunca foram esclarecidas.

Nessa altura, a pequena Elisa Pires, f vivia há nove meses no campo de refugiados de Armidale, com a jovem mãe, timorense, assim como Maria de Lourdes Cal Brandão.

Restabelecida a paz, regressam todos a Timor, em setembro de 1945. Carlos Cal Brandão e a mulher não 
são autorizados a desembarcar pelas autoridades portugueses da ilha.

Num gesto que só podia ser de grande amor maternal, Domingas Boavida, entrega a pequena Elisa, com 3 anos, a Maria de Lourdes e Carlos Cal Brandão, para que a possam educar no Porto. Os Cal Brandão passaram a ser os seus padrinhos.

A viagem de regresso a Portugal é penosa, o navio pára em todas as colónias, até que aporta em Lisboa em fevereiro de 1946. Os três chegam, finalmente, ao Porto onde Cal Brandão, advogado, tem os pais e o irmão Mário (que virá a ser governador civil do Porto a seguir ao 25 de Abril de 1974),

Em 2008, com 65 anos, quando dá esta entrevista ao jornal "Público", "a imagem que Elisa tem do pai biológico é construída":

(...) Uma espécie de memória dos outros que lhe foi transmitida. Elisa Pires nunca conheceu o pai, Manuel de Jesus Pires, oficial português que ficou para a história como o tenente Pires e viveu mais de 20 anos em Timor.(...).

Cal Brandão e a mulher, os padrinhos de Elisa, ensinaram-lhe a preservar a memória do pai. Fala dele, à jornalista, com orgulho:

(...) "Penso que, como militar republicano respeitava a pátria e a honra e que pôs isso em prática. Depois, a responsabilidade do povo que governava, fê-lo realmente lutar por aquilo que achava melhor para os timorenses. Foi uma pessoa de bastante coragem. Que se sujeitou a tudo para levar as ideias dele para a frente". (...)

Elisa nasceu a 22 de abril de 1942, em Baucau, distrito timorense de que o tenente Pires foi administrador. A mãe tinha então 16 anos.

(...) A minha mãe nunca me escreveu, apesar de educada numa missão católica. Conheci-a, quando [já adulta] regressei a Timor. Veio ver-me a Díli. Foi uma visita e um encontro não como mãe e filha, porque éramos desconhecidas. Gostei de a conhecer, mas éramos desconhecidas. Nessa altura já tinha outros filhos, já tinha refeito a sua vida. Ainda hoje vive perto de Baucau (...).

Elisa manteve o contacto com Timor, a mãe e os seus meios-irmãos, de acordo com o desejo expresso pelo casal Cal Brandão.

(...) "Os meus padrinhos, principalmente o meu padrinho, tiveram sempre a preocupação de não me deixar esquecer o meu pai. Levou-me aos meus avós paternos que viviam no Porto, fui várias vezes fazer visitas" (...)

Ao fim de quatro anos no Porto, Elisa entra, como interna, no Colégio da Liga dos Combatentes. Por outro lado, sendo filha de oficial, era pressuposto poder ingressar no Instituto de Odivelas. Mas em 1952 a sua entrada foi recusada.

(...) "A explicação que me deram foi que o meu pai não era casado com a minha mãe, isto quando um oficial português era proibido de casar com gentios. Não sei se foi por isso, se foi pela atitude do meu pai durante a guerra." (...)

Elisa fez então a escola comercial e, em 1967, volta a Timor, onde trabalhou durante dois anos na Repartição Provincial dos Serviços de Administração Central.

Em 1969, com o irmão Jaime destacado em Angola, na Força Aérea, Elisa vai para Luanda. Fica lá até à descolonização, altura em que veio para Lisboa como funcionária da empresa na qual trabalhava, a Celcat. Estava reformada quando deu a entrevista.

Quando regressou a Timor, Elisa Pires é confrontada com a força da memória do pai e o seu prestígio entre os timorenses.

(..) "Toda a gente me falava dele e depois, mais tarde, construíram-lhe um monumento [em 1973], mas antes já havia a Ponte Tenente Pires, em Viqueque. Era uma pessoa conceituada, até pelos próprios indígenas, porque lutava por Timor e por eles. Sempre foi muito igualitário, contribuiu para que houvesse evacuação de timorenses durante a guerra." (...)

Essa memória não se perdeu também em grande parte por mérito dos Cal Brandão que trouxeram, além de Elisa, os cadernos com o diário do tenente Pires.

A partir do Natal de 1942, em plena fuga pelo interior de Timor, o tenente Pires começara a escrever um diário. Que continuou na Austrália.  O último registo é anterior á sua entrada  no submarino no qual regressou a Timor para morrer.


2. O diário fora entregue ao Carlos Cal Brandão por um amigo comum. Chegou a Portugal escondido na bagagem de uma amiga de Maria de Lourdes.

(...) Para António Monteiro Cardoso, este diário é "o brado de um homem isolado e abandonado pelo seu país e pelos Aliados e que, não obstante não desiste, movido pelo cumprimento da palavra dada. O relato de um drama humano de alguém a quem ninguém dá ouvidos. A sua honestidade leva-o para a missão que sabe que não tem saída".(...)

Manuel de Jesus Pires nasceu no Porto, a 6 de março de 1895 Estudou na Faculdade de Ciências do Porto. Na Escola de Guerra, acabou o curso de Infantaria em 1917. No verão desse ano, foi para França, integrado no Corpo Expedicionário Português. Regressado a Portugal, ajudou a combater a Monarquia do Norte e a depor Paiva Couceiro no ano seguinte.

(...) Em junho de 1919 é requisitado pelo ministro das Colónias, João Soares, pai do ex-Presidente Mário Soares, para ir para Timor. O então alferes Pires chega a Timor a 25 de setembro de 1919, com 24 anos. É aí que passará o resto da sua vida até morrer, em 1943, aos 48 anos, como prisioneiro de guerra dos japoneses.(...)

(...) Logo em novembro de 1919 foi nomeado comandante militar de Viqueque, cargo que exerceu até 1928. Foi também chefe dos serviços de Fomento Agrícola, ajudante de campo do governador, comandante militar do enclave de Oecussi, administrador civil de Manatuto, governador de Fronteira e, a partir de 1937, governador de Baucau. (...)

(Recensão, condensação, fixação / revisão de texto: LG)


3. Recorde-se que, de entre alguns dos heróis (portugueses e timorenses) que resistiram à ocupação nipónica, estão sem sombra de dúvida (**):

  •  o chefe de posto de Laga, Augusto Leal de Matos e Silva, 
  • o chefe de posto de José Plínio dos Santos Tinoco 
  • e o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de Baucau. 

Os três morreram na prisão, às mãos dos japoneses, em 1944. Foram esquecidos na hora de honrar os mortos. Tinham cometido o erro de se  "aliarem" aos australianos, o que era imperdoável aos olhos de Salazar...

Todos deveriam ter sido louvados por atos heróicos... Recorde-se que  em 3 de agosto de 1943 ajudaram a embarcar, em duas vedetas australianas, perto da "alfândega" de Barique, um grupo de foragidos portugueses e timorenses (com destaque para mulheres e crianças). Mas em Timor ficou um grupo de voluntários, em missão, de observação, de que faziam parte os seguintes portugueses:

  • Tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895-Díli,1944);
  • Chefe de posto Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944);
  • Chefe de posto José [Plínio dos Santos] Tinoco;
  • Enfermeiro Serafim [Joaquim] Pinto;
  • Radiotelegrafista Patrício Luz;
  • Cabo de infantaria João Vieira. 

Todos eles morreram na prisão japonesa de Díli [em 1944] , com exceção do Patrício Luz que logrou  esconder-se entre timorenses, amigos da sua família.
_________________

Notas do editor LG:

(*)  Último poste da série > 19 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27230: Timor-Leste: passado e presente (32): a rendição dos japoneses foi há oitenta anos, foram-se embora, sem castigo, lá deixando mais de 40 mil cadáveres de timorenses, portugueses, australianos, holandeses...


(**) Vd. postes de:



sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27230: Timor-Leste: passado e presente (32): a rendição dos japoneses foi há oitenta anos, foram-se embora, sem castigo, lá deixando mais de 40 mil cadáveres de timorenses, portugueses, australianos, holandeses...




Bandeira do Império do Sol Nascente: símbolo de terror no Pacífico, durante a II Guerra Mundial , e mais exatamente entre 7 de dezembro de 1941 e 2 de setembro de 1945 (data da rendição oficial e incondicional do Japão).  

Em Timor-Leste, invadido e ocupado desde 19 de fevereiro de 1942,  completamente isolados do mundo desde julho de 1943, sem telecomunicações, os habitantes  só souberam da notícia do fim da II Grande Guerra e do armistício em 1 de setembro de 1945 (!)... As tropas ocupantes só começaram a retirar da ilha a 6 de setembro (*).

Portugal recuperou a soberania da Timor, ao fim de três anos e meio de ocupação do território pelas tropas japonesas. Morreram perto de uma centena de portugueses, europeus e "liurais" (régulos timorenses, fiéis a Portugal), em combate, assassinados, vítimas de doença, ou desaparecidos no mato, sem falar das muitas dezenas e dezenas de milhares de timorenses anónimos (no mínimo, 40 mil).

O Governador, cap inf Ferreira Carvalho, rapidamente decidiu a reocupação da ilha, e o restabelecimento da autoridade portuguesa, o que foi feito em tempo tempo-recorde de 14 dias.


1. A ocupação japonesa de Timor-Leste, então colónia portuguesa, durante a II Guerra Mundial,  decorreu entre fevereiro de 1942 e setembro de 1945. Foi marcada por violência extrema, genocídio,  guerrilha, colaboração e imenso sofrimento para a população local (incluindo a pequena comunidade portuguesa, constituida por desterrados, missionários católicos, funcionários civis e escassos militares).

Apesar da neutralidade de Portugal durante a II Guerra Mundial, Timor-Leste tornou-se um campo de batalha estratégico no teatro do Pacífico, principalmente devido à sua proximidade com a Austrália (Dili ficava a c. 700 km de Darwin).

Passam, este mês, 80 anos desde o fim da guerra do Pacifico (7 de dezembro de 1941 - 2 de setembro de 1945). Os japoneses tiveram a infelicidade de ter um governo militarista e  totalitário e os timorenses o azar de ficarem na rota das suas loucas ambições imperiais de subjugar toda a Ásia e a Oceania...


 Ocupação de Timor-Leste na II Guerra Mundial (1942-1945)> Principais factos e datas


A invasão japonesa ocorreu na noite de 19 para 20 de fevereiro de 1942, com desembarque de cerca de 1500 soldados; ao mesmo tempo, a marinha e a força aérea nipónicas atacavam a parte ocidental da ilha, sob administração holandesa (a capital Kupang e outros pontos).

Logo a seguir, em 24 de fevereiro de 1942, foi introduzida a moeda militar japonesa como única com circulação legal em Timor. A administração civil portuguesa não foi formalmente deposta: era preciso salvar as aparências.  

O governador português e o seu escasso corpo de funcionários ficarm circunscritos à residência oficial em Díli após maio de 1942. Mas era uma administração fantoche. 

A resistência aliada, composta por australianos (Sparrow Force), holandeses, meia dúzia de ingleses, e civis, portugueses e timorenses,  continuou sob a forma de guerrilha nas montanhas. O apoio da população local está bem documentado, apesar dos focos de rebelião contra os portugueses (as  famigeradas "colunas negras", armadas ou toleradas pelo ocupante).

O interesse estratégico aliado pelo território irá, entretanto, diminuir e, a partir de fevereiro de 1943, a maioria dos comandos australianos foi evacuada.

 A ocupação terminou apenas após a rendição do Japão, em 2 de  setembro de 1945, e o regresso da administração portuguesa efetiva

A ocupação resultou em intenso sofrimento: houve peloo menos 40 mil mortos  entre timorenses e portugueses (cerca de 10% da população da época), devido a massacres, fome, doenças e trabalhos forçados.

Houve repressão violenta contra qualquer suspeita de apoio aos aliados, envolvendo represálias, torturas, fuzilamentos públicos e deportação em massa da população de Díli para o interior.


NBa resistência ao oocupante, destacou-se, de entre muitos outros,  a figura do régulo Aleixo Corte-Real (Dom Aleixo), fuzilado pelos japoneses em 1943 por ter colaborado com as forças aliadas e apoiado a população local. 

Envolveu-se também a comunidade portuguesa local, ora na resistência armada, ora tentando proteger a população timorense, apesar das ordens de estrita neutralidade vindas da metrópole. 

De entre os portugueses, resistentes, destaque-se  o tenente (e antigo administrador de Baucau) Manuel de Jesus Pires (durante anos e anos totalmente esquecido) (Foto à esquerda, com dedicatória manuscrita à "amiga Maria", e data de 6/3/1943, um ano antes de morrer, às mãos dos japoneses, no cativeiro; fonte: blogue Uma Lulik  > 10 de fevereiro de 2008 > Tenente Pires). (Julgamos que a Maria da dedicatória fosse a jovem esposa de Carlos Cal Brandão, o advogado, seu conterrâneo, do Porto, ali desterrado desde 1931.)

A maior parte das infraestruturas urbanas e povoados de Timor Leste foi destruída pelos combates e bombardeamentos aéreos: Díli sofreu mais de 90 ataques aéreos ao longo da ocupação, a maior parte da aviação aliada.

(i) Contexto e invasão aliada (1941)

17 de dezembro de 1941:

  • antecipando uma mais que provável invasão japonesa, e  para prevenir a instalação de bases japonesas, uma força de 400 comandos australianos e holandeses (e alguns ingleses) desembarca em Díli, contra a vontade e os protestos do governador português, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho;
  • o objetivo era criar uma linha de defesa avançada e impedir que o Japão usasse a ilha como base para atacar a Austrália;
  • Lisboa protestou em vão, mas veementemente, contra esta violação da sua neutralidade (com mais veemência do que dois meses depois).

