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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

 


Capa do mais recente livro do nosso camarada Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros)

Dedicatória ao nosso editor Luís Graça e esposa Maria Alice Carneiro: 

"Ao meu querido grande amigo Luís Graça e sua esposa, com muita estima e consideração e os melhores votos. Vila Franca do Campo, 27 de outubro 2024. Arsénio Chaves Puim".


Sinopse > A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores


«Com o livro '
A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

"O livro 'A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante 'Glossário Baleeiro', de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)".


José de Andrade Melo (autor do prefácio, op cit, 
pp. 17-20).

Sobre o autor: Arsénio Chaves Puim

(i) Nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, no lugar da Calheta,, freguesia de Santo Espírito, onde se situa o porto baleeiro do Castelo;

(ii) Fez os estudos primários na sua freguesia natal e completou, no Seminário de Angra do Heroísmo, o Curso de Teologia, tendo exercido o ministério sacerdotal até 1976;

(ii) No mesmo ano, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada e exerceu esta profissão até 1995;

(iv) Em Santa Maria, foi também professor de Português e História no Externato, exerceu os cargos de Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, e foi co-fundador do Museu Etnográfico de Santa Maria e do jornal “O Baluarte de Santa Maria”, do qual foi o primeiro diretor;

(v) Vive desde 1982 em Vila Franca do Campo, onde desenvolveu uma ampla participação cívica, designadamente como membro de diversos órgãos autárquicos, Mesário da Santa Casa e, ainda, como redactor principal do jornal “A Crença”;

(vi) Arsénio Puim publicou, desde 2001, quatro livros no domínio da história e etnografia açorianas, particularmente da ilha de Santa Maria;

(vii) Em 2009, foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal, atribuída pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.

Fonte: Letras Lavadas Ediçóes, Ponta Delgada

... (vii) "last but not the least", foi nosso camarada no TO da Guiné, como alf mil graduado capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); é membro da nossa Tabanca Grande, autor da série "Memórias de um alferes capelão"; tem 76 referências no nosso blogue.

1. Quando um autor escreve isto:

(...) "Nasci, criei-me e vivi num meio baleeiro. Assisti às arriadas e às varadas dos botes, vi muitas baleias e o seu processamemnto, quer de cardume quer bules (...) grados (um deles tinha o excecional comprimento de 21,80 metros), comi pão frito no azeite a ferver dos caldeiros, fui alumiado, em criança, pela luz do óleo de baleia, convivi dia a dia com baleeiros e aprendi a linguagem e cultura baleeiras desde os primeiros anos de vida" (...)

... Um leitor como eu fica logo rendido (e comovido), lendo o resto do livro de um fôlego (160 pp., ilustradas com 29 figuras, 6 mapas e 6 quadros, incluindo mais de 60 referências bibliográficas, 180 notas de rodapé, e mais de 4 dezenas de termos do "glossário baleeiro açoriano".

De repente, descobres que estamos a falar de um experiência humana do passado, única, irrepetível, fortemenete ligada à identidade e à sobrevivência de um punhado de homens e suas famílias, numa ilha (e num arquipélago) perdida no Atlàntico.... 

Felizmente que hoje já não se caçam cachalotes e outras espécies de baleias em águas territoriais portuguesas,  mas tu não podes ficar indiferente à saga baleeira nem à gesta dos nossos pescadores do bacalhau, e dos demais homens ( e mulheres) do mar. De resto, tens uma costela de toda essa brava gente que de há séculos afronta mas respeita o mar e todos os seres que nele habitam.

Arsénio, não é apenas por cortesia e por camaradagem que estou a fazer esta e outras notas de leitura do teu livro.  Obrigados, eu e a Alice,  pelo teu livro com dedicatória. Foi uma bela prenda de Natal. Vamos falando.

