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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)



Foto nº 1 > Timor > Díli > 2017 > Xanana Gusmão, João e Vilma 
 


Foto nº 2 > Timor > Díli > 2017 > Ramos Horta, João e Vilma 


Foto nº 3> Timor > Díli > 2017 > Mari Alkatiri, João e Vilma 


Foto nº 4 > Timor > Díli > 2017 > Rui Maria Araújo, 
Primeiro Ministro nessa altura. João e Vilma


Foto nº 5 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  Com Xanana Gusmão:
 "a expressão de surpresa por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné"…



Foto nº 7 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > Protestei, mas o Xanana foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras.)



Foto nº 8 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Eu e Xanana:  Se for desta que a Escola arranja professores, 
esta foto vai ficar numa parede…



Foto nº 9> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  
Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; 
Dionísio B. Soares, Embaixador de Timor nas Nações Unidas; 
uma senhora, não tenho a certeza ,mas penso 
que é Dulce Soares, ministra da cultura; e eu.



Foto nº 10> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal 
em Washington Francisco Duarte Lopes; 
Xanana; eu, a Vilma e...uma senhora que foi-me apresentada 
mas não me lembro quem é (ai o que faz a velhice…).



Foto nº 11> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 Xanana autografando o livro 
para o Rui Chamusco (que vive na Lourinhã)



Foto nº 12 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 A dedicatória do Xanana:  "Para Rui Chamusco:Muito agradecido
pela escola que construiu em Timor Leste!... 
Muita amizade. Xanana, NY, 23 setembro 2024"

O último livro de Kay Rala Xanana Gusmão
(O Meu Mar, O Meu Timor)

 

Foto nº 6> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
Xana, a Vilma e eu... Ele fifcou contente pelo livro “LAMETA” 
que lhe entreguei: que nunca tinha recebido 
o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir 
que outros assuntos também nem sempre chegam 
aos seus destinos…


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do João Crisóstomo, o "embaixador" da nossa Tabanca Grande em Nova Iorque, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ativista de causas sociais, etc.

Data - terça, 24/09/2024, 20:00
 Assunto - Será desta ? 


Caro Luís Graça (c/c Rui):


Será desta?


Como sabes tem sido longa a nossa luta para conseguirmos professores acreditados (oficializados) para a escola de S. Francisco de Assis em Timor Leste (*). Temos batido a todas as portas em Portugal e em Timor Leste, mas a solução tem-se mostrado elusiva. 

Em vários casos estes esforços têm sido feitos em encontros e contactos pessoais; em outros casos quando um contacto pessoal tem sido possível, a situação tem sido dada a conhecer através de assessores que sempre garantem que os nossos pedidos chegarão aos destinatários. Não sei se chegam ou não. A verdade é que temos ficado sempre esperando!.

Embora eu tivesse estado com vários líderes em 2017, quando fui a Timor Leste pela primeira vez, nessa altura o projecto da escola apenas existia na mente do casal Glória e Gaspar Sobral e do Rui Chamusco. Este havia-me falado dessa ideia , mas eu ainda não tinha ido às montanhas e não fazia ideia da situação e que necessidade desta escola era tão premente.

Encontrei-me nessa altura com Xanana, 17 anos depois do nosso último encontro em Nova Iorque: um encontro muito agradável, direi mesmo uma experiência extraordinária. 

Como sucedeu com Mari Alkatiri, que tinha sido Primeiro Ministro quando Xanana foi Presidente na primeira administração após a independência de Timor Leste , ou com Ramos Horta e com Rui Maria Araújo, que era o Primeiro Ministro nessa altura. Mas nesta altura o projecto da construção duma escola ainda não existia sequer na minha mente.

Os nossos esforços, especialmente por parte do Rui Chamusco que já foi a Timor Leste cinco vezes (**), têm sido razão de muita frustração. Tenho uma admiração enorme por este homem que não desiste, com uma perseverança contagiante que leva os outros a continuarem e a não perderem a esperança. E tem sido esta perseverança dele que me tem motivado a não desistir também.

E, assim de repente, apareceu uma oportunidade que eu não esperava: o Embaixador de Timor Leste nas Nações Unidas, Dionísio Babo Soares, com quem há tempos me encontrei, mandou-me uma mensagem: que o atual Primeiro Ministro de Timor Leste, Xanana Gusmão, em Nova Iorque por ocasião da Assembleia Geral da ONU, ia lançar um livro sobre o mar de Timor “My sea, my Timor”... e se eu estava interessado em aparecer.

Primeiro eu não via razão para ir: depois do acidente que tive há meses decidi ter mais cautela e tenho-me limitado apenas ao mesmo necessário. Mas logo refleti : porque acredito em contactos pessoais como o melhor meio de se conseguirem resultados (como no caso de Aristides de Sousa Mendes e o “Dia da Consciência” junto do Vaticano que tentávamos desde 2004, mas que apenas começou a receber a devida atenção depois dum encontro pessoal com o Secretário de Estado), logo me lembrei que sendo ele agora Primeiro Ministro,  seria uma boa ocasião para tentar falar com ele pessoalmente sobre a escola S. Francisco de Assis…

E mesmo em cima da hora decidi ir. Não tinha tempo para preparações , mas tinha à minha frente alguns posts do nosso blogue sobre as crónicas do Rui Chamusco que tinha acabado de imprimir. São várias centenas já, pois que eu, não sendo letrado em coisas digitais, imprimo tudo o que acho de especial interesse. Apanhei duas ou três folhas onde aparecem a escola e as crianças da escola e levei-as comigo.

Quando cheguei, o Xanana tinha também acabado de chegar. E estava ainda cá fora, muito efusivo a cumprimentar outras pessoas quando nos viu e reconheceu. E até eu fiquei surpreendido pelos abraços e receção calorosa que nos deu. 

E lembrou aos presentes que nos tínhamos encontrado aqui em Nova Iorque no ano 2000. Com receio de não ter oportunidade de falar com ele mais tarde, como sucede muitas vezes nestes casos, logo lhe disse se podia falar com ele sobre um assunto que achava importante, uma escola nas montanhas de Timor Leste, ao mesmo tempo que lhe mostrava essas folhas do nosso blogue. 

Ficou surpreendido,  pensando ser engano : “Mas… como é? … esta escola é na Guiné?"… 

Explicada a razão de que Timor Leste era também assunto importante para os “camaradas e amgos da Guiné" e quantos lessem este blogue, aceitou a explicação. Solícito, ao ver a minha bengala até fez questão de me ajudar a subir as escadas …

E depois de termos cumprimentado alguns convidados presentes que já conhecíamos e outros que nos foi apresentando, foi ele que me me levou para um banco mais afastado "para falarmos melhor”.

Antes de prosseguirmos para o “momento de lançamento do livro",  mandou chamar o Embaixador de Timor-Leste nas Nações Unidas (o mesmo que nos convidou para este evento) a quem instruiu para colher as informações pertinentes sobre este assunto.

Já depois do lançamento, eu pedi-lhe a sua assinatura no livro que queria enviar ao Rui Chamusco. Logo que cheguei a casa apressei-me a chamar o Rui a quem dei conhecimento de tudo e dum livro que tenho aqui para ele, devidamente autografado pelo Xanana.

