sábado, 19 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9924: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (54): Mesmo com um atraso de 4 anos, farei chegar a vossa mensagem a meu pai, Joseph Turpin (Iracema Turpin)



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > 7 dde Março de 2008 > Último dia do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Mensagem do Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, para  o nosso camarada da FAP, hoje major piloto reformado, António Lobato, que esteve prisioneiro em Conacri, sete anos, de 1963 a 1970.

Vídeo (melhorado) (1' 36''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes.



Imagem à esquerda: capa do livro do António Lobato, Liberdade ou Evasão. Amadora. Erasmos, 1995


1. Mensagem da nossa leitora Iracema Turpin, da Guiné-Bissau:

De: Iracema Turpin
Data: 17 de Maio de 2012 15:02
Assunto: Joseph Turpin

Boa tarde:

Antes de mais agradeço a sua publicação que veio elucidar um pouco mais sobre o PAIGC de hoje comparado com o tempo de luta.


Apesar de já terem passado alguns anos desde a publicação do video referente aqui disponível:

27 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3246: Simpósio Internacional de Guileje: Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, saúda António Lobato, ex-prisioneiro (Luís Graça) (*)

 Farei chegar ao meu pai a sua mensagem.

Mais uma vez obrigado pelo gesto e vontade que demonstrou em que fosse do conhecimento dele que "a carta chegou a Garcia". (**)

Sem mais agradeço desde já a sua atenção.
Cumprimentos
Iracema Turpin
________________

Notas do editor:

(*) Trata-se de um pequeno vídeo (1' 36''), gravado por mim em Bissau, no Hotel Palace, no último dia do Simpósio Internacional de Guileje, em 7 de Março de 2008. 
As condições de luz eram más e a máquina era uma digital, de fotografia e não de vídeo.

Joseph Turpin, um dos históricos do PAIGC, pediu-me para mandar uma mensagem para o nosso camarada António Lobato, o antigo sargento piloto aviador portuguesa, cujo T 6 faz uma aterragem de emergência em 1963, na Ilha do Como.

Feito prisioneiro pelo PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à sua libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde.

"Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim..." - são as primeiras palavras deste representant do PAIGC, na altura a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta.

Turpin recorda a seguir os momentos em que, por diversas vezes, visitou o nosso camarada na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que revelaram o melhor da nossa humanidade...

"Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade"... Joseph Turpin agradece ao Lobato as palavras de apreço com ele se referiu à sua pessoa, ao evocar há tempos atrás, em entrevista à rádio, a sua experiência de cativeiro. Agradece o exemplar do livro que o Lobato lhe mandou e que ele leu, com interesse. Diz que ficou sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato. "Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau" - são as últimas palavras, deste homem afável, dirigidas ao teu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada...

O Joseph Turpin insistiu comigo para entregar pessoalmente ao António Lobato esta mensagem. Infelizmente só em setembro de 2008, seis meses depois é que tive oportunidade de divulgar o vídeo no nosso blogue esperando que ele acabasse por chegar ao conhecimento do seu destinatário.

Não tinha, ma altura, como continuo a não ter, nenhum contacto pessoal com o António Lobato, nem sei se ele nos lê, pelo que não posso garantir ao Joseph Turpin que "a carta chegou a Garcia".

Na altura, enviei, para o António Lobato, da minha parte, e da parte dos demais editores, bem como de toda a nossa Tabanca Grande, uma palavra de respeito, camaradagem, solidariedade e apreço. Quanto ao Joseph Turpin, também nunca mais tive notícias dele... Da conversa havida em Bissau, recordo-me de ele me ter dito o seguinte:

(i) O Élisée Turpin era seu tio e foi um dos fundadores do PAIGC;

(ii) O Amílcar Cabral, em Conacri, ficava originalmente em casa do pai do Joseph;

(iii) Os Turpin eram uma família de comerciantes;

(iv) Não falavam português, mas francês - o próprio Joseph aprenderia  o português mais tarde...

Na minha simples qualidade de mensageiro, espero que "a carta tenha chegado a Garcia", neste caso, ao conhecimento do Lobato. Por outro lado, é gratificante saber que a filha do Turpin localizou-nos, viu o vídeo e vai transmitir a notícia ao pai... Mesmo que se tenham passado quatro anos, o que é muito na nossa nova galáxia ...

Posso entretanto concluir: (i) que o Joseph Turpin está vivo (Mantenhas para ele, votos de boa saúde e longa vida!); (ii) que somos lidos/vistos na Guiné-Bissau e em toda a parte; e (iii) que o Mundo é Pequeno e a nossaTabanca... é Grande!... 

Obrigado, Iracema. E viva o povo irmão da Guiné-Bissau!


10 comentários:

Antº Rosinha disse...

Não resisto a emitir uma opinião neste post, sobre os políticos da Guiné-Bissau:

Porque da família Turpin tambem há ou houve no início da democracia em Bissau (1993) um dirigente de um dos partidos criados na altura, poderia ser mesmo este Joseph, e é sobre esta geração do tempo de Amílcar que emito uma opinião só minha:

"Tudo aquilo que estamos assistindo na política actual da Guiné-Bissau, que se pode esperar o pior, até o fim de um PALOP, já era previsto por estes dirigentes guineenses contemporâneos de Amílcar.

No íntimo pensavam eles, que nós portugueses (metrópole) com a política colonial, não os salvaríamos, portanto era melhor tentarem eles salvar a Guiné portuguesa"

Não era apenas um anti-colonialismo ou anti-salazarismo que estava no consciente daquela gente, era mesmo a "salvação" do território independente e deles próprios.

Este sentimento estendia-se tambem aos dirigentes dos movimentos das outras ex-colónias.

Esta opinião é só minha.

Como vi muitos descendentes daquela geração desitirem da "luta", estou pessimista.

João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Graça disse...

Feita a correçõa sugerida... Obrigado ao JCAS e o nosso pedido de desculpas ao António Lobato...Na realidade, o seu T6 não foi abatido, aterrou de emergência no Como, como já aqui descrevemos noutro poste, ada autoria do nosso co-editor Carlos Vinhal:

(...) "No dia 22 de Maio de 1963, houve uma colisão entre dois aviões da FAP, quando em missão de ataque ao solo, na ilha do Como, e após um deles ter sido atingido por fogo IN.

"Depois do toque, um dos aviões despenha-se em plena selva, tendo morrido o piloto e o outro faz uma aterragem de emergência numa bolanha, tendo o piloto sido capturado e maltratado por elementos do PAIGG.

"O sobrevivente, o Sargento Pil Av Lobato, é levado, ferido, para a Guiné Conacri onde lhe é dada a hipótese de escolha entre a deserção da Força Aérea Portuguesa ou a prisão nas cadeias dos PAIGC." (...)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2008/09/guin-6374-p3244-bibliografia-de-uma.html

João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Meus senhores e caro Luis Graça, sem querer entrar em polémicas, há que ter cuidado com as interpretações dadas a este caso.Provavelmente por esta e por outras é que o Lobato e outros não leem nem escrevem no blogue.Perdoem-me mas tenho que o dizer.O T6 do Lobato aquando do ataque ao solo na ilha do Komo sofreu impactos de projecteis no intradorso da asa.Na sequência disso espera que o Casals recupere da sua passagem pelo alvo e solicita-lhe que se aproxime em segurança e verifique
se há algum dano no seu trem de aterragem(T6 do Lobato) ou outra anomalia. É quando poucos segundos depois sente um forte embate e vê o T6 do Casals a subir na vertical e entra a pique em direcção solo na sequência deste embate.O T6 do Lobato com a hélice torcida e a vibrar intensamente,Na impossibilidade de saltar em paraquedas aterra numa bolanha de emergência mas dado os sulcos da mesma imobiliza-se já sem asas.Portanto está aqui preto no branco a realidade contada pelo próprio Lobato.Um abraço
do ex-Força Aérea C.Gaspar

Anónimo disse...

Na sequência do que escrevi atrás, devo dizer que quando escrevi ataque solo, queria dizer ataque ao solo.Devo ainda dizer que o Lobato ao pedir ao Casals para ver se tinha alguma anomalia
na sequência do impacto dos projecteis, redúziu a velocidade e esperou que o Casals se aproximasse em segurança,Ainda na sequência do violento embate e perante o ruido ensurdecedor de "latas" a bater e o motor da sua própria aeronave ameaçar saltar fora dos apoios, ainda gritou ao Casals para endireitar o avião mas sem resposta.Um abraço camarigo, C.Gaspar


Anónimo disse...

Contudo voltando à "vaca fria" passe a expressão, não foi cometida nenhuma incorreção pelo Luis Graça nem nehuma deturpação.O T6 do Lobato sofreu mesmo impactos de projecteis, repito numa missão de ataque ao solo(não de reconhecimento armado).Nesta missão além da parelha de T6 do Lobato e Casals cujo chefe era o Lobato participaram outras parelhas que constituíam esquadrilhas.Uma esquadrilha equivale a quatro aviões e no ataque propriamente dito actuaram as parelhas(grupo de dois aviões) cuja actução é autónoma.Daí o Lobato ser chefe de uma.A bem da verdadeC.Gaspar

Anónimo disse...

Qdo escrevi actução queria dizer actuação, a pressa e a emoção ás vezes
tem destas coisas,As minhas desculpas e que ninguém fique melindrado.C.Gaspar

Anónimo disse...

Isto não sei se é do começo do ano de 2014 ou não, mas não paro de "meditar" sobre o blogue.Aproveito para dizer que o Eduardo Casals era irmão do Jorge Casals Braga, oficial da Marinha que pertenceu aos Fuzos e que salvo erro e omissão comandou o DFE1 em 1973 na Guiné.Provavelmente dirão que isso não interessa para nada, mas lembrei-me pelo parentesco.C.Gaspar

João Carlos Abreu dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.