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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10308: Tabanca Grande (357): Francisco Gomes, 1.º Cabo Escriturário Francisco Gomes da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael 1968/69)

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro Francisco Gomes (*):

De: Francisco Gomes [fragom@outlook.com ]

Data: 29 de Agosto de 2012 17:14

Assunto: 1º. Cabo Esferográfica/G3, presente!

Olá, camaradas!

Por um acaso, dei com o vosso Blogue e já estou em correspondência activa com o camarada Traquina. Também estou, ao fim de tantos anos, a construir um Blogue com algumas recordações (as menos penosas) que passámos na Guiné desde Jan/68 a Nov/69, para deixar às minhas netas como uma recordação. Pertenci à CCS/BCaç 2834 e estive em Buba, Aldeia Formosa, Cacine, Guileje, Gadamael Porto, voltei a Buba de regresso a Bissau à espera do Uíge que já estava ao largo...

Perdi centenas de fotos que tinha desta comissão, inclusive slides... uma desgraça,  pois era fotógrafo da Companhia e no Natal de 68 fiz centenas de postais de Boas Festas com a imagem de cada um de nós (encostados a uma parede branca como cenário de estúdio) para enviarmos às famílias!

Gostaria de pertencer à Tabanca Grande, eu, um jubi que adorava mancarra, Stolichnaya, Martell's, Buchannan's ou White Horse, além da Coca Cola americana que arranjávamos...

Gostava de poder encontrar mais camaradas da CCS/BCaç 2834, de recolher histórias e fotos desse tempo para poder inseri-las no meu Blogue, por isso, se souberem de alguém... chutem por favor! O endereço é: http://inforgom.pt/guine6869/

Um abraço
F. Gomes

PS - Junto envio uma foto actual e uma desses tempos de (in)glória...  


Blogue criado recentemente pelo Francisco Gomes, disponível aqui.

2. Comentário do editor:

Camarada Francisco, foste célere em responder ao nosso convite para ingressares na Tabanca Grande (*). Ficas bem entre tantos camaradas (e amigos) da Guiné.  Como já te disse, aprecio o teu bom humor e valorizo o teu empenho em reencontrar e reunir o pessoal do teu batalhão (que, além da CCS, integrava as CCAÇ 2312, 2313 e 2314). Vamos juntar esforços. Parabéns pela criação do teu blogue, do qual cito os seguintes excertos com a tua autoapresentação para um melhor conhecimento da pessoa que foste e és, por parte dos restantes membros da nossa Tabanca Grande:

(...) "A minha história, como ex-combatente da guerra colonial, arrumei-a na zona cerebral destinada ao esquecimento. Primeiro, porque fui obrigado a ir para uma guerra que não me dizia nada, absolutamente nada; segundo, porque quando fui mobilizado, estava casado e já tinha uma filha com dois anos de idade; terceiro, porque nunca gostei de tropa, fardas, etc..

"Feita a recruta na Serra da Carregueira, em Abril de 1967, segui para o RAL 4, em Leiria para tirar a especialidade de escriturário, profissão que já exercia na vida civil desde 1960. Aí, tive como companheiros de caserna o fadista João Braga e o guitarrista José Pracana. (...) Naquele tempo, as cantorias do João Braga e do Zé Pracana na caserna, davam para ir passando os tempos livres depois das aulas… Nunca mais os vi ou tive qualquer tipo de contacto com eles, finda a especialidade.

(...) "Fui [depois] colocado em Lisboa na Administração Militar, no Lumiar  (...) e logo de seguida, colocado na Secretaria da Escola Militar de Electromecânica em Paço Arcos (parte Exército, parte Força Aérea), onde estive menos de dois meses e onde recebi a ordem de mobilização para o Ultramar. 

"A Unidade mobilizadora foi o R.I. 15 em Tomar para onde fui fazer o I.A.O. em Nov/Dez/67 e a 10 de Janeiro de 1968 embarquei no Uíge rumo à Guiné-Bissau tendo chegado cinco dias depois. A minha Companhia ficou 5 dias em Bissau para receber a logística, armamento e ordens de operacionalidade e seguimos por LDG até Buba onde, meia hora depois, ainda estávamos a arrumar a tralha e a instalar-nos, sofremos o primeiro ataque (banho de fogo aos piriquitos) com roquetes, canhão sem recuo e morteiro 120. A primeira reacção foi mergulho para as valas escavadas ao longo do perímetro e depois agarrar na G3 e distribuir-nos pela área do arame farpado e pelos 4 abrigos, um em cada canto do aquartelamento que era uma espécie de quadrado rodeado de arame farpado e projectores de 150W alimentados por um gerador.

(...) [O] brasão do BCaç 2834 (...) foi da autoria do então Tenente Esteves, Chefe da Secretaria da CCS do Batalhão, mas foi integralmente acabado e pintado por mim, primeiro em papel vegetal e depois em papel normal para enviar à empresa que fabricava esse tipo de galhardetes. Um trabalho de dias e dias seguidos" (...).

Camarada Francisco Gomes, sê bem vindo. Uma vez lidos e aceites por ti os "nossos 10 mandamentos"   (constantes da coluna do lado esquerdo do nosso blogue), passas a ser o grã-tabanqueiro nº 574 (**). 

Um Alfa Bravo para ti. 
Luís Graça, editor, em férias.

(**) Último poste da série > 23 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10293: Tabanca Grande (356): Adelino Barrusso Capinha, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9695: O Cancioneiro de Gandembel (3): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte III) (Idálio Reis)



Guiné > Região de Tombali > Março de 1968 > CCAÇ 2317 (1968/69) > Após o Treino Operacional na região do Oio (Olossato e Mansabá), a Companhia segue rumo ao Sul da Província. Poucos dias em Guileje, para então nos coagirem a ir para as cercanias do "corredor da morte", a fim de se construir de raiz, um posto militar fixo, em Gandembel e Ponte Balana A primeira etapa foi por via fluvial e até Cacine, a bordo de uma LDG, aonde aportam a 19 de março de 1968.





Guiné > Região de Tombali >
Guileje > CCAÇ 2317 (1968/69) > Março de 1968 > Durante a permanência em Guileje, foi-se recolhendo algum material para a construção de Gandembel/Ponte Balana. É o caso do aproveitamento de palmeiras, de cujos espiques se extraíam os cibes Na foto, um aspecto do abate das palmeiras.





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2317 (1968/69) > Março de 1968 > Na fase de carregamento dos cibes.


Fotos (e legendas): © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos Direitos reservados.


1. Continuação do texto da autoria de Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69):


Os Gandembéis: O Nosso Cancioneiro, as nossas músicas, os nossos poetas (Parte III) (*) (**)


(...) Já se torna bastante diferente, a narrativa seguinte, que os autores apelidaram de “Os Gandembéis”. É escrita em circunstâncias inteiramente distintas das do Hino, onde o último local de permanência, em Nova Lamego, ofertava um clima de paz, de sossego e tranquilidade.



A sua leitura, feita nos dias de hoje, parece trazer uma inefável doçura, dada a exemplar ilustração da história da nossa Companhia.


Trata-se de um texto, composto e adaptado por ‘2 humildes anónimos’ [, um deles o saudoso João Barge (1944-2010), foto à esquerda, no nosso V Encontro Nacional, em 2010, uns meses antes de morrer],  que procurou fundamentalmente narrar a acção (épica), que um punhado de homens que então compuseram a CCAÇ 2317, tiveram que passar em terras da Guiné, mas onde prevalece pelas razões invocadas nestas memórias, os sítios contíguos ao rio Balana.








OS GANDEMBÉIS > Canto I


I
As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por sítios nunca dantes penetrados
Passaram ainda além do Rio Balana,
E em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Entre gente remota edificaram
Novo Reino que depois abandonaram;


II
E também as memórias gloriosas
Daqueles heróis que foram dilatando
A Fé, o Império e as terras viciosas
Do Olossato e Mansabá andaram conquistando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar engenho e arte.


III
Cessem do Corvacho e do Azeredo
As conquistas grandes que fizeram;
Cale-se do Hipólito e do Loredo (#)
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto os que não tiveram medo
A quem Nino e Cabral obedeceram.
Cesse tudo o que a antiga musa canta
Que a dois três dezassete mais alto s’ alevanta.


IV
Por estes vos darei um Maia fero,
Que fez ao Moura e ao Calças tal serviço.
Um Nunes e um Dom Veiga (##), que de Homero
A Cítara para eles só cobiço;
Pois pelos Dois pares dar-vos quero
Os de Gandembel e o seu Magriço;
Dou-vos também o ilustre Goulart,
Que para si em Minas não tem par.


V
E, enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Bigodes Reis, que não me atrevo a tanto, (###)
Tomai as rédeas vós, do Grupo vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Começai a sentir o peso grosso
(Que pela Guiné toda faça espanto)
De RDMs e recusas singulares
De Gandembel as terras e do Carreiro os ares.(####) 


VI
E, o que a tudo, enfim, me obriga
É não poder mentir no que disser,
Porque de feitos tais, por mais que diga,
Mais me há-de ficar ainda por dizer.
Mas, porque nisto a ordem leva e siga,
Segundo o que desejais de saber,
Primeiro tratarei da larga terra
Depois direi da sanguinosa guerra.


VII
Partiu-se de manhã, c’o a Companhia,(#####)
De Guileje o Moura despedido,
Com enganosa e grande cortesia,
Com gesto ledo a todos e fingido.
Cortam as viaturas a longa via
Das bandas do Carreiro, no sentido
De ir construir um quartel
Na inóspita e deshabitada Gandembel.


VIII
Já na estrada os homens caminhavam,
O intenso capim apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Nas viaturas as minas rebentando;
Da negra missão os soldados se mostravam
Decididos; e os aviões vão apoiando
A coluna com muita acrobacia
Porque no mais não passa de «fantasia.


IX
As roquetadas vêm do turra e juntamente
As granadas mortíferas e tão danosas;
Porém a reacção não consente
Que dêem fogo às hostes temerosas;
Porque o generoso ânimo e valente,
Entre gentes tão poucas e medrosas,
Não mostra quanto pode, e com razão:
Que é fraqueza entre ovelhas ser leão.


X
Da bolanha escondida, o grão rebanho,
Que pela mata foi aparecido,
Olhando o ajuntamento lusitano
Ao soldado foi molesto e aborrecido;
No pensamento cuida um falso engano,
Com que seja de todo destruído.
E, enquanto isto no espírito projectava,
Já com morteiros e canhões atacava.


XI
E uma noite se passou nesta rota
Com estranha emoção e não cuidada
Por acharem da terra tão remota
Nova de tanto tempo desejada.
Qualquer então consigo cuida e nota
No inimigo e na maneira desusada,
E como os que na errada missão creram
Tanto por toda a Guiné se estenderam.

(Continua)

Notas de L.G.:

(#) Cap Eurico Corvalho, comandante da CART 1613 (Guileje, 1967/68), falecido a 22/12/2011.  Cap Carlos Azeredo, cmdt da CCAV 1616(BCAV 1879, que esteve no Olossato. Quanto ao Hipólito e ao Loredo, pede-se ao idálio Reis para identificar estes dois comandantes de companhia que, presume-se, andaram pela região do Oio, e devem ter pertencido ao BCAV 1879, 1966/68 (que, além da CCAV 1616, tinha ainda a CCAV 1615 e a CCAV 1617).

(##)  Cap Inf Jorge Barroso de Moura, cmdt da CCAÇ 2313 (hoje ten general reformado); Alf Mil At Inf Mário Moreira Maia; Fur Mil At Viriato Martins Veiga; Sold apont metralhadora Jerónimo Botelheiro Nunes (a confirmar), cujo municiador morreu a 28/3/1968, nas imediações de Guileje

(###) Alf Mil At Inf Idálio Rodrigues F. Reis (hoje, eng agron ref, membro da nossa Tabanca Grande, residente  em Cantanhede); Fur Mil At Inf Mário Manuel Goulart.

(####) Carreiro= Corredor de Guileje, corredor da morte...

(#####) Depois de passar, na IAO,  por Mansabá e Olossato (de 15/2 a 15/3/1968), a CCAÇ 2313 seguiu de LDG para Cacine, e esteve em Guileje por pouco tempo (aí fazendo colunas logísticas para Gadamael e cortando cibes). A 8 de Abril de 1968 foi destacada para Gandembel, com a missão de construir um aquartelamento de raíz. Mas a 28 de março, tem os seus dois primeiros mortos, o Domingos Costa (Olival/vIla Nova de Gaia) e Manuel Meireles Ferreira (Pópulo / Alijó). A 8 de abril participa na Op Bola de Fogo...


___________


Notas do editor:


(*) Últinmo poste da série > 29 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9676: O Cancioneiro de Gandembel (2): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte II) (Idálio Reis)


(**) Fonte: REIS, Idálio - A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana. Ed. de autor, [Cantanhede], 2012, pp. 201-204. [Livro a lançar no dia 21 de Abril de 2012, em Monte Real, no nosso VII Encontro Nacional; um exemplar será oferecido pelo autor aos camaradas inscritos].

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8226: Convívios (328): 13º Convívio da CCAÇ 2313 vai decorrer em 4 de Junho de 2011, Águeda (Manuel Moreira)





1. O nosso Camarada Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), enviou ao Luís Graça, em 2 de Maio, a seguinte mensagem.
Camarigo Luís,


A pedido de um conterrâneo meu, também ele um ex-Combatente na Guiné, envio-te o Programa do 13º Convívio da C.CAÇ.2313, para que seja divulgado no nosso blogue.

Um Abraço Amigo
Manuel Moreira
1.º Cabo Mec Auto da CART 1746

__________
Nota de MR:


Vd. último poste da série em:



5 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 - P8223: Convívios (322): 24.º Encontro do pessoal do BCAÇ 2879 (Guiné, 1969/71), dia 28 de Maio de 2011 em Pombal (Carlos Silva)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4552: Convívios (149): Encontro das CCAÇ 2367, CCAÇ 2368 e CCAÇ 2313 (1968/69), (Albino Silva)




1. Mensagem de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Guiné, 1968/70, com data de 16 de Junho de 2009:
Camaradas,


Um grande abraço a todos os Tertulianos que, aqui na “Tabanca Grande”, vão contando as suas estórias, aventuras e os “saberes”, tal como eu sempre que tenho uma oportunidade.



Não percam nunca, nem a Força, nem a Moral e desabafem porque faz bem (digo eu).


Hoje vou fazer o mesmo, pois entendo que a Nossa Historia é “linda” e merece ser contada, para todos os nossos leitores, mesmo para aqueles que nos desprezam.


Esses não andaram lá, de certeza, e “esquecem-se” propositadamente de nós.


Camarada Carlos Vinhal, já vai longo o tempo em que te contacto, se calhar por vício meu, mas vou continuar este contacto, pois tenho aqui mais “trabalhos” relacionados com as companhias, em que participei nos seus mais recentes Convívios.


São elas a CCAÇ 2367, a CCAÇ 2368 e a CCAÇ 2313.


Foi esta última que me fez sair para o mato, em Teixeira Pinto, quando eu já pensava que não sairia mais do arame farpado para fora, pois contava já com 13 meses de Guiné.