(ii) A invasão japonesa e o início da resistência  (1942)


19-20 de Fevereiro de 1942:

  • o Império do Sol Nascente, usando a presença aliada como pretexto para a invasão, lança um ataque massivo, de cerca de 1500 soldados em Díli, ocupando rapidamente a cidade;
  • o pequeno contingente aliado e as forças portuguesas (não mais do que  600 homens, no total, incluindo uma companhia de timorenses, mal armados, e enquadrados por meia dúzia de graduados metropolitanos) são rapidamente subjugados na capital.
  •  a marinha e aviação japonesas  bombardeiam  Kupang (Timor holandês) e noutros pontos estratégicos da ilha;


finais de fevereiro de 1942:

  • os soldados aliados sobreviventes, principalmente australianos da "Sparrow Force", recuam para as montanhas do interior da ilha;
  • com o apoio crucial da população timorense, que lhes fornecia comida, abrigo e informações,  iniciam uma mais que improvável campanha de guerrilha contra as forças nipónicas.

(iii) A guerra de guerrilha e o apoio timorense (1942)



março - dezembro de 1942:

  • os comandos australianos, conhecidos como os "fantasmas de Timor", infligem pesadas baixas às tropas japonesas, sabotando as suas operações e linhas de comunicação;
  •  estima-se que mais de 1500 soldados japoneses foram mortos nesta fase, ao custo de apenas cerca de 40 baixas australianas;
  • a resistência não teria sido possível sem o apoio ativo dos timorenses: muitos serviram como guias, informantes, e carregadores (chamados "criados" pelos australianos); esta colaboração, no entanto, teve um custo terrível, pois os japoneses retaliaram brutalmente contra as aldeias que ajudavam os aliados.

agosto de 1942: 

  • os nipónicos lançam uma grande contraofensiva para esmagar a guerrilha, intensificando a violência contra os civis (e fazendo recurso às famigeradas "colunas negras", timorenses de um lado e do outro, arregimentados para espalhar o terror),

(iv) a  retirada aliada e o isolamento total (1942-1943)

dezembro de 1942 - fevereiro de 1943: 

  • face à insustentabilidade da situação, a marinha australiana realiza uma série de operações secretas para evacuar os seus soldados; a grande maioria dos comandos é resgatada, deixando a população timorense à mercê da brutalidade das forças de ocupação japonesas e dos seus colaboracionistas; 
  • as autoridades e cidadãos portugueses que não tinham sido evacuados foram, na sua maioria, internados em campos de concentração;

(v) O auge da ocupação japonesa e a fome (1943-1945)

  •  com a saída dos aliados, os japoneses consolidaram o seu controlo, impondo um regime de terror; civis timorenses foram executados, torturados e forçados a trabalhos pesados;
  • as forças japonesas confiscaram colheitas e gado para sustentar o seu esforço de guerra; o colapso da agricultura e da pecuária, combinada com os bombardeamentos aéreos aliados que visavam as posições japonesas nos anos seguintes, levou a uma fome generalizada que devastou a população.

(vi) O fim da guerra  (1945)

  • 6 e 9 de agosto de 1945:  bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaãqui;
  • 15 de agosto:  o  Imperador Hirohito anuncia a rendição incondicional do Japão, terminando a II Guerra Mundial.
  • 5 de setembro: o comandante das forças japonesas em Timor-Leste,  coronel Kaida Tatsuichi, encontra-se com o governador português interino para comunicar a rendição;
  • 6 de setembro;: os japoneses começam a retirar do território;
  • 11 de setembro: as forças japonesas em Timor rendem-se formalmente aos australianos em Kupang (capital da parte holandesa).
  •  a 27, chegam a Díli os avisos "Bartolomeu Dias" e "Gonçalves Zarco", e, dois dias depois, a 29, o aviso "Afonso de Albuquerque" e o T/T "Angola", vindos de Lourenço Marques, e ainda, a 9 de outubro, o vapor "Sofala", com tropas expedicionárias, novos funcionários e mantimentos.

Em resumo: 

  • a invasão de Timor demonstrou os limites da neutralidade  portuguesa e as ambiguidades ou fragilidades da diplomacia do Estado Novo durante o conflito;
  • a experiência da ocupação e resistência marcou profundamente a identidade timorense, sendo memória central da história do país e das relações com Portugal e a Austrália;
  • estes factos e datas  são unanimemente reconhecidos nas fontes académicas, relatos de sobreviventes e historiografia portuguesa, australiana e timorense, confirmando que ocupação japonesa foi uma das maiores catástrofes da história de Timor-Leste (infelizmente seguida, 30 anos depois, pela ocupação dos indonésios); 
  • embora os números exatos sejam difíceis de apurar, as estimativas indicam que entre 40 mil  e 70 mil timorenses (Ramos Horta fala em 40 mil)  terão morrido,  em resultado direto da ocupação e da violência, ou seja indireto, através da fome e das doenças (uma perda que representava entre 10% a 15% da população da época, um a proporção mais ou menos equiparável ao do genocídio praticado pelos indonésios, entre 1975 e 1999).

Vd. RTP Ensina > A ocupação  de Timor pelos japoneses (vídeo, 6' 01'')


(Pesquisa: LG / Blogue  + Assistente de IA (Gemini, ChatGPT, Perplexity)

(Condensação, revisão / fixação de texto: LG)
 

______________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 

(**) Vd. poste de:


14 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25941: Timor: passado e presente (21): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte XII: O regresso à Pátria e o fim do anátema de 'deportado' (pp. 102-107)

sábado, 28 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26964: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (4): Cemitério Central do Mindelo: Talhão dos combatentes portugueses (Nelson Herbert / Luís Graça) - II (e útima) Parte

 


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Foto nº 21 e 21A


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério Municipal > Maio de 2025

Fotos: © Nelson Herbert  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemn: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Publicação das restantes fotos do Talhão da Liga (Portuguesa) dos Combatentes, no Cemitério Municipal do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde,  enviadas no passado dia 25 de maio, pelo nosso grão-tabanqueiro Nelson Herbert, jornalista reformado da VOA - Voice of America, guineense de origem cabo-verdiana.

Sabemos que o talhão das "Forças Expedicionárias Portuguesas (1939-1945)" é constituído  por  68 campas, de militares mortos por doença ou acidente, na Iha de São Vicente (40) e na Iha do  Sal (28)(*).

A sigla G.A.C.A (fotos nº 14 e 16) quer dizer "Grupo de Artilharia Contra Aeronaves".

Na foto nº 21 pode ler-ser a seguinte inscrição:

"À memória do cirurgião-mor do exército L. L. Guibara,  falecido em 31 de agosto,  por  ocasião do aparecimento do cólera-morbo. Testemunho de gratidão dos habitantes da ilha de São Vicente. Em 1856".

Trata-se do tenente graduado médico do exército português, Henrique Leopoldo Lopes Guibara (Gibraltar, 1826-1856), reconhecido como  um médico-mártir devido ao seu falecimento  num surto de cólera (ou cólera-morbo, como se dizia então),  em 31 de agosto de 1856, na ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Eis a informação que recolhemos de Manuel Brito-Semedo, no seu blogue "Esquina do Tempo" (em poste de 13 de agosto de 2020), 

(...) "No dia 23 de agosto de 1856, começou em São Vicente a epidemia da cólera-morbo, importada de um vapor procedente da Madeira trazendo a bordo doentes dessa moléstia. 