(Continua)

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26117: (In)citações (268): Antigos combatentes e capelães... "Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé" (Manuel Lopes, ex-cap inf, CCAÇ 3396, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73)



Foto nº 3 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > igreja Matriz de Moita > Foto de grupo, no final da celebração litúrgica.


Fotos (e legendas); © Manuel Lopes (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por mail do passado domingo dia 27 de outubro, o cor art ref António J. Pereira da Costa, nosso tabanqueiro de longa data (12/12/2007) e  om 203 referências no blogue, chamou-nos a atenção para um curioso texto divulgado por um seu camarada do curso da Academia Militar, do ano de 1964, Manuel Lopes, e que tem por título "60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé".

O Tó Zé (TZ, como é conhecido por alguns de nós) ou PK (pelos seus camaradas da AM) sugeriu que o texto poderia eventualmente ter interesse para o blogue.

E até mais: "Lembrei-me de propor ao blogue a atribuição  [do título] de 'Confessores da Pátria' aos padres das Companhias que amparavam a malta nas suas diferentes dificuldades espirituais."

E uma vez obtida a autorização do autor (Manuel Maria Martins Lopes, cor inf ref, ex-cmdt da CCAÇ 3369, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73), aqui vão os dois textos em questão. 


 (i) 60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes (cor inf ref)

Caros camaradas:

No final da celebração da missa, adentro do programa das comemorações do 60º Aniversário da nossa entrada na Academia Militar, tive oportunidade de prestar uma singela homenagem à Igreja que esteve sempre presente durante a nossa atividade militar, lembrando também o Padre Gamboa, o nosso capelão que nos recebeu à chegada.

Evoquei depois o testemunho recente do Padre Vitor Espadilha, que na celebração da missa (dia 25 de maio, na Igreja Matriz de Moita,  Anadia) do 42º Convívio anual de ex-combatentes, revelou que a Igreja tinha uma distinção especial para aqueles que se sacrificaram e deram a vida pela causa da Fé. Chamam-se os 'Confessores da Fé'.

Por isso, para nós que nos sacrificámos e jurámos dar a vida pela Pátria, o Padre Vitor Espadilha distinguiu-nos com a designação de 'Confessores da Pátria'.

Assim, registar as nossas vivências militares faz parte da nossa condição de 'Confessores da Pátria'.

Abraço amigo.

Lisboa, 26 de outubro de 2024

Manuel Lopes

 

(ii) 'Lenços Negros', Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes


À semelhança de anteriores convívios anuais organizados pelos ex-combatentes da CCaç 3396, 'Lenços Negros', mobilizados para Moçambique de 1971 a 1973, teve lugar na Moita, Anadia,  no passado dia 25 de maio, como tem sido habitual em todos os convívios, a
celebração de uma Missa por intenção daqueles que já partiram.

A passagem pela Igreja Matriz da Junta de Freguesia da Moita ficaria assim indelevelmente marcada pela saudação especial protagonizada pelo Senhor Padre Vitor Espadilha, na presença de ex-combatentes, familiares e amigos, que aqui destacamos:

“Ao ver os vossos cabelos brancos (alguns já os perderam!...), eu imagino vocês rapazinhos novos, há uns anos atrás, convivendo e sonhando e depois com a vida mais entroncada pelo problema da guerra!...

"Tivestes que ir para lá, sim, não, sim?!...

"Aquilo que foi o Portugal colonial e a separação da Mãe, do Pai, da esposa que ficava!...

"As notícias que chegavam e não chegavam!...

"Saudades da Terra!...

"As diferentes complicações que provocamos e dobramos nos sonhos de qualquer rapaz jovem!...

"Mas será que vocês estavam sós?!

"Agora está alguém ao vosso lado, a vossa esposa, os vossos filhos, os vossos netos!...

"Outros não chegaram, lembramo-los hoje também.

"Celebramos a gratidão e o dom da Vida!...

"Nósm na Igreja, temos uma distinção, com os mártires como São Sebastião. São os que morreram por causa da Fé, são representados com uma palma na mão, são os Confessores que foram para uma situação de luta, arriscando a Vida, prontos a morrer, fortes a dar
ajuda. Esses que estavam dispostos a dar a Vida, chamam-se na Igreja 'Confessores da Fé'.

"Então vocês são 'Confessores da Pátria', por quem lutaram, a quem estavam dispostos a dar a Vida.”


Continuando a celebração da Missa o Senhor Padre Vitor Espadilha convidou os ex-combatentes para se juntarem à sua volta no altar:

“Quando a gente vai num barco ou num avião, o destino do barco ou do avião, é o destino daqueles que lá vão, de todos que o ocupam!

"Ou chega ao porto ou não chega!...

"E vocês que estavam na Companhia, o destino era igual, não é?! Era uma Unidade que vocês criaram, que vos liga profundamente para o resto das vossas Vidas!!...

"Então quero que vocês dêem as mãos e rezem comigo!”




Foto nº 1 > Anadia > Moita > 42º convívioo anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > greja Matriz de Moita > Comunhão e partilha em torno do altar


E o Senhor Padre Vitor Espadilha continuou a surpreender-nos com o pedido seguinte:

“Queria que ficasse na Igreja um símbolo da vossa presença!...

"Eu vou pedir a um de vocês que me dê um Lenço Negro!...

"Quem me dá um Lenço Negro?!

"Por favor, não coloque aqui no altar, vai entregar a Ela, a Nossa Senhora de Fátima, para que continue sempre nas mãos Dela!"...


Carlos Costa, organizador do Convívio, subiu então para uma cadeira a fim de colocar um Lenço Negro nas mãos da imagem de Nossa Senhora de Fátima que tinha sido colocada no altar no início da celebração da Missa.

"A partir de agora ficará sempre na Paróquia!!", anunciou o Senhor Padre Vitor Espadilha.



Foto nº 2 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 2024 > Igreja Matriz de Moita > Um Lenço Negro nas mãos de Nossa Senhora de Fátima



Seguiu-se o Cântico entoado e aplaudido por todos os presentes:

Miraculosa, rainha dos Céus,
Sob o teu manto tecido de Luz,
Faz com que a guerra se acabe na Terra,
Paz entre os homens, a Paz de Jesus!
Pelas crianças, flor em botão,
Pelos velhinhos, sem Lar, sem Pão,
Pelos Soldados que à guerra vão,
Senhora,  aceita minha oração!


No final o Padre Vitor Espadilha, qual Lenço Negro, juntou-se à fotografia à saída da Missa na Igreja Matriz, tendo à sua frente o Mateus, neto do Aníbal Duarte Santos, organizador local do Convívio   (Fot0 nº 3, vd. acima).

Alguns dias mais tarde tivemos oportunidade de enviar este email de agradecimento ao Senhor

"Padre Vitor Espadilha:

"Bom dia Senhor Padre Vítor, Lenço Negro:

"Só agora tive conhecimento do seu email, por isso aqui estou a dar notícias.

"Antes de mais os meus agradecimentos, em meu nome, de todos os ex-combatentes, familiares e amigos dos Lenços Negros. A sua benção no altar e a oferta de um Lenço Negro a Nossa Senhora de Fátima serão sempre referências indeléveis do nosso 45º Convívio anual.

"A CCaç 3396 que já tinha sido consagrada a Nossa Senhora em 1971, volta de novo ao seu Convívio, passados 53 anos, reconfortados com a sua mensagem de Paz.

"Obrigado. Vamos continuar em contacto. Vou convidá-lo para a nossa página de 'Moçambique, Lenços Negros' para nos continuar a acompanhar com a sua profunda mensagem de estima, compreensão e solidariedade.

"Obrigado. Abraço. Manuel Lopes"



O Senhor Padre Vitor Espadilha não tardou a responder assim:

"Boa noite. Fico muito honrado...vocês são nossos HERÓIS... contem comigo... sempre..."