Fico esperançado que não tenha sido uma conversa em vão! 

Será desta? (**)

João
====

PS - Como não sei fazer melhor, aqui vão algumas fotos, com as devidas legendas, se as achares pertinentes e quiseres usá-las.

Legendas:

As primeiras quatro fotos foram tiradas em 2017 durante a nossa primeira visita a Timor Leste.

1 > c/ Xanana | 2 >c/  Ramos Horta | 3 >  >  c/ Mari Alkatiri |  4 > Até parece anedota com Rui Maria Araújo, Primeiro Ministro nessa altura.

As oito seguintes foram tiradas ontem (23 de setembro de 2024).

5 > Podes ver a expressão de surpreza do Xanana por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné…

6 > Ficou contente pelo livro “LAMETA” que lhe entreguei: que nunca tinha recebido o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir que outros assuntos também nem sempre chegam aos seus destinos…

7 > Protestei, mas ele foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras).

8 > Se for desta que a escola arranja professores, esta foto vai ficar numa parede…

9 > Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; Dionísio B. Soares, Embaixador nas Nações Unidas; (não tenho a certeza ,mas penso que é Dulce Soares, Ministra da cultura).

10 > Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal em Washington Francisco Duarte Lopes; Xanana e (???) (a senhora foi-me apresentada mas não me lembro quem é;  ai o que faz a velhice…).

11 > Xanana autografando o livro para o Rui Chamusco.

12> A página com a dedicatória...

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(*) 17 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25950: (In)citações (261): tudo o que temos pedido é que forneçam professores devidamente acreditados para a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá, Timor Leste (João Crisóstomo, Nova Iorque)

(**) Vd.postes de:



terça-feira, 17 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25950: (In)citações (261): tudo o que temos pedido é que forneçam professores devidamente acreditados para a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá, Timor Leste (João Crisóstomo, Nova Iorque)




João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusõfona
e amigo de Timor Leste. Foto: LG (2017)


1. Email enviado por João Crisóstomo, na sequência de comentário ao poste P25944 (*)

Data - 15 de setembro de 2024, 08:51

Caros Rui Chamusco  e Luís Graça,


Nem sempre leio, mas hoje vi, li e tive de desabafar (*) (...). São 01.24 da manhã de 15 de setembro. Não consigo dormir e resolvi buscar o computador, talvez alguma leitura amena no nosso blogue, como as peripécias narradas pelo Jorge Cabral ou outras me trouxessem o sono.

E ao deparar com esta crónica do Rui, resolvi lê-la para “lembrar”; ao fim e ao cabo também cheguei a ir e estive em Timor (em 2017 e 2018), onde , perante a situação de que o Rui me tinha falado e que confirmei, pensei poder continuar a ajudar: a minha experiência e contactos que ainda mantinha desde os tempos da luta pela independência poderiam com certeza ajudar, pensava eu.

Mas hoje, em vez de uma leitura amena, deparei com o contar duma situação que tem sido uma constante desde esses dias em 2018 até hoje. Raiva, tristeza, saudades, frustração, não sei qual deles maior, foi o que experimentei agora.

De alguma maneira quase me sinto culpado, pois que na altura sonhei e falei do muito que se poderia fazer para ajudar aquelas crianças esquecidas e aquelas gentes tristemente ignoradas nas montanhas de Liquiçá; alimentei tantas esperanças ao Rui, ao Gaspar e à Glória e a tanta gente boa em Portugal, e não só, que perante o nosso entusiasmo resolveram dar também a sua ajuda. E de alguns não foi só ajuda financeira como a de oferecerem-se e irem a Timor Leste. E agora passados seis anos ainda continuamos lutando pela mera sobrevivência duma única escola. Como é triste!

Mas como poderia eu, como poderíamos nós esperar tão pouca resposta por parte daqueles que em Timor Leste, em Portugal e em outras partes do mundo (como na Guiné), desta situação e outras semelhantes, se deviam ocupar?

Se razões de consciência, solidariedade e mesmo justiça não os motivam, então que cumpram o dever e obrigações dimanadas pela situação de poder ou de privilégio em que se encontram agora ou tiveram no passado se ainda agora podem ser influentes.

Os deveres inerentes à consciência e solidariedade são deveres permanentes e não devem ser coisas acidentais e temporárias na nossa vida.

Tenho acompanhado outros projectos semelhantes na Guiné e S.Tomé, aqui descritos no nosso blogue. Que são para mim sempre motivos de motivação, não só pelo simples facto de existirem, como pelo facto de serem motivo de tanto interesse por parte de todos nós que por lá andamos e conhecemos o que era e o que ainda é.

No caso de Timor admiro a boa vontade de tantos que nunca lá estiveram mas que inspirados pelo Rui e outros continuam ajudando, persistindo em fazer bem.

Bem hajam! Eu não acredito em milagres, mas, mesmo na minha muita desilusão, ainda teimo em persistir, esperando sempre por um milagre.

João Crisóstomo

PS - Esqueci-me de dizer que tudo o que temos pedido é que, que forneçam professores devidamente acreditados para esta escola, uma vez que agora já há uma escola construída e uma residência para professores nestas montanhas onde as crianças, que são tão timorenses como as crianças que vivem em cidades ou em locais com mais facilidades e que têm sorte de terem pais mais afortunados, parecem ou foram completamente esquecidas. (**)

_______________

domingo, 15 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25944: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - XII (e útima) Parte: A minha casa é o mundo e qualquer dia estarei de volta...




Timor Leste > Liquiçá > Manatti > Boerbau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA)

Fotos:  © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Esta é a última crónica desta série... No dia 16 de junho de 2018 o Rui Chamusco regressou  a Portugal...  Foram cinco meses de estadia, iniciada em 25 de janeiro do ano da graça de 2018. 

O  luso-timorense e seu amigo Gaspar Sobral foi o seu companheiro de viagem.  Ambos são cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015, com sede em Coimbra (onde o Gaspar e a  Glória vivem; a Glória é da Malcata, Sabugal).
 
O Rui é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio último. Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. 

Em Timor (onde já foi cinco vezes, desde 2016), o Rui continua a  dedicar-se de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, no município de Liquiçá.

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral,
 


O "malaio" (estrangeiro) Rui Chamusco
e o seu companheiro de vaigem, o luso-timorense
 Gaspar Sobral.

Foto: LG (2017)



II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)


XIII (e Última) Parte -   A minha casa é o mundo e qualquer dia estarei de volta...

Dia 09.06.2018, sábado - Verdadeiros heróis...


Não posso deixar de descrever o que acabo de presenciar. O Cesáreo acaba de chegar de Liquiçá. Vejam só! Ontem de manhã foi para a horta, que fica mais ou menos a dois quilómetros no fundo da encosta, a apanhar folhas de “malus” (a folha de uma trepadeira que se cultiva em Timor Leste, pois faz parte do ritual cultural timorense mascar o betel: folha de malus+areca+cal). Ele mais o cunhado Augusto, apanharam duas sacas grandes cada um, subiram-nas às costas até cá acima e, às dezanove horas, já noite, ei-los prontos a partir, a pé, por entre montanhas e vales a caminho de Liquiçá, a fim de entregarem a colheita que um amigo se encarregará de vender.

Perguntei-lhe qual a distância a percorrer, e ele respondeu: “mais ou menos cinquenta quilómetros”. Ou seja, ida e volta cinquenta quilómetros. Descalços ou de chinelos, por veredas e atalhos, enfrentando os perigos do caminho: escorpiões, serpentes ou, na melhor das hipóteses, nada. Hoje, às oito horas da manhã, estão de volta. 

Tudo correu bem, mas imagino o cansaço e com certeza a fome com que devem estar. Eles fazem-me lembrar heróis de outros tempos que, em Malcata e nas terras fronteiriças se dedicavam ao contrabando, transportando odres de azeite e outros produtos que, sem descansar, percorriam também mais ou menos cinquenta quilómetros, correndo sérios riscos de serem apanhados e espoliados pela guarda fiscal (em Portugal) e pelos “carabineros” (na Espanha). 

Por quantas dificuldades não têm os pobres de passar para garantirem o seu
sustento e o das suas famílias. Sou testemunha viva da indigência destes pobres, onde qualquer cêntimo faz a diferença. Em casas térreas quase reduzidas a paredes e telhado, umas em colmo e palapa outras em blocos de cimento e telhados de zinco, gera-se a vida que, através de muitas dificuldades se vai construindo com muito amor, em corpos franzinos mas resistentes. Aqui, todo o ser vivo tem direito a usufruir do espaço caseiro.

Ontem à noite, enquanto tomávamos o café na casa do Cesáreo, andavam a nossos pés cães, galinhas e até uma porquinha. Faltam condições básicas, sobretudo de higiene, mas nem por isso as crianças e os adultos deixam de sorrir e de dar ao visitante tudo o que têm. Ai se os ricos dessem,  não tudo o que têm,  mas ao menos o que lhes sobra!...Como este mundo seria melhor...

As carências são muitas. Dinheiro é coisa que não têm, mas eles sabem que é com o
dinheiro que tudo se compra: café, arroz, cigarros, etc... Por isso, são frequentes os
lamentos e os pedidos. “Ti Rui ajuda?”. Ou então as crianças que se aproximam de ti, te estendem a mão e dizem: “Ossan! Ossan”; “dolar!”

Porra! Não haverá por aí, em Timor ou em qualquer parte do mundo, alguém que possa e queira ajudar estes pobres?

“Pobres dos pobres / São pobrezinhos / Almas sem lares / Aves sem ninhos.” (António Crreia de Oliveira)

Dia 10.06.2018, domingo - Continuação


Ontem à noite, em conversa de amigos com o Cesáreo, ousei perguntar-lhe: “Quanto ganhas cada vez que vais a Liquiçá levar as sacas de “malus”?” Ao que ele me respondeu: “Depende, Tiu Rui. Se é no verão (estação atual) quinze a vinte dólares; se é no inverno vinte a vinte e cinco”.

Já viram isto? Um homem passa um dia inteiro para recolher duas sacas de “malus”; percorre a pé montes e vales durante nove horas enfrentando as adversidades do caminho; chega a casa todo estoirado de cansaço apenas com 15 dólares no bolso...

Senti vergonha de mim próprio e de muitos mais que, ganhando mais do que precisam, esbanjam o seu dinheiro em coisas supérfluas e inúteis.. Prometi que o iria ajudar, mais que não seja arranjando padrinho ou madrinha para um dos seus três filhos.

Pois é! Uns nascem e vivem em berços e casa doiradas; outros nascem e vivem em
presépios e casa de palha. Que desigualdade social, em Timor e em muitas partes do
mundo. Cidadãos cujos salários mensais oscilam entre os sete e os dez mil dólares
(deputados, ministros, doutores, etc...); cidadãos cujo salário esporádico não passa dos trinta a quarenta dólares. Não acreditam? Então venham cá ver!...

Por mais que o Evangelho nos console dizendo-nos que “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”, é muito difícil resignar-se e aceitar pacificamente a situação.. Melhor seria que houvesse repartição da riqueza, conforme as necessidades de cada um. Como dizia o poeta António Aleixo: “Se fosse toda a riqueza / Distribuída com razão / Matava a fome à pobreza / E ainda sobrava pão.” 

Mas quem tem a coragem e agir? Como podem os poderosos, os ricos baixar na sua condição? Cada vez compreendo melhor a frase do Evangelho: “Pobres sempre os tereis convosco”. Porque a capacidade de ser pobre depende muito do coração e da vontade de cada um.

Arrepiante!...

Estou de frente ao monte, do outro lado da ribeira de Laoeli, pensando no relato que me fizeram em Ailok Laran, da cena horripilante passada há doze anos em Hatohoulau, e que passo a descrever.

Numa visita que a família de Ailok Laran fez à família da parte da mãe Felismina
Sobral, aconteceu que um dos primos residentes, talvez minado por ciúmes ou outro sentimento qualquer com traços de esquizofrenia, atacou violentamente, à catanada, o primo Abeka. Por sorte não lhe acertou na cabeça, pois seria morte certa, mas sim no braço direito. O Abeka perdeu os sentidos, e foi de seguida transportado ao colo de diversos familiares pela montanha abaixo, até encontrarem transporte para Liquiçá, onde foi assistido. Dizem os que presenciaram a cena que, apesar da profundeza e da dimensão do golpe, não havia quase sangue nenhum. Pudera! O Abeka só tem quase pele e osso...

Uns dias depois de me relatarem o acontecimento estive com com a vítima e perguntei-lhe se era verdade o que me tinham contado. Mostro-me então a cicatriz no braço direito, prova evidente da veracidade dos factos.

Quanto ao agressor, nada a fazer. “Ele é doente. De vez em quando tem destas coisas”.

Enfim, esta gente tem uma capacidade de perdão incrível. Como diz o Bartolomeo: “Se Cristo perdoa porque é que eu não devo também perdoar?”


Dia 11.06.2018, segunda feira  - Regresso
 a Dili

Sim. Estava previsto para hoje, mas não da forma que se deu. Como não havia “motor” disponível nem em Ailok Laran nem em Boebau, decidiram que eu regressasse em transporte público: anguna até Liquiçá e anguna até Ailok Laran.

E como só fui informado pelas sete horas, tive que me apressar em arrumar a trouxa para que às oito horas estivesse pronto, porque a anguna do João chegaria a essa hora.

E tudo estava pronto quando de repente procurei a carteira e não a encontrei. Entrei em pânico, pois nela estavam todos os meus documentos e o dinheiro à ordem, e recusava-me a partir sem tão preciosa propriedade. Toda a gente em alvoroço, procurando por tudo o que era sítio, e eu convencido que tinha sido roubado.

Cabecinha louca de velho descuidado! O Bôzé conseguiu encontrá-la entalada entre
duas caixas de papelão. Dei-lhe um abraço e uma recompensa, e pusemo-nos em
marcha. Destinaram-me o banco ao lado do condutor, o senhor João, pai do Tito e da Tita, crianças que frequentam a nossa escola. Mas como me querem proteger, o Cesáreo e o Laurindo fizeram questão de me acompanhar na viagem. Não querem que aconteça algo de errado ao Tiu Rui. Obrigado amigos!...

E que dizer desta viagem? O percurso até Liquiçá foi o melhor dos que já fiz. Nem
motor, nem carro têm a segurança e a comodidade da anguna, mesmo que de sobressalto em sobressalto. Claro que conta muito a perícia do condutor, que fazendo este caminho duas vezes ao dia, conhece bem todos os buracos, curvas e contra curvas, paragens, clientes e sei lá quanta coisa mais.

A viagem em microlete de Liquiçá a Ailok Laran foi maçadora. Um veículo com a
capacidade de 9 lugares transporta o dobro, mais as fartas bagagens (cachos de bananas, feixes de lenha, galos e galinhas, sacos diversos, mochilas, etc...). Leva os clientes e os seus pertences às ruas e becos onde parece não passar, e toda a gente ajuda a quem entra e a quem sai. Valha-nos ao menos esta boa convivência e entre ajuda. Ao meu lado direito, bem encostadinha, porque assim tem de ser para caber toda a gente, vinha uma menina 11 a 12 anos com um galo ao colo, que quase me debicava o pernil, gostasse ele da carne do “malai”. 

De entrega em entrega chegamos ao nosso destino, depois de quatro horas de viagem num percurso de mais ou menos 50 quilómetros.

E a vida recomeça em Ailok Laran, até à reta final da nossa segunda estadia em terras timorenses.

Dia 14.06.2018, quinta feira  - Encontro 
inesperado

De tarde fomos a Liquiçá entregar a lista das crianças que já se inscreveram na escola de São Francisco (62, aproveitando a seguir uma ida à uma praia de Liquiçá). Também aqui os porcos javalis eram banhistas. Mas eis quando que, sem ninguém esperar, chega um carro com quatro senhores lá dentro. Pronto nos apercebemos, e eles também de que éramos portugueses, estabelecendo-se logo um diálogo de conhecimento mútuo. 

Porque estamos em Timor, quem somos, o que fazemos. Pois sabem quem esteve connosco em mável conversação? Isso mesmo: os músicos do grupo musical Virgem Suta , Jorge Benvinda, Nuno e Tiago que, contratados pela Embaixada de Portugal vieram abrilhantar as celebrações do Dia de Portugal. Hoje mesmo, à noite, vão dar o último concerto no bonito espaço do Mercado de Dili. E amanhã, tal como nós, regressarão a Portugal.

Coincidências ou não, a verdade é que já há muito tempo que aprecio este grupo e a sua forma de fazer música. Talvez em Portugal a gente se encontre informalmente ou em espetáculos organizados. Agora que é o tempo das cerejas poderei dizer que, em jeito de despedida, foi “a cereja em cima do bolo”.

15.06.2018, sexta feira - Na embaixada 
de Portugal

A audiência foi marcada para as 15.00 horas, precisamente a hora em que fomos
recebidos pelo sr. Embaixador de Portugal Dr. José Vieira e pela sua assistente, Dra. Daniela Araújo. 

Para além de ser uma visita de cortesia e de despedida, fomos agradecer o seu apoio ao nosso projeto - lembro que esteve presente na inauguração da escola - o objetivo da visita era sobretudo a entrega de documentação relativa à escola, à Astil e à Astilbm, elaborada pelo colega de trabalho Gaspar. Com simpatia e diplomacia disponibilizou-se para apoiar e acompanhar o nosso projeto dentro das competências e possibilidades da embaixada, e depois de o Gaspar e o embaixador teceram diversas considerações, saímos airosamente do espaço que nos protegia.

“Talvez voltemos no final de ano”, disse eu, ao que o sr.embaixador manifestou o seu contentamento.

Por aqui me fico nas minhas crónicas da segunda estadia em Timor. Sei que esta noite ninguém vai dormir devido ao jogo de futebol Portugal / Espanha, que aqui começa às quatro horas da manhã.

Já em Portugal vos darei conta de algum episódio que durante a viagem de três dias
seja digno de registo.

Cá estamos de novo em Portugal, depois de cinco meses em Timor. Como se diz, “o
bom filho à sua casa torna”. Mas como desde há muito tempo eu defendo que a minha casa é o mundo, qualquer dia estaremos de volta a Timor.

Queremos agradecer a todos os que nos desejaram boa via e boas vindas. Esperamos entretanto encontrar-nos. Teremos muito gosto em estar convosco para partilharmos ainda mais as nossas vidas, e em concreto a nossa segunda estadia em terras do sol nascente. A propósito quero informar-vos de que, no próximo dia 19 de Julho, haverá uma sessão cultural, no auditório da Câmara Municipal do Sabugal, cujo tema será “Diálogos sobre Timor Leste”, pelas 21.00 horas. Esperamos encontrar-mo-nos por lá.

Tudo faremos para que esta sessão valha a pena.

Obrigado pelo vosso apoio e colaboração

Com um Grande Abraço,

Rui e Gaspar

(Seleção, revisão / fixação de texto, título e subtítulos: LG)

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25931: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte XI: Não sei explicar o que nos prende a esta gente...

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25931: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte XI: Não sei explicar o que nos prende a esta gente...




Timor Leste > Liquicá > Manatti > Boebau > Escola São Francisco de Assiz (ESFA)


Foto:  © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estamos a chegar ao fim... No dia 16 de junho de 2018 o Rui Chamusco empreenderá a viagem de regresso a Portugal... Desta vez, na sua segunda viagem a Timor, ele partiu em 25 de janeiro de 2018. Foram cinco meses de estadia. 

E foi seu companheiro de viagem o amigo luso-timorense Gaspar Sobral, que vive em Coimbra. Ambos são cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015, com sede em Coimbra.

De Timor Leste o Rui mandou-nos na altura as crónicas dessa viagem (a segunda, de cinco já feitas, de 2016 a 2024).  Decidimos reproduzir uma seleção dessas crónicas, na medida em que elas nos ajudam  a conhecer melhor  a história recente e passada deste povo a que nos ligam laços linguísticos, culturais e afetivos. Laços que o própripo resume nestes termos: "Não sei explicar o que nos prende a esta gente"...

O Rui é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio último. Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. Em Timor, o Rui tem-se dedicado de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, no município de Liquiçá.

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral,

(Por coincidência, ontem, segunda feira, o Papa Francisco chegou a Timor Leste para uma visita histórica de 3 dias.)





O "malaio" (estrangeiro) Rui Chamusco
e o seu companheiro de vaigem, o luso-timorense
 Gaspar Sobral.

Foto: LG (2017)



II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)


Parte XII -   Não sei explicar o que nos prende a esta gente.




(...) Dia 01.062018, sexta feira - Dia Mundial da Criança


Neste dia todos temos de ser criança. Porque é um dia especial, não há desculpa para nos alhearmos desta celebração. As redes sociais inundam-nos com publicações sobre o evento. Por todo o lado se ouvem os vivas e as palmas como sinal de festa. Pois que seja uma grande festa!

Sem esquecermos as crianças que, devido à guerra, aos maus tratos, às separações, à fome, à falta de escolas, às dificuldades económicas e tantas outras carências são
privadas dos festejos deste dia.

Cada um, à sua maneira, faça o que pode e deve fazer para que o mundo das crianças seja cada vez melhor. E, quem tiver oportunidade, ao menos neste dia pegue ao colo uma criança, para sentir bem junto a si o dom da vida a nascer e a crescer. 

Ou então como diz a canção francesa: “prend un enfant par la main; pour l’amèner vers demain; pour lui donner la confiance en ses pas; prend un enfant dans tes bras.” [Pega uma criança pela mão; para a levar para o amanhã; para lhe dar confianças nos seus passos; toma uma criança nos teus braços" (LG)].

Hoje tive esta sorte: O Zé (uma criança de um ano de idade,o filho mais novo do Anô) foi trazido para o meu colo onde esteve brincando durante mais ou menos meia hora.

Entre mimos e mais mimos, o Zé ganhou tal gosto e descontração que não resistiu a
deixar-me de presente uma boa mijatada. Com certeza que não o irei esquecer
facilmente.

Dia 02.06.2018. sábado - Por esta 
não esperava eu

Como há dias combinámos amanhã dia 4 de junho regressaremos às montanhas de
Liquiçá, mais propriamente a Boebau, onde espero dar um reforço na aprendizagem do português e da música. Então não é que a minha perna esquerda voltou a estar emperrada nos movimentos! Bem temos tudo feito para que as dores me deixem em paz: massagens, massagens e mais massagens... mas, não sei não. 

Vamos lá a ver se me aguento em cima da mota. Alguma apreensão, mas nada que me tire a boa disposição e a vontade de viajar. Só se for de todo impossível. Prometi que voltaria antes de ir para Portugal e tenho de cumprir custe o que custar. Como se diz, a esperança é a última coisa a morrer...

Dia 03.06.2018, domingo - Tenho que voltar a Boebau antes de partir...

Quando prometo e não cumpro sinto-me interiormente revoltado. Pelos vistos já não foi hoje, nem amanhã, e eu sei lá se conseguirei mesmo ir a Boebau. O raio do joelho está a incomodar-me em demasia. Costuma dizer-se que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Será algum aviso? Mas se não forem oito dias, que seja ao menos dois ou três.

Tenho que ir a Boebau antes de partir... E se não for? Ficarei mesmo desconsolado..
Tenho que dizer aquela gente, aquelas crianças que em breve voltarei, que não as
abandonarei, que a escola de São Francisco tem que funcionar, para o bem delas e para o bem destas povoações. 

Que Deus me dê forças para vencer qualquer desânimo ou tentação de abandono. Quando a cabeça e o coração se entendem também o resto do corpo tem que colaborar. Por isso tenho fé que esta peça que agora faz gazeta depressa se recomponha. E “se o coração não engana, havemos de ir a Viana”.


 Observar e contemplar

Esta tarde, a falta da luz elétrica obrigou-nos a pôr de lado o computador e a sair para o exterior tentando ocupar o tempo. Sentados como habitualmente no hall de entrada, dou comigo a observar uma cena que dá que pensar. Sem que ninguém esperasse, começam a chegar apressados galináceos de todas as idades. Pelos vistos, era a hora da sua refeição. O Eustáquio levantou-se e foi procurar uns punhados de arroz que projetou no chão em frente. Verifiquei então que havia uma hierarquia no acesso ao alimento, e ai de quem ousasse contra. 

Primeiro os maiores, os mais fortes, que penicavam os grãos com sofreguidão, afastando para longe com ataques de picadas os atrevidos invasores. Depois, vinham os de porte médio, os franganitos saciar a sua fome. Os mais pequenos, os pintaínhos, nem sequer ousavam aproximar-se; entretinham-se a esgravatar ao lado o redondel duma pequena planta. Somente os mais pequeninos de todos, os pardais, conseguiam infiltrar-se por entre os grandes. Esses sim. De tão pequeninos, passavam quase despercebidos dos maiores e assim fizeram em conjunto o festim.

Onde é que eu já vi isto? Será que entre os humanos não acontece algo idêntico? Que significado têm as minorias? O caminho é duro, é difícil mas possível, pois não há sistema, sociedade ou grupo totalmente hermético, que não tenha alguns locais de fuga e de infiltração. E daí o provérbio “ os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros”. O que hoje é grande poderá amanhã ser pequeno; o que hoje manda amanhã terá de obedecer; o que hoje é rico amanhã poderá ser pobre. Todas as “torres de Babel” ao longo da história têm conhecido desmoronamentos; todos os “bezerros de oiro” idolatrados têm passado ao esquecimento.

Entretanto, logo aqui em frente, as crianças brincam alegres e indiferentes às nossas cogitações. Parecem “ bandos de pardais à solta”, os putos...os putos”.


Dia 06.06.2018. quarta feira - Moonlight,  Sonata de Beethowen

Acabo de ver e ouvir no Youtube, interpretada na guitarra clássica pelo artista Michael Lucarelli a Sonata Moonlight de Bethoven, já ouvida várias vezes interpretada sobretudo ao piano.

Por coincidência ou não, a luz da lua cheia faz-se presente, e vêm -me à ideia uma série de imagens e sons que a lua e o luar suscitam: “Andar com a lua”, “lunático”, “aluado” são expressões que utilizamos frequentemente e que revelam a influência que este astro tem nas nossas vidas. 

Até os pescadores e os agricultores se deixam orientar por ela, escolhendo as melhores marés para a faina, as melhores luas para plantar, enxertar, podar, etc. Os poetas e trovadores tecem-lhe “loas”, os amantes projeções, os compositores sonatas. Os homens sempre tiveram grande atração por ela. Enviam saudações, naves, astronautas, e até dizem que já lá estiveram. Já a casaram com o sol, ainda que raramente se encontrem. 

Em jeito de anedota conta-se, que um dia o sol foi pedir o divórcio a Deus, que lhe perguntou porque lhe fazia tal pedido. Ao que o sol respondeu: ”Anda só de quarto em quarto e, de vez em quando, aparece cheia”.

Seja como seja, o seu luar é encantador. É algo que muito se aprecia e usufrui. Recordo-me do refrão de uma canção do norte do Brasil “ Não há, ó gente, ó não - não há luar como este do sertão”. 

Recordo-me do luar de Boebau, nas montanhas de Liquiçá, aqui em Timor Leste. E recordo-me das noites de luar em Malcata, terra aonde a conheci pela primeira vez na minha vida, em que durante a infância, à noite, jogávamos à “Espada Lua”. Há dias foram publicadas pela Joela no Facebbok imagens deslumbrantes dos últimos luares de Malcata.

Por isso, e em atitude de contemplação, utilizo as palavras de São Francisco de Assis para rematar este relato: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas, que no céu formaste claras, preciosas e belas”. (Cântico das Criaturas
 -1224)

Dia 07.06.2018, quinta feira  - Indo eu, indo eu...a caminho de Boebau!


As coisas acontecem, muitas vezes sem muito pensar ou programar. Tendo eu prometido às gentes de Boebau de que não regressaria a Portugal sem que voltasse a esta terra, e estando eu ansioso por cumprir a promessa pois via o tempo a passar, eis que, de um dia para o outro, se toma a decisão de partir.

Assim, neste dia sete de junho, depois dos preparativos necessários, pusemo-nos a
caminho, em carreta alugada, do nosso destino. Eu, o Eustáquio, o Aipeu (dono do
veículo), o chofer e mais dois moçoilos.

Primeira surpresa do percurso: saídos de Dili, mais ou menos a cinco quilómetros de distância, uma roda traseira esvaziou devido a um parafuso intruso. Paragem obrigatória para a mudança do pneu, mas impossível de realizar pois não havia macaco na carrinha..

Mais de meia hora à espera que alguém passasse e quisesse ajudar, até que, finalmente, um cireneu se decidiu parar para resolver a carência.

Depois, até Boebau, foram quatro horas de saltos e sobressaltos, algumas paragens de motor, buracos e mais buracos a decorar o caminho. Compensáva-nos a maravilhosa paisagem que nos era oferecida pelos cafeeiros abrigados pelas soberbas madrecacau em flor  
[ Gliricidia sepium]
 ; as crianças que saindo da escola nos brindavam com o “Boa tardi”; os adultos que nos acenavam e, que bem me soube, a criança que, ainda longe da Escola São Francisco de Assis, me reconheceu e atónito exclamou: “avô Rui!!!”

Já chegados à escola, e depois das saudações calorosas dos amigos presentes, fomos almoçar a casa do Bôzé, onde o arroz com feijão foré, a papaia e o café alimentaram os nossos corpos.

Logo a seguir, mãos à obra, pois o tempo urge. A carreta não tinha faróis em condições para viajar de noite. Colocamos então no lugar certo os acrílicos identificadores da escola, e que dizem “Escola de São Francisco de Assis” em horizontal; e “Paz e Bem”, em vertical. O característico Tau com o qual Francisco de Assis assinava, por ser a última letra do alfabeto grego, e como tal queria ser o último, o mais humilde de todos..

A noite foi compensadora, com um sono repousante. E, como diz uma canção “ O dia chegou ao fim; silêncio... a noite desceu. Boa noite! Paz em Deus...”

Dia 08.06.2018, sexta feira - Acordar 
em harmonia

Se há coisas que a montanha proporciona, é esta sintonia com a natureza o que mais aprecio. Então logo de manhã, antes que qualquer outro ser dê o alarme ou antes que qualquer objeto mecânico se arme em despertador, começa a sinfonia galinácea. Um senhor galo, que bate três vezes as asas e enche o peito de ar, dá o mote com a sua voz potente e bem sonante: “Có-co-ró-có-cóóóó!!!” 

Seguem-se respostas diversas de outros executantes, vindas de todos os lados, a querer fazer lembrar um concerto em estereofonia. Por fim, há um cantante que, talvez por pensar que eu ainda estivesse a dormir, mesmo em frente do local que me destinaram, bate as asas, respira fundo e canta: “Acorda velhote que já são horas!” Ok! Já estava bem acordado, de modo que foi levantar da cama e começar este novo dia com alegria. À socapa para não incomodar ninguém, fomos saindo do habitáculo: eu, o galo e uma galinha com os seus pintainhos.

E toca a andar, que há muito para fazer.

Não sei explicar o que nos prende 
a esta gente
 

Não, nãp sei explicar o que nos prende a esta gente. Cada vez que aqui vimos novos laços são criados, novas razões aparecem para gostarmos cada vez mais do que estamos fazendo. 

Hoje, a professora Rita e o seu marido Julito disseram-me que da última vez que parti daqui, as crianças ficaram muito tristes. A nossa presença é motivo de muita alegria, de confiança e de esperança. Ainda bem que assim é.

Como já sabem que no dia dezasseis regressamos a Portugal, querem saber quando
voltamos a Timor. Sem darmos certezas informamos que, se Deus quiser, talvez na
segunda quinzena de Dezembro regressemos, porque queremos estar presentes no início do novo ano letivo, que será a partir do dia sete de Janeiro.

Quase sem querer, deixei escapar o desejo de pedir a nacionalidade timorense, sobretudo para evitar o pedido de renovação de visto ou de estadia. A alegria do Julito foi notória, dizendo que para o suco de Leotalá e para a gente de Boebau/Manati será uma grande honra. 

E conta como, através do projeto de solidariedade “Uma Escola em Boebau/Manati", esta região saíram do anonimato e do esquecimento. Têm a esperança de que muitas coisas boas poderão ainda acontecer, e que por isso acarinham fervorosamente este meu desejo.

Timorense ou não, continuaremos a prestar o nosso apoio a esta gente, a estas crianças. “ O que fizerdes a estes pequeninos é a mim que o fazeis”. E assim este mundo ficará um pouquinho melhor.


Pronto!... E aí vamos nós de “motor”para a reunião de pais

Sem que ninguém esperasse, logo de manhã, a professora Rita e o seu marido Julito
apareceram de “motor” para me fazerem um convite:participar na reunião de pais e
encarregados de educação que daí a instantes se iria realizar na escola primária de
Bantur/Kelor, a escola mais próxima daqui, a fim de esclarecer a situação da sua
colaboração na escola São Francisco de Assis. Há pais e encarregados de educação que não compreendem a sua colaboração connosco e reclamam a sua exclusividade para a escola dos seus filhos.

Pronto!, disse eu. E aí vamos nós de “motor”para a reunião. Muito bem recebido pelo professor coordenador e pelos presentes, tive a ocasião de explicar o porquê da Escola de São Francisco de Assis, como funciona, porque a professora Rita trabalha na nossa escola e, sobretudo, a vontade que temos de uma colaboração mútua.

Não houve questões, pelo que sou levado a concluir que o assunto está esclarecido.

Mais uma vez me dou conta de que, quando as coisas são bem explicadas, as pessoas são compreensivas e colaboradoras. Espero bem que, com esta ação, estas escolas se entendam e colaborem, para bem de todas as crianças que as frequentam.


(Continua)

(Seleção, alguns dos subtítulos, revisão / fixação de texto, parênteses retos, negritos: LG)
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25872: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte XI: um futuro promissor, com mais de 60% da população abaixo dos 30 anos

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25883: Tabanca da Diáspora Lusófona (25): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - II (e última) Parte (Rui Chamusco / João Crisóstomo)


Foto nº 1



Foto nº 6



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Foto nº 5


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Foto nº 9



Foto nº 10



Foto nº 11





Foto nº 12B


Foto nº 13


Foto nº 14



Foto nº 15


Foto nº 16

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco / João Crisóstomo0 (2024) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Visita à Eslovénia em julho de 2024 - Peripécias




por Rui Chamusco (texto e fotos)
e João Crisóstomo (legendagem das fotos) (*)



Julho 2, terça feira


João, Vilma e Rui estão de malas aviadas para a viagem de ida rumo à Eslovénia. Depois de várias insistências destes amigos para os acompanhar a esta visita às terras originais da Vilma, convenceram-me (a mim, Rui) a acompanhá-los mais nesta aventura, da qual tomarei nota das coisas mais singulares que forem acontecendo.


"Bagagem do Papa"


Se assim não fosse, quem sabe se não teríamos perdido a correspondência no aeroporto de Munique.

Conta-me que um certo homem, muito virtuoso e convencido do bem que fez neste mundo, se lembrou de morrer e passar para o outro lado. Foi, e bateu á porta do céu a fim de receber a sua recompensa. São Pedro abriu a porta e perguntou: " O que é que tu queres?" Ao que o santo homem respondeu: "Portei-me bem na terra, agora quero entrar no céu." E o São Pedro lhe disse: "Hoje não entra ninguém porque está para chegar Sua Santidade o Papa. Volta de novo lá para baixo." E o bom homem lá teve de regressar á terra.

Entretanto, o bom homem começou a pensar em dar a volta ao assunto, melhor dito a São Pedro. Arranjou duas malas grandes, uma em cada mão, e foi de novo bater á porta do céu. Mal São Pedro lhe abriu a porta, ele gritou: "Bagagem do Papa!" Ao que São Pedro acrescentou: "Entra! Entra!"...

O João e a Vilma tinham requisitado uma cadeira de rodas para o João, devido à sua dificuldade de locomoção, e assim foi. A mala do João tinha apensa a etiqueta desta deficiência. O apoio prestado seria para o João e a Vilma como acompanhante, sendo eu excluído da companhia.

Foi então que me agarrei á mala do João e assim fui passando todas as portas e usufruindo todas as benesses adjacentes, sendo sempre os primeiros a entrar nos aviões.


Julho 3, quarta feira - Sal em vez de açúcar


Hoje, ao pequeno almoço, salvei o João de tomar "café abatanado com sal".

Tanto o João gosta de açúcar branco granulado que era desta vez que iria ficar todo salgado. Quando o chamei à atenção pôs o produto no dedo e provou, confirmou e disse: " Pois é!... Ainda bem que me avisaste". Sabendo nós quanto o João gosta de açúcar, com certeza que desta vez ele se converteria numa "pilha de sal".

Primeiras impressões


Este primeiro dia foi passado em visita ao castelo Rajhenburg (Grad Rajhenburg), que outrora foi monastério de monges trapistas, que deixaram bem vincada a sua presença nesta região pela sua forma de vida com o lema "ora et labora" (reza e trabalha).

O museu que nele podemos visitar dá-nos conta das atividades que realizavam neste monastério. Não menos importante foi o momento que passámos na esplanada, com vistas deslumbrantes, acompanhados de um bom sumo de maçã local.

Bem longe daqui fomos almoçar um "burgher de la maison" como nunca vi na minha vida: tudo natural, saboroso e vistoso, que um estômago normal não consegue acabar. Forças recuperadas, seguimos para Kostanjevica visitar a "Galeria Bozidar Jakac", onde a cultura e a arte se fundem com a natureza e a espiritualidade.

Um antigo mosteiro cisterciense da idade média que, a partir de 1974, abriga esta grande exposição de arte. Para além da imponência do edifício, é impressionante a explicação de arte moderna e contemporânea expressa sobretudo em madeira que se estende pelos campos circundantes, onde a arte e a natureza estão de braços dados.

Nada mais reconfortante que um bom gelado para selar este belo dia.


Julho 4, quinta feira - Liubliana, a capital


Hoje fomos rumo à capital, a terceira cidade da Europa mais amiga do ambiente, com muitos espaços verdes e muito bem organizada. É uma cidade aberta, circundada pelo rio Ljubljanica que faz dela uma ilha com grandes atrações.

Bastantes turistas passeando e visitando os sítios mais ícones, alguns utilizando o Bus turístico entre os quais estamos nós, e que nos leva aos principais locais previamente anunciados. Entretanto, sentimos o pulsar do coração da cidade que, â semelhança de Paris, apresenta a "ponte nova" bem mais ornamentada com grande variedade de quincalharia (aloquetes, porta-chaves, pins, emblemas, etc) que desperta continuadamente a curiosidade dos transeuntes.

Ficou na retina a visita à igreja franciscana na praça principal, onde se podem observar as pinturas em todo o corpo da igreja e principalmente do teto. Mas os meus olhos ficaram presos no esplendor do órgão de tubos que o coro do edifício suporta. Não ouvi o seu sonido mas deve ser esplendoroso o seu tocar.


Julho 5, sexta feira - De montanha em montanha.

Logo de manhã, aí vamos nós a caminho da primeira: .....?

Nada de diferente, até pararmos junto a uma árvore Bohor que o João e a Vilma depressa identificaram porque, há cinco anos nela gravaram os seus nomes, a data e um grande coração. Verificaram que tudo ainda estava em ordem, e adicionaram nova inscrição com a data de hoje, que foi selada com um beijo amoroso como documenta a foto que lhes tirei.

Um pouco mais abaixo fizemos paragem num chalet (café), que na entrada, do lado direito ostenta uma placa que data de 1944, e que assinala a reunião dos "partizans" antes da II. Grande Guerra.

Voltamos a casa para almoçar, partindo depois para a segunda montanha, bastante longe da anterior, a montanha de Svenica.

Muitas voltas, muitas curvas, muito arvoredo, muitas belas paisagens. Quão difícil e sinuoso é o caminho que leva ao céu!...

Também aqui, àentrada do café, está uma placa que assinala a presença de vários militares e "partizans " e onde o general Tito, e outras grandes patentes, tomaram as decisões e posições relativas a II Guerra Mundial

Que paisagem deslumbrante, ornamentada em terra por caminheiros estafados, e nos ares por voadores de parapente...


Julho 6, sábado 06.07 - Convívio da família Kracun


A família da Vilma (os que puderam e quiseram) resolveu encontrar-se hoje, na casa de um sobrinho que habita numa das montanhas próximas daqui, Bretanica, filho da mana Mariana, a mais velha das cinco mulheres Kracun.


O pai foi mineiro nas minas de carvão de pedra das quais já só existem vestígios de carris e vagões muito bem tratados para memória futura e coletiva desta atividade local. A mãe foi cozinheira e doméstica . Tiveram filhas (5) e, como diz a Vilma, o pai ficou radiante quando vieram ao mundo os primeiros meninos (rapazes). Por aqui ficaram a irmã mais velha Mariana e a irmã Zvonka. As outras procuraram outras andanças.

É uma família muito bem disposta, onde o sorriso, a simpatia e o bom acolhimento estão sempre presentes, e que encara as dificuldades da vida sempre com otimismo e sentido de humor. Por exemplo a irmã Mariana que no dia em que nós chegamos teve uma queda em que partiu a omoplata e ficou com vários hematomas na cabeça e outras partes do corpo, não para de sorrir por vezes até à gargalhada.

O convívio decorreu muito bem, em ambiente deveras familiar. E, até eu que era intruso, me senti á vontade neste meio. Foi um dia bem passado, onde arranjamos novos amigos e conhecimentos.


Obrigado, família Kracun.


Julho 07 - Domingo, toca-se o sino


Sinos, igrejas e castelos são coisas que aqui não faltam. Logo de manhã, ainda atarantado de levantar, os meus ouvidos são acossados pelo tocar escangalhado dos sinos da igreja de Bretanica que, em meu entendimento, serão de latão e não de bronze.

Por minha causa, a Vilma e o João atrasaram a missa em que pretendiam assistir. Em vez das 7 horas apontaram para as 10, até porque o pároco da terra celebrava os 50 anos de sacerdote. Muita gente, muita cerimônia, muitos padres, muitos paroquianos e muito tempo a aguentar.

E nós, que nem tínhamos a "veste nupcial" ( eu e o João estávamos em calções) começamos a sentir-nos deslocados e a ter de estar sempre em pé, algo insuportável sobretudo para o João. Foi então que, num ápice, decidimos abandonar o local rumo a outra igreja que, por sorte, estava em função, pois ouvia cantar cá de fora o Aleluia gregoriano. Foi o melhor que fizemos, pois pudemos participar numa missa com um ritual simples, agradável e com boa cantoria, coisa que muito me aprouve.

Depois foi o almoço e a visita mais um castelo.


Julho 8, seguna feira - Mais uma visita: mais um castelo

Foi o último a ser visitado. Belas paisagens, grandes horizontes. Não muito diferentes dos outros nas suas valências atuais, deixadas ao turismo, à hospedagem, aos eventos festivos nomeadamente concertos e refeições de casamento.

Desta região é o general Tito que durante bastantes anos foi o caudilho da Jugoslávia.


Julho 09, terça feira  - Há mar e mar... Há ir e voltar

Dia de regresso a Portugal.

Embora sem necessidade, levantamo-nos todos muito cedo. E vai daí, como ainda faltava muito tempo para o início da partida, o João convidou-me para irmos beber um café ao sítio que ele já bem conhecia, não muito longe daqui. No regresso a casa a pé, por um atalho, o João mostrou-me com nostalgia os cantinhos recatados aonde mais a Vilma davam beijos e abraços durante a lua de mel.

E pronto. Toca a arrumar as malas e a fazer as despedidas, porque é chegada a hora da partida, primeiro de carro até Zagreb (Croácia) e depois até Frankfurt e Lisboa.

Considerações:


(i) Sou um privilegiado por ter usufruído esta semana de vida na Eslovénia. No princípio renitente em aceitar o convite do João e da Vilma, mas, devido à pertinência do João, acabei por aceitar. E ainda bem. Foi uma oportunidade única de conhecer este belo país dos Balcãs.

(ii) A Eslovénia é um país verde onde a natureza é rainha. As montanhas e os vales verdejantes serpenteados por rios e ribeiras dão-lhe características únicas, muito semelhantes às paisagens de suíças mais conhecidas.

(iii) O nível de vida é bom. As pessoas são simples e amáveis, sem arrogância nem vaidades.

(iv) É um país muito arrumadinho, com hábitos de cidadania exemplares. Sem lixo nas ruas ou outras transgressões significantes. Um país seguro aonde se não tem medo de andar na rua. A emigração aqui em insignificante. Os albaneses estão em maior número e dedicam-se essencialmente à construção.

(v)  Agradeço de coração ao João e à Vilma e a toda a família Kracun  o acolhimento e a atenção de que fui alvo. Não mais esquecerei, e estou certo que a nossa amizade ficou ainda mais fortalecida.

Um Xi de coração para todos. Rui Chamusco.


E algumas fotos da visita do Rui Chamusco (e nossa também) à Eslovénia

por João Crisóstomo


Fotos nºs 1, 2, 3 e  4 > as primeiras quarto fotos são sobre dois castelos de Brestaniça, terra natal da Vilma. 

Na primeira foto pode-se ver o castelo principal no topo da montanha; abaixo um edifício que é a estação de caminho de ferro e do lado direito um outro castelo, bem mais pequeno que tem recebido pouca atenção e visível falta de manutenção.

Os castelos da Eslovénia ( ver fotos nºs 1, 6 e 7) são bem diferentes dos nossos castelos portugueses. Em Portugal chamar-lhes-iamos "mansões fortificadas”, a que algumas das nossas “pousadas" se assemelham.

O primeiro, no topo é um dos castelos mais conhecidos e bem cuidados da Eslovénia e que está muito relacionado com a Vilma. Este foi utilizado pelos Nazis durante a guerra como uma prisão onde ficavam os prisioneiros, antes de serem enviados para outros destinos, na maioria dos casos para os campos de concentração e extermínio.

O pai da Vilma esteve nele como prisioneiro, mas como era um homem habilidoso, especialmente como carpinteiro ( as janelas do castelo foram na maioria feitas ou reparadas por ele) cujas boas maneiras lhe granjeavam boa vontade mesmo dos alemães. Nas ocasiões em os prisioneiros iam ser distribuídos e enviados para outros destinos, os mesmos alemães avisavam-no e deixavam que ele se escondesse. E porque precisavam dele assim sucedeu até que a guerra acabou.

Ao visitarmos o castelo de repente dei com uma foto igual a uma que temos em nossa casa em Nova Iorque: é que esta foi durante temps a casa da Vilma que estava situada na margem do Rui Saba e onde ficavam as turbinas que durante muitos anos produziram electricidade para o castelo.

As fotos nºs 8, 9, 10 e 11 foram tiradas na bonita cidade de Liubliana, capital da Eslovénia. Parece-me que pela sua beleza se explicam por si mesmas, sendo as fotos j e k da igreja franciscana, que pela sua beleza é uma das coisas a não perder em qualquer visita.


Fotos nº 12A e B : foi coincidência e surpreza: no dia seguinte à nossa chegada recebi um email dum fotógrafo/jornalista amigo da Vilma que tinha ido a Nova Iorque há uns meses atrás (e que até foi a nossa casa ); queria "mais algumas informações”... Quando lhe disse que acabávamos de chegar,  combinamos encontrarmo-nos na capital, onde já tínhamos intenção de ir; e no dia seguinte saiu um artigo sobre a sua visita a nossa casa em Queens com bonitas fotos num dos diários da Eslovénia. Vale a pena estar casado com uma eslovena como a Vilma…

Fotos nºs 13,  14 e 15:   foram tiradas durante algumas passeatas: a foto nº 13  mostra o nosso reencontro com a nossa árvore especial na Eslovénia… a foto seguinte (14)  foi tirada numa passada ao longo dum pequeno lago perto da casa da Vilma, lugar de repouso, picnics, restaurante e passeatas. E a outra, duma placa , marca e lembra um primeiro encontro de Tito com outros dirigentes locais de preparação para o que seria a resistência aos Nazis (Foto n º 15.

A última foto (nº 16) é um “reconhecimento”: de volta a Portugal o Rui retomou s suas funções de chefe e o mordomo presente, cujo trabalho neste dia foi o de "descasca-batatas",  não teve qualquer hesitação em lhe conceder classificação condizente.


Mais um abraço, que nunca serão demasiados.


João Crisóstomo

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Nota do editor:

(*) Último poste da série 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25881: Tabanca da Diáspora Lusófona (24): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - Parte I (João Crisóstomo)