Faleceram 645 indivíduos, até ao dia 20 de setembro, estando nesse número o delegado de saúde, o cirurgião-mor do exército Henrique Guibara, que morreu a 31 de agosto, ficando a ilha sem um dos principais responsáveis pela gestão da crise sanitária." (...)

Na altura São Vicente não teria mais do que 1,4 mil habitantes. (Na segunda metade do séc. XIX, Mindelo  começa a desenvolver-se,  graças sobretudo à sua atividade portuária: o porto da Baía Grande torna-se um ponto estratégico para o reabastecimento de navios a carvão; como imigrantes das ilhas próximas, como Santo Antão e São Nicolau, reforça-se a população local; no início da II Guerra Mundial, estima-se a população em 15 mil; segiundo o censo de 2010, teria mais de 70 mil.)

(...) "Conforme Henrique de Santa-Rita Vieira, no seu livro 'História da Medicina em Cabo Verde' (1999), como testemunho de gratidão da ilha de São Vicente, foi construído um mausoléu em sua homenagem, em 1856 (hoje desaparecido, aliás, como o cemitério, que ficava situado na Chã de Cemitério)." (...)

(...) Henrique Leopoldo Lopes Guibara poderá pertencer à leva de judeus que vieram para Cabo Verde no século XIX, provenientes do enclave inglês (de Gibraktar) e de Marrocos.

Um decreto datado de 10 de junho de 1851 nomeou o cirurgião civil Henrique Leopoldo Lopes Guibara para o serviço do Exército, passando a ser 'cirurgião ajudante', colocado no Batalhão de Caçadores n. º1.

Um novo decreto de 31 de agosto de 1854 determinou que o Dr. Henrique Guibara passasse a servir na ilha de São Vicente, por tempo de 6 anos e, para o efeito, foi promovido a 'cirurgião mor' do exército. Em março de 1855, foi nomeado Delegado de Saúde dessa ilha." (...)


Tem nome de rua no Mindelo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26234: Timor Leste: passado e presente (28): O concelho de Sardoal homenageou, em 15/9/1946, um dos seus filhos, Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944), chefe de posto administrativo de Laga, um dos heróis da resistència aos japoneses, morto da prisão de Díli



Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Foto 16994 > O farol de Díli. O início da sua construção data de 1889, durante o governo de Rafael Jácome Lopes de Andrade [1888-1890]. Obras de reconstrução e melhoramento em 1932 e 1948-49, após a ocupação japonesa.

Foto do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)








Fonte: O Sardoal - Boletim de Informação e Cultura da Câmara Municipal de Sardoal, bimestral, nº 53, ano 9, julho - agosto de 2008, pág. 27 (Trata-se das reprodução de um artigo do "Diário de Notícias", de 15 de setembro de 1946.)


1. Os 28 louvores (contados por nós), atribuídos formalmente, pelo Governador de Timor, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, cap inf,  natural do Porto, aquando da cessação das suas funções (*), com datas de 10 de outubro  e 21 de novembro de 1945, contemplam as seguintes categorias de "portugueses, europeus e assimilados, que na colónia se mantiveram durante todo o período da ocupação do aeu território por forças estrangeiras" (sic):


Mais tarde, já em junho de 1947, no relatório que fez para o Governo sobre os "acontecimentos de Timor" (relatório que saiu em livro, publicada pela Imprensa Naciomal - Casa da Moeda, para logo ser retirado do mercado),  o antigo Governador alargou a lista dos portugueses e inclui uma mão cheia de timorenses, vivos e mortos, merecedores do reconhecimento da Pátria portuguesa: são mais de 60 os liurais, chefes de suco, "moradores" (milícias), e outros "indígenas"  (sic) expressamente citados.

Cremos que o critério do governador cessante foi "político", ou seja, só foram contemplados por louvores aqueles que "se mantiveram em absoluta obediência às ordens do governo da colónia durante o período da ocupação  da colónia por  forças estrangeiras" (sic)... Uma exigência patética e absurda por parte de um governador que, com a longa e brutal ocupação japonesa (que em nada se compara com a holandesa e australiana),  ficou praticamente incomunicável e manietado,  sem poder mandar em coisa nenhuma, de fevereiro de 1942 a setembro de 1945... 

De entre alguns dos heróis (portugueses e timorenses) que resistiram à ocupação nipónica, estão sem sombra de dúvida o chefe de posto de Laga, Augusto Leal de Matos e  Silva, o chefe de posto de José Plínio dos Santos Tinoco e o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de Baucau. Os três morreram na prisão, às mãos dos japoneses, em 1944, mas tinham cometido o erro de se  aliarem aos australianos, o que era imperdoável aos olhos de Salazar...

Tod0s deveriam ter sido louvados por atos heróicos... Recorde-se em 3 de agosto de 1943 ajudaram a embarcar, em duas vedetas australianas, perto da "alfândega" de Barique, um grupo de foragidos portugueses e timorenses (com destaque para mulheres e crianças). Mas em Timor ficou um grupo de voluntários, em missão, de observação, de que faziam parte os seguintes portugueses: 

  • Tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895-Díli,1944);
  • Chefe de posto Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944);
  • Chefe de posto  José  [Plínio dos Santos] Tinoco;   
  • Enfermeiro Serafim  [Joaquim] Pinto;   
  • Radiotelegrafista Patrício Luz;
  • Cabo de infantaria João Vieira. 
Todos eles morreram na prisão japonesa de Díli [em 1944] , com exceção do Patrício Luz que se escondeu entre timorenses,  amigos da sua família.

Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944)apesar de tudo, ainda foi homenageado pela Càmara Municipal da sua terra, Sardoal,  dois anos e tal depois da sua morte. Era de uma família com prestígio na terra, filho de um conhecido republicano (logo do "reviralho") e grande benemérito local. (**)

Citando Carlos Vieira da Rocha (in " Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, 2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996,  pág. 131), "se para alguns é discutível a utilidade da resistência portuguesa, a verdade é que o tenente Manuel de Jesus Pires e os seus companheiros estavam imbuídos do mais puro patriotismo, levando ao sacrifício da própria vida".

O próprio Carlos Vieira da Rocha refere o caso do Governador que, no regresso a Portugal, em 8 de dezembro  de 1945,  foi "vítima da maldade e incompreensão dos homens" (pág. 173). Tendo-se levantado dúvidas sobre o seu "patriótico comportamento", acabaria por ser ilibado pelo Conselho do Pacífico, criado para apreciar os acontecimentos ocorridos em Timor, e que de faziam parte um general, um almirante e um juiz conselheiro...

O antigo deportado político Carlos Cal Brandão, no seu livro de memórias ("Funo: Guerra em Timor", 3ª ed., Lisboa, P&R - Perspetivas e Realidades,  s/d, originalmente publicado em 1946) faz o retrato humano e profissional destes três resistentes, que com ele colaboraram e lutaram (pp. 21-25): 

  • Manuel de Jesus Pires (combatente da Flandres, que terá ido para Timor logo em 1919, tendo passado à situação de licença ilimitada, para abraçar a carreira de administrador colonial, figura muito popular na colónia),
  •  Matos e Silva (jovem de espírito irrequieto e aventura, com talento para a música, a pintura e o desenho), 
  • e José Tinoco (filho de um conhecido funcionário colonial, que havia nascido na Guiné, mas que passara  a sua mocidade, em Vilar Real, na terra dos pais).

PS - Alguns Portugueses Mortos na Prisão (n=8)

1 — José  Plínio dos Santos Tinoco. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, a 8 de abril de 1944. (#) 

2 — Manuel de Jesus Pires, Tenente de infantaria e administrador de circunscrição. Na cadeia de Díli, em data ignorada de 1944. 

3 — Cipriano Vieira. Cabo de infantaria. Idem. 

4 — João Vieira. Cabo de infantaria. Idem. 

5 — Serafim Joaquim Pinto. Enfermeiro. Na cadeia de Díli antes de 29 de abril de 1944. 

6 — Augusto Leal de Matos e Silva. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, possivelmente em 9 de maio de 1944. 

7 — Artur do Canto Resende. Engenheiro-geógrafo. Em Kalabai, na ilha holandesa de Alor, a 23 de Fevereiro de 1945. (##)

8 — João Jorge Duarte. Gerente da filial do Banco Nacional  Ultramarino de Díli. Em Kalabai, Alor, a 25 de março de 1945.

(#) Não confundir com Fernando Plínio dos Santos Tinoco, que foi encarregado da circunscrição de Oecusse,  de dezembro de 1941 a setembro de 1945, e louvado pelo Governador; terá nascido em 1914, filho de Adelino Tinoco; o José seria seu filho; o Fernando em 1946 será nomeado administrador, e em 1963 cônsul, em Kupang).

(##) Agraciado, a título póstumo, em 1952, com o grau de oficial da Ordem Militar da Torre e Espada.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26068: Timor Leste: Passado e presente (26): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo V: a situação sanitária em 1945: "valeu-nos a fé em Deus e a confiança nos governos da Colónia e da Nação"

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26053: Timor Leste: Passado e presente (25): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo IV: a situação sanitária em 1944: "um presente desolador e um futuro sombrio"...


Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Série 6 > Ação Civilizadora e Colonizadora > Vila Salazar (Baucau)


Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Série 3 > Trajos, ornamentos, pertences e armas > Foto 16890 > Chefes tradicionais e suas esposas (e um labáric, criança em tétum):  Dom Aleixo, régulo de Ainaro, António Magno, chefes e suas mulheres. D. António Magno, de Ainaro, é o terceiro a contar da esquerda, na primeira fila dos homens.


Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Série 3 >  Trajos, ornamentos, pertences e armas > Foto 16890 > Talvez o liurai Carlos Borromeu Duarte, de Alas



Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Estimativa da população: 472,2 mil

Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo com a Wikimedia Commons. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)


1. José dos Santos Carvalho (de quem não conhecemos nem temos uma única foto) foi médico de saúde pública, no território português de Timor, ao tempo da ocupação estrangeira da ilha (primeiro, da parte dos australianos e holandeses, e, depois,  dos japoneses).  

Exerceu as funções de chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene, em Lahane,nas imediações de Díli,  desde meados de 1943. Deva ter uma dupla formação em medicina tropical e saúde pública (ou medicina preventiva, como se dizia nesse tempo).

Fora colocado, em  meados de 1940, em Timor como médico de 2ª classe, do "quadro comum colonial".  Devido à guerra, levou alguns meses a chegar ao território (seguindo pela rota do Cabo). Desembarcou em Díli nas vésperas do ano novo de 1943.

O livro que escreveu sobre Timor durante a ocupação japonesa,  baseia-se nas suas vivências,  recordações e registos  pessoais bem como nas memórias de outros portugueses, seus companheiros de infortúnio. 

Em anexo, o autor publica também os relatórios anuais do serviço de saúde relativos a 1943, 1944 e 1945  (pp. 142-194), que têm algum interesse documental para  a historiografia da presença portuguesa em Timor.  

Um produto da Bayer,
antes da "bala mágica". Fonte: cortesia de 
Museu da Farmácia de Brixen (ou Bressanone),
Itália

Igualmente são interessantes para a história  da medicina tropical e para se conhecer o limitado e obsoleto  arsenal terapêutico da época bem como as causas da morbimortalidade nas colónias  

Havia produtos, por exemplo, como o calomelano (ou cloreto mercuroso) que era  
usado como purgante e fungicida, hoje descartado devido à sua toxicidade; ou o neosalvarsan (que veio substituir nos anos 10/20 do século passado o altamente tóxico salvarsan),  usado no tratamento da sífilis, antes do aparecimento da penicilina (a "bala-mágica", já disponível na farmacopeia ocidental desde 1941, mas completamente desconhecida em Timor nessa época; de resto, o farmacêutico, o   capitão miliciano Mário Artur Borges de Oliveira, foi o primeiro a desaparecer, tendo-se refugiado na Austrália). 

Antes da guerra, a farmácia era reabastecida semestralmente, com produtos oriundos da Metrópole...

O dr. José  dos Santos Carvalho nunca deixou de elaborar esses relatórios,  apesar das dramáticas circunstâncias em que teve de exercer as suas funções de médico e  chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene. 

Não sabemos se chegaram, na altura, ao conhecimento de quem de direito, para além  do governador da colónia (que, na prática, esteve, durante os três  anos de ocupação, na situação de refém dos japoneses e sem possibilidades de comunicação com Lisboa).

O livro, de 208 pp.,  ilustrado com algumas fotografias, terá sido  escrito, em 1970, quando passavam  já 25 anos sobre o fim da ocupação japonesa do território de Timor e a libertação dos prisioneiros portugueses, timorenses e outros. Foi composto e impresso na Gráfica Lamego e publicado pela Livraria Portugal, 1972, editora que já não existe. 

O livro e o autor merecem, contudo,  não ser esquecidos. 

Imagem à direita: Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp. , il... Livro raro, só possível de encontrar em alfarrabistas, ou então no Internet Archive, em formato digital; está registado na Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, podendo ser encontrado na Biblioteca Nacional de Portugal e no Instituto Científico de Investigação Tropical.

Sobre a situação da saúde da população nessa época e naquele território, bem como sobre a organização e funcionamento dos serviços de saúde naquela longínqua colónia portuguesa do sudeste da Ásia, continuamos a 
reproduzir aqui alguns excertos e apontamentos. 

A sua leitura ajuda-nos a perceber até que ponto a saúde das populações e os serviços de saúde são tão  vulneráveis em situações-limite como a guerra com todo o seu cortejo de horrores e privações.


Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) 

Anexo IV:  Relatório dos Serviços de Saúde 
(Ano de 1944) (pp. 156-169)


(i) "Não houve epidemias nem se registaram casos 
de doenças eminentemente contagiosas."...  
A afirmação consta do relatório dos serviços de saúde de Timor, 
respeitante ao ano de 1944, e é subscrita pelo dr. José dos Santos Carvalho, chefe interino da Repartição Técnica de Saúde e Higiene... 

Como se a guerra, a ocupação japonesa, a guerrilha e a contraguerrilha, o terror das "colunas negras", o isolamento total dos portugueses e dos timorenses, a fome, as deslocações, etc.,  não tivessem sido em si uma verdadeira calamidade...


(ii) de tempos a tempos, o cônsul do Japão serve de intermediário 
com as tropas ocupantes e, inclusive, consegue dispensar algum material médico-hospitalar ao dr. José dos Santos Carvalho.

(iii) recorre-se também aos médicos militares japoneses 
em casos em que um doente necessita de  uma grande cirurgia;

(iv) estranhamente há poucas referências à saúde da população local 
(que no princípio dos anos 40 seria superior a 400 mil): 
espalhada pelas montanhas,  não parece afluir aos serviços de saúde 
em Lahane e Liquiçá,  sobretudo por razões de segurança 
(medo dos bombardeamentos dos Aliados,  
e das represálias dos nipónicos); 
por essa razão, e devido também 
ao confinamento do próprio médico,
há um evidente enviesamento nestes relatórios, 
onde se fala sobretudo da saúde 
da pequena comunidade portuguesa e dos assimilados 
(cerca de 160 pessoas);

(v) os profissionais de saúde (com apenas 2 médicos) 
estão reduzidos ao mínimo (18, de um quadro original de 52, 
dos quais restavam 34 em 1943).

(...) Estado sanitário da população 

(...) Não houve epidemias nem se registaram casos de doenças eminentemente contagiosas. O sezonismo [paludismo ou malária], endemia que reina em Timor, mostrou-se em inúmeros casos, a que, felizmente, pudemos atalhar por termos recebido quinino. Não nos foi possível, porém, distribuí-lo com fins profiláticos, como seria conveniente. 

Muitos portugueses não têm rede mosquiteira nas camas, as aberturas das casas não são protegidas com redes metálicas e é impossível fazer-se uma campanha antimosquito. Por isso a estatística mostra muitíssimos casos de sezonismo, felizmente benigno, com exceção de dois casos de sezonismo pernicioso cerebral, um em Lahane, numa menina de quatro anos, que felizmente se salvou, e outro em Liquiçá, numa rapariga de quinze anos, filha de pai europeu, que faleceu com um acesso pernicioso epileptiforme.

 A febre biliosa hemoglobinúrica atacou dois europeus: um de dezasseis anos, que faleceu, em Maubara; outro de oito anos de idade, que foi salvo, em Liquiçá. 

A caquexia palustre matou uma criança, em Liquiçá. 

Registou-se somente um caso de disenteria, em Liquiçá. 

A gripe foi rara. 

Registaram-se dois casos de tuberculose: pulmonar, um num europeu e outro num timorense. 

Uma senhora teve várias hemoptises.

 As úlceras e feridas, como de costume, foram muito frequentes. 

Apareceram doenças resultantes da carência ou defeito da alimentação. 

As doenças restantes foram: 
  • cáries dentárias
  • diarreias 
  • colites
  • enterites
  • helmintíases
  • dispepsias 
  • dermatoses (sobretudo a sarna, furunculose e a micose designada por "Hong-Kong foot") [ou pé de atleta]
  • abcessos
  • boubas
  • reumatismo
  • nefrite
  • blenorragia
  • ascite 
  • otite
  • conjuntivite 
  • infeção puerperal.
Registaram-se seis óbitos, em Liquiçá e Maubara (em Díli não os houve) de europeus ou seus descendentes, por:
  • diarreia infantil 
  • caquexia palustre 
  • sezonismo agudo 
  • acesso pernicioso epileptiforme 
  • febre biliosa hemoglobinúrica 
  • gripe (insuficiência cardíaca) 
  • tuberculose pulmonar  (...)
 
Entre os portugueses, não europeus, tratados nas enfermarias, houve vários óbitos: 

(a) Em Liquiçá e Mambara: 

  • diarreia crónica (2)
  • tuberculose pulmonar (2) 
  • anasarca (hipoalimentação) (1)
  • traumatismo (queda) (1) 
  • cirrose alcoólica (1)
  • debilidade congénita (recém-nascido) (1)
  • parto (1)
  • infeção puerperal (2) 
(b) Em Lahane :

  • caquexia palustre (1)
  • gangrena (1)
  • astenia (1)
  • sezonismo pernicioso (1)
  • beribéri (1)

TOTAL 16 
 
(...) O óbito por gangrena deu-se numa timorense que veio pedir tratamento ao nosso hospital, passados dias de ter sido ferida num pé por estilhaço. Era impossível salvá-la por a gangrena estar já generalizada. 

A média de doentes internados no Hospital Dr. Carvalho foi de quatro, por dia. 

Pelo acima dito conclui-se que o estado sanitário da população não foi mau, atendendo às lamentáveis circunstâncias em que vivemos que, sem exagero, podem ser classificadas de péssimas. 

Os meses de junho e julho foram os piores, devido ao elevado número de casos de sezonismo, pelo que foram classificados de maus pelo senhor Delegado de Saúde de Liquiçá [ dr. Francisco Rodrigues]; fevereiro e agosto foram bons e os meses restantes regulares. 

Em Lahane o estado sanitário, abstraindo do sezonismo, com que sempre contámos, pôde, sempre, considerar-se regular. Não nos atacaram a valer os gérmenes infecciosos. As nossas forças e resistências orgânicas é que estão muito desfalcadas, devido a vários factores que descreverei na parte deste relatório respeitante à Higiene Pública. 

Medicamentos e material de penso 

Foi-nos fornecido durante o ano, por intermédio do sr. Cônsul do Japão, o seguinte : 

  • bicarbonato de sódio 
  • dermatol 
  • calomelanos 
  • lactose 
  • neosalvarsan 
  • sufaminum 
  • salicilato de bismuto 
  • sulfato de magnésio 
  • óxido amarelo de mercúrio 
  • tablóides de quinino (...)
  • ataduras de gaze (diversos tamanhos) 
  • gaze (...) 
  • algodão hidrófilo (...)
  • material diverso 
  • seringas de vidro (...) 
  • irrigadores
  • frascos conta-gotas
  • tubo de borracha para irrigador (...)

Sempre que há transporte, tenho mandado [de Lahane] para Liquiçá o máximo possível dos medicamentos que nos restam. 

Não se podem enviar grandes quantidades de medicamentos em frascos pois é necessário que estes vão bem acondicionados em caixotes para que não partam com os solavancos da camioneta. Os medicamentos expedidos em maior quantidade, durante o ano, foram: 

  • vaselina (32 kg)
  • enxofre (5 kg) 
  • sulfato de sódio (20 kg)
  • mel (6 litros)
  • borato de sódio (15 litros)
  • glicerina (2 litros)
  • ácido bórico (5 litros)
  • permanganato  de potássio (1,400 kg)
  • sulfato de cobre (6 kg)
  • calomelanos (0,450 kg)

Faltam-nos muitos medicamentos. Aqueles cuja necessidade mais se tem feito sentir, são os:

  • tónicos e antianémicos (arsenicais, iodados, sais de cálcio, fitina, etc) ; 
  • produtos opoterápicos (extratos de fígado e baço, ovarina, etc) ; 
  • derivados de ópio (codeína, dionina, etc) ; 
  • anestésicos locais (cocaína, salicilato de metilo, etc.) ; 
  • antisséticos intestinais (benzonaftol, fermentos láticos, etc); 
  • purgantes oleosos; 
  • ácido salicílico (para tratamento das micoses) ; 
  • tópicos antidermatósicos (óxido de zinco, ictiol, etc); 
  • iodofórmio (para tratamento das úlceras tropicais); 
  • e pode dizer-se que todos os medicamentos de uso corrente, em injeção (quinina, arrenal, cacodilato de sódio, cânfora, vitaminas, mercuriais, hemostáticos, etc., etc.). 

O permanganato de potássio, precioso para múltiplos fins, acabou, praticamente, e grande falta fará por ser de uso corrente nas moléstias que aparecem todos os dias. 

Tem-me preocupado imenso o facto de não poder vacinar contra a varíola, pelo menos as crianças. Neste capítulo de vacinas, nada poderemos improvisar. 

Movimento cirúrgico 

Os dois médicos portugueses têm feito tudo que lhes permitem os limitadíssimos recursos em material para operações. 

Além das suturas de feridas traumáticas, extrações de dentes e abertura de abcessos e fleimões, foram por eles praticadas operações de pequena cirurgia. 

O Delegado de Saúde de Liquiçá tratou os portugueses feridos por bala de metralhadora (ou estilhaço?) em Liquiçá e Maubara e extraiu um quisto cebáceo a um europeu; a mim coube fazer a extracção duma placenta aderente (post-abortum) à mulher de um europeu e o tratamento de feridas de guerra por estilhaços de bombas de avião numa mulher e numa criança timorense, tendo empregado o método de Friederich, que tão bons resultados deu na guerra de Espanha os quais, agora, eu pude verificar também. 

A pedido do Consulado do Japão foi por mim tratado um timorense com a maior parte da mão esquerda esfacelada, tendo o Hospital Nipónico fornecido o material preciso e dois enfermeiros que me ajudaram. 

Houve dois casos em que os nossos recursos não bastavam, um por falta de material e medicamentos e outro por necessitar operação de grande eirrurgia. No primeiro caso tratava-se de uma menina europeia que apresentava um enorme lipoma na região escapular esquerda; impossível operá-la por faltar o material de penso e cirúrgico esterilisados e todo o material de anestesia, além de que seria necessário reunir os dois médicos em serviço, o que agora não convinha, por que a saída de qualquer deles da sua zona de acção durante vários dias, significaria ausência de assistência médica aos portugueses da zona respectiva. 

No segundo caso tratava-se de uma senhora grávida de quatro meses, com hemorragias profusas e frequentes, devidas a uma inserção baixa da placenta. Somente uma operação com laparotomia a poderia salvar. 

Pelos motivos apontados foi necessário pedir auxílio ao hospital nipónico, onde as duas portuguesas foram operadas sendo os resultados inteiramente satisfatórios. Em seguida às operações, as doentes voltaram para o hospital português, tendo vindo os médicos nipónicos que as operaram, muito dedicadamente, fazer os curativos subsequentes tendo-me eu encarregado da sua assistência médica. (...)

Higiene pública Alimentação 


Tem deixado muito a desejar. Se no ano de 1943 já se não passou bem, no ano presente a situação agravou-se de tal modo que só Deus sabe para onde vamos. O total efectivo de calorias diárias, provenientes dos alimentos fornecidos, e é somente com esses que praticamente podemos contar, está longe do mínimo suficiente. 

Passa-se grande necessidade. O pouquíssimo que se obtém, quase se reduz ao arroz, hortaliças e cocos, e qualquer destes produtos vegetais nem sempre existem. Têm-se comido como hortaliças: 

  • folhas da batateira doce
  • baião (Amarantus sp.)
  • cancoom (Ipomoea aquática, Forsk.)
  • beldroegas
  • folhas de papaeira 
  • e mesmo as folhas e até medula de árvores (que os timorenses só aproveitam quando nada mais têm para o seu sustento). 

Mesmo assim, é frequente não termos verduras nas refeições. Por muito felizes nos damos quando recebemos folhas de nabos e das mostardas timorenses. Conforme as épocas do ano, aparece um ou outro complemento alimentício como: jacas verdes, bananas verdes, etc, etc, que depois de cozidos podem ser consumidos. 

Tomates e agriões são mimos raríssimos, que poucas vezes aparecem no mercado ou que alguns portugueses conseguiram pela cultura de escassos palmos de terra, pois nem sequer há terrenos próprios para horta, à sua disposição. 

Qualquer espécie de fruta é iguaria que raramente podemos provar. Os alimentos ricos em vitaminas, albuminóides e sais minerais, são precisamente os de mais difícil aquisição. A carne é fornecida em quantidades muito reduzidas. Recebem-se, em Liquiçá, algumas garrafas de leite que são distribuídas pelas crianças de tenra idade e pelos doentes. A carne de galinha e os ovos são manjares que não alcançamos. As batatas da Europa, que tão bem se davam e já tão largamente se cultivavam em Timor, desapareceram. Os feijões só raramente se vêem em Liquiçá. Em Díli há muito que não os há. A batata doce também já é rara. 

Os alimentos intoxicantes, que se podem tornar comestíveis por meio de preparação, em regra trabalhosa, já entraram na alimentação (mandioca amarga, feijão bravio e outros). Não é pois de admirar que se registassem casos de intoxicação alimentar (Liquiçá, em novembro, e dezembro) e de dispepsias, gastralgias, enterites e diarreias, devidas à má qualidade dos alimentos ingeridos. 

Além disso, a hipoalimentação já se revela por sintomas de doenças por carência. Os edemas maleolares são frequentes, a maior parte da população está asténica, a fadiga é rápida, há repetidas indisposições intestinais, a cárie dentária, a queda dos dentes e as hemorragias gengivais são quase gerais. A desnutrição de todos é evidente. 

Se não fora o nele (nome que se dá em Timor ao arroz ainda não descascado) que temos recebido (que por não ser polido contém vitamina BJ) e as verduras, já teríamos tido que lamentar a perda de vidas por avitaminoses, sobretudo por beribéri. Para cúmulo a preparação da comida torna-se difícil por haver pouca lenha.

O quadro presente é pois inteiramente desolador. Não há ninguém que não se tenha preocupado com a falta de alimentos. Pela minha parte, sempre que as ocasiões o proporcionaram indiquei a todos os perigos que adviriam da deficiência das refeições, ao mesmo tempo que dava conselhos úteis.

 Sentindo-me na obrigação de empregar o máximo do meu esforço para aumentar os recursos alimentares, preparei e conclui um trabalho em que registei tudo quanto pude apurar sobre a existência em Timor de produtos vegetais comestíveis, aproveitando-me quer do que encontrei nos livros, quer das informações dos timorenses, cuja experiência de séculos fornece muitos conhecimentos aproveitáveis. 

Este trabalho não só como documentário bromatológico (que nunca foi feito na Colónia) mas também pela aplicação às circunstâncias atuais, tem, por certo, bastante utilidade embora ela seja limitada pela forte razão de que nós não podemos procurar os alimentos mas somente receber os que nos trazem. 

Aos senhores Administradores do Concelho prontamente dei todas as indicações que particularmente me solicitaram, tendo-lhes fornecido tabelas da composição e valor calórico dos géneros alimentícios, dados sobre a quantidade e qualidade dos alimentos necessários para os europeus nos países tropicais, etc, habilitando-os assim a conhecer as bases do problema da nutrição dos portugueses. (...)


Bebidas alcoólicas 

Se, por um lado, é bom não as termos por motivos óbvios, por outro fazem falta como fontes de energia, e mesmo como tónico contra a acção deprimente do clima, o que é recomendado pelos higienistas tropicais, sobretudo ingleses, desde que as quantidades ingeridas sejam moderadas. 

Os vinhos de palmeira, sobretudo, possuem vitaminas B e C em quantidade apreciável, sendo bebida agradável e refrescante e fracamente alcoólica. É pena pois que em terra tão rica em palmeiras, não a possamos obter. 

Tabaco 

É de todos conhecida a imperiosa necessidade que o viciado tem de fumar. Praticamente todos os portugueses fumam. Poder-se-á pois calcular o quanto os indispõe e irrita o não poderem satisfazer esse hábito. Recorrem às folhas secas de arbustos e árvores que embrulham em qualquer papel por não haver mortalhas nem ao menos papel de seda. Assim iludem um pouco o seu vício, mas a saúde é que terá forçosamente de se ressentir. 

Asseio 

A água é pouca, em Liquiçá, e não há sabão. É de notar o esforço de uma senhora, cuja idade já não é para trabalhos, a qual consegue preparar sabão utilizando óleo de coco e os álcalis obtidos da cinza. Porém o óleo de coco é pouco para a alimentação... 

Vestuário

 Já velho e gasto e em reduzidas quantidades, a não ser para um ou outro mais protegido da sorte, em breve faltará. É de calcular que em época muito próxima, a maioria dos portugueses não tenha senão andrajos para vestir. 

Também, não existe calçado à venda nem material para o fabricar. Há muito que se calçam camparas — sandálias de madeira que se seguram aos pés por uma tira de pano. 

Utensílios domésticos 

Tem sido precioso o trabalho dos artífices portugueses que fabricam,  com folha de zinco, panelas, tachos, chaleiras, pratos, candeeiros ,etc. 

Outros portugueses têm fabricado, com muita habilidade, objetos muito úteis: escovas de dentes e pincéis para a barba (com crina de cavalo) , pentes (de tartaruga) , etc. 

Habitações 

Com a vinda dos portugueses de Maubara para Liquiçá, acentuou-se a plétora de habitantes em cada casa. O encombrement [sic, em francês, sobrelotação]« é manifesto. 

Ambulâncias 

Devido à concentração dos portugueses em Liquiçá, a ambulância de Maubara foi extinta. Nela prestou bons serviços o enfermeiro Vítor Madeira. Foi criada, na Granja Eduardo Marques, uma ambulância para tratamento dos portugueses que aí trabalham. Todos os enfermeiros auxiliares em serviço na Delegação de Liquiçá habitam, agora, na Granja. 

Cursos de enfermagem 

A 27 e 28 de abril fizeram-se em Liquiçá e Lahane os exames de frequência dos alunos do curso do primeiro ano Em junho começaram as aulas do segundo ano. 

Todas as lições que eu dei, foram escritas, constituindo um volume de cerca de 220 páginas dactilografadas. Deste modo ficou concluído um guia de enfermagem aplicado às condições de Timor, assim como um formulário constituído pelas fórmulas mais práticas para o tratamento dos doentes pelos enfermeiros, contando-se somente com os medicamentos essenciais que deverão existir em todas as ambulâncias, que agora se podem indicar com rigor. 

Este assunto é uma das partes do estudo da futura organização dos Serviços de Saúde, em que continuo a trabalhar. 

Bombardeamentos 

Este ano mostrou-se particularmente violento para nós. Liquiçá e Maubara foram metralhadas. Em Lahane caiu grande quantidade de bombas junto ao hospital e ao palácio do governo. As chapas de zinco que cobrem o hospital foram furadas pelos estilhaços e deslocadas pelo movimento do ar; os vidros que restavam partiram-se. 

É de notar a boa vontade com que o mestre Pinto (sargento artífice), por si próprio, se encarregou de reparar os estragos; o seu auxílio profissional tem sido dos mais úteis para o hospital. 

O ruído das explosões das bombas foi aterrador. Os enormes buracos que elas fizeram no terreno impressionaram imenso, até os menos timoratos. Os aviões vieram em certos meses quase todos os dias. Compreender-se-ia, pois, que o moral dos habitantes do Hospital e do Palácio estivesse profundamente deprimido. Felizmente tal não se verificou, sendo de notar que as senhoras demonstraram coragem surpreendente. 

Apesar de, após um bombardeamento se contar sempre com outro (pelo menos no dia seguinte), ninguém pediu para sair de Lahane. Todos se mantiveram no seu posto. 

Funcionários 

Têm estado sempre ao serviço, na sua totalidade, e por eles não foi requerida qualquer licença. Pode afirmar-se que, considerando o estado de intensa depressão moral em que vivemos, têm cumprido bem o seu dever. Os serviços de secretaria continuam a ser feitos com toda a boa vontade e proficiência pelo aspirante Domingos Afonso Ribeiro. 

Também ajudaram muito desinteressadamente, todos os serviços, o chefe de posto Francisco Torrezão e o chefe de posto João Gamboa (enquanto habitou em Díli) . 

Conclusões 

O estado sanitário da população só por milagre foi regular. A higiene pública deixa cada vez mais que desejar. O futuro é carregadamente sombrio. 

Contemos no próximo ano com elevada percentagem de óbitos, pois que, não possuindo os géneros alimentares convenientes nem os meios de fortalecer os organismos depauperados, também não teremos os medicamentos essenciais e as dietas próprias para tratamento dos numerosos doentes que forçosamente aparecerão. 

Repartição Técnica dos Serviços de Saúde e Higiene, em Lahane, aos 9 de fevereiro de 1945. O Chefe da Repartição interino, José dos Santos Carvalho
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 (...) Pessoal em serviço e sua situação em 31 de Dezembro de 1944 

Médicos:
  • José dos Santos Carvalho,  Chefe da Repartição, interino, Director do Hospital, Delegado de Saúde de Díli;
  • Francisco Rodrigues,  Delegado de Saúde de Liquiçá.

Enfermeiros:

  • Victor José Gregório Madeira,  Sede da Delegação de Liquiçá; 
  • Luiz Correia de Lemos, idem;
  • Daniel Madeira, idem; 
  • Emílio Francisco de Oliveira, idem; 
  • António de Oliveira,  Hospital Dr. Carvalho;

Praticantes estagiários:

  • Orlando Correia de Lemos,  Sede da Delegação de Saúde de Liquiçá,
  •  Óscar Correia de Lemos, idem.

Enfermeiros auxiliares: 

  • Paulo de Jesus Granja Eduardo Marques Sebastião da Costa
  • João da Costa Pereira 
  • João Guterres
  • Francisco da Silva Vila Taveiro (Oekussi) 
  • Mateus Pereira
  • Pedro da Cruz,  Hospital Dr. Carvalho António Lopes 
  • Mateus Ribeiro,  Granja Eduardo Marques João Soriano
  • Aleixo da Costa, idem 
  • Manuel da Costa, Hospital Dr. Carvalho 

Repartição Técnica de Saúde e Higiene, em Lahane, aos 31 de Dezembro de 1944. O Chefe da Repartição, int.°, José dos Santos Carvalho. 

(Seleção, revisão / fixação de texto, notas, bold a vermelho, título: LG)

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Nota do editor: