domingo, 13 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9892: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (13): Em Bambadinca, em agosto de 1974, eu (e outros camaradas) fui sequestrado, feito refém e ameaçado de fuzilamento por militares guineenses das NT... Cerca de 40 horas depois, o brig Carlos Fabião veio de helicóptero com duas malas cheias de dinheiro, e acabou com o nosso pesadelo (Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518, 1973/74)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518 (1973/74) (*)






Data: 11 de Maio de 2012 22:30

Assunto: Bambadinca 1974


Boa noite, Luís


Fui furriel miliciano com a especialidade de mecânico de armamento e fui incorporado no Batalhão [de Caçadores] 4518 para a Guiné... [, imagem à esquerda: emblema do batalhão, disponibilizada pelo ex-Alf Mil Joaquim Tinoco, organizador do 
 XI Almoço Convívio da 1.ª Companhia do BCAÇ 4518/73, realizado em 28 de abril de 2012, em Montemor-o-Velho].

Após o 25 de abril de 1974, fui destacado para Bambadinca para receber material militar, viaturas, armas, etc.


Em agosto de 1974 (não consigo memorizar o dia), os militares presentes no destacamento de Bambadinca (eu incluído), foram surpreendidos com a presença de dezenas de militares do denominados Comandos Africanos(tropas nossas aliadas).

Todos nós (talvez duas dezenas),  ficámos perplexos... primeiro pensámos que vinham entregar as armas (o que nos facilitava o regresso a Portugal), mas não! Fomos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... 

Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!

Se através do teu blogue for possível reencontrar esses camaradas de armas, ficarei muito agradecido.

Até sempre

um abraço
Fernando Gaspar

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Fernando, muito obrigado pela coragem de vires, a público, revelar esse segredo, que possivelmente guardavas há muito na tua memória... De qualquer modo, o  que nos contas - ao fim destes anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve,  uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luis Mourato Oliveira, filho de mãe lourinhanse [, foto à direita].

Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, quando ocorreram os graves incidentes a que te referes...  Foi igualmente sequestrado como tu,  e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau,  resolveu o problema com patacão... 

Isto ter-se-á passado não com o Batalhão de Comandos Africanos, como tu sugeres,  mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente comando graduado Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do meu tempo (1969/71)...  Disse-me o Mourato Oliveira que, depois da negociação com o Carlos Fabião, houve grande ronco, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 21 gastaram rapidamente a massa, trocando o último dinheiro português  por rádios, roupas, motorizadas  e outros bens de consumo...

Semelhantes incidentes (graves) deram-se em Paúnca, pela mesma altura, com a malta da CCAÇ 11, já relatado pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho. (**)

De qualquer modo, esperamos que tanto o Fernando Gaspar como o Luís Mourato Oliveira nos possam fornecer mais pormenores destes tristes acontecimentos que poderiam ter originado um tragédia imensa,  se as ameaças de fuzilamento dos reféns fossem levadas a cabo pelos militares revoltosos da CCAÇ 21. 

O alferes comando graduado Amadu Bailo Djaló [, foto à direita,] também pertenceu a essa companhia, que era inteiramente constituída por pessoal do recrutamento local (incluindo os quadros e os especialistas). No entanto, nas suas memórias (Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português: 1º volume: comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, 299 pp.), não são evocados explicitamente os incidentes de Bambadinca (vd. pp. 276 e ss.). 

Talvez o nosso camarada Virgínio Briote [, foto à esquerda,] que o ajudou a escrever o livro, possa esclarecer o que se passou exatamente nesses dias de agosto de 1974 em que a CCAÇ 21 (ou parte do seu pessoal, possivelmente até à revelia do seu comandante, Abdulai Jamanca, que virá a ser fuzilado pelos nossos senhores da Guiné-Bissau, por altuiras do nosso 11 de março de 1975, segundo informação do Amadu Djaló, p. 281) tomou como reféns cerca de duas dezenas de militares metropolitanos que ainda restavam em Bambadinca.


34 comentários:

Torcato Mendonca disse...

ISTO FAZ PARTE IMPORTANTE DA HISTÓRIA DA NOSSA DESCOLONIZAÇÃO.

MERECE, QUANTO A MIM, DEPOIS DE VÁRIOS ESCRITOS AQUI TRAZIDOS UM TRATAMENTO ESPECIAL.

PORQUÊ? É ÓBVIO NÃO...

Ab T e um especial para o Fernando Gaspar e todos os "encostados á parede"...CALMA, CALMA NÃO ESTOU A CULPAR A TROPA AFRICANA.

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro Camarigo Fernando Gaspar:

A data que tenho sobre o "Levantamento" que relata, foi 16 de Agosto de 74, e os "seus sequestradores" eram, pelo que li na Agenda do meu falecido Pai, último CEM do CTIG, da Companhia de Caçadores nº21. Peço-lhe que me confirme, ou não estes dados! A saber:

Bissau, 16 de Agosto de 1974

... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade! Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Abraço:

Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)

Luís Graça disse...

Torcato:

"Culpar", "culpabilizar", "condenar"... são termos que não existem no dicionário da Tabanca Grande. Só me interessa compreender, não quero julgar ninguém. Quem se sentir juiz (e quiser desempenhar o papel de juiz) no nosso blogue, acho que se enganou na tabanca... Está na tabanca errada.

Não, não estamos em condições - para mais sendo parte integrante do problema - em julgar e condenar ninguém...

Parte das tropas da CCAÇ 21 eram camaradas e amigos meus, gente que veio da CCAÇ 12, com larga experiência operacional, grandes guerreiros fulas que deram o seu melhor (e muitos a sua vida) pela bandeira verde-rubra...

Bambadinca, para o melhor e para o pior, é um palco importante da história recente da Guiné (desde as "campanhas de pacificação" nas últimas décadas do séc. XIX) até à guerra colonial e aos ajustes de contas pós-independência...

O Carlos Fabião já morreu, não sei se em vida ele falou destes acontecimentos em Bambadinca, em agosto de 1974... Mas temos, pelo que deduzo da mensagem do Fernando Gaspar, mais de duas dezenas de tugas que foram "encostados à parede"...

É com um frémito de emoção que eu falo disto, tendo vivido 20 meses em Bambadinca (desde junho de 1969 a março de 1971) e sendo um dos 50 tugas da CCAÇ 2590 que criou a CCAÇ 12...

