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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6387: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (2): o ataque à coluna Bissau-Teixeira Pinto, em 16 de Junho de 1970 (II Parte)



Guiné > Região do Oio > s/d > CCP 121 / BCP 12 (1969/71) > Algures no Morés > O Hoss com a MG 42


Guiné > s/l > s/d > CCP 121 / BCP 12(1969/71) >  Um soldado paraquedista  "gravemente ferido com uma roquetada que rebentou por cima dele numa árvore", e que foi assistido pelo Sold Enf Pára Sílvio Abrantes, mais  conhecido pelo seu nome de guerra,  Hoss.

Fotos (e legendas): © Sílvio Abrantes (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias do Sílvio Faguntes Abrantes,  membro da nossa Tabanca Grande, conhecido na Guiné como o  Hoss. Pertenceu à CCP 121 / BCP 12, comandada primeiro pelo então Cap Pára Terras Marques e depois pelo Cap Pára Mira Vaz. Foi soldado e enfermeiro, frazendo questão de andar com a MG 42.


2. Recordações do Hoss (Sold Pára Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) > 16 de Junho de 1970 > Ataque a uma coluna Bissau-Teixeira Pinto (2ª parte)

Resumo da I Parte:

Seguíamos de Bissau para Teixeira Pinto,  de coluna, quando fomos atacados cerca de 3 km. do Pelundo,à saída duma curva. O resultado cifrou-se em 6 mortos e 9 feridos, alguns com gravidade. (...)

 
As  companhias [de caçadores paraquedistas] 121 e 122,  quando comandadas pelo meu amigo ex-Capitão Terras Marques, hoje Coronel na reforma,  sempre foram companhias bem armadas, desde os RPG às MG havia de tudo, eram companhias fortemente armadas.

A talho  de foice,  em poucas palavras , um dia chegamos a Bolama, comandados pelo Terras Marques, fomos recebidos pelo comandante chefe, um Sr. Coronel que ficou pasmado com o armamento que nós trazíamos ao ponto de pedir para que fosse disparado um tiro de RPG7 em frente à porta de armas onde estávamos formados.

Depois de avisado do que aconteceria a seguir,  o nosso homem não se importou, quis foi ver o róquete disparado. Imaginem o que aconteceu a seguir.

Acabada a comissão do  ex-Capitão Terras Marques , veio outro comandante de companhia, que no discurso de apresentação a  certa altura diz:
- Na  Guiné não há guerra.

Ainda  hoje essas palavras bailam no meu cérebro e de muitos dos meus colegas. Não tardou muito que fossem retiradas à companhia armas pesadas, pois não havia guerra. Mas há uma coisa, eu quero que fique bem explícito, nós não culpamos o comandante de companhia pelo sucedido, que fique bem claro.

Junto envio duas fotos. Uma minha,  com a magnânima MG, algures no Morés, e outro dum colega gravemente ferido com uma roquetada que rebentou por cima dele numa árvore. Ficou com as pernas e as costas totalmente crivadas de estilhaços. Perdeu muito sangue ao ponto de eu não poder meter o soro no braço devido à falta de pressão nas  veias. Tive que fazer uma coisa que antes nunca tinha feito,  foi às escuras que o fiz,  meter  o soro numa veia das costas da mão, mas graças a Deus correu bem.

Horas amargas, mais amargas do que o fel.  O que será feito deste  bravo? Será vivo? Continua a sofrer? Não teria sido melhor eu tê-lo deixado morrer? Passados estes anos todos,  ainda penso muito nele. Gostava de o ver, mas não me lembro do seu nome.

Depois da resfrega e feitas as evacuações, e com  tudo a postos,  retomámos a viagem para Teixeira Pinto com uma paragem no Pelundo, onde estava a rapaziada toda à nossa espera pois já sabiam do sucedido. No meio da parada havia um fontanário com água a correr, dirigimos-nos para lá a fim de nos refrescar. Entretanto há uma voz que atrás de mim diz:

- Ó Fagundes,  o que é que tens na cabeça?

Era um colega de escola, furriel do exército. Passo a mão na cabeça e vem sangue  seco. Foi o tal zumbido que ouvi quando estava em cima da viatura e ver onde o IN estava emboscado. Mais um centímetro à direita e hoje o Hoss já não era lembrado.

Com tantos ferido ficámos sem medicamentos. Passados 2 ou 3 dias,  passa um avião T6 e apanho boleia para Bissau para ir buscar medicamentos. Quando aterramos  em Bissau,  diz o piloto:
- Gostaste da viagem?
- Claro que gostei ! - respondo eu com as pernas a tremer,  que mais pareciam bandeiras desfraldadas ao vento.

Vejam só,  o Hoss armado em cagarola e dias antes tinha andado aos tiros na guerra como se andasse a caçar coelhos numa coutado no Alentejo. É que o piloto daquela coisa voadora fez tudo para me enjoar,  mas não foi capaz.

Da pista sigo para a enfermaria para fazer a devida requisição dos medicamentos,  na passagem páro na secção fotográfica da Base Aérea para deixar os rolos de fotos que tínhamos tirado na emboscada. Pelo caminho reparo que,  quando o pessoal quando me via,  fugia. 

Chego à secção fotográfica e ao balcão estava um cabo que,  quando me viu,  fugiu, parecia que tinha visto um fantasma.  Do lado de dentro do balcão e à direita havia uma porta, espero um pouco,  aparece o sargento a espreitar. Eu pergunto:
-  Que é que se passa,  meu sargento? Já não me conhece, não sabe quem eu sou?

Então o bom do amigo,  muito excitado,  diz:
- Corre a voz que tu morreste.

Enigma resolvido. Imaginem. Dali sigo para a enfermaria,  quando entro fez-se silêncio. Ninguém disse nada, então eu quebrei o gelo e disse:
- Ainda não morri,  estou aqui bem vivo.

A tenente enfermeira Zulmira  e a sargento Maria do Céu,  emocionadas,  deram-me um forte abraço. Feita a encomenda,  sigo à procura do ex-Capitão Terras Marques  e ex-comandante da companhia. Fui encontrá-lo na messe dos oficiais. Quando me viu,  disse:
- Foram os meus homens que morreram.

Mais palavras para este homem? Creio que não são necessárias.

A Sargento Maria do Céu nunca mais a vi. A Tenente Zulmira encontrei-a há 23 anos,  no Dia da Unidade,  em S. Jacinto – Aveiro. Imaginem como foi o nosso reencontro.

Hoss


[ Fixação / revisão de texto: L.G.]
________

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)


Foto e legenda: Luís Cabral, Crónica da Libertação. Lisboa: O Jornal. 1984 (Imagem digitalizada por A. Marques Lopes) (com a devida vénia ao autor e ao editor...). A legenda diz o seguinte: "A condecortação dos corajosos combatentes que em Fevereiro de 1968 realizaram a primeira operação contra o aeroporto de Bissau. O Secretário Geral do Partido [, Amílcar Cabarl,] apõe a medalha ao comandante Joaquim N'Com que secundou André Gomes na direcção da importante operação".


Mensagem de 14 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes (natural de Lisboa, hoje coronel DFA, na reforma, e residente em Matosinhos), com mais um texto extraído do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:


PAIGC > Instrução, táctica e logística > V parte (1)

[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G.]



FLAGELAÇÕES

(1) Generalidades

Ainda que muitas vezes indetectáveis, o IN realiza normalmente reconhecimentos prévios à zona a flagelar, os quais dispensa se por hábito conhece o local onde vai actuar.

São acções normalmente de pouca duração, violentas, lançadas vulgarmente ao anoitecer ou durante a noite, tendo-se no entanto verificado ultimamente a realização de algumas flagelações durante o dia. Em função da violência e dos efectivos cada vez maiores que o IN emprega nestas acções, não é de estranhar da sua parte venha a procurar o assalto, o que aliás já tem tentado.

Embora em numerosas flagelações o IN seja feliz na justeza com que efectua o tiro, é normal o tiro não ser "justo", obviamente sem consequências para as NT. Normal é também a utilização de observadores avançados que, por intermédio de linhas telefónicas ou E/R tipo SHARP, efectuam regulação de tiro.

O dispositivo empregue é variável com o terreno e com os meios utilizados; podemos dizer que normalmente será articulado em três escalões: (i) o dos atiradores com armas ligeiras e lança granadas foguete; (ii) um segundo escalão com canhões sem recuo; e (iii) um terceiro, mais recuado, com morteiros. Isto para ma flagelação em que foram empregues todos os tipos de armas que o IN utiliza.

Outras há em que apenas são utilizados canhões ou morteiros, em acções que o inimigo denomina de “bombardeamento" incluindo-se nestas as flagelações com foguetão 122, também conhecido por GRAD ou Artilharia pesada. A retirada é feita dos escalões mais recuados para os mais próximos, aqueles a coberto dos fogos destes e feita para local previamente escolhido como ponto de recolha e ulterior fuga.


(2) Procedimentos adoptados segundo declarações do capturado Carlos Silva

Normalmente nas flagelações contra os aquartelamentos o IN adopta o seguinte dispositivo:

- Os elementos de infantaria (bigrupo) divide-se em dois grupos que se instalam próximo do aquartelamento. Estes elementos dispõem de LGFog, MP ou ML e armas ligeiras;
- Os Canhões S/R são colocados atrás da infantaria e a uma certa distância, procurando o melhor local;

- Os Morteiros são colocados à rectaguarda dos canhões.

A uma hora fixada as armas pesadas abrem fogo e em seguida faz fogo a infantaria. A duração da acção está condicionada à quantidade de munições existentes e à reacção das NT. A retirada é feita rapidamente, retirando primeiro as armas pesadas sob a protecção da infantaria. Após a retirada o pessoal reune-se no local previamente determinado. Por vezes esses locais não são utilizados, pois a reacção das NT obriga-os a retirar desordenadamente, pelo que regressam aos seus acampamentos conforme as possibilidades.


(3) Esquemas representativos de técnicas doutrinárias

De um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim, foi extraído o seguinte esquema representativo de um ataque a um aquartelamento das NT:





Comentário: O esquema mostra-nos o desenrolar de um ataque feito por um destacamento IN a um aquartelamento das NT, o qual se encontra figurado a azul. O ataque foi lançado a partir de uma base, sendo o deslocamento do destacamento IN representado pelo tracejado a vermelho.

O deslocamento do “grosso” terá sido precedido por um grupo de exploração, sendo representados os diferentes grupos de ataque, as posições dos morteiros e do canhão s/r e juntodestas dois grupos de protecção.

De notar a montagem de um emboscada no itinerário de acesso ao aquartelemento. É representada a entrada de 2 grupos no interior do aquartelamento.


(4) Método de referenciação de objectivos

Ainda do caderno de apontamentos de João Landim, foi extraído um esquema de referenciação de ob jectivos que o IN elabora com vista à flagelação de aquartelamentos ou povoações:



Comentário: O esquema mostra-nos um método de referenciação expedita de objectivos utilizado pelo IN. A linha N/S corresponde à linha 06HORAS–12 HORAS do relógio. A referência a vermelho é portanto a linha de 15 HORAS.

Os objectivos estão referenciados relativamente à linha de referência por horas, negativas ou positivas conforme se acham no quadrante da esquerda ou direita.
A distância do ponto de estação (centro do relógio) é assinalada, provavelmente, em metros.


FLAGELAÇÕES - CASOS REAIS


(1) Casos reais baseados em relatórios das NT e documentação capturada ao IN


(1a) Táctica prevista pelo IN para o ataque a BUBA em 10 de Outubro de 1969

1. Tradução de documentos capturados ao Capitão do Exército Cubano Pedro Rodriguez Peralta (2)

Documento N.º 1





Informação [do IN]:


Operação realizada no quartel de Buba em 10 de Outubro de 1969. Ao partir da fronteira no dia 2 de Outubro mandou-se, vinte dias antes, um grupo de exploração que tinha por missão obter todos os dados da mesma.

Croquis com áreas em volta, colocação possível para a infantaria, artilharia, além de realizar uma operação artilheira normal [?] e ao mesmo tempo [?] os pontos onde se instalariam os m[orteiros] 82 e GRAD [, foguetão 122 mm] (3)e o posto de observação.

Para isto se designou um companheiro capaz, à frente disto se pôs Júlio – caboverdeano e artilheiro de M [orteiro] e GRAD e o chefe da região, companheiro Chuchu.

À nossa chegada o trabalho realizado deste croquis estava mal, pois que foi feito de noite e não se podia fazer uma boa apreciação.

Discutimos com Nino, até que se ordenou uma nova exploração que depois confrontámos com os companheiros de segurança. Junta-se o plano mais as possíveis forças que defendiam que são aproximadamente mais de quatro centos e picos homens.

Com todos estes dados reunimo-nos, Manuel, Júlio e eu, e depois de analisar a situação do quartel e a sua possível defesa devo declarar que a nossa apreciação foi correcta já porque analisámos todos os possíveis [ pontos ?] de tiro de armas pesadas, o que se comprovou na prática.

Depois analisámos como actuaria a Infantaria e não concordámos porque eles opinavam realizar o ataque por uma única direcção, coisa que lhe expusemos na nossa discussão. Concentrar 5 bigrupos num só lugar serão muitas as baixas da nossa parte, já que era uma frente de 200 metros. Depois propusemos uma variante, fazer o ataque da mesma forma em 2 escalões. Isto foi desejado já que depois de discutir e ao expor-lhe razões de pouca preparação dos bigrupos corríamos um grande risco de baixas pelas nossas próprias forças, mas insistiram no seu planeamento inicial.

Coube-nos a nós fazer a nossa proposta que foi a seguinte: Os portugueses pela situação do quartel deviam ter a seguinte forma de defesa: (i) Pela parte da frente do mesmo mas sobre a direita, por ter mais visibilidade, devia ter sectores de tiro encruzados de autometralhadoras; (ii) Pela rectaguarda um sector de tiro em idênticas condições aproveitando a limpeza e podendo bater todo o rio em caso de tentativa de travessia; (iii) A possibilidade com uma autometralhadora que cobrirá o embarcadouro que está a 50 metros do quartel e uma ou duas peças entre o quartel do lado que dá para a população.

Analisando tudo isto a infantaria devia atacar em duas direcções uma principal e outra secundária, como se segue:

(i) Concentar bigrupos reforçados com bazooka RPG7, metralhadora libiana [=líbia ?,](3) pela porta do quartel e onde termina a pista de aviação, onde pela sua situação ressalta a possibilidade que a ponta da pista não pode ser minada, nem os seus arredores, como medida de segurança podia avançar até chegar a 50 metros do quartel; este seria o golpe principal.

(ii) O secundário seria com o resto dos dois bigrupos e o resto, entrariam por onde se encontra população avançada para entraraz em cunha em relação o outro; desta forma entendíamos que os portugueses não tinham saíd[a] desta situação.

Manuel disse que era correcta mas havia planeado antes, menos Júlio que estava plenamente de acordo. Decidimos apresentar o plano a Nino com tudo o que foi feito e ele, como chefe, decidiria.

Este depois de ver o terreno e tudo o que havia sido feito decidiu que o ataque se fizesse em duas direcções, quer dizer, de acordo com a nossa apreciação, e ordenou as disposições finais e discutimos como devia avançar a infantaria e como se realizaria o fogo no arame, que é como se segue:

(i) Os Combatentes com o RPG7 em primeira linha, com apoio de metralhadora libiana varreriam todos os ninhos de metralhadoras e pontos de resistência no meu avanço.

(ii) Ao terminar isto a infantaria encontrar-se-ia perto do quartel e com as AK em tiro a tiro e apoio de metralhadora libiana avançaria rapidamente para o mesmo. Isto jogava com o tiro de artilharia que explicaremos depois.

Para isto pôs-se o comandante Chuchu, chefe da região, e o companheiro Baro, caboverdeano, como responsável da infantaria, e nos bigrupos que avançariam por ambas as direcções um companheiro em cada um dos comandos como quadros intermediários para dar ordens aos bigrupos para iniciar o combate. Como meio de comunicações teriam desde os responsáveis e os dois companheiros dos bigrupos rádio “Bobitoqui” [walkie-talkie ?] que estavam bons e a comunicarem na perfeição. Também se precisou a hora em que estariam em posição (Esta dá-la-emos com o tiro A.)


Documento N.º 2


Notas sobre o ataque a Buba

Homens inimigos 400 ou mais
Ordem de fogo
B-10 tiro directo 180 granadas
Mort 82 180 granadas
A. X 7 foguetes
Depois de 90 granadas M-82 = tiro comprido, encurtar a distância como se segue:
1.º tiro 150 metros para além do quartel; 2.º tiro 50 metros menos; 3.º tiro 50 metros menos; 4.º tiro 50 menos menos.

Simultaneamente, quando os tiros de morteiro encurtarem, a infantaria avança até entrar em acção depois de terem terminado os morteiros.


Colocar dois bazookeiros na pista de aviação, um RPG7, um RPG2, com um atirador AK, um canhão [s/r] B-10 em tiro directo para o embarcadouro, para evitar a entrada de barco.

2 bigrupos como protecção da artilharia [?] e encarregados da mesma = 12 DCK = AA.



Documento n.º 3


2. Ensinamentos colhidos (do relatório das NT)

A acção empreendida pelo IN em 12 de Outubro de 1969 foi indubitavelmente das melhores planeadas que se têm efectuado contra este aquartelamento e, tanto quanto saibamos, foi a primeira vez que foi tentada uma acção contra Buba utilizando duas forças actuando em coordenação.

Analisando o procedimento IN é de notar a inteligente disposição dos Canhões S/R e Morteiros na foz e margem direita do Rio Mancamã, distanciados cerca de 1800 metros e actuando em coordenação com observação avançada conforme o esquema junto dá ideia.




De notar também o cuidado com que foi realizada a progressão das forças de assalto que, evitando trilhos e picadas, progrediam a corta mato até muito próximo do aquartelamento.

De salientar o número elevado de homens empenhados nesta acção última. Com efeito o trilho de aproximação e retirada detectado revela ter sido utilizado por grande número de elementos, todos calçados de igual – possivelmente botas de cabedal de rasto de borracha com desenho semelhante à das NT mas mais miúdo.

Da observação cuidadosa desse trilho resulta não nos parecer exagerada a afirmação de que a força que tentou o assalto ao aquartelamento era composta por cerca de 200 elementos.


3. Esquema dos itinerários de aproximação retirada do IN





(1b) Táctica prevista pelo IN para o ataque a BEDANDA


(Extraído dos documentos capturados ao Capitão do Exército Cubano Pedro Rodriguez Peralta)





(1c) Modos de actuação contra JABADÁ



1. Do estudo e interpretação de vários relatórios das flagelações a JABADÁ [, a nordeste de Tite,]e das declarações de capturados nelas intervenientes, concluiu-se:

As actuações contra o aquartelamento de JABADÁ podem considerar-se divididas em várias fases, correspondentes aos segunintes períodos:

(i) Até meados de Dezembro de 1968: As flagelações eram feitas com todos os elementos;

(ii) De meados de Dezembro de 1968 até final de Janeiro de 1969:

Este período correspondeu à permanência de Nino na região, tendo as flagelações passado a ser feitas do seguinte modo:

- As Armas Pesadas (Can S/R e Mort 82) eram colocadas a cerca de 3 Kms do aquartelamento, do lado Sul, e o tiro era regulado por um cubano;

- Os elementos de infantaria (bigrupos), armados com LGFog, MP, ML e Arm Lig, instalavam-se perto da povoação, do lado direito da estrada (conforme consta na figura junta);

- A acção era iniciada pelas armas pesadas que deixavem de fazer fogo pouco depois de as NT iniciarem a reacção.

- Quando as NT diminuíam a intensiddade de fogo (ou cessavam a reacção), os elementos instalados próximos da povoação abriam por sua vez fogo, aproveitando assim o gasto de munições por parte das NT.

Estes elementos IN eram protegidos ou não pelo fogo de Mort 82, mas nunca pelo de Can S/R. Faziam geralmente pontaria baixa.

(iii) A partir de Fevereiro de 1969:

- A partir deste período as NT passaram a montar emboscadas, com certa frequência, na região de FLAQUE AMEDÉ e o IN deixou de utilizar o dispositivo habitual e começou a actuar simultaneamente sobre o nossso aquartelamento e sobre a região de FLAQUE AMEDÉ. Estas acções passaram a ser desencadeadas, novamente, de longe.

- Na acção do dia 9 de Agosto de 1969, o IN utilizou bases de fogos diferentes das habituais e cruzou os fogos, actuando de diversas zonas simultaneamente.


2. Segundo as declarações do capturado Domingos Bolo (que era chefe de um bigrupo que actuou diversas vezes contra o aquartelamento de JABADÁ), antes das acções, um grupo IN faz o reconhecimento a fim de verificar se as NT têm montadas emboscadas, pois que se tal acontece não realizam a acção.

Referiu ainda que as acções eram desencadeadas sempre de Oeste da estrada, porquanto de Este o terreno não lhes garantia tirar bons rendimentos nas acções nem uma fácil retirada.

Das declarações deste capturado (que actuou sobre as ordens de Nino nas flagelações a JABADÁ) foi feito o seguinte esquema do dispositivo IN:






(1c) Planeamento para a condução de uma acção contra o aquartelamento de EMPADA


Transcrem-se duas cartas escritas por Júlio César de Carvalho (Julinho) ao omandante do bigrupo Quintino Gomes e que foram capturadas durante uma operação das NT:


TOMBALI, 22 de Dezembro de 1970

Caro camarada Quintino:

Saudações para todos os camaradas e votos de boa saúde.

Comunico-te o seguinte: Pensamos realizar missão em EMPADA com forças de Artilharia e Infantaria: para isso tens a seguinte missão:

1.º Juntamente com o camarada Mamaly, comandante de bigrupo, acompanhado de dois chefes de grupo, devem reconhecer o objectivo para a actuação da Infantaria. Devem realizar a missão o mais depressa possível, para cumprirmos a missão antes do fim do ano;

2.º Indicar um local seguro onde podemos reunir munições de Mort 82 e B-10 [Canhão S/R B-10 ou BEDIS ?] (2) dois ou três dias antes da operação;

3.º Comunicar a quantidade de munições M62 [ Morteiro 62 ] e OB-10 que podemos contar naquele sector, em bom estado.

4.º O camarada Mamaly deve regressar imediatamente após o cumprimento do reconhecimento.

5.º Como sempre, manter o máximo de segredo, mesmo junto de outros camaradas, desta missão.

É só isso.

Saudações combativas para todos.

Um abraço do camarada amigo

Ass)



TOMBALI, 27 de Dezembro de 1970


Caro camarada Quintino:


Saúde e votos de bom trabalho.

Recebi a tua carta, satisfeito pelo conteúdo. Hoje, dia 27, segirão os camaradas da Bataria com as respectivas peças e munições; com eles vai o Bigrupo de Mamaly.

Deverão contactar-se imediatamente e juntamente com os camaradas Casimiro Cordeiro, Rachide e Mamaly deverão resolver o seguinte:

1.º Contactar om os camaradas Dinis (CP) e Tomaz (Comércio) para conseguir todo o arroz necessário. A fim deles estarem avisados vou escrever-lhes nesse sentido.

2.º Transportar os 55 obuses de OB-10 juntá-los com as munições destinadas para a operação.

3.º Contactar com o camada Diniz para, se possível, enviar amanhã a canoa grande que foi lançada à água nesses dias.

4.º Ver um local onde podemos deixar o médico com o seu equipamento de modo a servir tanto a infantaria como a artilharia.

5.º Preparar todos os teus homens que, juntamente com a nossa Infantaria, tomarão parte no ataque.

É só isso.

Saudações para todos e votos de que consigam cumprir tudo.

Vosso camarada amigo

Ass)


As duas cartas que se transcrevem dizem respeito a uma ordem de missão relativa a uma acção sobre o nosso aquartelamento de EMPADA, a qual foi realizada em 30 de Dezembro de 1970.

Da análise das referidas cartas ressalta o seguinte:

- O cuidado posto no planeamento da acção;

- O reconhecimento prévio das posições das forças de Infantaria bem como do local onde seriam colocadas as munições para as armas pesadas dias antes do ataque;

- As recomendações dadas quanto à manutenção do segredo da operação;

- A preocupação em assegurar a alimentação das forças que se iriam deslocar para o local da concentração;

- A escolha do local onde ficaria o médico numa posição em que “servisse tanto para a Infantaria como a Artilharia”;

- Da acção, conduzida com violência, resultaram elevados danos materiais.

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)

(2) Capitão Pedro Rodriguez Peralta: cubano, capturado pelos pára-quedistas do BCP 12/ CCP 122, em 18 de Novembro de 1969, no sul da Guiné (Operação Jove). Gravemente ferido, foi depois transferido para Lisboa, e condenado pelo Tribunal Militar de Lisboa em dois anos e dois meses de prisão, sob a acusação de pertencer ao PAIGC. Só foi libertado depois do 25 de Abril de 1974.

(3) Vd. post de 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)