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domingo, 25 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14187: Em busca de... (252): exemplares de 1970/71 da revista "Presença" do Movimento Nacional Feminino (Júlio César, ex-1º cabo, CCaç 2659, Cacheu e Teixeira Pinto, 1970/71)

Capa da revista Presença, do Movimento Nacional Feminino, edição nº 1, outubro de 1963. Cortesia do blogue Livros Ultramar - Guerra Colonial

1. Mensagem do nosso camarada Júlio César, membro da nossa Tabanca Grande desde Julho de 2007, ex-1º cabo, CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71):

Data: 8 de dezembro de 2014 às 14:30

Assunto: Revistas Literárias


Boa tarde Luís Graça

Lembro-me, muito vagamente ( a memória já me atraiçoa) de ler umas revistas que nos chegavam, (ao Cacheu, em 1970 e 1971) via Movimento Nacional Feminino, nomeadamente o Jornal do Exército e uma outra, Sentinela, creio, onde escrevi um ou outro poema e um ou outro conto/artigo.


Onde poderei arranjar estas Revistas? Será que ainda existem?


Caso o meu querido amigo saiba de algo, agradeço a dica ou então, porque não uma sondagem acerca deste tema.


À tua consideração

Um abraço

Júlio César C. Ferreira

ex-1º cabo, CCaç 2659/BCaç. 2905, Cacheu e Teixeira Pinto 1970 1971

2. Comentário de L.G.:

Júlio, julgo que te queres referir á revista "Presença", essa, sim, editada pelo Movimento Nacional
Feminina, desde 1963, com apoio (subsídios) dos Ministérios da Defesa e do Ultramar.

Fica aqui o nosso apelo aos camaradas, eventuais colecionadores de papeis antigos, do nosso tempo. Pode ser que alguém tenha exemplares da revista "Presença" e até mesmo do Jornal do Exércitom, da época em que estiveste na TO da Guiné (1970/71).

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9373: In Memoriam (105): António da Costa e Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905 (Guiné, 1970/71)

IN MEMORIAM

António da Costa e Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905


1. Mensagem do nossos camarada Júlio César (ex-1º Cabo, CCAÇ 2659/BCAÇ 2905, Cacheu, 1970/71), com data de hoje:

É sempre com muita saudade que recordamos os amigos e de tempos a tempos as más notícias entram na nossa casa como intrusos indesejaveis.

Assim aconteceu ontem, pela voz do camarigo Albuquerque.

Faleceu o Costa e Silva, dizia-me ele com voz sofrida.

António da Costa e Silva, natural de Vila do Conde, sempre muito amigo do “seu” Rio Ave, foi Furriel Miliciano na Companhia de Caçadores 2659, que esteve no Cacheu nos anos de 1970 e 1971, integrada no Batalhão de Caçadores 2905, no sector de Teixeira Pinto.

O seu funeral realiza-se amanhã, pelas 14,30 na Igreja de Nossa Senhora do Desterro, em Vila do Conde

Descansa em Paz, meu bom amigo

Júlio César Ferreira
Ex-1º Cabo da CCaç 2659


2. Os editores e a tertúlia deste Blogue endereçam à enlutada família do nosso camarada Costa e Silva as mais sentidas condolências pela morte do seu ente querido.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9343: In Memoriam (104): Carlos Adrião Geraldes (1941-2012), ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66

terça-feira, 25 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2682: Tabanca Grande (59): Almeida Campos, ex-1.º Cabo Escriturário da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71)




Almeida Campos,
ex-1.º Cabo Escriturário
CCAÇ 2659/BCAÇ 2905
Cacheu, 1970/71



1. Hoje mesmo chegou à nossa caixa de correio esta mensagem de um camarada nosso que quer pertencer à grande família do nosso Blogue.

Prezado camarada,
Os meus cumprimentos

Sou Ângelo Alberto de Almeida Campos, Ex-1.º Cabo Escriturário.
Embarquei em 31 de Janeiro de 1970 para a Guiné (Cacheu), mobilizado pelo BCAÇ 2905/CCAÇ 2659 - RI 2 (Abrantes).

Ao efectuar uma curta viagem ao volante do meu carro ouvindo uma rádio, que agora não sei precisar, falaram num Blog no qual se referia à Guiné e em especial aos ex-combatentes, rápidamente anotei o site.

Ao chegar a casa imediatamente me dirigi ao computador e fiquei espantado com o site.

Os meus parabéns.

Gostaria de me associar ao v/evento enviando fotografias, bem como relatos de acontecimentos, mais própriamente no Cacheu, pois pelo que vi e li pouco há àcerca da Vila do Cacheu.

Julgo que para me relacionar com o Blog terei de enviar no minimo duas fotos pessoais, se me permitirem juntá-las-ei em anexo e se me autorizar enviarei muitas mais, relacionadas com a guerra e alguns camaradas.

Agradecia me informasse se é possivel o envio de mais fotos.

Os meus cumprimentos e mais uma vez parabéns pelo evento.
A.A. Almeida Campos



O Almeida Campos, numa das mais nobres funções dos nossos Cabos Escriturários, recolha e distribuição da tão desejada correspondência.

Foto: © Almeida Campos (2008). Direitos reservados.

2. Hoje mesmo, foi enviada resposta e este novo camarada

Caro Camarada Campos

Em nome dos terulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné estou a receber-te.

Acabaste de entrar na nossa Tabanca Grande, assim reconhecemos o nosso Blogue, composto por ex-combatentes da Guiné, seus familiares e, de um modo geral, por todos aqueles que têm alguma afinidade com a Guiné-Bissau.

Na nossa página, do lado esquerdo, poderás ler os nossos mandamentos (dez normas de conduta) pelos quais nos regemos.
Aqui o tratamento entre camaradas, independentemente dos postos que se tiveram, é por tu. Também não fazemos distinções de classes sociais, pois entre verdadeiros amigos e camaradas isso é irrelevante.

Respeitamos acima de tudo as diferenças de opiniões, discutindo-as com cordialidade e respeito.

Podes mandar as fotos que quiseres desde que devidamente legendadas, não o fizeste desta vez, e de preferência para ilustrar estórias que nos queiras enviar.

Mandar fotos para fazer do Blogue arquivo fotográfico, é mais complicado porque sobrecarrega e fica fora de contexto.
Convém que tenham um mínimo de qualidade para sairem visíveis na nossa página. Pela amostra, vais dar-me trabalho para recuperar algumas delas.

Esperamos pois que nos contes as tuas experiências na Guiné e um pouco da história da tua Unidade.

Já agora, por curiosidade, mandaste uma foto onde se vê um camarada inanimado.
Outra com um milícia (digo eu) a levar julgo que um prisioneiro.
Tens alguma coisa a contar sobre elas?

Como vês, já tens aqui muito para contar.

Vou fazer a tua apresentação, mas não publico as fotos por falta de legendagem.

No teu próximo contacto, basta que mandes as legendas, referindo a que foto pertencem.

Em meu nome, no do Luís Graça, no do Virgínio Briote e dos restantes tertulianos recebe um abraço de boas vindas.

Carlos Vinhal

terça-feira, 10 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1940: O dia de S. Martinho que jamais esquecerei... (Júlio César, CCAÇ 2659, 1970/71)


1. Mensagem do nosso camarada Júlio César, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905, Cacheu, 1970/71, de 4 de Julho, ao editor do blogue:

Escrevi este artigo, relatando uma situação vivida na Guiné, no dia 11 de Novembro de 1970 e que foi publicada em tempos (não sei a data) no Notícias Magazine e que postei no meu blog http://www.cacheu.blogspot.com/

Não sei se serve para alguma coisa.
Deixo isso ao critério meu amigo e permita-me que lhe enderece os meus parabéns pelo excelente trabalho que está a fazer ao escrever a história da Guerra Colonial, na Guiné.

Os meus dados:

Júlio César da Cunha Ferreira
Rua João Pereira Magalhães, 1077
4815-400 Vizela

Ex-1º Cabo 112175/69
Cacheu - Guiné

CCAÇ 2659 - BCAÇ 2905

2. Comentário do co-editor Carlos Vinhal:

No Blogue do nosso camarada Júlio César pode-se tomar conhecimento da história do BCAÇ 2905 com as suas Companhias CCAÇ 2658, 2659, 2660 e CCS.

A CCAÇ 2658 passou por Teixeira Pinto, Bachile, Binar, Paiama, Paúnca e Pirada;
A CCAÇ 2659 por sua vez esteve colocada no Cacheu;
A CCAÇ 2660, assim como a CCS, estiveram sediadas em Teixeira Pinto.

No Blogue há ainda a notícia da deslocação de um grupo de ex-militares deste Batalhão à Guiné-Bissau em Maio de 1996.
Podemos ainda encontrar notícias sobre os convívios das Companhias e dos aniversários de companheiros de luta que o tempo não separou.

Como diz o Júlio, alguns já partiram e outros não dão notícias. Quem se encontra periodicamente, fá-lo com alegria.



Guiné-Bissau > Caheu > Maio de 1996 - Regresso ao passado: Todos juntinhos para a fotografia (Em 1996, um grupo de ex-combatentes do BCAÇ 2905, visitaram a Guiné: Júlio, Costa e Silva e Magalhães, da CCAÇ 2659; Virgílio, Mourão e Barbosa, da CCAÇ 2660; Aristoteles, Albuquerque e Acácio, da CCS).


Convívio do pesoal do BCAÇ 2905 > Corte do tradicional e indispensável bolo comemorativo de um dos encontros

De entre as publicações que se podem encontrar no Blogue do nosso camarada, salientamos uma que tem o título No dia de S.Martinho que o nosso Blogue dá a conhecer à Tabanca Grande, com a devida vénia ao seu autor.
CV


3. No dia de S. Martinho, por Júlio César

A Operação

Saíram já depois da meia-noite. Na tentativa de ludibriar o IN que, sabíamos, espiava os nossos movimentos, o Primeiro e Terceiro Grupos de Combate da Companhia de Caçadores 2659, que estava sediada em Cacheu (Guiné) - pertencente ao BCAÇ 2905, este com a sua sede em Teixeira Pinto, hoje Canchungo - saíram em direcção a Mata e Bianga, duas tabancas normalmente inofensivas e amigas, inflectindo, já no meio da bolanha, para Pjangali, principal objectivo da Operação.

Conhecia perfeitamente a zona para onde iam e sabia também o perigo que corriam. Já tinha passado por lá muitas vezes e... sabia que ali havia sempre porrada. A marcha tinha de ser lenta e silenciosa pelo meio do capim a ficar seco, cobrindo as nossas cabeças, com as formigas enormes como baratas a entrarem pelo tronco, pescoço e pernas, por todo o lado por onde pudessem penetrar, dando ferroadas de morte, de modo que, muitas vezes, quando sacudidas de forma enérgica, puxando por elas, ficava a cabeça cravada nos nossos braços e pernas.

A bolanha, ainda não muito seca, era outro obstáculo a ultrapassar. A cada passo as pernas enterravam-se no lodo negro e malcheiroso, com a arma e munições numa rodilha à cabeça, preservando a sua funcionalidade. A ração de combate, único alimento para aquele dia, já tinha ficado nos primeiros metros da bolanha, perdida no lodo por entre milhares de minúsculos caranguejos e outros pequenos bichinhos, repugnantes e viscosos, que subiam por todo o corpo.

A manhã despontava, naquele dia 11 de Novembro de 1970, dia de S. Martinho. Era hora de descansar um pouco, retemperar forças antes de seguir para o objectivo.

Pouco passaria do meio-dia, quando chegaram à clareira que defendia as tabancas de Pjangali.
Rastejando como cobras por entre pequenos tufos de erva, os rapazes do Primeiro e Terceiro Grupos de Combate aproximaram-se lentamente das tabancas. De uma delas, bem no centro da aldeia, saía fumo e umas quantas galinhas debicavam aqui e ali, certeza que ali se encontrava alguém. As ordens tinham sido muito claras e cada um sabia o que tinha a fazer.
Completaram o envolvimento e entraram na aldeia sem que se ouvisse um único tiro. Cautelosamente, abrigados, com um grupo de homens protegendo a rectaguarda, avançaram até à primeira tabanca e entraram de rompante. Lá dentro, com um ar um tanto surpreendido, um homem grande olhava-os com o medo estampado no olhar.

Vendo que não havia perigo, os homens da Companhia avançaram. A princípio, cautelosamente, para logo depois descomprimirem. O alvoroço de galinhas e porcos obrigou a aparecer crianças, homens e mulheres, estes já velhos, sinal inequívoco que os mais jovens andariam em sortidas com os guerrilheiros.
Apareciam de todos os lados, garantia que, apesar de todas as cautelas tomadas, tinham sido previamente detectados. Foram interrogados pelo Comandante da Operação e, valendo-se de um dos guias, numa mistura de crioulo, manjaco e balanta, foram sabendo que já há vários dias que ali não aparecia ninguém e que eram só aqueles os habitantes da tabanca. Abivacaram mesmo ali e as rações de combate que alguns deles, felizmente, ainda traziam, foram repartidas pelos nativos, enquanto o cabo enfermeiro curava algumas feridas e distribuía mezinha entre eles.

O regresso

Eram horas de regressar e após contacto com a base receberam instruções para seguirem por Mata e Bianga.

Seriam cerca das seis horas da tarde quando os camaradas que ficaram no aquartelamento, os viram a atravessar a pista de aterragem. Pouco depois entravam pela porta que dava para o cemitério da povoação nativa por entre gritos de júbilo e de boas vindas dos que ficaram e que queriam saber como decorrera a Operação. Vinham todos... cansados, mas sorridentes. E, não era para menos. Não era a primeira vez que se ia para aquela zona e todos sabiam que ali era costume embrulhar. Além disso, era dia de S. Martinho e tudo estava preparado para uma grande festa, como era da praxe, em dias marcantes do nosso calendário!

A tragédia

Fiquei por ali um pouco, trocando impressões com o comandante da operação, sabendo como decorrera, quando uma forte explosão nos atirou por terra.
Pensámos que era um ataque ao aquartelamento que, afinal era costume, ao final da tarde, quando gritos lancinantes e uma núvem de poeira e estilhaços varreram toda a parada. Apercebi-me logo que algo de muito grave tinha acontecido e corri para o abrigo do Primeiro Grupo de Combate.
Por entre a poeira, correrias em pânico e muitos gritos (que ainda oiço muitas vezes) vi muitos dos nossos camaradas contorcendo-se por entre gritos de dor, tentando estancar o sangue que lhes saía de várias feridas espalhadas pelo corpo. Num rápido olhar avaliei a situação e vi um deles – o cabo Malheiro – que era o que estava mais perto da entrada, muito ferido. Peguei nele e vi, horrorizado, que as duas pernas, do joelho para baixo, tinham desaparecido. O sangue saía aos borbotões daqueles cotos, com a pele em fiapos, com músculos, veias e artérias como se tivessem sido cortados com uma serra velha. Sangue e mais sangue!!!

Tentei manter a serenidade e, com outros camaradas, corremos, gritando para afugentar o pânico, transportando-o, em cadeirinha até à enfermaria, onde os enfermeiros se afadigavam, tentando por todos os meios estancar o sangue que se esvaía das feridas abertas. As compressas e ligaduras depressa ficaram ensopadas em sangue, até que se esgotaram.

Peguei nele e vi, horrorizado, que as duas pernas, do joelho para baixo, tinham desaparecido
Pouco depois descobrimos outro ferido grave. Estava num local mais afastado do abrigo. Segurava a barriga com um esgar de medo e dor. Um buraco enorme, onde cabiam dois punhos cerrados, deixava ver parte das suas entranhas. Era horrível!

Entretanto caía a noite no Cacheu (na Guiné, depois das 18 horas é já noite). Os homens do Posto de Rádio afadigavam-se pedindo por socorro e o Capitão gritava para Bissau chamando a evacuação de dois feridos graves.
Às desculpas de que, de noite, não podia levantar qualquer avião ou helicóptero, por falta de visibilidade, o nosso Capitão respondia que iluminava a pista com todas as viaturas do quartel e, assim se fez, mesmo sem se ter a certeza da chegada de socorros.

Naquela guerra era proibido morrer ou ser ferido durante a noite... Cerca das oito horas da noite, o Primeiro-Cabo Malheiro morria, esvaído em sangue por falta de assistência (porque os aviões de socorro não podem voar de noite...) não obstante todos os esforços para o manter vivo.
Uma onda de raiva e impotência varreu toda a CCAÇ 2659. Chorava-se pelos cantos e vociferava-se contra os senhores de Bissau que, no conforto do ar condicionado, se estavam marimbando para os camaradas que morriam no mato. O Capitão, no Posto de Rádio, desalentado, horrorizado pela falta de socorro, gritava com Bissau, dizendo para trazerem, não um, mas vários caixões.

Eram 10 horas da noite quando as viaturas que estavam na pista, com todos os faróis acesos, pondo a pista como se fosse dia, receberam ordens para regressar.

Tinha falecido o outro ferido grave – o soldado Marques – que, por malvadez do destino, se encontrava no local errado. Ele que, embora pertencesse ao Primeiro Grupo de Combate, tinha sido dispensado daquela operação. Ele que deveria regressar à Metrópole dentro de dias. A doença que lhe fora detectada, tinha-o dispensado do serviço. Ele, que já tinha escrito à família, dizendo que se ia embora... Ele, que até já tinha feito o espólio e trajava já à civil!!!
Ninguém dormiu nessa noite. A dor e a raiva eram demasiadas.

Naquela guerra era proibido morrer ou ser ferido durante a noite...

De manhã cedo, a DO começou a sobrevoar o aquartelamento e o Valente, de Vilar de Mouros, com os olhos ainda cheios de lágrimas de raiva, correu para a Breda e disparou vários tiros de desespero contra a avioneta. Eram balas de dor, de raiva, de impotência, de desespero. Chamado à razão, corremos para a pista e, quando a DO aterrou, foi difícil conter a ira de muitos de nós e o piloto foi cuspido, insultado e pontapeado. Felizmente, alguns mais serenos, conseguiram ouvir a voz do nosso Capitão, chamando-os à razão. O piloto de nada sabia. Tinha entrado de serviço naquela manhã.

Mais tarde, já durante o dia, enquanto deambulávamos por ali, soubemos o que se tinha passado.
O Cabo Malheiro – o primeiro a morrer – que era portador da Bazooka, ao entrar no abrigo, colocou-a de encontro à parede com a saída para baixo. A mola que, normalmente, segura a granada estava avariada (como quase tudo naquela guerra...) e a granada caiu no chão, explodindo de seguida. Dos outros feridos graves, só o Mendes, de Riba d’ Ave, é que teve de ser evacuado.

Encontramo-nos uma ou duas vezes por ano. Não tem problemas de maior, depois de andar vários anos à espera que os estilhaços (não sei se já lhe saíram???) lhe saíssem todos. Nunca falamos do que aconteceu. É duro demais para relembrar...

PS - Alterei os nomes dos dois camaradas mortos. O respeito pelo sofrimento das famílias assim o impõe.

(Publicado no Notícias Magazine n.º 331 de 27 de Setembro de 1998> "Experiências de Guerra”)

Júlio César
Observ - Subtítulos da responsabilidade do co-editor CV.

sábado, 7 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1931: Tabanca Grande (24): Júlio César, ex-1º Cabo, CCAÇ 2659 do BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71)




1. Mensagem do camarada Júlio César, de 28 de Junho, ao editor do Blogue Luís Graça


As minhas desculpas pela incipiência...em termos destas coisas da Net.
Com um abraço amigo

Júlio César da Cunha Ferreira
Rua João Pereira Magalhães, 1077
4815-400 Vizela

Ex-1º Cabo da CCAÇ 2659, do BCAÇ 2905

Cacheu e Teixeira Pinto, desde Janeiro de 1970 a Dezembro de 1971
Blog do BCAÇ 2905 > http://www.cacheu.blogspot.com/

2. Resposta do editor, em 5 de Julho:

Júlio:
Excelente exemplo. Vamos falar do teu blogue, ou melhor,do blogue do teu batalhão, que tu criaste e manténs, com dinamismo e competência. De vez em quando vou-te lá roubar algumas coisas, se não te importares (e citando sempre a fonte)... Espero que queiras entrar para a nossa Tabanca Grande....
Um abraço.
Luís Graça.





3. Nova mensagem, de 5 de Julho, do camarada Júlio César Ferreira:

Tenho todo o prazer em participar na Tertúlia ou Tabanca Grande...se para tanto me sobrar o engenho e a arte... Basta que me digas o que devo fazer.

Para já envio o artigo que me refiro abaixo (que julgo não ter enviado), em formato Word (1), e duas fotos minhas: uma delas ao tempo da Guerra Colonial, em Dezembro de 1970 e uma outra mais ou menos actualizada.

Pertenci ao Batalhão de Caçadores 2905 que estava sediado em Teixeira Pinto e à CCAÇ 2659, que por sua vez esteve no Cacheu.

Dessa Companhia, dois pelotões foram para Teixeira Pinto em Março/Abril até Junho de 1971, fazer a segurança à equipa de capinadores da nova estrada Teixeira Pinto-Cacheu (estrada que em 1996, pude percorrer aquando da minha visita à Guiné).

Desde 1991 que os elementos deste Batalhão se encontram no sábado mais próximo ao dia 8 de Dezembro (data em que chegámos a Lisboa em 1971), em alegres confraternizações. Infelizmente, muitos dos antigos camaradas não têm dado sinal de vida, o que se lamenta.

Um abraço amigo

Júlio César Ferreira
ex-1º cabo

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Nota de C.V.:

(1) Artigo, sob o título Experiências de guerra, da autoria do Júlio César, publicado originalmente no Notícias Magazine. Será republicado no nosso blogue, muito proximamente.