1. Mensagem de hoje do Cherno Baldé, o nosso "agente" em Bissau (na realidade, este "menino" de Fajonquito, hoje homem grande, pai de 4 filhos, casado com um bonita nalu, quadro superior com formação universitária na ex-URSS e em Portugal, representa todos os nossos amigos guineenses que não têm forma de comunicar connosco, e que mantêm, com os portugueses, antigos combatentes, fortes laços afetivos, baseados numa experiência e num respeito comuns)....
E mais do que "agente", o Cherno é um grande conhecedor e apaixonado defensor do melhor que a sua terra tem, a sua cultura, a sua história, o seu património (material e simbólico), as suas línguas e as suas gentes... Ele é o nosso assessor científico para as questões culturais, artísticas, sociais, económicas e religiosas da comunidade fula a que pertence, com muito orgulho. Tem já mais de 130 (!) referências no nosso blogue.
Bom dia Luis,
No mesmo poste (*) inseri um comentário a tentar corrigir a grafia do instrumento, pronuncia-se "Nhanhero", nome derivado do som que ele produz "nha..nhe...nhi". E uma versão africana (fula) do violino europeu.
Bom dia Luis,
No mesmo poste (*) inseri um comentário a tentar corrigir a grafia do instrumento, pronuncia-se "Nhanhero", nome derivado do som que ele produz "nha..nhe...nhi". E uma versão africana (fula) do violino europeu.
Em Fajonquito nos anos 60/70 tinhamos um grande Nhanherista, infelizmente não tenho imagens do tempo.
Um grande abraço,
Cherno A. Baldé
2. Comentário, com data de 1 do corrente, do Cherno Baldé, ao poste em questão (*):
Nhanheiro. Foto de Valdemar Queiroz (2016) |
O tempo e a intensidade da tua vivância no chão fula autorizam que tomes o apelido Embaló.
O instrumento em questão chama-se nhanhero e normalmente faz-se acompanhar do dondon ou tama.
Deve ser o instrumento musical mais simples e mais antigo de todos os que conheço na região oeste africana e os fulas, provavelmente, já o utilizavam antes da sua longa digressão para oeste. Infelizmente os efeitos da colonização cultural e a globalização fazem com que a juventude não valorize a cultura ancestral.
O nhanhero não é propriamente um brinquedo qualquer e, caso fosse, seria o brinquedo dos herdeiros da tradição, isto é, os filhos do artista, tocador de nhanero. No ocidente o equivalente do nhanero é o violino.
Pois é, na sociedade tradicional fula a criança pode ser detentora provisária de um nhanero se o pai é, digamos assim, nhanherista, mas não pode ser detentora do dinheiro que contem em si os germes do bem e do mal em duas faces unidas na mesma moeda, pois segundo a tradição antiga faz falta à criança o sentido completo do discernimento que habilita à escolha certa entre o bem e o mal. E quando é assim os espíritos do mal tendem a prevalecer. É o que temos actualmente nas nossas sociedades ditas modernas.
Com um abraço amigo, Cherno Baldé-
3. Comentário do editor LG:
Bom dia, Cherno!...É valiosíssima e oportuna a tua observação. Vou já corrigir e dar conhecimento ao Valdemar Queiroz, que é do meu tempo do Centro de Instrução Militar de Contuboel (junho/julho de 1969), onde se formaram entre outras as CART/CCAÇ 11 e a CCAÇ 12, as duas primeiras companhias da "nova força africana" de que o gen Spínola tinha muito apreço e orgulho, ainda antes da formação dos Comandos Africanos... Acho que lhe fica bem o apelido fula "Embaló"!...
Quanto ao "nhanhero", lembro-me do instrumento, mas não o associava ao violino. O kora era mais apreciado (e mais usado pelos mandingas, se não erro). E a propósito tenho um filho violinista, por acaso está agora de férias na Grécia...
Como vai a nossa terra querida ? E a tua família ? Não deve ser fácil viver em Bissau, com 4 filhos. Tenho muito respeito e admiração por ti e família. Mantenhas. Um alfabravo. Luís
PS - Cherno, não preciso de fazer força para propor que seja grafado o vocábulo "nhanero" (e não "nanheiro", como escreveu o Valdemar, e que me passou, embora tenha consultado os dicionários). Na realidade, o termo existe, pelo menos no Dicionário Houaiss da Língua Portugesa, Tomo V, Mer-Red (Lisboa, Círculo de Leitores, 2003, p. 2613)... Vou transcrever (**):
Nhanhero, s.m., MÚS G-BS:
1 instrumento cordófono dos fulas cuja caixa de ressonância é uam cabça pequena revestiada de couro e cuja corda única se fere com um arco; 2 músico que toca esse instrumento; 3 espetáculo em que se apresenta esse músic. Etim. orig. obsc.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 31 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15688: Memória dos lugares (333): Paunca e a história de um nhanhero (Valdemar Queiroz, fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)