Ao fim de 45 Convívios anuais da CCaç 3396, "Lenços Negros", e em tempo de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, nunca nos tinham apelidado de HERÓIS, quais Confessores da Pátria.

A Igreja, como nenhuma outra Instituição através do Padre Vitor Espadilha, soube interpretar e sublimar o tempo de guerra e os sacrifícios que lhe estão intimamente associados.

Habituado a identificar os ex-combatentes como Heróis da Liberdade, foi reconfortante ouvir da parte do Padre Vitor Espadilha a sua identificação como HERÓIS, remetendo-nos para a importância da Igreja e dos valores religiosos a ela ligados que nos acompanharam nos
diferentes teatros de operações.

Bem haja,  Senhor Padre Vitor Espadilha.

Foi reconfortante, salutar e estimulante a nossa passagem pela Igreja Matriz da Moita, marco indelével das nossas vivências de guerra e de Paz.

Lisboa, 16 de junho de 2024.

Manuel Lopes

PS - No programa do Convívio estava a deposição de uma coroa de flores junto ao Monumento dos ex-combatentes, a visita ao Museu do Vinho e a realização de um almoço no Restaurante D. Sancho. Mas o essencial já tinha acontecido na Igreja Matriz da Moita.

(Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série >31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26100: (In)citações (267): Memorando sobre a Escola São Francisco de Assis, em Timor, entregue ao primeiro-ministro Xanana Gusmão através do embaixador Dionísio Babo Soares, representante do país nas Nações Unidas (João Crisóstomo)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26048: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XVIII: As últimas fotos de Infandre



Foto nº 1A >  Campanha de vacinação contra a cólera: o estoicismo da bajudinha balanta (1)


Foto nº 1B > 
 Campanha de vacinação contra a cólera: o estoicismo da bajudinha balanta (2)


Foto nº 1C > Campanha de vacinação contra a cólera: o estoicismo da bajudinha balanta (3)... Até o nosso cabo está com um sorriso amarelo...


Foto nº 1 > Campanha de vacinação contra a cólera...


Foto nº 2A > Campanha de vacinação contra a cólera: um guinemse (possivelmente do Pel Caç Nat 58) faz de escriturário


Foto nº 2 > Campanha de vacinação contra a cólera:  um 'homem grande' espera a sua vez


Foto nº 3 >  Miúdos com um instrumento musical balanta, um cordofone: julgamos tratar-se do tradicional 'violão de 3 cordas'...


Foto nº 4 >   O padre José Torres Neves a ajudar uma mulher a pilar o arroz: uma função que não fazia parte das "obrigações" do capelão militar...


Foto nº 5A > Aspeto parcial da tabanca (balanta) de Infandre


Foto nº 5> A tabanca (balanta) de Infandre


Foto nº 6A > Uma morança: imagine-se o trabalho que implicava arranjar regularmente a cobertura (hoje o zinco substituiu o colmo)


Foto nº 6 > O destacamento de Infandre


Foto nº 7 > Um pôr do sol


Foto nº 8 > Marcas, num tronco de árvore, da violência do ataque a um coluna militar, em 13/10/1970 (**)


Foto nº 9 > Partida da equipa de picagem (?), antes da saída de um coluna


Foto nº 10 A > Coluna Infandre - Braia: vê-se, pelo trilho, que se estava na época das chuvas


Foto nº 10 > Coluna Infandre Braia (2)


Guiné > Zona Oeste > Sector o4 (Mansoa) > Infandre > CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia, 1969/71) + Pel Caça Nat 58 > Fotos do álbum do Padre José Torres Neves. 


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camaradda Ernestino Caniço, com data de 07/10/2024, 17:04

Caros amigos

Espero e desejo que se encontrem bem, tal como as vossas famílias.

Anexo as últimas fotos de Infandre do álbum do meu amigo Padre Zé Neves.

Desta vez o espaço temporal desde as últimas fotos foi um pouco mais prolongado (*).

Prestes a fazer os 80,  continuo a trabalhar todos os dias, com gosto. Deixarei de o fazer quando o corpo e/ou a mente se recusarem.

Votos de ótima saúde.

Um grande abraço, Ernestino Caniço


2. Estas são as últimas fotos, relativas a Infandre,  do álbum da Guiné  do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, temdo sido  um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971. 

Quanto ao BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (divisa: "Nós Somos Capazes"), recorde-se que tinha como subunidades de quadrícula: 
  • CCAÇ 2587 (Mansoa, Uaque, Rossum e Bindoro, Jugudul, Porto Gole e Bissá);
  • CCAÇ 2588 (Mansoa, Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro);
  • CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia).
Destacado em Infandre estava também o Pel Caç Nat 58. Sobre Infrandre temos 27 referências.

Temos vindo a publicar fotos das suas visitas como capelão aos diversos aquartelamentos e destacamentos do Sector Oeste, O4 e outros: Mansoa, Bindoro, Bissá, Braia, Infandre, Cutia, Encheia, Dugal, Enxalé...

O nosso camarada e amigo Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fez 1971, hoje médico, a residir em Tomar) fez amizade com o Zé Neves. E este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022. São cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados. Uma coleção única, preciosa.
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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 30 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25460: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XVI: Infandre, de trágica memória

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25751: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XVII: Tabanca e destacamento de Infandre


Foto nº 1 > O capelão e a pequena gazela (1)


Foto nº 2 > O capelão e a pequena gazela (2)


Foto nº  3> O capelão e a pequena gazela (3)

Foto nº 4 > A "psicossocial": um 1º cabo da CCÇ 2589 ajudando uma mulher a pilar (o arroz)


Foto nº 5 > Um balanta construindo uma tulha de barro para guardar os cereais (e em especial o arroz)

Foto nº 6 >   O "casino"...


Foto nº 7 >  Dois unimog  404 (1)


Foto nº 7A >  Dois unimog  404 (2)


Foto nº 7 > Coluna Infandre - Braia, de manhã cedo, e no tempo da chuva


Foto nº 8A> Coluna Infandre - Braia: aspeto da segurança (a cargo, presunivelmente, do Pel Caç Nat 58... Emprimeiro plano, do lado esquerdo, o tubo do morteiro 60.



Foto nº 9 >  Infandre, de manhã e na estação das chuvas: foto tirada do "tanque" (fonte ?)

Guiné > Zona Oeste > Sector o4 (Mansoa) > Infandre > CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia, 1969/71) + Pel Caça Nta 58 > Fotos do álbum do Padre José Torres Neves. 


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuamos a publicar fotos do álbum da Guiné  do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*)... 

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, temdo sido  um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971. 

Quanto ao BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (divisa: "Nós Somos Capazes"), tinha como subunidades de quadrícula: 

  • CCAÇ 2587 (Mansoa, Uaque, Rossum e Bindoro, Jugudul, Porto Gole e Bissá);
  • CCAÇ 2588 (Mansoa, Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro);
  • CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia).
Destacado em Infandre estava também o Pel Caç Nat 58. (Sobre Infrandre temos 24 referênciad.)

O nosso camarada e amigo Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fez 1971, hoje médico, a residir em Tomar) fez amizade com o Zé Neves. E este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022. São cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus "slides", digitalizados.

Temos vindo a publicar fotos das suas visitas como capelão aos diversos aquartelamentos e destacamentos do Sector Oeste, O4 e outros: Mansoa, Bindoro, Bissá, Braia, Infandre,Cutia, Encheia, Dugal, Enxalé...

De  Infandre, o Ernestino Caniço mandou-nos, com data de 30 de junho último, mais umas tantas fotos que pubicamos, devidamente editadas e, tanto quanto possível, com legendas. Ainda tem lá mais dez...  Obrigado a ambos. Saúde e longa vida ao padre José Torres Neves. 

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de  2024 > