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sábado, 24 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25876: Os nossos seres, saberes e lazeres (642): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (167): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 6 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Pus-me ao caminho, regresso de Figueiró dos Vinhos em direção a Tomar, primeiro pelo IC8, aproveito as boleias que dá à autoestrada, vou até Alvaiázere, e depois Tomar, são tudo territórios da interioridade, a romagem a que me propus culmina da visita à Charola do Convento de Cristo que teve limpeza no exterior e brilha ao Sol. É dessa viagem que perguntas sem resposta, sobraçando um livro de Paulo Pereira sobre o Convento de Cristo que ali estive sentado a extasiar-me com a Charola e o Portal Sul, pois cativa-me estar diante de uma das mais intrincadas peças da arquitetura peninsular, aqui há estilos que vão do românico ao gótico, do gótico ao manuelino e deste ao primeiro renascimento e ao maneirismo do tempo dos reis Filipes, tenho dúvidas que exista outro monumento com tal caligrafia de estilos em sequência diacrónica. A romagem está feita, impõe-se o desejo de voltar, enquanto houver forças, há sempre o ir e o voltar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (167):
Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior – 6


Mário Beja Santos

Quando ia para Casal dos Matos, na viragem do século, bordejava a cidade de Tomar, seguia pelo IC3 até apanhar o IC8, e daqui, entre Figueiró dos Vinhos e a vila de Pedrógão Grande, infletia no Outeiro do Nodeirinho, Figueira, e chegava àquela casinha toda reabilitada de que guardo imensa saudade. Já nessa altura dava para perceber onde estava a fronteira da interioridade, pelo IC3 viam-se as casas abandonadas, os campos expetantes, a evidência dos sinais do abandono; a confirmação chegava quando se andava por aquelas pequenas estradas com portões datados dos anos 1950 e anos 1960, do modo geral as casas em ruína. Há para ali uma autoestrada agora com SCUTs, são raros os carros que por ali circulam, mas é uma viagem que nos elucida sobre os tais abandonos que parecem irreversível e os sinais de quem recuperou o casario, mas a interioridade é indisfarçável.

É a pensar no que mudou neste quarto de século que vou a caminho da última etapa desta romagem de saudade, já que tive casa bem perto de Tomar, que troquei com a de Casal de Matos, gosto imenso do aprazimento de Tomar, da escala contida dos edifícios e do seu impressionante património, aqui faço escala para ver um dos mais belos edifícios do património português, a Charola, que está de cara lavada.

Entro no Castelo e continuo com dúvidas por resolver, aquele Castelo possui a melhor tecnologia do seu tempo, imaginaram aquele alambor que impede a escalada das muralhas, a fortificação é sólida em todos os seus lados, lá dentro está a Charola templária, tudo em estilo românico, bem perto da Charola os pequenos claustros góticos do tempo do Infante D. Henrique, como só vejo os claustros questiono onde vivia o Navegador, não consigo obter resposta, sei que houve um paço, das janelas do claustros só vejo pedras no chão, todas aquelas muralhas rasgadas de janelas levam ao pressentimento de que houve para ali habitação, consta que o Infante aqui viveu e num ponto mais ermo a rainha viúva de D. João III, D. Catarina de Áustria, mas aonde?

Rendo-me ao facto de ter diante dos olhos o mais rico depoimento arquitetónico português, o românico, o gótico, o manuelino, o primeiro renascimento, o maneirismo, tudo em sequência, em paredes meias. Por aqui andou D. Afonso Henriques que se dava bem com o Grão-Mestre templário, Gualdim Pais, era a Reconquista Cristã, os guerreiros monges defendiam toda esta linha do Tejo, como atesta o Castelo de Almourol. Diz a historiografia que foi D. Gualdim, que andou uns bons anos em Cuzada lá para Jerusalém, que escolheu este ponto, a Charola iniciou-se por volta de 1160 e concluiu-se em 1250. É um dos monumentos mais importantes de planta centrada de tradição templária.

É o que hoje me trouxe a este ponto alto de Tomar, a Charola, com a sua estrutura cilíndrica e aquele assombroso interior liturgicamente configurado por uma planta circular, octogonal pelo interior (o tambor central possui oito faces) e no exterior possui panos reforçados por sólidos contrafortes, as imagens tiradas permitem ver que foram eliminados dois desses contrafortes para construir aquele fabuloso Portal Sul, construção manuelina.

