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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25155: O(s) segredo(s) que o Amadu Djaló (Bissau, 1940 - Lisboa, 2015) não quis ou não pôde contar no seu livro (1): A revolta da CCAÇ 21, em 16 de agosto de 1974, em Bambadinca, e as suas exigências "milionárias": 300 contos por cabeça (50 mil euros, a preços de hoje), antes de entregar a arma e passar à "história" (isto é, à "peluda")

Guiné > s/l [Bambadinca?] > s/d [c. 1971/73] > A Força Africana... O major inf Carlos Fabião, na altura (1971/73),  comandante do Comando Geral de Milícias, e o gen António Spínola, passando revista a uma formatura de novos milícias.

In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola,  Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autor da foto: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia)

1. Há segredos que não se partilham, por uma razão ou outra. Este, que envolve o Amadu Djaló, pode ter sido por uma de quatro razões (especulativas, acrescente-se): 

(i) o Amadu Djaló não estava lá nesse dia, em Bambadinca  (ele vivia em Bafatá, com as suas duas mulheres e restante família, incluindoa a amada mãe): 

(ii) o Amadu Djaló terá achado indigno o comportamento dos seus camaradas e subordinados, e escamoteou, esqueceu ou  branqueou este episódio, grave, que foi a insubordinação da CCAÇ 21 (no seu todo ou em parte)

(iii) o Amadu Djaló já se desligara, disciplinar e afetivamente, dos seus antigos camaradas e subordinados da CCAÇ 21, que era comandado pelo ten graduado 'cmd' Abdulai Jamanca (a companhia seria dissolvida e extinta dois dias deppois, em 18 de agosto de 1974);

(iv) "last but not the least" (isto é: não menos importante...), a ser verdade que cada militar da CCAÇ  21 só aceitava entregar a arma e passar à disponibilidade por 300 contos "per capita", estávamos perante uma exigência "milionária":  na época,  300 contos (da Guiné, 1 escudo a valer 0,90 de 1 escudo da metrópole) seriam qualquer coisa como cerca de 50 mil euros (a precos  atuais); multiplicando por 150 homens (=1 companhia,  só de guineenes) daria qualquer coisa como 7,5 milhões de euros (que não poderiam caber na mala de nenhum governador-geral, ainda para mais na véspera do reconhecimento do independência e da saída do território por parte de Portrugal; o Amadu Djaló não podia deixar de estar a par destas reivindicações, para mais sendo um alferes graduado da companhia; mas será que ele tinha a noção exata ou aproximada dos valores que estavam em jogo ? 

2. Vamos reconstituir o que se passou nesse "dia de todas as emoções" (como escreveu, no seu diário, o senhor cor cav CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz, 1922-2001).

Repete-se aqui a mensagem do nosso leitor (e camarada) Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518/73 (1973/74):


Data: 11 de Maio de 2012 22:30

Assunto: Bambadinca 1974

Boa noite, Luís

Fui furriel miliciano com a especialidade de mecânico de armamento e fui incorporado no Batalhão [de Caçadores] 4518/73 para a Guiné...  

Após o 25 de abril de 1974, fui destacado para Bambadinca para receber material militar, viaturas, armas, etc.


Em agosto de 1974 (não consigo memorizar o dia), os militares presentes no destacamento de Bambadinca (eu incluído), foram surpreendidos com a presença de dezenas de militares do denominados Comandos Africanos (tropas nossas aliadas).

Todos nós (talvez duas dezenas),  ficámos perplexos... Primeiro pensámos que vinham entregar as armas (o que nos facilitava o regresso a Portugal), mas não!... Fomos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... 

Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!

Se através do teu blogue for possível reencontrar esses camaradas de armas, ficarei muito agradecido.

Até sempre, um abraço | 
Fernando Gaspar


2. Comentário de L.G.:

Na altura manifestámos a nossa gratidão e apreço ao Fernand0 Gaspar pela  coragem de vir, a público, num blogue de antigos combatentes, revelar esse segredo, que possivelmente guardava, enterrado  há muito na sua memória... 

De qualquer modo, o  que ele  contava - ao fim de quase 4 anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve,  uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luís Mourato Oliveira [foto à direita].

Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, a beber o seu copo, quando ocorreram os graves incidentes aqui  referidos, sem grandes detalhes..  Foi igualmente sequestrado como o Fernando Gaspar  e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau,  resolveu o problema (havia um vazio legal, com a CCAç 21 e a CCAÇ 20, que estaria ainda por resolver,  mais de um ano deppois da sua criação).

Isto ter-se-á passado não com os "Comandos Africanos" (que pertenciam ao Batalhão de Comandos da Guiné, com sede em Brá, Bissau)  mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente 'cmd' graduado Abdulai Queta Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do nosso tempo (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...  

Disse-nos o Mourato Oliveira que, depois da negociação com o Carlos Fabião, houve grande ronco...

Semelhantes incidentes (graves) deram-se em Paúnca, pela mesma altura, com a malta da CCAÇ 11 (antiga CART 11), já relatados pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho. (*)

De qualquer modo, esperávamos que tanto o Fernando Gaspar como o Luís Mourato Oliveira nos pudessem, na altura,  fornecer mais pormenores destes tristes acontecimentos que poderiam ter originado um tragédia imensa,  se as ameaças de fuzilamento dos reféns fossem levadas a série pelos militares revoltosos da CCAÇ 21, em caso de falharem as "negociações"!. 

3. O alferes 'cmd' graduado Amadu Bailo Djaló [foto à direita] também pertenceu a essa companhia, que era inteiramente constituída por pessoal do recrutamento local (incluindo os graduados e os especialistas). No entanto, nas suas memórias (Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português: 1º volume: comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, 299 pp., il), não são narrados, referidos ou sequer evocados os "incidentes" de Bambadinca (vd. pp. 276 e ss.). 

Talvez o nosso camarada Virgínio Briote [foto à esquerda,] que o ajudou a escrever o livro (como "copy desk") e privou muito com ele, nos seus últimos anos de vida, possa ainda esclarecer o que se passou exatamente nesses dia 16 de agosto de 1974 em que a CCAÇ 21 (ou parte do seu pessoal, possivelmente até à revelia do seu comandante, Abdulai Jamanca) tomou como reféns cerca de duas dezenas de militares metropolitanos que ainda restavam em Bambadinca, a aguardar o fim da comissão.

4. Estes factos já eram conhecidos do nosso blogue, ainda antes do final de 2011. Terminamos este poste,  já longo, com um dos  excertos dos registos pessoais, manuscritos, do cor cav CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné (foto a seguir, à direita).

A recolha e a transcrição são  da responsabilidade do seu filho Luís Gonçalves Vaz que estava, nessa época (1973/74), com a sua família, em Bissau (é hoje  professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga; é membro da nossa Tabanca Grande). 

Recorde-se que a CCAÇ 21, de vida efémera (e que não tem história da unidade) foi dissolvida e extinta dois dias depois, em 18 de agosto de 1974.

(...) 16 de Agosto de 1974

... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia  de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade!

Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG) (...)

Este valor (300 contos, 300 mil escudos ultramarinos) era uma exorbitância! Tem de ser confirmado. (Nesta altura, em meados de 1974, já depois do 25 de Abril, um Fiat 127, que era o carro mais vendido em Portugal, custava 95 contos, o litro da gasolina andava nos 7$50, e o salário mínimo nacional acabava de ser fixado em 3300$00 mensais)...

Nunca o pobre do Amadu Djaló ganhou 300 contos  em toda a guerra. Nem sequer um oficial general ganhava isso numa comissão de dois anos!...Pode ter havido um erro de audição e/ou transcrição, se calhar há um zero a mais: vamos ter de pedir ao Luís Gonçalves Vaz que  releia com atenção o "manuscrito" do seu querido pai. 

No nosso tempo, um soldado da CCAÇ 12, do recrutamento local, uma praça de 2ª classe (!) ganhava 600 escudos por mês, mais o "per diem" de 24$50 por ser desarranchado: comia na tabanca e no mato, em operações, não tinha direito a ração de combate (levava um lenço atado com um mão  cheia de arroz cozido) ... Em suma, recebia em média 1300 escudos ("pesos") mensais (em 1969/71).

Os militares da CCAÇ 21 devem ter recebido em 16/8/1974, aliás como o disse o Amadu Djaló (não no livro mas noutra fonte), o dinheiro a que tinham direito até fim do ano de 1974.  O Amadu Djaló foi oficial do Exército Português até essa data. Depois teve que optar por uma das nacionalidados... Recuperaria mais tarde a nacionalidade portuguesa,  mais tarde,; quando vem para Portugal em 1986, juntamente com outros antigos comandos...

Infelizmente estas "pequenas grandes histórias " não vêm nos livros da CECA nem  na historiografia militar oficiosa,  oficial ou académica.   São "anedotas"...
__________



(**) Vd. poste 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão


Foto nº 3 / 10 >  Sete elementos do bigrupo, com o comandante à esquerda (em 2º lugar)... O jovem porta-estandarte oparece usar pistola à cintura... Tr~es elementos, incluindo o comandante, devem ter trocado os seus chapéus por boinas castanhas das NT...


Foto nº 10 A /10 >  Outros elementos do bigrupo com garrafas de cerveja... ou aguardente de cana (ou vinho de palma)...


Foto nº 4 A /10 > O Fur mil Sérgio cumprimenta o cmtd do bigrupo... Dá para perceber, pelos detalhes do fardamento, que terá havido entretanto "troca de galhardetes" (é uma confusão de boinas, quicos e gorros...).  Os guerrilheiros trazem, como calçado, botas de lona, uns, ou sandálias de plástico, outros. Estão equipados com a Kalash.


Foto nº 2 A/10 > O "alteirão" é o fur mil Sérgio, metropolitano, do Pel Caç Nat 52... e dá um "jeitinho" para que a bandeira dos "visitantes" também caiba na fotografia...


Foto nº 5 / 10 >  Alguns elementos do bigrupo com as praças, metropolitanas, do Pel Caç Nat 52, com alguns populares à volta, naturalmente "curiosos" e "expectantes"...


Foto nº 5 A / 10 > 


Foto nº 6A /10 > Nem faltou o apontador do RPG-7...


Foto nº 6 B / 10


Foto nº 7A /10 > Que "promessas" ou "ameaças" terá feito o comandante do bigrupo (ou de zona) ?


Forto nº 7 /10 > Comício, numa tabanca nos arredores de Missirá. talvez Sancorlá ou Salá, a noroeste, já no limiet do regulado do Cuor.

Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 > c. julho de 1974 > São "10 fotos para a história"... As NT "deixam-se fotografar" com uma delegação do PAIGC, que vem (sempre) armada, em "visita de cortesia" ao destacamento e tabanca de Missirá, na sequência do processo de cessar-fogo e negociação da paz...

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação das fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Lisboeta, bancário reformado, tem raízes na Lourinhã (Marteleira e Miragaia), pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Fotografou quase tudo... e neste caso algumas das últimas cenas da presença portuguesa no TO da Guiné.

São 10 fotos ("slides" digitalizados) da visita, a Missirá, de um grupo do PAIGC, ou menos que um bigrupo. Missirá era o destacamento mais a norte, no regulado do Cuor, do setor L1 (Bambadinca). Provavelmente estes homens do PAIGC pertenciam à base de Sara-Sarauol, no Morés, a noroeste de Madina / Belel (aonde fui, com o Beja Santos, na sequência da Op Tigre Vadio, iniciada em 30 março de e terminada em 1 de abril 1970).


2. E porque uma imagem às vezes precisa de "mil palavras", aqui vai, a nosso pedido, "o texto e o contexto" destas 10, em mensagem que nos mandou o autor, com a data de 10 do corrente: 

Luís:

Aqui vai,  tal como me pediste,  uma pequena descrição dos acontecimentos que deram origem aos encontros com o PAIGC que estão documentados nas fotografias que contigo partilhei e assim estão à disposição dos camaradas do blogue.


Foto nº 9/10 (*):
Foto nº 9/10

No grupo está à minha esquerda está comandante do bigrupo, a seguir está o furriel maçarico do Pel Caç Nat  52,  natural da Guiné. É o João [, devida ser de etnia papel,  de Bissau, tinha o 5º ano do liceu]. À esquerda do João,  o "pequenino" do PAIGC é o comissário politico e a seguir o homem grande de branco é Malan Soncó. Dos cabos europeus não me recordo o nome. Está também um milícia de Missirá [, na ponta direita, na primeira fila de pé]. Segue um texto em anexo.

Um abraço, Luís

3. Os últimos dias do Pel Caç Nat 52: contactos com o PAIGC

por Luís Mourato Oliveira


Foto nº 8 B  /10 (*)
Os meus primeiros encontros com o PAIGC,  enquanto comandante do Pel.Caç Nat 52, não decorreram,  como calculas,  na forma de uma cordial e amigável confraternização social.

Imediatamente após a minha chegada 
ao destacamento do  Mato de Cão,  recebemos a "visita" do então IN que nos quis saudar com uma flagelação com canhão sem recuo. O ataque,  como os outros que se seguiram,  era desencadeado da orla de mata que abraçava uma bolanha a oeste do planalto onde estava instalada a guarnição de Mato de Cão.


A sudoeste do planalto, junto à estrada para Bafatá e junto ao Geba,  havia apenas uma tabanca que albergava apenas uma família de civis. No cume do planalto não existiam infra-estruturas a que pidéssemos chamar aquartelamento,  pois limitavam-se a quatro abrigos subterrâneos suportados por “cibes” [troncos de palmeira]  e cobertos por bidões com areia.

Havia ainda uma construção precária em chapa ondulada que servia de depósito de géneros, cozinha e refeitório dos europeus e uma pequena tabanca [morança] de adobe que designávamos de “enfermaria” e era utilizada pelo maqueiro africano de que não tenho o nome na memória (já passou muito tempo). As outras construções eram tabancas [moranças] de palha e colmo onde viviam os soldados africanos e respectivas famílias e uma mais pequena de que existem fotografias no blogue e onde eu habitei durante o período que lá estive.

A esta incursão do IN seguiram-se outras de morteiro e até uma tentativa de assalto em golpe de mão em pleno dia, evitado pelas mulheres dos soldados que,  quando lavavam a roupa junto ao Geba, detectaram a progressão do IN na bolanha,  o que nos permitiu escorraçá-los, dado estarmos numa posição superior e estrategicamente mais favorável.

Na sequência destes acontecimentos tivemos informação com origem em civis, familiares de soldados do pelotão, que o IN preparava um novo assalto ao destacamento. A informação pareceu-me fiável porque os soldados confiaram absolutamente nas narrativas dos civis e inclusivamente fizeram uma cerimónia ritual na qual, para além de juntarem palhas de colmo de cada tabanca e pólvora de uma munição de cada militar, eu incluído, com que fizeram uma fogueira, procederam à leitura do Corão.

Isto aconteceu dia 23 de dezembro de 1973 e,  no dia seguinte, apesar de ser véspera de Natal,  pensando que seria nessa data que o IN poderia aproveitar para atacar, saímos em patrulhamento para confirmar as informações recebidas.

Detectámos a coluna IN que se dirigia na nossa direcção,  talvez a três quilómetros a Norte do destacamento, e montámos uma emboscada imediata.

Dada a proximidade da coluna IN,  a última secção de caçadores do Pelotão, ao contrário da primeira,  posicionou-se com algum afastamento do trilho. A primeira  secção, da qual eu fazia parte, ficou a cerca de talvez dez ou quinze metros da zona de morte e tivemos ocasião de verificar que o IN não tinha intenções de atacar Mato de Cão. Era um grupo onde inclusivamente vinha um adolescente e que tinha ido caçar, pois eram portadores de vários macacos-cães que transportavam.

A última secção desencadeou a emboscada e o destacamento que acompanhava a nossa deslocação no terreno fez fogo de protecção de morteiro 81 para Norte da nossa posição, em pontos previamente assinalados no plano de tiro.

O contacto durou poucos minutos e,  em virtude da nossa flagelação de morteiro estar a bater na zona de assalto, o destacamento estar completamente desguarnecido e verificar que a intenção do IN não era agressiva, não efectuámos a perseguição ao IN e  regressámos a Mato de Cão.

Na sequência destes acontecimentos e do ataque efectuado pelo IN na zona de Enxalé a um barco de munições com destino a Bambadinca,  e que explodiu nesse ataque, o Pel Caç Nat 52 tentou a intercepção da força atacante,  progredindo na mata do Enxalé mas sem resultado. Passámos então  a ter uma acção de vigilância muita activa na navegação do Geba e detectámos e aprisionámos uma canoa IN que transportava arroz e tabaco adquiridos em Bambadica e que tinham como destino (penso eu,  que a memória vai falhando) [a base de ] Sára.

A tripulação da canoa foi interrogada, deu informações claras que as provisões se destinavam ao PAIGC, que tinham uma base militar com anti-aérea e onde estava aquartelado um bigrupo. Fizemos apreensão de todas as mercadorias transportadas, pagámos o arroz apreendido após pesado a sete pesos o quilo e libertámos os tripulantes,  explicando-lhes que se tratava de um gesto de boa vontade,  que se alteraria caso as acções do PAIGC continuassem agressivas para com Mato de Cão.

Deveria ter resultado esta acção [psicossocial...], pois nunca mais sofremos qualquer ataque e também nunca mais bloqueámos o esquema logístico do PAIGC. (**)

Após o 25 de Abril, todos nos apercebemos que os dias da guerra estavam a chegar ao fim, que a nova ordem politica iria finalmente reconhecer o direito dos colonizados à independência e que a tropa iria regressar a casa para bem de todos e felicidade das famílias.

O PAIGC também não teve dúvidas do que seria o futuro próximo e,  nesta altura, o Pel Caç Nat 52 que tinha sido deslocado para Missirá,  através de elementos da população, recebeu o pedido para visitar a tabanca.

Ponderando as consequências futuras para os nossos soldados que tinham sido leais, que acreditavam ser Portugueses, que,  sendo militares profissionais alguns há oito anos em combate,  não tinham outra perspectiva de ganhar a vida, que apelidavam o IN de “bandido” e que não compreendiam como um acontecimento longínquo no dia 25 de Abril também poderia afectar as suas vidas,  decidi que deveria a qualquer custo aproximar os soldados do meu pelotão dos soldados do PAIGC, para que os antigos inimigos se conhecessem pessoalmente, que se fosse possível confraternizassem para que o futuro fosse o menos doloroso,  sobretudo para aqueles que eu tinha comandado e com quem tinha criado laços de estima e amizade.

O PAIGC avisou o dia da visita e deslocaram-se a Missirá um comissário político e alguns soldados. Entraram, com confiança,  fardados e com equipamento militar, conversaram e confraternizamos como combatentes numa guerra que tinha acabado. Bebemos cerveja, aguardente de cana e, a quem a religião proibia,   cocas e  cerveja sem álcool.

Nessas conversas, um soldado do PAIGC em conversa comigo, disse-me “ alfero já te conhecia, um dia vi-te na mata.” Respondi que “não acredito, se me tivesses visto ias usar a Kalash”, então ele justificou “ alfero, nós tínhamos atacado o barco das munições, a tropa correu de Mato de Cão para nos apanhar, mas já tínhamos gasto todas as munições e ficámos escondidos até se irem embora”....

Trocámos histórias como esta, fizemos “selfies” [, "avant la lettre"...] com armas trocadas (!) e até disputámos um jogo de futebol de cinco entre as NT e o ex-IN onde eu fui guarda-redes,  não permitindo mais uma vez que naquele jogo o IN levasse a melhor...

Estas visitas levaram a várias reacções, alguns aceitaram sem qualquer relutância estes encontros,  mas não esqueço a tristeza que levou ao choro compulsivo o soldado e grande companheiro Jalique Baldé, cuja família tinha sido vítima do PAIGC numa acção de recrutamento na sua tabanca a que ele escapou por estar a caçar. Recordo que foi o Jalique, enorme soldado e caçador, que detectou o IN quando este se dirigia na nossa direcção dia 24 de dezembro de 1973 e, se não fora ele, teríamos sido nós a cair na emboscada.

Na sequência destes encontros que se tornaram normais, fomos convidados para assistir a um comício organizado pelo PAIGC,  dirigido à população de Missirá e aos soldados e milícias da guarnição,   e aceitámos estar presentes.

Presidiram ao comício o comissário político bem como o chefe militar da zona e esteve presente grande parte da população civil da zona.

Na minha experiência politica levei o pelotão bem fardado e armado e foi-me pedido pelo comissário politico que os soldados poderiam assistir ao comício mas não deveriam estar armados,  o que me deixou apreensivo, mas, dada a forma como me foi transmitido o pedido e ao relacionamento anterior, aceitei que as nossas armas ficassem numa tabanca [, morança,] à guarda e irmos desarmados. Felizmente tudo decorreu com normalidade e, findo o comício e as fotografias que considero históricas,  recolhemos as armas e regressámos a Missirá.

A última missão que recebi na Guiné foi, a pedido do PAIGC ao comandante do batalhão de Bambadica [, BCAÇ 4616/73] (***), que me deu ordem de participar numa cerimónia simbólica do içar da bandeira do PAIGC numa localidade a norte de Missirá, provavelmente  Salá ou Sancorlá [, a noroeste de Missirá, vd. mapa a seguir]


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca  (1955) > Escala de 1/50 mil >  Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)

O meu pelotão [, o Pel Caç Nat 52,]  tinha sido desmobilizado após os acontecimentos de agosto de 1974 em que algumas tropas africanas se rebelaram tendo a CCAÇ 21 [... e não 22],  tomado o quartel de Bambadinca e sequestrado, eu incluído, o pessoal europeu com ameaça de fuzilamento,  caso não recebessem contrapartidas pela desmobilização (episódio já relatado no blogue)  [Vd. poste com depoimentos de Fernando Gaspar e Luís Mourato Oliveira] (****).

Por essa razão,  e obedecendo às ordem do comando, dirigi-me ao local da cerimónia, apenas acompanhado pelo soldado condutor que me foi dispensado,  sendo recebido com algum descontentamento pelos quadros do PAIGC que queriam dar alguma ênfase à cerimónia do içar da sua bandeira naquela localidade.

Foram estes os últimos dias do Pel Caç Nat 52. Estas memórias trazem-me sempre tristeza e remorso pela forma em que deixámos na Guiné os nossos irmãos de armas africanos que ficaram sem qualquer apoio ou negociação,  à mercê dos antigos inimigos.

Quero ter fé que o processo de integração que me foi possível iniciar,  minimizou ou talvez até tenha evitado as consequências que todos nós conhecemos e que tiraram a vida a muitos que,  ombro a ombro,  connosco suaram e sangraram num conflito que atempadamente se poderia ter evitado se os nossos dirigentes da época tivessem a noção que o curso da história não se pode travar apenas com armas.

Luís Mourato Oliveira
________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I

(**) Vd. postes anteriores com fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, respeitantaes ao setor L1, tiradas em lugares como Bambadinca, Mato Cão, Fá Mandinga e Missirá:

9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

11 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...

22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17073: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (12): Bambadinca (a "cova do lagarto", em mandinga) e algumas das suas gentes

21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"

23 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão

14 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16954: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (9): cenas do quotidiano do destacamento de Mato Cão

9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga

23 de dezenmbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca

12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II

7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I

4 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16797: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (4): A nosso Natal de 1973, onde não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas dos nossos vizinhos de Madina / Belel

(***) Vd.  poste de  18 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14894: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXV: fevereiro de 1973: três meses depois do fim da comissão, faz-se a sobreposição com os "piras" do BCAÇ 4616/73, o "batalhão liquidatário" (mar / ago 1974)

O BCAÇ 4616/73, mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 30/12/1973 e  regressou a  16/9/1974. Esteve sediado,  a CCS e o Comando, em Bambadinca. Foi comandado pelo  ten cor inf  Luís Ataíde da Silva Banazol e depois pelo ten cor  inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira. Tem como unidades de quadrícula a 1ª C/BCAÇ 4616/73 (Mansambo e Xime), 2ª C/BCAÇ 4616/73 (Xime, Bambadinca) e 3ª C/BCAÇ 4616/73 (Farim, Jumbembém e Farim).

(****) Vd., poste de 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9892: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (10): Em Bambadinca, em agosto de 1974, eu (e outros camaradas) fui sequestrado, feito refém e ameaçado de fuzilamento por militares guineenses das NT... Cerca de 40 horas depois, o brig Carlos Fabião veio de helicóptero com duas malas cheias de dinheiro, e acabou com o nosso pesadelo (Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518, 1973/74)

domingo, 13 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9892: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (13): Em Bambadinca, em agosto de 1974, eu (e outros camaradas) fui sequestrado, feito refém e ameaçado de fuzilamento por militares guineenses das NT... Cerca de 40 horas depois, o brig Carlos Fabião veio de helicóptero com duas malas cheias de dinheiro, e acabou com o nosso pesadelo (Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518, 1973/74)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518 (1973/74) (*)






Data: 11 de Maio de 2012 22:30

Assunto: Bambadinca 1974


Boa noite, Luís


Fui furriel miliciano com a especialidade de mecânico de armamento e fui incorporado no Batalhão [de Caçadores] 4518 para a Guiné... [, imagem à esquerda: emblema do batalhão, disponibilizada pelo ex-Alf Mil Joaquim Tinoco, organizador do 
 XI Almoço Convívio da 1.ª Companhia do BCAÇ 4518/73, realizado em 28 de abril de 2012, em Montemor-o-Velho].

Após o 25 de abril de 1974, fui destacado para Bambadinca para receber material militar, viaturas, armas, etc.


Em agosto de 1974 (não consigo memorizar o dia), os militares presentes no destacamento de Bambadinca (eu incluído), foram surpreendidos com a presença de dezenas de militares do denominados Comandos Africanos(tropas nossas aliadas).

Todos nós (talvez duas dezenas),  ficámos perplexos... primeiro pensámos que vinham entregar as armas (o que nos facilitava o regresso a Portugal), mas não! Fomos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... 

Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!

Se através do teu blogue for possível reencontrar esses camaradas de armas, ficarei muito agradecido.

Até sempre

um abraço
Fernando Gaspar

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Fernando, muito obrigado pela coragem de vires, a público, revelar esse segredo, que possivelmente guardavas há muito na tua memória... De qualquer modo, o  que nos contas - ao fim destes anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve,  uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luis Mourato Oliveira, filho de mãe lourinhanse [, foto à direita].

Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, quando ocorreram os graves incidentes a que te referes...  Foi igualmente sequestrado como tu,  e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau,  resolveu o problema com patacão... 

Isto ter-se-á passado não com o Batalhão de Comandos Africanos, como tu sugeres,  mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente comando graduado Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do meu tempo (1969/71)...  Disse-me o Mourato Oliveira que, depois da negociação com o Carlos Fabião, houve grande ronco, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 21 gastaram rapidamente a massa, trocando o último dinheiro português  por rádios, roupas, motorizadas  e outros bens de consumo...

Semelhantes incidentes (graves) deram-se em Paúnca, pela mesma altura, com a malta da CCAÇ 11, já relatado pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho. (**)

De qualquer modo, esperamos que tanto o Fernando Gaspar como o Luís Mourato Oliveira nos possam fornecer mais pormenores destes tristes acontecimentos que poderiam ter originado um tragédia imensa,  se as ameaças de fuzilamento dos reféns fossem levadas a cabo pelos militares revoltosos da CCAÇ 21. 

O alferes comando graduado Amadu Bailo Djaló [, foto à direita,] também pertenceu a essa companhia, que era inteiramente constituída por pessoal do recrutamento local (incluindo os quadros e os especialistas). No entanto, nas suas memórias (Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português: 1º volume: comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, 299 pp.), não são evocados explicitamente os incidentes de Bambadinca (vd. pp. 276 e ss.). 

Talvez o nosso camarada Virgínio Briote [, foto à esquerda,] que o ajudou a escrever o livro, possa esclarecer o que se passou exatamente nesses dias de agosto de 1974 em que a CCAÇ 21 (ou parte do seu pessoal, possivelmente até à revelia do seu comandante, Abdulai Jamanca, que virá a ser fuzilado pelos nossos senhores da Guiné-Bissau, por altuiras do nosso 11 de março de 1975, segundo informação do Amadu Djaló, p. 281) tomou como reféns cerca de duas dezenas de militares metropolitanos que ainda restavam em Bambadinca.