1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano João Caramba (ex-1.º Cabo TRMS do PEL REC/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 12 de Maio de 2012:
Olá amigos.
Espero ter a honra de pertencer ao grupo.
Se alguma coisa não estiver correta agradeço a vossa correção.
Um abraço
João Caramba
Uma história recordando a Guiné
Decorria o ano de 1973.
Quando soube que tinha chegado um novo batalhão à zona e que nessa unidade vinham alguns patrícios meus conhecidos, resolvi ir-lhes fazer uma visita. Logo que consegui uma oportunidade fui até lá.
Ao chegar ao destacamento começa a história que vos vou contar, a qual, poderia chamar-lhe trágico-cómica.
À porta de armas, todas as viaturas eram identificadas, registando-lhes a matrícula e a unidade onde pertenciam, só depois era levantada a cancela. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o soldado de serviço, que eu conhecia bem, era analfabeto, não podendo ler nem registar coisa alguma e, mais grave ainda, era que estava com uma G3 em bandoleira, coisa que não seria possível em situação normal pois era básico e não estava autorizado a manusear qualquer tipo de arma.
A coluna parou junto à cantina, onde eu me desloquei imediatamente, para falar com o cantineiro, que também era da nossa terra, e contar-lhe o que se estava a passar.
Ficou tão admirado como eu, indo logo de seguida avisar o Oficial de Dia, pois foi o próprio que lá o tinha colocado, entregando-lhe a sua própria arma. Ao ter conhecimento do que se estava a passar o Sr. Alferes saiu do gabinete de braços por cima da cabeça, esbracejando e ameaçando que lhe dava uma porrada e que o metia na cadeia e outros mimos mais que nem os bichos gostam.
Quando o soldado se apercebe do que se está a passar sai do posto, de arma em punho, puxa a culatra atrás, mete a bala na câmara e mandou-o parar, ameaçando fazer-lhe um buraco. Claro está que o Sr. parou de imediato, tremendo, sem saber o que fazer.
Nesse momento, alguém me fez lembrar que esse rapaz me tinha algum respeito, portanto eu tinha que intervir e assim fiz, com muita calma pedi-lhe que me entregasse a arma e, muito devagar, com a arma apontada para o meu lado, veio entregá-la e ao mesmo tempo cumprimentar-me como se nada se tivesse passado.
Só depois da bala fora da arma é que o Sr. Oficial se aproximou para continuar com alguns insultos. Foi difícil fazê-lo compreender que ali só podia haver um culpado e era ele próprio. Então com muito tempo e paciência lá fui conseguindo dar-lhe a volta de maneira que esta história ficasse por aqui sem vinganças nem castigos e acho que consegui.
Termina assim esta história, que podia ter sido uma tragédia, mas acabou em mais um dos muitos acontecimentos da Guiné, que ficaram nas nossas lembranças.
João Caramba
Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de abril de 2012 > Foto de Rui Silva, mostrando em primeiro plano, da esquerda para a direita, o nosso editor Luís Graça e dois alentejanos dos quatro costados, o João Caramba, nosso novo grã-tabanqueiro, e o Belarminho Sadinha. Em segundo plano, à esquerda, outro ilustre grã-tabanqueiro de longa data, o Juvenal Amado. O Juvenal e o João pertenceram à mesma unidade, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, e são bons amigos.
2. Comentário de CV:
Caro João, bem-vindo à tertúlia. Sabemos que entraste pela mão do nosso camarigo de longa data Juvenal Amado, que se bem me lembro já havia falado de ti em pelo menos um dos seus textos.
Tivemos o prazer da tua companhia, e de tua esposa, no nosso VII Encontro deste ano, em Monte Real, pelo que já és conhecido por muitos de nós.
Já sabes que um dos deveres dos camaradas inscritos na tertúlia é, dentro da sua disponibilidade, ir alimentando o Blogue com as suas recordações e fotos. Tens o teu amigo Juvenal como inspirador.
Ao terminar deixo-te um abraço em nome da tertúlia. Passas a ser o tabanqueiro nº 558.
O camarada e amigo
Carlos
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Nota de CV:
Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Olá João!
Meu grande Alentejano!
Como vai o casal...Caramba?
Seja Bem-vindo João!
É um prazer tê-lo na nossa companhia.
A História que nos conta, tem a chancela de um homem de bem, que apesar de tão jovem, teve o discernimento e o sangue frio para evitar uma possível tragédia. Obrigada por mais esta história, que já faz parte das páginas desta enciclopédia, que se chama Luís Graca Camaradas da Guiné.
Um beijo para si e outro para a sua Rosa.
Felismina Costa
Com tantos tertulianos transmissões, muitos têm que entrar de serviço à tabanca.
Um alfa bravo Colaço.
Ah ganda Caramba.
Essa é uma das muitas, creio eu que nos contarás no decorrer da tua participação no blogue.
Sê benvindo e fico à espera de mais.
Um abraço
caramba,Caramba, sê bem-vindo.
abraço
manuel maia
Olá, só agora vi esta entrada formal do nosso novo companheiro João Caramba, animador da minha mesa no Encontro deste ano em Monte Real.
Pois que seja muito bem-vindo e que transmita o bom humor alentejano em que é sábio.
E com um 'padrinho' como o Juvenal Amado terá certamente oportunidade para reverem e relembrarem episódios comuns.
Entretanto, e como sublinha o Colaço, mais um 'transmissões' que dá a cara...
Abraço
Hélder S.
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