Há muita especulação sobre o mítico e o místico da Charola. Que se terá pretendido reproduzir a imagem, o desenho do Santo Sepulcro de Jerusalém, edifício de planta circular; que possuiu uma retórica figurativa que guarda os seus códigos secretos; e há quem especule de igual modo quanto aos códigos manuelinos e já não falo das mil e uma interpretações dos elementos constitutivos da mais bela janela que há em Portugal, a Janela do Capítulo.

Sinto-me feliz por aqui acabar esta romagem, empolga-me a Charola, admiro-a sem mística nem mito, é um empreendimento religioso que fez o seu tempo, D. Manuel tornou o seu interior num empolgante espetáculo cromático, não se pode entrar e admirar o interior da Charola sem ficar esmagado com tal e tanto esplendor. Passo em revista algumas dessas imagens da minha permanente admiração, sempre a perguntar-me onde viveu o Infante D. Henrique e a tal rainha viúva, aquelas pedras no chão não em dão resposta… Vamos então aos pormenores ligados ao fecho da romagem de saudade a sítios que tanto me tocam ao coração.
Arruma-se o carro e fica-se especado diante de muralhas tão imponentes, dá para perceber imediatamente que já não há habitação, fica por saber como desapareceram e porquê tais construções, o que resta é mesmo a imponência da pedra e o vazio do seu interior à mostra.
A porta de entrada no Castelo de Tomar, lá no alto o silêncio do paço régio desmoronado
Propositadamente vim atrás para que se possa ver um detalhe do alambor e a torre da velha igreja que também desapareceu
Sim, a Charola beneficia da alvura de toda a sua pedra, quem a contempla também se questiona sobre aquele cubo lá ao fundo à direita, goste-se ou não, não traz qualquer benefício estético à Charola, aliás há aqui outros pormenores para os quais não se tem resposta, elevou-se a escadaria, é graciosa, contudo há aquele muro quase colado à torre sineira que subtrai um olhar desafogado sobre tão bela construção, e faz pena.
Dá perfeitamente para ver que houve dois momentos da construção, como escreve o historiador Paulo Pereira: “O aparelho dos muros é alvenaria miúda até ao primeiro andar, sendo daí para cima em silharia aparelhada, o que assinala dois momentos de construção: o primeiro do último quarto do século XII até cerca de 1190, altura em que as obras terão sido interrompidas quando se verificaram graves escaramuças entre portugueses e Almóadas; o segundo corresponderá à finalização do templo, por volta de 1250.”
Vê-se nitidamente como o rei D. Manuel quis associar o seu projeto religioso à antiga Charola. Olhando todo este Portal Sul vê-se à vista desarmada que o monarca tinha o seu projeto imperial. O historiador Paulo Pereira fala na identificação mítica do rei D. Manuel com os reis magos com o Emmanuel das escrituras, com David e Salomão, admite uma conotação salomónica da Charola e da igreja do Convento de Cristo. O que nós vemos neste Portal Sul é o deslumbramento religioso, a Virgem com o Menino, uma série de figuras instaladas em mísulas, figuras do Novo e do Velho Testamento, pensamos nos Jerónimos, mas aqui o que é de mais tocante é esta igreja estar diretamente ligada a uma construção que evoca Jerusalém, e temos em frente uma casa do Capítulo que nunca foi acabada e foi neste espaço que Filipe II, em 1581, foi aclamado como rei de Portugal.
Despeço-me do leitor com esta imagem que recorda os dois claustros góticos do tempo do Infante D. Henrique, o do Cemitério e o das Lavagens, houve depois uns restauros no século XX, mas a pergunta continua sem resposta, onde era o paço do Infante D. Henrique, o Navegador não tinha acomodações? E com esta pergunta sem resposta findo uma romagem de saudade que me lavou a alma.

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Nota do editor

Último post da série de 17 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25850: Os nossos seres, saberes e lazeres (641): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (166): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 5 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...


Foto nº 6 > Tavira > CISMI > Recruta > 2º turno 1972 Ao centro o Machado; o camarada da esquerda não recordo o nome; eu, à direita, de óculos.




Foto nº 7 > Tavira > CISMI > 1972 > Quando acabei a especialidade (atirador).