O endereço do blogue onde se podem ver estes maravilhosos convívios é o seguinte: batcac2845guineteixeirapinto.blogspot.com


O meu muito obrigado por me terem vindo a aturar há tanto tempo, mas eu prometo que mesmo assim vos vou continuar a sobrecarregar (risos), por isso, não irei desistir.


Um grande abraço,
Albino Silva
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


sábado, 17 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)

Albino Silva,
ex-Soldado Maqueiro,
CCS/BCAÇ 2845
Teixeira Pinto,
Jolmete,
Olossato,
Bissorã,
1968/70


Começaram as saídas frequentes para o mato

Teixeira Pinto era um Sector bastante difícil, porque era de lá que se abastecia quase sempre, e através de Escoltas, vários destacamentos, designadamente, Có, Pelundo, Jolmete, Bachile, Bassarele, Cacheu e Caió.

As colunas faziam-se em itinerários complicados devido à acção do IN que minava as estradas e abria buracos enormes pela acção de rebentamentos, e só com o apoio do Héli-canhão e Bombardeiros é que se conseguia chegar ao destino.

Por isso e devido à escassez de Enfermeiros, a partir de certa altura da comissão, era a CCS do BCAÇ 2845 que fornecia às outras Companhias, sempre que requisitado, o pessoal do Serviço de Saúde. Havia uma Escala na Enfermaria, mas quase sempre me tocava a mim a alinhar, talvez porque o meu número era baixo ou então por começar na letra A, sei lá.

Se foi verdade que durante sete meses nem do Quartel saí, a partir dessa data fui o que mais vezes saiu, na minha Companhia, como já disse a CCS.

Era o apoio de camaradas operacionais que me encorajavam e faziam com que eu fosse perdendo o receio e que aos poucos me fosse habituando a andar pelo mato.

Entre outras saídas, participei em acções de psico com camaradas da CÇAC 2368 que era do meu Batalhão, bem como em outras missões onde tinha contacto com a população no exterior, dando assistência sempre que era necessário e nisso tinha orgulho e até sentia vaidade.

Alinhei com um pelotão da CCAÇ 2313 em missões de reconhecimento, escoltas, picagens de estrada e até na capinagem, na estrada de Teixeira Pinto-Cacheu, logo após a Ponte Alferes Nunes, entre Teixeira Pinto e o Bachile.


Foto 1> Guiné> Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile

A minha primeira participação em escoltas foi com o pelotão da CCAÇ 2313 aquartelada em Teixeira Pinto, e para o Bachile, com a duração de 7 horas sem problemas.

No dia 11 de Abril de 1969 participei noutra para Jolmete com a duração de 6h30 sem haver contacto nem se ter encontrado vestígios.

Foto 2> Guiné> Jolmete> Aquartelamento

Em 27 de Maio de 1969, participei numa escolta com o itinerário Teixeira Pinto-Jolmete-Teixeira Pinto, que teve a duração de 8 horas e segurança montada pela CCAÇ 2585, recentemente chegada a Jolmete, e por um pelotão da CCAÇ 2313 onde eu ia integrado. Tratava-se de uma escolta de reabastecimento à CCAÇ 2585, em Jolmete desde 17 de Maio 1969, e para transporte da CCAÇ 2366 que deixava Jolmete e regressava a Teixeira Pinto, de onde partiria para Bissau e depois Quinhamel.

Nas primeiras horas, cerca das 9 da manhã, foram encontrados detonadores de minas anti-carro numa curva da estrada e em zona onde já tinham havido emboscadas, mas devido à presença das NT, não chegaram a montar nenhuma mina, tendo o IN refugiado-se na mata, que por acção do Héli-Canhão e Bombardeiros que batiam a zona, a escolta não teve problemas. Tanto a CCAÇ 2366, como a CCAÇ 2313, onde eu me integrava, regressaram a Teixeira Pinto.

Momentos depois e já dentro do Quartel, chega a informação via rádio que na CCAÇ 2585 também já dentro do Quartel em Jolmete, tinha havido um acidente com arma de fogo que causou as seguintes baixas:

Feridos graves evacaudos para o HM 241

1.º cabo - 19983868 - Francisco Inácio da Paz
Soldado - 15606668 - José Martins de Almeida
Soldado - 18119468 - António Antunes Lopes
Soldado - 18457168 - Henrique Pinto Araújo
Soldado - 18450068 - António Fernandes Barbosa, que viria a falecer pouco depois
Soldado Mil - 50/67 - João da Silva - PEL MIL 128

Nós que tínhamos feito a escolta com eles, ficamos muito chocados com este triste acontecimento, pois sabíamos que iria ser bastante difícil levantar o moral daqueles camaradas que choravam a morte do camarada morto, que não sendo em combate complicava mais a situação. Sabia-se que o descuido por vezes era fatal e infelizmante eram muittos os casos.

Lembro-me ainda do dia em que o Comandante do Batalhão visitou o Pelundo.

O Comandante tinha ido ao Pelundo para participar no funeral de um Soldado Milícia. Terminadas as cerimónias, regressou a Teixeira Pinto para logo de seguida lhe ser comunicado que no regresso de uma acção de rotina nos arredores do destacamento de Pelundo, realizada pelo 3.º GCOMB/CCAÇ 2313 se tinha verificado, já no Aquartelamento, um acidente com arma de fogo (LGF 6 cm) de que resultaram as seguintes baixas:

Mortos:

Soldado - 04366267 - Orlando da Silva Lopes - CCAÇ 2313
Soldado Mil - 100/64 - Possu Djabu - Pel Mil 127
Soldado Mil - 104/64 - José Upá - Pel Mil 127

Feridos evacuados para o HM 241:

1.º cabo - 04556567 - Albino de Oliveira Coelho - CCAÇ 2313
Soldado - 04258467 - Custódio Videira Passos - CCAÇ 2313

Este foi o primeiro caso grave que vivi na Guiné em que tive de intervir com muita coragem. Desejei não mais ter de passar por situações semelhantes, pois era doloroso ver partir jovens como eu, na força da vida.

Albino Silva

Fotos e texto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados.
________________________

Notas de CV:

Vd. posts de:

3 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2236: Estórias avulsas (9): Um soldado que não queria sair do quartel (Albino Silva)

10 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2254: Estórias avulsas (10): 8 de Dezembro de 1968 - Dia da Mãe (Albino Silva)

sábado, 3 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2236: Estórias avulsas (9): Um soldado que não queria sair do quartel (Albino Silva)




Albino Silva (1), ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã, 1968/70)





Foto 1> Teixeira Pinto> Enfermaria e Maternidade


Foto 2> Estrada Teixeira Pinto/Bachile> Ponte e Fortim


Foto 3> Jolmete> Tabancas


Um Soldado que não queria sair do Quartel

Desde a chegada do BCAÇ 2845 a Teixeira Pinto, 6 de Maio de 1968, que me dediquei ao meu serviço naquela Enfermaria onde se dava assistência a militares e civis.

Gostando da missão que me foi confiada, fazia serviço todos os dias por aqueles que o tinham que fazer, mesmo por escala, mas que não gostavam. Eu ficava por eles.

Por um lado gostava do que fazia, por outro não queria sair do Quartel para fora, mesmo com os camaradas a dizerem que era seguro andar naquela Vila. Mas eu não confiava naquela gente de cor diferente e até tinha motivo para isso.
Quando deixei a Escola, em 1958, fui para Angola onde trabalhei até ao dia 15 de Março de 1961, dia em que no Quitexe e arredores começaram as chacinas.

Fui obrigado a vir embora, aterrorizado pelos acontecimentos vividos e passei a desconfiar dos negros a partir daí. Por isso não estava nada interessado em sair do arame farpado para fora, nem tão pouco conhecer Teixeira Pinto, onde parecia não haver guerra.

O tempo ia passando e a 26 de Novembro, com 7 meses de Guiné, encontrava-me de guarda ao Quartel, no Posto 8 que era o da Enfermaria, quando às 9 horas da noite me apareceu o Capitão da minha Companhia (CCS), António Rodrigo Rodrigues Queirós, que me disse que eu ia sair de serviço, pois já vinha a caminho outro camarada para me render, já que no dia seguinte teria de ir com um GCOMB da CCAÇ 2313, também estacionada em Teixeira Pinto, para uma picagem de estrada e montar segurança a uma escolta para abastecer o Bachile.

Depois de sete meses sem sair do quartel, essa saída era para mim um obstáculo transformado em medo, que foi sendo dominado pelas palavras de coragem transmitidas pelos camaradas da CCAÇ 2313, habituados a andar no mato.

Lá fui nessa missão que durou 7 horas. Correu bem e regressei ao Quartel.


Foto 4> O Albino à frente da CCAÇ 2313


Mais tarde, no dia 5 de Dezembro de 1968, alguns camaradas vieram à Enfermaria e convenceram-me a sair para passear pela Vila com eles e até ir à Tabanca, o que eu fiz pela primeira vez. Era um dia em que havia menos tropa no Quartel, porque havia uma escolta para fazer a Jolmete, que envolvia sempre muitos efectivos.

Já com o dia no fim e depois de ter passado bons momentos com os civis, quando regressava ao Quartel, aconteceu o pior.

A escolta que o 3.º GCOMB da CCAÇ 2366 montou segurança durante 9 horas para abastecer Jolmete, terminou mal, pois foram emboscados quando regressavam, próximo do Pelundo, por um pequeno Grupo IN armados de LGF e armas automáticas ligeiras durante 15 minutos. Esse grupo, instalado na berma da estrada, logo no início da acção, atingiu uma AML Panhard que seguia na testa da coluna, com 2 tiros de LGF disparados por um elemento IN que saltou para a estrada, ficando imobilizada com os pneus do lado direito inutilizados, sendo o seu condutor ferido gravemente.

O referido grupo IN também fez fogo de morteiro 60, retirando perante a reação das NT pelo fogo e manobra, com baixas prováveis.

Devido à acção do IN as NT sofreram :

1 morto - 1.º Cabo N.º 10685867 - Manuel Campos Silva - CCAÇ 2366 que faleceu no HM 241 para onde foi evacuado.

Feridos evacuados para o HM241:

Soldado N.º 03642867 - Rui Borges Artilheiro - CCAÇ 2366
Soldado N.º 06513167 - José Pais da Costa - CCAÇ 1683
Soldado N.º 02710267 - David Mendes Rodrigues - 3.º PEL AML - EREC 2454
Soldado N.º 82065266 - Malan Djau - PEL CAÇ NAT 59
Soldado N.º 49/67 - Adulai Djau - Milícia - PEL MIL 127

Feridos não evacuados:

1.º Cabo N.º 05151564 - Manuel Gonçalves Cruz dos Santos - 3.º PEL AML - EREC 2454
1.º Cabo N.º 04746966 - Américo da Cruz Bernardo - CCAÇ 1683
Soldado N.º 03224867 - João José Ramalho Freire - CCS/BCAÇ 2845

Assim ficou bem marcada a minha primeira saída do Quartel.

Com estes acontecimentos fui obrigado a trabalhos extras na Enfermaria e bem desolado ia manifestando a minha raiva para aqueles que aos poucos iam matando a nossa juventude.

Albino Silva
Sold.Maq.
CCS/BCAÇ 2845

Fotos e texto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados.

_____________________

Nota de CV:

(1) Vd. Post de 13 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2175: Tabanca Grande (36): Apresenta-se Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro (CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70)

Vd. Post de 26 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2217: Breve história do BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã, 1968/70 (Albino Silva)

Vd. Post de 27 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2220: Louvores e Punições (4): Louvores atribuídos ao BCAÇ 2845 e às suas Companhias Operacionais (Albino Silva)