Guiné >Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma bela bajuda local, numa das 150 fotos de Guileje que nos deixou o saudoso Cap SGE ref Zé Neto (1927-2007), o nosso primeiro grã-tabanqueiro a deixar a Terra da Alegria...
Enquanto que as feministas da Europa, do pós-Maio de 1968, queimavam os seus sutiãs, símbolo do sexismo e opressão falocrática, na Guiné, o supremo luxo, para as nossas queridas bajudas, era ostentar um corpinho (sutiã), como este que se vê na foto... Farto, largo, colorido...
O "alfero Cabral" foi o primeiro dos "régulos" da Guiné a dar-se conta desta tendência comportamental da mulher guineense...Um "corpinho" era "manga de ronco"!
O nosso inimitável, impagável e inbstituível Jorge Cabral deixou-nos há 3 anos, em 28 de dezembro de 2021. Faz-nos muita falta. E deixou um rasto de saudade.A melhor maneira de o recordar é ler ou reler as "estórias cabralianas". Esta que republicamos é simplesmente genial (*). Lembro-me de ele me ter confidenciado que comprou os sutiãs para as bajudas, quando veio de férias, logo no princípio de 1970, nos Armazéns Grandella (no conto, é o Armazém Fama, na Calçada do Garcia, também na zona do Rossio).
Foto (e legenda) © José Neto (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotograma do vídeo do Jorge Cabral (Lisboa, 1944 - Cascais, 2021), de apresentação do vol I de livro de contos, "Estórias Cabralianas", em Lisboa, no Jardim Constantino, em 29 de outubro de 2020, um ano e dois meses antes de morrer.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
Humor de caserna > A festa do corpinho...
por Jorge Cabral (1944-2021)
[ex-alf mil at art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]
O Marinho era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá [antiga estação agronómica], desde os anos 50. Embora existisse uma estrada para Bissaque (a norte de Fá Mandinga, na margem esquerda do Geba Estreito), o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do inimigo ter retirado [flagelação a Bissaque, aldeia balamta sob duplo controlo, em 18 de dezembro de 1969].
O ataque, referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei-lhe alguns pormenores (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca [BCAÇ 2852, 1968/70] (**).
Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a tabanca, numa ação socioerótica [...]
Habituado às bajudas mandingas, verifiquei [...] a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito etnicomamário.
A fim de me redimir, em janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 38 corpinhos (sutiãs) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses.
Coincidência? Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 38 sutiãs de todos os tamanhos e cores.
Coincidência? Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 38 sutiãs de todos os tamanhos e cores.
Regressado à Guiné, em plena Tabanca de Fá Mandinga, organizei a festa do corpinho, para a alegria das bajudas, que envergaram o seu primeiro sutiã. Tivesse esta história acontecido nos dias de hoje, e certamente sentiria dificuldades no aeroporto, até porque os sutiãs constituíam a minha única bagagem.
Armas secretas? Indícios de terrorismo? Não sei, mesmo, se não teria ido parar a... Guantanamo [ prisão militar norte-americana, que faz parte integrante da Base Naval da Baía de Guantánamo, em Cuba].
In: Jorge Cabral - "Estórias Cabralianas". Lisboa: ed. José Almendra, 2020, pp. 59-60 (com a devida vénia...).
(Seleção, revisão / fixação de texto, parênteses retos, negritos e itálicos: LG)
(*) Último poste da série > 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26280: Humor de caserna (88): Será que no Pu...erto, no Natal de 2024, ainda se fala "grosso" como no nosso tempo da tropa ? Aqui vai um excerto do "dicionário Lisboa-Porto" (com a devida vénia ao doutor José João Almeida, da Universidade do Minho, autor desse livro meritório e patriótico , que é o "Dicionário de Calão e Expressões Idiomáticas", Lx., Guerra e Paz, 2019, 192 pp.)
(**) Vd. poste de 28 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P379: Estórias cabralianas: 'turras brancos' em Bissaque, uma ficcção cabraliana (Jorge Cabral)
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Notas do editor: