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Em mensagem do dia 12 de Setembro de 2015, o nosso camarada António
Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 20.ª página do seu Caderno de Memórias.
CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
20 - De 5 a 21 de Agosto de 1973
Da História da Unidade do BCAÇ 4513:
AGO73/05 – Durante a Op. “OUSADIA SATÂNICA”, na região (GUILEGE 3 E 8-93) foi detectado GR IN NEST (grupo inimigo não estimado) progredindo no sentido S/N que ao aperceber-se da presença das NT, após breves disparos, se pôs em fuga, não tendo resultado a perseguição que lhe foi movida. Dada a ausência absoluta de guias para a região do UNAL era fundamental conseguir-se capturar algum elemento IN que pudesse servir de guia. Chuvas intensas e constantes prejudicaram toda esta acção.
AGO73/06 – No prosseguimento da Op. “OUSADIA SATÂNICA”,
surgiram alguns casos de doença entre as NT (paludismo, esgotamento, etc.) que obrigaram a fazer regressar uma das CCAÇ até BOLOLA para promover as evacuações.
Três horas depois novos casos de doença surgiram e dada a impossibilidade de prosseguir a operação, por o objectivo ainda estar muito distante, não haver guias, se ter perdido o trilho
e as NT se encontrarem esgotadas pelo esforço e pelas chuvas que continuam a cair insistentemente, foi determinado o regresso das forças a BUBA.
[Sublinhados meus].
AGO73/07 – As forças empenhadas na Op. “OUSADIA SATÂNICA” foram autotransportadas para os respectivos aquartelamentos.
Do Resumo dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513: [Tudo em maiúsculas no original]
D – Por determinação do CCFA o BCAÇ 3852 que já havia terminado a comissão, desloca-se para BISSAU a fim de embarcar para a Metrópole. O BCAÇ 4513/72 assume a responsabilidade do Sector S-2, com as suas companhias sediadas em A. FORMOSA, BUBA e NHALA, além de duas companhias de reforço sediadas respectivamente em MAMPATÁ e CUMBIJÃ. É durante este período que chega ao sector o BCAÇ 4516, que substitui na missão de intervenção na área de CUMBIJÃ-NHACOBÁ o BCAÇ 4513/72. A missão do Batalhão agora de quadrícula, abrange todo o Sector S-2, com excepção da subsector de CUMBIJÃ atribuída ao BCAÇ 4516.
Das minhas memórias:
7 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – O regresso a “casa”.
Era o tão aguardado regresso a casa: Nhala, finalmente. Ainda que quase todos combalidos, ainda que com um futuro de muito esforço pela frente, ainda que sujeitos a actividades de risco, nada importava, se pudéssemos sempre regressar a casa. Por poucos dias ainda estaríamos em sobreposição com a CCAÇ 3400 do BCAÇ 3852 que viemos render, mas depois tudo ficaria por nossa conta. Era uma sensação indescritível, que nos incutia confiança e optimismo. Quando cheguei a Nhala vi que a cobertura da minha palhota-estúdio/fotográfico tinha sido arrancada em parte, por maldade de um macaquinho domesticado pela população (segundo me disseram). Em plena época das chuvas o efeito no material e nos equipamentos foi devastador e definitivo. O que numa situação normal me causaria profunda tristeza, naquelas circunstâncias somente me deu pena. Às urtigas o “estúdio”! O importante era que tinha regressado a casa.
Às 00h01 do dia 10, (preciosismo da tropa), o Sector S-2 passou para a responsabilidade do BCAÇ 4513. Era como se nos houvessem devolvido os territórios que tinham sido sempre nossos. Para os protegermos, protegendo-nos a nós, ainda teríamos muitas canseiras mas, no final regressaríamos a casa. Já não era sem tempo: tínhamos chegado ali em Abril e só então, já entrados em Agosto, parecia termos destino definitivo. Havia que limpar os lustres e os espelhos, mudar os cantos à casa, arejar e sermos felizes. Patacoadas... No resto dos dias nem sempre foi assim.
Carta para a Metrópole:
Com data de 10 de Agosto, em carta para a namorada, depois de pedir desculpa pela longa ausência de correspondência e como que a justificar essa ausência, dou nota de detalhes das operações atrás referidas a caminho do Unal, que se me haviam apagado completamente da memória, mas também do meu optimismo em relação ao regresso a Nhala.
(...).
”Estou há três dias em Nhala e, desta vez, creio que será definitiva a minha estadia aqui, a menos que, novamente surjam alterações imprevistas. Estou a recompor-me lindamente dos efeitos causados por estes últimos tempos.
[Sobre a ida ao Unal]: Houve uma altura em que se supôs que já lá não iríamos, até que o Comandante do Batalhão foi a Bissau falar com o Spínola para que ele autorizasse o nosso regresso aos locais que nos tinham distribuído ao princípio, ou seja, a minha Companhia vinha para Nhala, e as outras iriam para os respectivos sítios, enquanto Cumbijã e Nhacobá seriam ocupados pelo Batalhão novo que está a chegar. O General autorizou os nossos regressos, mas pouco depois impôs como condição a nossa ida ao Unal.
[Não tenho a menor ideia desta informação].
(...) Todas as companhias estão desfalcadas de pessoal por doença e, o meu grupo, por exemplo, tinha passado de 21 para 7 homens apenas.
(...)
[Sobre a primeira operação, “Ousadia”]. Saída no dia 1 do destacamento de Cumbijã para o mato. Algumas horas a andar à chuva e dormida no mato. Noite perturbada pelo ruído de barcos a motor no estreitíssimo rio que teríamos que atravessar, mas não podemos denunciar a nossa presença. Partida de manhã (cerca de 250 homens). Depois de algum tempo a andar, caímos numa emboscada junto ao tal rio.
(...)
[Depois do regresso a Cumbijã], descansámos o resto do dia mas, no dia seguinte, fazem-nos sair em viaturas até Buba, onde também descansámos o resto do dia. Nessa altura eu já não aguentava mais e resolvi não alinhar no dia seguinte.
[Inicia-se a operação “Ousadia Satânica”].
(...) Chegaram a pouco mais de meio caminho e houve novo contacto com os turras, quando os nossos surpreenderam uma enorme coluna apeada de carregadores, fortemente defendida por militares. Houve “festa rija” e o pessoal prosseguiu, chegando a andar cerca de 30 km. Como já tinham dormido no mato duas noites, e já se tinham acabado as rações de combate, além de andarem já com mais doentes nas macas, resolveram regressar.
[A seguir faço comentários a uma reportagem passada aqui na televisão sobre a inauguração – não sei de quê -, feita pelo Ministro do Ultramar na Guiné. Ao cenário montado para a cerimónia, chamo-lhe uma fantochada que envolveu cerca de 3000 homens (não visíveis) na protecção e que, ainda assim, na véspera, entre eles houve um soldado pára-quedista morto e vários feridos].
[Acabo a carta dizendo que eram 24 horas e estava a escrever ao livre, de vez em quando sobressaltado por disparos na cercadura do aquartelamento].
“(...) É que os rapazes que estão de vigia nos postos são da Companhia “velhinha” que nós viemos render e, como daqui a 6 dias vão embora por terem terminado a comissão, estão excitadíssimos e não param de dar tiros”.
Da História da Unidade do BCAÇ 4513:
AGO73/08 –
Regressou a CUFAR o Exmo. Coronel CURADO LEITÃO, Comandante do CAOP-1. que fizera PC (Posto de Comando) em A. FORMOSA durante a Op. “OUSADIA” e Op. “OUSADIA SATÂNICA”. [Sublinhados meus].
AGO73/09 – (...)
AGO73/10 – A partir das 00.01 o Sector S-2 passou à responsabilidade do BCAÇ 4513.
AGO73/12 – Em 121315AGO73, GR IN estimado em 40 elementos foi interceptado por forças da 1.ª CCAÇ na região (XITOLE 2 F 0-20). O IN reagiu com armas automáticas e RPG sem consequências para as NT. O IN sofreu 3 ou 4 feridos a avaliar pelos rastos de sangue. Foram capturados 3 elementos da população, um dos quais DEMBA DJASSI, de 17 anos, aluno da ESCOLA PREPARATÓRIA MARECHAL CARMONA DE BISSAU, confessou estar voluntariamente com o GR IN. Foram todos enviados à REPINFO/CCHEFE. Foram apreendidas 2 GR/RPG ao IN.
AGO73/14 – Deslocamento para Buba do Comando e CCS/BCAÇ 3852 e CCAÇ 3399.
AGO73/15 –
Chegada ao Cumbijã do 1.º escalão do BCAÇ 4516, constituído pela sua 1.ª CCAÇ.
Das minhas memórias:
15 de Agosto de 1973 – (quarta-feira) – Os que partem e os que chegam.
Começou o movimento extraordinário de colunas auto entre A. Formosa/Buba/A. Formosa. De saída, passou no dia anterior para Buba parte do BCAÇ 3852. Deviam ir felizes, imagino, mas exauridos por uma comissão muito prolongada para além do tempo normal. Nesta data (15), passaria no sentido Buba/A. Formosa a 1.ª CCAÇ do novo batalhão (BCAÇ 4516) com destino ao Cumbijã. Fui com o meu grupo fazer a protecção à coluna na picada Nhala/Mampatá. Saímos cedo e instalámo-nos perto de Samba-Sabali, creio, sob uma chuva gelada. Gelada, mas pior que todas as outras que antes nos flagelaram. (Seguem-se umas fotografias de um dia assim, mas no aquartelamento de Nhala, submetido a verdadeiro dilúvio).
Foto 1 - Aproximação do dilúvio. Cada um foge como pode.
Foto 2 - Começa o dilúvio. Seria assim também para quem estivesse no mato.
Foto 3 - Fotografia na direcção da luz, que era cada vez menos embora se estivesse a meio da tarde.
Foto 4 - Fotografia feita para o lado oposto, que era a saída para a fonte. Parecia noite.
Voltando à mata de Samba-Sabali. Foi uma espera longa e martirizante e, apesar de estarmos habituados à chuva, nunca antes tínhamos passado tanto frio. Recordo bem que tive de sair da mata para ficar na picada em pé, de braços e pernas abertos, por não suportar o contacto da roupa gelada com a pele. E foram horas assim. Num aerograma para a Metrópole refiro que estava um céu de chumbo, dia escuro, e de chuva tão prolongada e fria que, apesar de serem 15 horas, tinha as mãos azuis.
Só mais tarde e com menos chuva, passou então a coluna. Como era hábito, o meu pelotão estava invisível na mata e eu junto à picada a dar sinal da nossa presença e de que tudo estava bem.
Fiquei a ver passar aqueles rostos assustados, ainda sem saberem que iam para o inferno. Às tantas, entre todos aqueles soldados anónimos, reconheci um e tive um “baque”. Fitei-o sempre até perder de vista a sua viatura e, julgo, ele também me reconheceu. Era o Manel. O Manel era um rapazinho do interior, - Beiras ou Norte -, do nosso querido Portugal que, como tantos outros, era analfabeto. Isto nos anos 1972/73 do século XX e em plena Europa Ocidental, etc., etc. (Tinha acrescentado mais uma notas mas nem as transcrevo, porque se o tema já na época me era insuportável, ainda hoje me deixa furibundo. Podem-me vir falar do colégio de Bissau, de Luanda ou de Lourenço Marques, para as elites já se vê, mas neste rectângulo de 1 por 2 metros, fora das grandes cidades e do litoral, poucos completavam a instrução primária. Era o atraso, a miséria e o desamparo que imperavam. Sei do que falo, pois fiz a minha instrução primária por várias escolas do Norte e do Centro e fiquei marcado por tanta miséria que vi. Cheguei a ir descalço sobre a neve para a escola da Praia de Esmoriz, (1961-62), quase 2 km, em solidariedade com os desgraçados dos meus companheiros que era assim que andavam sempre. Fi-lo à revelia dos meus pais que achavam que eu não resolveria nada com a solidariedade. Mas fi-lo, e depois ainda tinha de dar parte do meu pão com marmelada quando na escola enxameavam a pedir uma “bucha”. Mais a Norte, do concelho de Paredes, nem quero falar).
Voltando ao Manel: era um analfabeto especial, não sendo único. Só sabia que era Manel, não sabia a data de nascimento, não sabia dizer de onde era, tão só o lugarejo onde nascera, não sabia para que lado era o Porto, Lisboa ou o mar. Não sendo doente mental, era tão primário e básico que o seu intelecto não devia ser superior ao de uma criança de menos de dez anos (dessa época). Para saber mais dele, pedi ajuda aos seus novos companheiros na tropa que me explicaram tudo, enquanto ele, com um sorriso de menino, se limitou a ouvir sem abrir a boca. Eram os seus amigos que o traziam no comboio para Tomar e, no sentido inverso, o deixavam na estação mais próxima do seu lugarejo, bem como lhe resolviam todos os pequenos problemas que se lhe deparavam na sua nova vida.
Quando formámos batalhão em Tomar e eu dei a formação de Especialidade ao que seria o meu pelotão, ele integrava-o como muitos outros analfabetos. (Em Nhala cheguei a ter uma classe de alunos que começaram pelo ABC e outros para fazerem a 4.ª classe). Salvo erro, dei como inaptos três soldados nessa Especialidade de Tomar, ele obviamente incluído, não sem alguma resistência dos superiores que viam escassear os homens que, para canhão, serviam perfeitamente. A minha ideia era safá-los da Guiné, nessa altura com a pior reputação em termos de guerra, e quando se dizia que os próximos batalhões iriam para Angola e Moçambique. Agora constato que, com as boas intenções, apenas prolonguei em muitos meses o seu tempo de tropa. Não recordo se tive oportunidade de o procurar após a instalação em Cumbijã.
O novo batalhão, agora a chegar, foi flagelado em Bolama com 8 foguetões. Houve 6 mortos e 15 feridos, quase todos da população. O meu batalhão escapou à regra, porque houve flagelações antes e depois de te termos lá estado.
Da História da Unidade do BCAÇ 4513:
AGO73/17 – Em 172230AGO73, GR IN NEST dinamitou a estrada MAMPATÁ-COLIBUIA, numa extensão de 40 metros na região (GUILEGE 4 G 6-21) local situado entre os dois pontões destruídos anteriormente. NT reagiram com fogo de artilharia e morteiro.
AGO73/18 –
A CCAÇ 3400 foi deslocada para BUBA, para seguir para BISSAU.
[De Buba partiu, juntamente com a CCAÇ 3398, em LDG para Bissau no dia 19 e, para a Metrópole, em 8 de Setembro. (Da H. da U. do BCAÇ 3852)].
[Finalmente iria abandonar a minha palhota e passar a dispor de instalações boas e quase novas. Passaria a dormir numa cama de madeira, ter casa-de-banho, tudo paredes meias com a messe e o bar. O que é que se poderia querer mais? Sorte...].
AGO73/19 – Apresentou-se em A. FORMOSA vindo de BISSAU no NORDATLAS o novo Comandante do Batalhão – TEN COR INF.ª C. A. S. R.
- Chegaram a A.FORMOSA, vindos de BUBA o Comando e CCS/BCAÇ 4516 e a sua 2.ª CCAÇ.
- Em 191500AGO73, forças da CART 6250, quando procediam ao levantamento de minas NT na região (XITOLE 4G 7-22) encontraram cerca de 30 cargas trotil em petardos de 200gr, abandonados pelo IN aquando da sabotagem da estrada em 172230AGO73.
AGO73/20 – (...)
AGO73/21 – Comandante do Batalhão deslocou-se a NHALA e BUBA.
- Chegou de BUBA a 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4516.
-
Em 211815AGO73 GR IN NEST flagelou durante 25 minutos o destacamento de CUMBIJÃ da direcção de NHACOBÁ com cerca de 40 GR CAN S/R 82 da região (GUILEGE 6 A 2-34) e 30 GR MORT 82 da região (GUILEGE 6 A 7-54) causando 1 morto e 3 feridos ligeiros às NT. NT reagiram com fogo de Artª e Mort. [Sublinhei a negrito].
Das minhas memórias:
21 de Agosto de 1973 – (terça-feira) – Grande flagelação a Cumbijã).
Apenas chegados há quatro meses ao Sector e parecia já ter decorrido uma vida, tal a intensidade com que se viveu esse curto período de tempo. Este dia não fugiu à regra. Em Nhala recebemos o novo Comandante do Batalhão, a quem foi apresentado o pessoal e mostradas as instalações. Pessoa simpática e acessível, no final deixou-se fotografar com alguns dos graduados presentes.
Foto 5 - O novo Comandante do Batalhão Ten Cor C. A. S. R. ao centro com o Comandante da Companhia Cap. B. C. e um grupo de alguns graduados. Eu sou o primeiro da direita à frente. (Fotografia adquirida em Nhala)
Não era sem tempo a sua vinda para o Batalhão, substituindo o Comandante Interino Major D. M. sobre quem, até à data, tinha pendido toda a responsabilidade dos atribulados meses antecedentes.
Chegou de Buba com destino ao inverosímil aquartelamento de Nhacobá a 3.ª CCAÇ do novo BCAÇ 4516. Nem quero pensar no choque que deve ter sido para estes “periquitos”.
Cumbijã foi mais uma vez flagelada mas, agora, com uma brutalidade inusitada, havendo um morto a registar e vários feridos. Mereciam melhor sorte, estes infaustos valentes. Em carta de 23-08-1973 para a Metrópole, dou conta de mais este duro golpe para a CCAV 8351 de Cumbijã, e refiro ter sofrido um morto a Companhia do Cap. Vasco da Gama que ainda devia estar na Metrópole de férias. Dos feridos, um em estado grave, digo que pertenciam à nova Companhia ali instalada há uns dias apenas, (1.ª CCAÇ do BCAÇ 4516). (...).
Este ataque certeiro a Cumbijã, sempre o supus, devia ter sido o resultado do aperfeiçoamento, ao longo das anteriores flagelações, dos militares de IOL (Informação, Observação e Ligação) do PAIGC formados na ex-URSS. Isto sabia-se mas faltavam elementos que o confirmassem. Dizia-se que conseguiam pôr uma granada de canhão dentro do espaldão dos nossos obuses. Só precisavam de um bom ponto de observação próximo do alvo. Certo dia, no regresso do mato com o meu grupo vi, acima das copas altas das árvores, uma palmeira que sobressaía em altura das demais e que tinha algo de diferente que, de longe, parecia um serrote vertical. Andámos às voltas até chegar junto dela e, nunca visto, tínhamos à nossa frente um tronco enorme com degraus desde o chão até ao topo. Eram travessas de madeira pregadas ao tronco pelo centro, fazendo um “degrau” para cada lado. Isto aconteceu nas imediações de Cumbijã. Era, de certeza, um posto IOL. Já não recordo mas, devo ter destruído o escadório ou registado a sua posição para a comunicar ao Comandante de Companhia.
Resumindo este 21 de Agosto, diria que foi muito marcante para todos: para nós do BCAÇ 4513 porque, várias vezes flagelados em Cumbijã sem consequências, pensámos então com alívio, mas sem gáudio, obviamente, que sorte tivemos de já não estarmos lá; para os “periquitos” do novo Batalhão porque, mal chegados, apanharam um susto que os deve ter deixado em pânico e a maldizer a sorte; e para a CCAV 8351 que, repito, tem sido martirizada no seu próprio aquartelamento, para não falar das acções espinhosas em que esteve envolvida. Aproveito para, a todos esses bravos Tigres do Cumbijã, render a minha sincera homenagem: aos seus mortos e aos que resistiram e ainda resistem.
(continua)
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Nota do editor
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Guiné 63/74 - P15087: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (19): De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973