Não me levem a mal, não me interpretem mal... Que haja mais camaradas, para além do Fernando Gaspar e do Luís Mourato Oliveira (nenhum deles é ainda nosso grã-trabanqueiro), que queiram dar a cara e falar abertamente destes acontecimentos...

Anónimo disse...

Posso admitir que os nossos camaradas metropolitanos devem ter-se sentido abandonados, e que essas 24 horas terão sido bem penosas, não pelo que lhes fizeram, mas pelas incógnitas que lhes teriam passado pela cabeça.
Idêntico sentimento de abandono terá motivado os nossos camaradas africanos, que, perdidos por dez... perdidos por cem!... terão tomado aquela atitude sob forte emoção.
Podia ter sido muito grave.
Mas sosseguemos. À boa maneira portuguesa, não há culpados. Mas posso admitir que houve leviandade.
JD

Luís Graça disse...

Obrigado, Luís Vaz... Isto é o que se chama a triangulação de dados... Confirma-se o que se passou em Bambdinca foi em 16/17 de agosto,com a CCAÇ 21 (do tenente Jamanca, do alferes e nosso tabanquerio Amadu Djaló e do meu amigo Abibo Jau, que ser´+a fuzilado com o Jamanca pro volta do 11 de março de 1975; o Abibo, o "bom gigante" da CCAÇ 12, era soldado arvorado no meu tempo)...

Torcato Mendonca disse...

Caro Luís
Deve haver aqui um equivoco. Eu, depois de escrever em maiúsculas, terminei dizendo que não culpava os Militares Africanos. O óbvio era a obrigação de se saber COMO se passou esse período de nossa história.
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"Culpar", "culpabilizar", "condenar"... são termos que não existem no dicionário da Tabanca Grande. Só me interessa compreender, não quero julgar ninguém. Quem se sentir juiz (e quiser desempenhar o papel de juiz) no nosso blogue, acho que se enganou na tabanca... Está na tabanca errada.###

Porque escreveste dessa forma o que acima transcrevi? Não sabes o que eu sei desse período e, menos ainda, como vivi a ou as guerras porque passei.

Não gostei. Não gosto de "repreensões" e menos ainda sobre assuntos de "guerra e paz". Estou a mais no Blogue? Mas que raio de merda é esta? Que conversa é esta? Ficaste emocionado? Eu andei só no mato com Africanos, eu fui transportado por eles até ser evacuado.Eu fiz a guerra como tinha que fazer. Mal, bem? Fiz!
Eu sei que o Carlos Fabião morreu e quem era. O General...bem eu comentários destes não aceito. Se respondo é porque penso ter havido alguma incompreensão. Gostava de ser esclarecido.

Anónimo disse...

Camaradas
Isto foi algo que sempre receei, à medida que me fui apercebendo que a guerra tinha de terminar e não com uma gloriosa vitória das NT. Imaginem o que seria se não se estivesse a viver um momento de descolonização. Estes camaradas foram sequestrados e utilizados como moeda de troca para resolver um problema que era previsível. A africanização da guerra tinha este reverso e ninguém estava preparado para ele. O comportamento do pessoal da C.Caç oscila entre o desespero e ingenuidade. Tudo seria maios fácil com outra atitude do PAIGC.
Um Ab.

antonio graça de abreu disse...

Torcato, tenho de ti a ideia de um homem muito puro e honesto.
Não leves as palavras tão a sério!
De certeza que o Luís não quis magoar ninguém.
Claro que não estás a mais no blogue.
Um abraço muito forte,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Bom,se tu estás a mais neste blog algo estará profundamente errado. O termo "repreensão" será,quanto a mim, interpretacäo excessiva "de intencäo".Esperando näo estar a ser intrusivo neste meu comentário amigo,talvez(e como TODOS nós acabamos por ser influenciados pelas nossas vidas profissionais),prolongadas responsabilidades docentes possam acarretar,explicáveis,mas involuntários ,zelos?E, o ponto de interrogacäo atrás colocado... será näo menos importante.Mas,e felizmente, estamos entre Amigos e Camaradas. Um abraço.

Luís Graça disse...

Meu querido amigo e camarada do leste, grã-tabanqueiro, senador do nosso blogue, contribuinte líquido, colaborador permanente, conselheiro... Calma aí!, é só fumaça, pólvora seca...

Não percebeste a minha ironia, ou eu é é que fui infeliz no meu comentário que não leva endereço... Trata-se apenas de reafirmar um dos princípios fundamentais do nosso blogue!...

Acabo de vir do Solinca, andei a solincar mais uma de hora - sol...incando, sol...incando, ou só...licando, so...licando...

Amigão, desculpa lá se apanhaste por ricochete!... Fui péssimo na carreiora de tiro!... Um xicoração. Luis

Antº Rosinha disse...

Quando saí de Angola, ainda em 1974, e fui para o Brasil, eu trabalhava com angolanos que eram colegas, funcionários, clandestinamente ligados aos chefes dos partidos, ou com "amigos dos amigos" que iam ficar, com receio e preocupados, mas tinham informação igual à minha e ainda tinham a informação própria deles.

Sabiam como se defender.

Mas muitos ainda chegaram ao Brasil e à metrópole primeiro que eu.

Ou seja, sabiam-se defender tão bem como eu ou melhor.

Mas eu e colegas tínhamos serventes e conhecíamos vizinhos desde sobas até mulheres com meia dúzia de filhos e humildes contínuos que não tinham "fuga" nenhuma.

Estavam entre a espada e a parede.

Havia duas reações distintas da parte do povo.

Uma dos mais velhos, rurais ou trabalhdores para os "patrões", já com família constituída que olhavam perplexos para os brancos a fazer as malas e caixotes absolutamente incrédulos, pois ainda não havia guerra entre os partidos, eram só discursos.

Alguns das nossas relações, ainda tentavam dizer que não havia razão para a "fuga" nossa.

Mas os mais novos, havia até um grande entusiasmo e já havia assaltos, roubos a pessoas e residências e escaramuças entre partidários opostos.

Mas os mais lúcidos e relacionados com brancos já estavam mentalizados que ia haver guerra e diziam "vamo-nos matar uns aos outros", logo que os brancos saiam todos.

Eles sabiam que o branco estava lá para ganhar dinheiro, mas não para matar, nem para morrer.

Tinham mais consciência aqueles povos que todos os colonos europeus e as Nações Unidas, todos juntos.

Para o africano antigo, o valor do dinheiro tinha um sentido muito ligeiro.

Tive um servente, os tais contratrados que eramos acusados de maltratar, que quando recebeu e teve na mão o primeiro salário da vida dele, deu-mo e disse-me que queria uma camisa que eu tinha, e que lha vendesse quando acabasse a campanha, por isso me dava tudo o que recebeu.

Mas era só mesmo aquela tal camisa, não outra, mesmo nova.

Aqueles comandos guineenses, ao pedir dinheiro, estavam a trocar a vida dos soldados portugueses por "uma camisa velha".

Muito pouco

Claro que cada um de nós tem direito à sua própria moral.

Anónimo disse...

Felismente acabou bem, o patacão chegou a Bambadinca,nos dias que correm poderia não chegar.
Um abraço
Eduardo Campos

Anónimo disse...

Caro Luís Graca. Com grandeza de Alma envias um E-mail "colectivo" que chega mesmo até ao Circulo Polar Árctico.(E repara que sinto inveja dos termos "colectivo","próximo" e "vizinho".Só muito tarde a vida ensina que nenhum deles rima com a palavra "emigrante").Creio firmemente que para os que te conhecem pessoalmente,ou através do que escreves,näo necessitas de pedir desculpas por,como todos nós, seres "simplesmente"....Humano. Um grande abraço.

Anónimo disse...

Quanto ao teor do poste publicado,o uso de avultadas somas de dinheiro para procurar resolver alguns problemas sensíveis e "insolúveis" no Comando Territorial Independente da Guiné näo se limitou, nem a Fabiäo,nem unicamente a acontecimentos no período referido.Provas documentais e testemunhos,estranhamente(?) existem. um abraço.

Antº Rosinha disse...

Ainda havemos um dia ler e discutir se fomos nós colonos que "africanizámos" a guerra, ou se foram os diversos movimentos que "internacionalizaram" a guerra.

E se um dia os guineenses se conseguirão emancipar e continuar a pegar naquela ferramenta do arroz, e não podem, porque têm a mão no ar há 38 anos, a mando dos dirigentes que lhe disseram que os "amigos os iam ajudar".

Não creiam os portugueses, que os africanos ao "lado de quem lutámos", que estavam à espera de qualquer dinheiro.

Lembrem-se que por dinheiro não vendiam uma vaca, era preciso outros valores para lhe conseguir sacar uma vaca ou um borrego.

Sei que estou em contra-pé neste blog, principalmente porque fiz a guerra e a paz (mais de 30 anos)junto de africanos pelos trópicos, e os ultimos 5 anos profissionais, com africanos, na Expo 98, nos túneis da Madeira etc.

E já ouvi algumas coisas que os guineenses levam-nos a mal (falo do povo, não dos pioneiros...)

Uma delas é essa do "abandono", e não só dos combatentes, mas até das casas familiares de Bissau.

Mas quando vi os ingleses um dia dizer ao mundo inteiro que o aquele escritor indiano era tão intocável com a rainha Isabel, lembro-me da triste figura que fizemos no dia 26 de Abril, e esses milhões de africanos.

antonio graça de abreu disse...

Espantosamente sábias as palavras do
António Rosinha, o homem no blogue que melhor conhece a gesta e o fim da gesta portuguesa por terras de África!...
Por "saber de experiência feito", "viu claramente visto", como diriam os nosso grandes da Expansão de antanho.
Abração amigo, meu caro Rosinha. Dá gosto ler as tuas simples,sentidas e profundas palavras, entender vivências e o fim da nossa África à luz da tua excepcional experiência de vida.

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Meu muito Caro Camarada António Rosinha. Concordo inteiramente quanto ao teu profundo conhecimento de África e dos africanos.É,na verdade,todo um saber de experiências feito,em muitos e bem diversos locais,e näo menos,durante muitos e muitos anos.A maioria de nós näo o tem.Sou obrigado a...menos concordar, quando escreves:"Não creiam os portugueses,que os africanos ao lado de quem lutámos,que estavam à espera de dinheiro"......Todos nós que por lá andávamos éramos pagos.Se bem que,no caso da maioria dos metropolitanos que andavam pelo mato,e em funcäo dos seus "humildes" postos...um pagamento de miséria.Em relacäo ás realidades económicas, e sociais, da Guiné o mesmo näo se poderia dizer quanto a Milícias e, muito menos, Tropas Especiais africanas.Haveria certamente Felupes,Balantas ou Fulas,para só citar alguns,tanto nas Milícias como nas Tropas Especiais que acreditariam,profunda e sinceramente no Portugal do Minho a Timor que ajudavam a defender de armas na mão.Acreditariam também na sua contribuicäo,(unicamente fundada em ideais e valores civilizacionais) para a continuidade daquela gesta.Mas também haveriam (diria antes "haviam",por os ter conhecido pessoalmente),alguns que lutavam ao nosso lado,e muitas vezes literalmente à nossa frente(!),pelo dinheiro,regalias,e poder pessoal nos meios sociais em que se movimentavam,resultante dos mesmos. Um grande abraço.

Luís Graça disse...

Está na altura de dar também a palavra ao último governador da Guiné, Carlos Fabião... São excertos de uma entrevista que ele deu ao "Público", tinha ele 63 anos... A entrevistadora era a Maria João Avillez...

(...)
P. - E aí, o coronel Fabião entrou em desacordo com ele?

R. - Naquela altura eu também não estava preparado para ter uma opinião, todos os acontecimentos surgiam com uma velocidade fantástica! O general Spínola ainda se convenceu de que se pudesse ir à Guiné... Mas a verdade é que, naquele momento, já não tinha prestígio. Os indivíduos que o tinham aplaudido passaram a assobiá-lo... Os pretos podem não ser cultos, mas não são parvos! E já tinham percebido que o "senhor" de Lisboa acabara com a chegada da revolução... Agora, o "senhor" chamava-se PAIGC.

P. - E quando o coronel Fabião lá chega, o que vê?

R. - Tive ocasião de verificar a "força" e a "fragilidade" do PAIGC. Mal cheguei a Bissau, quis falar com alguém importante do PAIGC e não havia... Apareceu depois um quadro médio, mas nem tomava decisões, nem falava... Tinha medo, visto não ser "ninguém" perante as cúpulas... Eu pensava que eram todos do PAIGC , mas afinal não eram. A gente, dantes, desconfiava que eram todos... mas, ao fim ao cabo, não eram. E eu, assim, também não estava em condições de dar qualquer informação ao general Spínola, porque deparei, à chegada, com problemas gravíssimos: cada remessa de jornais que chegavam da metrópole dava origem a greves iguais às que se faziam aqui. Os africanos sabiam que nós estávamos de partida e que a seguir viria o PAIGC, portanto, todos queriam ser promovidos, aumentados - para que o PAIGC ficasse com esse encargo aos ombros... - e faziam greves medonhas. O Senghor tinha razão: já não era possível viabilizar qualquer projecto como ele e Spínola, uns anos antes, tinham defendido. O Spínola ainda quis fazer lá um congresso, mas o PAIGC nunca quis que o general lá voltasse: recomeçaria a guerra imediatamente caso ele levasse por diante tal ideia.

P. - E que fez como governador?

R. - Como disse, os indivíduos não eram parvos, aperceberam-se de que não iríamos continuar a guerra. E os que viviam sob a nossa bandeira passaram-se rapidamente para o outro lado.

P. - Foi um peso para si, ser o ultimo governador? Era um território onde combatera por diversas vezes, que conhecia bem, onde tinha seguido as pisadas, o projecto e a" fé" de um homem que admirara, o general Spínola... Como viveu isso? Essa última passagem não lhe deixou marcas?

R. - Houve de facto uma parte muito amarga e violenta, outra que o não foi. Custou muito - até escrevi uma carta ao general Spínola a dizer isso - o facto de estar a desfazer um império. Mesmo sabendo que alguém teria de o fazer, custava-me ser eu a fazê-lo. Era talvez egoísmo, mas teria preferido que fosse outro o responsável pela resolução daqueles problemas todos. (...)

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra

http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=ecfabiao

Luís Graça disse...

Esta e outras entrevistas foram realizadas a um leque variado (do ponto de vista político-ideológico) de personalidades da sociedade portuguesa, entre 16 de Março e 24 de Abril de 1994, e tinham como enfoque o 25 de Abril de 1974.

Estas entrevistas foram posteriormente reunidas por Maria João Avillez no livro "Do fundo da revolução", edição do jornal "Público", 1994, 295 pp.

Militares entrevistados foram três: Alpoím Calvão, Carlos Fabião, Melo Antunes.

Anónimo disse...

Estimados Camaradas,desculpem a minha
colherada e(aceito)ignorância de Es_
tratega e o possivel misturar alhos
com bugalhos.Talvez por altura do meu
quinto ano de Liceu,na disciplina de
História Universal,falava-se das grandes batalhas que ficaram para a
posteridade e naturalmente dos gran_
des Cabos de Guerra,entre eles, Pedro
o Grande e Napoleão Bonaparte.Tanto
quanto me lembro,eles além das tropas regulares ao seu serviço,também tinham(como sempre houve em todas as guerras)Mercenários e ou soldados naturais de diversas regiões.Estes Cabos de Guerra(Estrategas)já naquele tempo tinham a preocupação de não fazerem entrar em combate as suas Legiões que integrassem naturais das zonas (países)onde se travassem as batalhas?.Nas nossas Academias Militares por certo se estudaram,com mais profundidade estas matérias.Os nossos Estrategas do tempo da guerra de África,desco_
nheciam estes factos, ou pensaram ,com os"portugueses" é diferente.
Enganaram-se,o resultado é o que todos sabemos.Desde os sequestros a
militares portugueses;ao abandono á
sua sorte por parte de Portugal aos
combatentes africanos no pós 25 de
Abril e depois aos fuzilamentos ou turturas nos seus paises de origem.
Carlos Nabeiro.Moçambique-ZOT-1968/70.

Luís Graça disse...

Antº Rosinha:

O Carlos Fabião, último governador da Guiné, dá-nos aqui um extraordinária lição de observação sociológica... Lê, desapaixonadamente, o depoimento que ele faz no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida > A descolonização portuguesa > Depoimento de Carlos Fabião, 11 de abril de 2002.

(Infelizmente morreu, entretanto, e não acabou esta conversa... donde se pode inferir que neste clima generalizado de revindicações e de greves, na tentativa de "marcar lugar" na nova arena política, agora com novos atores, novos senhores, novos discursos, os nossos camaradas guineenses (da CCAÇ 11, da CCAÇ 12, da CCAÇ 21, dos Comandos Africanos, etc.) também quiseram representaram os seus papéis... A cena dos "sequestros" terá sido real ? As ameaças eram reais ou eram "bluff" ? Quem foi sequestrado em Bambadinca: a arraia miúda, milicianos ? Ou também oficiais superiores ? Imagino que em 16 de agosto já estava tudo em Bissau... E depois é preciso ter em conta o axioma segundo o qual o poder tem horror ao vazio...

Os depoimentos, mais detalhados, do Fernando Gaspar e do Luís Mourato Oliveira, serão fundamentais para se perceber exatamente o que aconteceu nesse dia ou dias (16/17 de agosto de 1974), em Bambadinca...


(…) Manuel de Lucena: Um ponto que, para mim, ainda não ficou muito claro, é quando é que a população percebe que o poder mudou. O que leva a população, e m Bissau, a dizer: «Agora nã o são os portugueses, o exército português, quem tem a força , a potência a emergente é o PAIGC»? Quando é que isso se passa, e porquê? Quais são os sinais?

Coronel Fabião: Quando eu cheguei a Bissau, a 7 de Maio se não estou e m erro , já se tinha passado . Chegavam lá os jornais da metrópole e, à medida que os jornais chegavam, era o pandemónio.
Os jornais diziam: «Greve não sei onde», «Barulho não sei onde». E os tipos repetima lá. Tinha essas greves, tinha essas cenas, sobretudo nos estivadores. E pronto, lá se foi aguentando aquilo, mais ou menos. Ah, a população virou-se toda contra nós logo que se deu o 25 de abril. E porquê ? Isto é verdadem contaram-me eles.
Porque eles tinham de conquistar lugares antes de a gente sair e entrarem outros. Por exemplo, você era segundo oficial. Fazia uma greve aqui para ser primeiro-oficial quando eu chegasse. E eu ficava com a obrigação de o ter como primeiro official. E havia os vencimentos. Um gajo ganhava 500$00 e dizia: «Estes diazitos que temos aqui dá para aumentar para 600$00». Portanto, havia uma onda de reivindicações salariais (e de postos) imparável. Sobretudo no cais. Mandei lá um dia um dos meus oficiais, que era um tipo mais alto que eu, tinha uma grande cabeça, com uma data de estivadores à volta a berrarem alto, e o gajo berrava mais alto que eles.
Manuel de Lucena: O senhor coronel, quando chega, em que altura exacta é que chega a Bissau como governador?
Coronel Fabião: : A 7 de Maio.
Manuel de Lucena: E já encontra tudo virado.
Luís Salgado de Matos: A população guineense, os abor ígenes, percebia a trapalhada que estava a acontecer na metrópole? Ou não?
Coronel Fabião: A mola real eram os jornais que chegavam.
Luís Salgado de Matos: Mas podia ser só para a nossa tropa.
Coronel Fabião:: Não, não, a tropa tinha o mínimo de … As [nossas tropas], a certa altura começaram a temer que com a revolução desaparecessem empregos, desaparecessem coisas, portanto, tinham pressa de voltar para Portugal. Mas era para marcar lugar na revolução. (…)

________________

http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/docs/guine_2002_04_11_fabiao.pdf

Antº Rosinha disse...

J.Belo, a coisa que menos quero é dar aulas de "africonologia" inventei agora.

E o que menos queria era armar-me em professor e nem quero imaginar que estou a chamar ignorante ou desconhecedor a quem me lê.

Já mais que uma vez escrevi que nunca mais lemos coisas escritas por balantas ganguelas e outros.

Porque o que nós, tugas o que dizemos ou escrevemos sobre os outros que continuam calados ou só falam no seu dialecto ou morreram sem escrever porque nem o sabiam fazer, podemos apenas estar a divagar ou até a dizer inverdades.

Sabemos que já nas descobertas os portugueses levavam as quinquilharias para distribuir para "comprar" reis e régulos.

Tambem sobre "roncos" é conhecido que Bokassa tinha um cavalo igual ao de Napoleão. e o presidente da Costa do Marfim construiu uma réplica do Vaticano na sua tabanca.

Mas quando dizemos o que aconteceu com cada um de nós, como um contratado que me deu todo o dinheiro que ganhou no 1º mês, correu para mo entregar em troca de uma camisa velha, com certeza que as ambições dele não podem ser medidas pelos nossos olhos.

E aí compreendo os Bokassas de uma maneira diferente de alguns.

Mas vamos à guerra:

Nenhum felupe envergava a farda do exército português, para depositar o salário numa conta a prazo, ou comprar uma motorizada.

Envergava sim a farda, após reunião de família e até de tabanca e dos respectivos régulos, homens e mulheres grandes.

E não era a pensar no Portugal de Minho a Timor mas mais no Chefe de posto que conheciam e as suas leis, e nos desconhecidos Amilcar Manecas, Saturnino, Gazela e outros.(PAIGC)

Com certeza que os ministros do PAIGC, quando apareceram em Bissau vitoriosos, guiando os seus Volvos, não foi pelos Volvos que quizeram lutar de Varela a Cacine.

Mas o Volvo também funcionava como meio de exibição.

José Belo, os valores dos africanos não eram medidos pela conta bancária nem pelo salário (vil metal).

É o que eu pretendo dizer.

Mas tal como os que lutavam pelo PAIGC, correr com o ocupante, aqueles velhos régulos que deixavam os seus jovens lutar ao lado do colono, branco, estrangeiro, não o faziam inconscientemente.

O que acontece actualmente no Mali, na Costa do Marfim recentemente, na Nigéria idem, etc, pouca diferença há do que se passa hoje na Guiné, se passou em Angola e Moçambique e que os fulas, bailundos etc. tentaram evitar ao ficar ao lado do chefe de posto e seus cipaios coloniais.

E essa do Minho a Timor, como símbolo salazarista, que na realidade é um sentimento anterior a Salazar, merecia ser escrito algo pelos africanos antigos e talvez houvesse muitas surpresas.

Precisávamos que os caboverdeanos, guineenses e todos os outros, universitários uns, liceais outros, do nosso tempo,escrevessem em prosa e prosaicamente, mas só escrevem em verso, e deixam-nos aqui a falar sozinhos.

Cumprimentos.

Luís Graça disse...

Diz o Fernando Gaspar:

(...) "F"omos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!!" (...)

Fernando: Se puderes e quiseres, dá-nos pormenores... Quando dizes "encostados à parede", queres dizer isso mesmo ? Algemados, de pé, de olhos vendados, virados para a parede, sob a ameaça de armas ?

Quantos eram os "tugas" ? Falas em duas dezenas...

Quem era o vosso interlocutor, qual era a sua patente ? E da vossa parte, quem estava em contacto com Bissau ?

Falas em "comandos africanos" ou não seria antes malta da CCAÇ 21 ?

Havia também "graduados" entre os revoltosos ?

Chegaste a temer pela tua vida ?

O Carlos Fabião deu-vos alguma palavra de consolo, alguma explicação ?

Depois de receberem o patacão, para onde seguiram os nossos camaradas guineenses ? É verdade que foram gastar a massa ?

Viste mesmo as duas malas cheias de notas que dizes ter trazido o brig Carlos Fabião no heli ?

Ainda ficaste mais alguns dias em Bissau ?

Havia alguma oficial superior convosco ?...

Responde ao que puderes, souberess e quiseres... Um Alfa Bravo. Luis Graça

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... [escrito antes das 17:00 de 14Mai2012]

A unidade do Exército Português, então responsável pelo sector de Bambadinca, era desde 09Mar74 o BCac4616/73 comandado (a contragosto), pelo agitador MFA TCor inf Luís Ataíde da Silva Banazol: naquela localidade, à data dos acontecimentos referidos neste postal, estavam aquartelados – além da adida CCac21/CTIG –, o comando daquele batº (sendo 2ºcmdt o Maj inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira, e adjunto-oficial InfOp o Cap inf Bernardino Luís de Matos Pereira Torres), e a respectiva CCS comandada pelo Cap SGE Domingos Roque.

A primeira cegada em Bambadinca, terá ocorrido em 17Mai74 e nas seguintes circunstâncias: o tcor MFA Banazol mandou depôr as armas em todo o subsector L1, sob pretexto das 20 baixas que o BCac4616 sofreu 2 dias antes a 30km sul de Bambadinca, mas de facto apoiando a sua decisão numa emissão da "Rádio Libertação" do PAIGC, relativa ao encontro nocturno sucedido, (em 16Mai74) no bar de um hotel de Dacar, entre MSoares e APereira; ainda durante aquele 17/5, o TCor de infantaria Carlos Alberto Idães Soares Fabião (09Dez1930-02Abr2006) - basto conhecido das gentes da Guiné (1955-61, 65-67, 68-70, 71-73), e desde fins de Abr73 um dos proto-MFA's na "Metrópole" –, desceu de helicóptero no perímetro exterior ao aquartelamento de Bambadinca mas, quando pretendeu entrar à porta-d'armas, foi ali recebido por um grupo de militares do BCmdsAfric, que integravam a CCac21 comandada pelo tenente graduado 'comando' Abdulai Queta Jamanca, os quais manifestaram – de armas em riste –, o seu desagrado pela nomeação do recém-chegado, para o comando-chefe da Guiné, face à sua – entretanto já notória – "fraternização com o IN".

Em indeterminado dia de Jul74, um grupo do PAIGC aprisionou em Mansoa o 2Sg CMD Zeca Lopes, que havia integrado o Grupo "Vingadores" do COE/CTIG, o qual (em data incerta) veio a ser fuzilado.
Igualmente, em indeterminado dia daquele mesmo mês de Jul74, um outro grupo do PAIGC aprisionou em Mansabá o Fur milº CMD Anastácio Moreira Ferreira, o qual veio a ser fuzilado (em 11Mar76, cf registo do óbito), no aeródromo do Canchungo (ex-Teixeira Pinto).

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João Carlos Abreu dos Santos disse...

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Quanto à segunda cegada em Bambadinca, de modo algum poderia ter radicado exclusivamente em "uma questão de dinheiros", tal como também não teve resolução no próprio dia 16Ago74, mas sim em 18Ago74: data, aliás, confirmada pelas mencionadas "40 horas depois"; (cf testemunho do veterano Fernando Gaspar).

Em 19Ago74, o brigadeiro graduado Fabião, no CIC-Brá, após arenga sem pés-nem-cabeça - mas que os pseudo-nharros entenderam muitíssimo bem -, «mandou passar "guia-de-marcha" a todos quantos, de origem africana, fizeram parte das forças especiais portuguesas, com licença por 142 dias "devendo apresentar-se no Bat. Comandos até às 8 horas do dia 1 de Janeiro de 1975"»!
Aquele oficial do Exército Português, exactamente 10 dias antes de o "Protocolo de Acordo" com o PAIGC entrar em vigor – tendo sido entretanto informado sobre o conteúdo total do respectivo "Anexo", imposto pelo PAIGC, e uma vez mais em manobra concertada com os "negociadores" ao momento em Argel –, procedeu à desmobilização geral de todos os militares aos quais o citado "Anexo" explicitamente se referia, antecipando-se nomeadamente ao seu art.17º e assim ilegalmente eximindo o Estado português ao cumprimento do disposto nos artigos 24º-26º e ao estipulado no último número daquele mesmo articulado.
Menos de 24 horas decorridas, «entregámos as armas» (cf ABDjaló, op.cit pp.281). Nesse mesmo dia 20, em Canjadude, tão logo o IN tomou posse daquele aquartelamento das NT, o PAIGC degolou o Furriel graduado de infantaria Salazar Saliu Queta, que integrava a CCac5.
E seis dias depois, houve notícia de – também após entrega de um outro destacamento, o de Madina Colhido (Xime), ao IN –, terem sido fuzilados pelo PAIGC, os seguintes 10 militares portugueses:
- Abdulai Queta Jamanca, Ten grd cmd, cmdt da CCac21;
- Abibo Jau, Sld arv 82107469, da CCac12;
- José Carlos Suleimane Baldé, 1Cb, da CCac12;
- Mamadu Baldé, Sld arv, da CCac12;
- Mamadu Mau, Sld arv, da CCac12;
- Quecuta Colubali, Sld arv, da CCac12;
- Saljo Baldé, Sld arv, da CCac12;
- Samba Có, Sld arv, da CCac12;
- Totala Baldé, Sld arv, da CCac12;
- Vítor Santos Sampaio, Sld arv, da CCac12.

De acordo com a "Resenha [...]", "após desactivação e entrega dos aquartelamentos [do sector à sua responsabilidade], ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores do Xitole em 01Set74, de Mansambo em 02Set74, e de Bambadinca e do Xime, ambos em 09Set74, [o BCac4616/73] recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso".

Dezenas de outros militares e ex-militares, do Exército Português, oriundos do recrutamento provincial guineense, foram a mando do PAIGC fuzilados em outros locais, alguns em datas incertas, mas confirmadamente antes da retirada final das NT daquele TO e daquela ex-Província Ultramarina Portuguesa (14Out74); posteriormente, a outros homens que naquela prestaram serviços nas fileiras das FA's de Portugal, os comissários políticos do PAIGC – entre eles Umaru Djaló (CEME), Benjamim Correia, Fernando Quadé, Constantino "Tchutcho Axon" Teixeira e o famigerado mestiço caboverdeano António Alcântara Burcardini (camarada secretário-geral do CESNOP) –, a pretexto de um "11Mar75", deram o mesmo trágico destino; tal como, pelo menos até 18Dez78, o mesmo sucedeu ainda a outras dezenas de ex-militares portugueses, nascidos na Guiné (então Portuguesa).

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João Carlos Abreu dos Santos disse...

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Apesar da repetida ressalva, pelo fundador e mentor deste blogue, quanto ao mesmo se não prestar a "juízos", é bom de ver que, ao aceitar reproduzir um testemunho relacionado 'tout court' com aquele incidente [Bambadinca-16Ago74], mas singularmente balizado em "uma questão de dinheiros" – e para mais, acto contínuo acrescentando um comentário (?) sobre como «os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 21 gastaram rapidamente a massa, trocando o último dinheiro português por rádios, roupas, motorizadas e outros bens de consumo... » –, implicitamente rebaixa o nível da apreciação pública, sobre tal matéria, levando à eventual percepção, em tudo falseada, de que, afinal, as "tropas guineenses" lutavam ao lado "dos portugueses"... "only for the money"; o mesmo será dizer, 'in limine', era tudo uma cambada de mercenários! E se aos, já então acossados, tanto pelo (ainda) IN como (helás) pelos mais assanhados MFA-Guiné, lhes apeteceu gastar «a indemnização a que tinham direito», como lhes deu na realíssima gana, que temos nós – seja quem fôr –, a ver com isso?!
Aliás, não seria a primeira vez, mas desejamos tenha sido a última, que uma tal torpe insinuação – se não mesmo, afirmação –, foi pelo mesmo fundador aqui repetida: os 'comandos' guineenses, eram «amorais»... !

Como se sabe, não prestei serviço militar no "vosso" TO-Guiné, tal como não sou advogado e muito menos cavaleiro-andante de nenhuma organização ou associação, nem de alguém em particular. Não seja por isso, que deixaria de poder e dever expôr o que acima fica, manifestando o meu veemente repúdio por alguns conteúdos e formatos com que, em demasiada "ligeireza", se persiste na "abordagem" de determinados assuntos tidos por "polémicos", aos quais decerto a maioria dos participantes e visitantes não estará habilitada a enquadrar e compreender, mau grado as quase quatro décadas transcorridas sobre algumas 'casualties of war' e suas consequências, tanto pessoais como geracionais; e, subjacentes ao "caso" aqui agora exposto, nacionais no que se refere à Guiné-Bissau, a Portugal e, naturalmente, ao relacionamento actual entre Estados soberanos.

Quem não queira ser cordeiro, não lhe vista a pele: o mesmo é dizer, se aqui não há pretensão nem propensão para historiar (vg "fazer história") – como aliás mtº bem consta no vosso "livro de estilo" –, mal se entende a v/persistência no afloramento, 'en passant', desgarradamente, de um ou outro "episódio" da "vossa" Guiné: seja a do fim, seja a do início; ou de qualquer outra época.

Cordialmente,
J.C. Abreu dos Santos
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Anónimo disse...

Normalmente estamos com o mais forte.
Quando o poder muda,claro mudamos de campo.
Esta é a regra,depois surgem as excepções; por convicção, status,pequenos poderes, etc.
Os guineenses podiam ser analfabetos,mas de burros, a grande maioria não tinha nada.
Foi triste, muito triste, o que fizemos ao abandoná-los à sua sorte.
Também não foi nada que não tivesse acontecido antes,se bem que não serve de desculpa..vidé.. Vietnam..Argélia..etc..é histórico, sempre aconteceu aos colaboradores do poder destituído.
Enfim.."é a vida"..como disse o outro.

C.Martins

Anónimo disse...

Palavras sensatas as de C.Martins.Só que ao seu "É a vida",poder-se-ia acrescentar...É a PORCA da vida! Um grande abraço.

Anónimo disse...

Alguns acreditam firmemente que qualquer fuzilamento por razões políticas será simplesmente...um fuzilamento a mais!Mas será infelizmente de esperar que, uma cruel guerra de mais de 10 anos näo termine só com apertos de mão entre anteriores inimigos de morte com muitas contas a ajustar.Fuzilamentos,estranhamente näo referidos,também os houve em Angola e Moçambique,e em muitas ex-colónias estrangeiras onde nem sequer tinha havido uma guerra de libertacäo para os "justificar".Alguns dos que hoje agitam essas bandeiras, como que chocados pelo termo "fuzilamento", fazem-no unicamente por se näo tratar dos seus "justificados" fuzilamentos.Pois entre eles estarão os que,em plenários diferentes em todos os aspectos menos o de se tratarem de militares (plenário da Manutencäo Militar em Lisboa,e Biblioteca do Regimento de Comandos na Amadora)pediram os fuzilamentos de Camaradas (apresentados em listas) de ideais políticos opostos.Só que, em ambos estes tristes e exaltados momentos o bom senso de alguns venceu.

Anónimo disse...

Descolonização: fuzilamentos, decapitações, muitos mortos, e para quê?
Para preservar do medo de assumir o poder. O poder corrompe, porque gera a desconfiança em quem o exerce, sobretudo, se estribado no número de armas. O medo pelo poder "dilui-se" através de oligarquias que, muitas vezes, e desesperadamente, se defendem pela coesão agressiva.
O movimento anti-colonialista assentou nas teorias de libertação, que para os marxistas significava qualquer coisa como, a terra a quem a trabalha, no sentido da melhor e mais justa distribuição de riqueza. Foram essas notícias, emanadas dos países socialistas, que motivaram os estudantes das colónias a juntarem-se e a reivindicarem a autonomia das frágeis colónias.
Se ideologicamente estava lançada a semente emancipalista, logo germinou com o fornecimento de armas e instrução subversiva.
Do outro lado da guerra-fria, os EEUU também se apressaram a colaborar com os novos movimentos, mesmo quando colaboravam e eram a parte mais interessada - pelo domínio económico - nas actividades prosseguidas pelos colonizadores, ou que eles próprios desenvolviam em terra alheia.
Os princípios ideológicos "já eram", como se diz actualmente, e os "ventos de mudança" geravam brisas precoces, porque os futuros poderes já eram dependentes.
Entre nós, Salazar nunca teve um pensamento para juntar as novas elites que despontavam entre os emancipalistas, para as cativar e integrar no desenvolvimento de planos de melhoria para cada provincia. Teria que ser de grande genuínidade, e os resultados não se pode dizer - por falta da experiência - que dessem resultado. Mas poderia ter dado sinais para isso, sobretudo no que respeita à regulamentação do trabalho, à justeza na cobramça do fisco, à atribuição do estatuto da igualdade entre os cidadãos, à melhor gestão orçamental, à mais adequada relação com os "trusts", ao mais evidente interesse público, etc.
Ao contrário, nunca aceitou dialogar com terroristas. E foi na mais improvável das colónias, a Guiné, que veio a manifestar-se o mais esclarecido e objectivo dos líderes.
Até ao fim, mesmo quando deu aos mais próximos, sinais de que as colónias seguiam um caminho inevitável de independência, Salazar foi irredutível.
Quando o "Mais Velho" diz que compreende os Bokassas de maneira diferente de alguns, refere-se, seguramente, aos naifs que emergiram de movimentos, que trituraram as elites, e mostraram ao mundo os ingénuos que chegaram ao poder, mas seriam facilmente manipulados por poderes maiores que não se querem ver - o capital.
JD

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... reporto-me a um m/comentário, exposto neste blogue desde as 00:07 de ontem.

Havido há instantes conhecimento do v/recente postal 9903, cumpre esclarecer:
- da leitura do v/p745 (António Duarte, 11Mai2006), pode deduzir-se como muito provavelmente fuzilados pelo PAIGG, logo após aquele tomar posse do destacamento de Madina Colhido, em 26Ago74, a maioria dos "arvorados" da CCac12/CTIG;
- vd tb v/subsequente postal de 12Mai2006 e um outro editado faz hoje precisamente 6 anos: «Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem). Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca» (J.C. Mussá Biai); «No período pós-independência, os fuzilamentos dos antigos colaboradores africanos incidiram sobre os Comandos Africanos, Milícias, agentes das forças especiais, fuzileiros, cipaios, régulos, agentes da PIDE, elementos da Acção Nacional, guias, e até agentes que trabalhavam para a administração colonial. Só no caso da Guiné, fala-se em cerca de 11.000 o número de elementos fuzilados pelo PAIGC imediatamente após a independência. Certo ou não, a verdade é que houve como que uma espécie de vingança quando os ânimos se serenaram, depois que o PAIGC assumiu a administração política do país» (Leopoldo Amado).

Afinal e ainda bem, está José Carlos Suleimane Baldé muito "alive & kicking"...
Àquele ex-militar do Exército Português e a todos os demais camaradas-d'armas, os meus respeitos e desejo de longa vida.
Aos que já não se encontram vivos - a não ser na memória de quem com eles privou -, Paz às suas Almas.

Cpts,
Abreu dos Santos
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Anónimo disse...

Segundo o depoimento de Amadu Jaló, numa entrevista que me deu em Junho de 2007(in "Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros (...)/2007), antes de escrever o seu livro, ele como alferes e o Tenente Jamanca foram formar a CCaç 21, ainda por ordem do então General Spínola, em 1973. Assim em 1974 já não fariam parte dos efectivos do BCmds Africano. Apesar de ter investigado este período não chegou ao meu conhecimento esta cena do Carlos Fabião ter ido pagar tal dinheiro pelo pessoal metropolitano sequestrado. Julgo que o Amadu ainda está na Amadora e o nosso amigo Briote, se assim o entender, poderá confirmar este infeliz acontecimento, da parte de quem nele terá participado.
Ab. Manuel Bernardo

Luís Mourato Oliveira disse...

Só por acaso e porque "cliquei" o meu nome no texto que ontem foi publicado no Blog, acedi ao link em é relatado o incidente com a C.CAÇ 21 em Bambadinca em Agosto de 1974 e em que fui mencionado pelo camarada Luís Graça. Em primeiro lugar os meus parabéns ao Luís pela sua extraordinária memória porque eu próprio já não me recordava da conversa que tivemos em Monte Real em que lhe relatei esses factos, e depois vamos à história:
Não sei o dia exacto, mas o camarada Camarigo Gaspar informa que os acontecimentos ocorreram a 16 de Agosto. Tinha-me deslocado a Bambadinca onde pernoitei logo pela manhã, desloquei-me ao bar de oficiais para o pequeno almoço que tomei sentado ao balcão. Mesmo atrás do balcão, havia uma porta dupla que dava para as traseiras do quartel e que servia para o abastecimento do bar e para os despejos do lixo e outros serviços, porta essa que estava aberta como era habitual. Reparei que no exterior vários soldados da C.CAÇ.21 se deslocavam rapidamente armados e ocupavam algumas posições no terreno tendo uma equipa de lança granadas foguete tomado posição na porta de serviço que acima referi e o objectivo era claramente a ocupação da messe porque as armas estavam apontadas para o interior. Com o instinto de autodefesa e sobrevivência que é comum a todos os militares e decidido a vender caro o "coiro", corri em sentido contrário para o quarto onde tinha pernoitado onde me municiei e saí rapidamente já armado com a minha G3, só que à porta da messe já dois soldados da 21 me apontavam as suas espingardas e me desarmaram - larga arma alfero! -.
Fomos "arrebanhados" na parada e informados que caso o Comando Territorial não respondesse positivamente às reivindicações apresentadas até às 16.00 H. do dia seguinte seríamos fuzilados (os oficiais primeiro). Esta operação foi desencadeada apenas pelos soldados da C.CAÇ.21 não participando nela nenhum graduado, mas pela rapidez e rigor com que foi executada estou certo que teve planeamento superior.
Devo dizer que nunca acreditei que as ameaças feitas fossem concretizadas porque o passado da unidade africana, a sua lealdade à Bandeira e a sua crença na nacionalidade Portuguesa eram prova irrefutável da ligação fraternal com à tropa portuguesa e que os impediria de fuzilar irmãos de armas e por isso mesmo quando o soldado Tomango Baldé do PEL.CAÇ.NAT.52 me abordou e disse - Alfero vens pra Missirá a bó cá miste fica aqui - eu agradeci a lealdade e solidariedade dos meus soldados mas continuei "sequestrado". À noite o pessoal europeu reuniu numa pequena assembleia e discutiu-se qual a reacção a ter perante os factos não se tendo chegado a nenhuma conclusão sendo o comando de opinião que o assunto seria resolvido sem derramamento de sangue e assim foi. No dia seguinte o General Carlos Fabião aterrou de helicóptero com o "patacão", a C.CAÇ.21 foi recebendo a indemnização pedida e entregou as armas. Ao contrário do que foi dito, creio que o valor pago pela desmobilização foram sessenta contos ao contrário de trezentos como aqui foi dito o que na altura correspondiam a pequena fortuna. Esse dinheiro foi rapidamente gasto em bens de consumo desde as motorizadas aos rádios e óculos escuros. Apesar do desconforto da situação, não condeno e compreendo a acção dos soldados da 21. Combateram durante anos, sofreram, perderam a saúde, partes do corpo e muitos a vida. Para eles era incompreensível deixarem de ser Portugueses e aceitarem que o PAIGC era mais forte e afinal a Guiné não era Portuguesa e no seu lugar teria agido certamente do mesmo modo. O futuro deu-lhes razão para o acto e muitos como o Jamanca foram fuzilados outros mantêm-se sequestrados e confusos sobra a sua identidade e nacionalidade sem ser por culpa própria.
Malhas que o império tece...
Luis Mourato de Oliveira
Tabanqueiro 625

Mendes Matos disse...

Aconteceu várias vezes, depois de 25 de Abril de 1974, os nosso militares guineenses, depois de serem mandados para casa, com pagamento de pré até ao fim do ano, assaltarem quartéis e exigirem mais dinheiro. Como chefe de contabilidade do Comando Territorial da Guiné, algumas fui chamado, de noite, para dar dinheiro para, pela manhã, levarem aos ex-soldados negros revoltados. Como não havia dinheiro nos cofres, chamavam-se funcionários do Banco Nacional Ultramarino para se fazerem os levantamentos. Muitas malhas o Império teceu.