Foto nº 8 > Elvas > BC 8 > A dar recruta 4º turno 1972 [os pelotões eram numerosos, contam-se aqui quase meia centena de homens; o Cruz é o oitavo da fila de pé, a contar da direita]



Foto nº 9 > Tomar > RI 15 > 1973 : A formar o BCAÇ 4513/72 mobilizado para a Guiné: eu e o Victor Domingues com o nosso aspirante Jorge, no meio, de blusão, a formar o 3º pelotão da 1ª companhia.



Foto nº 10> T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: da esquerda para a direita, Raposo, Cruz, Victor Domingues e Félix.



Foto nº 11 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: O pessoal a dar ao dente a bordo do Uíge: da esquerda para a direita, Loução, Félix, Baeta e o outro camarada não recordo o nome.


Foto nº 12 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: à minha direita, o Félix e à esquerda o Victor Domingues.



Foto nº 13 T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: - No Uíge com o Félix

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (*).  Já em 2014 tínhamos descoberto a sua página do Facebbok, e publicámos dois postes. Já  na altura fizemos o convite, formal, para se juntar ao nosso blogue,  o que veio acontecer agora: é o novo membro, nº 880 da Tabanca Grande (**).

Ele fez o percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge, conforme documenta as fotos acima publicadas... E depois Bolama (CIM),  de acodo com o próximo poste.

sábado, 18 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24152: Os nossos seres, saberes e lazeres (561): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Março de 2023:

Queridos amigos,
Devido a uma colaboração permanente que levo no jornal "O Templário", de Tomar, procuro inteirar-me da história da Ordem de Cristo, sucessora da do Templo. D. Dinis foi de uma grande habilidade diplomática, estabeleceu acordos com os outros Estados ibéricos no sentido de não permitir quaisquer desvios dos bens patrimoniais templários. Alegou a Roma que necessitava de uma Ordem de guerreiros monges destinados a travar, a fazer recuar e mesmo a erradicar inimigos da Cristandade, justificando os permanentes assédios sarracenos e magrebinos nas costas algarvias, e a existência do Reino de Granada, marcadamente hostil. A nova ordem foi aprovada e sediou-se por mais de três décadas em Castro Marim, em meados do século já estava implantada em Tomar, será aqui, na Administração do Infante D. Henrique, que a Ordem e os seus bens terão um papel chave na primeira etapa dos Descobrimentos. Como veremos adiante, Castro Marim tem muito para contar sobre o seu primeiro período da existência, como esta interessantíssima exposição revela.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94):
Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1)


Mário Beja Santos

É bom ter amigos em Tavira e que nos acolhem admiravelmente, sempre solícitos a mostrar as mudanças, algumas que nos enternecem muito, há para ali intervenções patrimoniais que nos merecem muito respeito, outras não tanto, derrubou-se o velho cinema e alterando completamente a escala está a erguer-se mais um daqueles centros culturais para encher o olho, cirandando à volta das muralhas (Tavira vista do jardim do castelo é um desafogo panorâmico, por ali se pode ver o ADN de um lugar por onde se cruzaram tais e tantas civilizações) fiquei de boca aberta a ver junto a um belo pano de muralha um calhamaço que seguramente vai ser hotel ou apartamento luxuoso, continuo a não entender os maltratos à volta de monumentos nacionais, é-me inexplicável esta ganância, este gosto pela ostentação, roubando aos munícipes e aos visitantes vistas de alto valor histórico – e chamam a isto progresso.
É bom caminhar por estas ruas antigas, indo conversando com amigos quanto aos propósitos desta visita que incluem Castro Marim, lá no castelo, dentro de um templo religioso, que já deixou de o ser, consta uma exposição sobre a história da Ordem de Cristo naquele ponto no então Reino do Algarve, lá iremos seguidamente, primeiro matar saudades de Tavira, visitar inclusivamente aquelas lojas de ajuda humanitária a que se entregam sobretudo os ingleses, metem para ali objetos que nas suas casas perderam préstimo, quem compra, compra barato, e as receitas do mealheiro são para ajudar quem precisa, dali saio alegre e feliz com um bom número de discos de música clássica comprado à pataco.
Pois bem, vamos subir ao jardim do castelo, é um dos pontos mais aprazíveis para ver o que se passa em Tavira e arredores.

Um dos aspetos que mais me atraem é esta circunvizinhança habitacional, paredes meias com o castelo, não sei se os historiadores se arrepiam com esta vista, sinto-me bem com este edificado, estes telhados de quatro águas, esta intimidade que não consigo ver como intrusão, embora admita que nos dias de hoje que por razão de tal plano levaria à queda de uma idealidade…
É inverno, mas há para aqui uma planta a enfeitar a pérgola, ninguém me disse exatamente o seu nome, facto é que quem anda por este jardim se delicia com a vista de tal florescência em tempos de flora adormecida. Que encanto para os olhos!
Uma vista de Tavira e logo nos ocorre a civilização árabe, o olhar espraia-se até ao fundo, ali espreita o oceano e bem perto podemo-nos encantar com o que oferece a Ria Formosa.
Há um hotel em Tavira que tem no subterrâneo vestígios de um bairro almóada, imagine-se, tudo agora bem preservado, pede-se licença na receção e lá ingressamos no mundo árabe, ou suas reminiscências (há aqui vestígios de trocas comerciais posteriores), o que há para ver é frugal, mas está altamente preservado. Aqui está a memória do trabalho arqueológico, depois de concluído deu-se vida ao hotel.
O que temos aqui são os achados arqueológicos e a organização do espaço, o que resta de um lugar que foi habitado por gente almóada, sabe-se lá o que depois aconteceu, ficaram estas estruturas e algumas lembranças daquilo a que nós pomposamente chamamos a civilização árabe e o que depois dela sobreviveu.
De Castro Marim olhando as salinas e a agricultura na orla do barrocal
Era um dia claro, temperatura amena, mas, de súbito, apareceram nuvens encasteladas no horizonte, a luz perdeu um certo brilho, mas aquele céu um tanto atemorizante prendeu a atenção de quem o fotografou… e o produto final não o desiludiu.
O Forte de S. Sebastião (ponto culminante da vigilância contra eventuais intrusões espanholas, na Guerra da Restauração) e um pormenor do centro da vila de Castro Marim, imagem tirada do castelo.
Uma vitrina do Núcleo Arqueológico do Castelo de Castro Marim
Outro pormenor das salinas entre o castelo e a garridice das cores do casario à sua beira
Já estou no Castelo de Castro Marim, é um ponto alto de uma colina que é sobranceira ao Guadiana, aqui em 1319 houve sede da Ordem de Cristo, graças aos esforços diplomáticos de D. Dinis, socorreu-se de alianças ibéricas para não deixar de sair o rico património da Ordem do Templo, depois daquele miserável processo movido aos monges guerreiros que tinham fortunas, que emprestavam dinheiro a reis e que pagaram bem caro o serviço que prestaram à Cristandade no seu tempo. O monarca justificou a razão de ser desta Ordem aqui em Castro Marim dando razões compreensíveis, o Reino de Granada na vizinhança e a pirataria magrebina a encher de pânico a costa algarvia. Foi sede durante décadas (até 1356), depois seguiu para Tomar. Frente a este castelo está o Forte de S. Sebastião, desempenhou o seu papel na Guerra da Restauração. Diga-se em abono da verdade que Castro Marim merece uma cuidada visita, está cercada de belíssimo de património cultural, faz parte da Rede Nacional das Áreas Protegidas e a Rede Natura 2000, permite passeios pedestres muito belos, os amantes da natureza têm ali ao seu dispor belos troços da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, os amantes da praia também não se sentem desiludidos e convém recordar que as salinas ocupam mais de 580 hectares da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Vamos visitar a exposição e andar por aí, já pedi a quem me acompanha para ir ver a estátua do Marquês de Pombal, de José Cutileiro, em Vila Real de Santo António.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de > Guiné 61/74 - P24136: Os nossos seres, saberes e lazeres (560): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (93): Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 12 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23162: In Memoriam (434): Sargento Ajudante Manuel Gomes Valente (1938-2022), que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné integrado no BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71

IN MEMORIAM



1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/DEZ 1971, com data de 10 de Abril de 2022:

Caros amigos
Votos de ótima saúde.

Venho ao contacto para referir uma triste notícia. Mais um camarada que nos deixou. Foi o Sarg. Manuel Valente que pertenceu ao BCaç 2885 sediado em Mansoa e que residia em Tomar.

Tive conhecimento no âmbito da atividade profissional, pelo ex-Furriel Silva, também ele residente na zona de Tomar e que também pertenceu ao B Caç 2885.
Fiquei surpreendido com a notícia, pois ainda há pouco tempo tínhamos falado, o que não era infrequente, tendo desenvolvido uma relação de amizade desde a minha chegada a Tomar em 1983.

O cerco vai-se apertando.

Aqui ficam expressas as minhas condolências.

Um abraço
Ernestino Caniço


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2. À família do nosso camarada Manuel Valente, a tertúlia deste blogue, assim como os seus editores e colaboradores permanentes, apresentam as suas mais sentidas condolências.
Aos camaradas do BCAÇ 2885, o nosso abraço solidário pela perda do seu companheiro de jornada em terras da Guiné entre 1969 e 1971.

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23100: In Memoriam (433): Joaquim Bonifácio Brito (1950-2022), um Tigre do Cumbijã (CCAV 8351, 1972/74), que ficou em Bissau até à guerra civil de 1998, como empresário na área da restauração, e que agora vivia no Algarve (Joaquim Costa)

sábado, 19 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23093: Os nossos seres, saberes e lazeres (497): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (42): Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Aqui se completa a viagem, de Cernache do Bonjardim até à Sertã, o pretexto fora a segunda dose da vacina e um afeto dilatado que tem pelo menos um quarto de século, quando começaram as digressões a partir da Serra da Lousã até Pedrógão Grande e depois o deslumbramento com todo este coberto florestal, sentindo que há um património injustificadamente ignorado. As vilas são aprazíveis, as redes rodoviárias de muito boa qualidade, a gastronomia de arromba, as praias fluviais acarinhadas, bons parques de campismo, impressiona o desvelo com que se trata o património religioso, há esforço cultural para trazer até à Sertã uma alargada mundividência, é o que acontece com uma iniciativa peculiar que dá pelo nome de Maratona de Leitura e que pôs a Sertã no mapa dos importantes eventos culturais. E para que se julgue o valor do seu património edificado, recorda-se que já se falou do edifício autárquico gizado por Cassiano Branco, e o leitor seguramente tomará nota de que vale a pena visitar a Igreja da Misericórdia e andar de boca aberta a contemplar a Igreja Matriz, merecedora do epíteto de estar entre as mais belas Igrejas de Portugal.

Um abraço do
Mário



Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (2)

Mário Beja Santos

Pode dizer-se sem exagero que Cernache do Bonjardim acaba por ser uma capital da missionação no nosso país. Tudo começou em 1791, no velho Parque e Paços de Bonjardim arranjou-se espaço para a edificação de um seminário ajustado às necessidades do Grão-Priorado do Crato, mais tarde sairão daqui sacerdotes para as missões da China e temos um novo período da vida da instituição, torna-se no Colégio das Missões Ultramarinas (1855-1911). Cernache deixava de se confinar às missões do Oriente, agora tinha a ver com as missões ultramarinas do Padroado português, e ficava sob a alçada do Estado. Não lhe foi indiferente o que se estava a passar na constituição do III Império Português e o aumento da presença em África, e por isso o colégio formava levas cada vez maiores de alunos e missionários. Segue-se outro período, o da República, com uma nova orientação, a laicização, passava a estar destinado à propaganda civilizadora nas colónias portuguesas, formaram-se missionários que tinham fartas caraterísticas e o nome das missões de Republicanos: 5 de outubro, Cândido dos Reis, por exemplo. Os resultados não foram satisfatórios, os próprios dirigentes republicanos o confessaram. Seguem-se duas novas etapas, o Colégio das Missões Católicas Ultramarinas (1927-1932) e a partir de 1932 temos a Sociedade Missionária Portuguesa que a partir de 1934 adotou a designação de Sociedade Missionária da Boa Nova, o seu campo de ação tem vindo a alargar-se: Moçambique, Angola, Brasil, Zâmbia e Japão. Na impossibilidade de visitar a biblioteca ou a sala de ciências, deixa-se imagens de um pormenor do claustro e as lápides que recordam aonde se missionou e quem por elas deu a sua vida.

Esta instalação com beiral tipo casa portuguesa guarda as últimas recordações da Companhia Viação Cernache que à data da sua nacionalização era a terceira maior do país, com uma frota amplíssima, que excedia as recordações da minha infância, via frequentemente estes autocarros na zona da Almirante Reis, saíam daqui até à Sertã e irradiavam para vários polos. E assim satisfiz esta reminiscência da infância, a fachada foi reparada mas guarda belos azulejos, a frota tem outro nome, sempre lhe chamei Empresa de Viação Cernache, mas de facto é Companhia de Viação, fundada por Libânio Vaz Serra, um empreendedor local.

Tomada a vacina, há que voltar ao trabalho, na Sertã tenho dois objetivos, a Igreja da Misericórdia e a Igreja Matriz, estão bem próximas, visitar esta última implicou telefonema ao Sr. Padre Daniel Almeida, que concedeu todas as facilidades.
Comecei pela Igreja da Misericórdia, obra da Confraria de São João da Sertã, aí para meados do século XVI, depois o templo passou para a dependência da Santa Casa da Misericórdia. Distingue-se o esplendor da talha dourada, os azulejos figurativos em dois níveis, encimados por cornija de talha dourada. É um templo de uma só nave, com dois altares, duas sacristias e coro-alto. No teto surge pintado o brasão da Misericórdia, além de outros motivos decorativos. Segundo a literatura, a capela-mor segue o barroco de estilo nacional, teto de caixotões de brutesco, pintado no século XVIII. As paredes laterais da capela-mor são forradas de azulejos azuis e brancos com cenas marianas. Há pintura a óleo e imagens em calcário coimbrão que merecem a atenção do visitante.

E passamos para a Igreja Matriz, considerada entre as mais belas igrejas de Portugal. Entro aqui com um texto de Júlio Gil do livro “As mais belas Igrejas de Portugal”, Editorial Verbo, 1988, e passo a citar: “Conquista a nossa imediata adesão este espaço amplo, acolhedor, sereno, onde duas belas e elegantes linhas em quatro tramos de arcos quebrados separam as três naves. As arcarias apoiam-se em fortes pilares de granito, pedra que dá solidez a todo o edifício, mas suavizado pelo seu possível aspeto de agressiva dureza com os cortes em bisel de todas as arestas, mesmo dos arcos. Revestidas as paredes com valiosos azulejos quinhentistas e seiscentistas, contribuem decisivamente para o agrado que proporciona este ambiente, acrescido ainda pela qualidade das talhas douradas barrocas em que estão realizados o retábulo e o altar da capela-mor, os dois altares laterais e o elegante púlpito”.
O visitante sente-se surpreendido pelas inscrições que se posicionam ao lado da portal da fachada lateral direita, ali se diz que a igreja foi feita em honra de São Pedro e quem a executou foi João Anes Pedro de Ourém. Também ali se pode observar uma Sertã, a chave de São Pedro e a Cruz de Malta. E agora toca de entrar nesta igreja que foi construída nos inícios do século XV.

Estamos num edifício tardo-medieval cheio de intervenções, adicionaram-se capelas, ampliou-se o interior para acolher a Colegiada da Sertã, seguiu-se no século XVII o revestimento azulejar, transbordante, há o sentimento de que estamos num edifício misto, onde se entremeiam temas religiosos e palacianos. É uma igreja de três naves, apartadas por quatro arcos torais quebrados, assentes em pilares cruciformes. O olhar vai imediatamente para esta opulência de tapetes azulejares, para os painéis, e se a visita se prolongar há pintura tardo-maneirista de grande valor, sente-se mesmo influências do maneirismo e talo-flamengo.

A capela-mor é revestida de azulejos idênticos ao da nave. O grande destaque vai, porém, para o retábulo do altar-mor em talha dourada, é barroco português, e tem imponência o cadeiral da colegiada e a cobertura em abóbada de berço em cantaria, com caixotões intercetados por almofadas pintadas com figuração sacra.

Descobriram-se painéis de azulejos, belíssimos, um deles completo, outro não tanto, suficientemente impressionantes para sentirmos que neste templo religioso houve grosso investimento, artistas talentosos, aqui se guarda um património riquíssimo, um dos ex-líbris do concelho da Sertã.
E na sacristia duas imagens de São Pedro e São Paulo, belas e antigas, cuidadosamente conservadas, estão ali em jeito de despedida, a convidar novas visitas, já que a Sertã tem muito a oferecer em património natural e histórico, em museologia, em gastronomia. E aqui nos despedimos, nunca se sabe se não haverá terceira vacina e teremos então circunstância de dilatar o olhar sobre a Sertã e os seus primorosos arredores.


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Notas do editor:

Poste anterior de 12 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23071: Os nossos seres, saberes e lazeres (495): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (41): Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 15 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23081: Os nossos seres, saberes e lazeres (496): Guerra e Desporto, mais um artigo de Alexandre Silveira publicado no Jornal Fayal Sport Club (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)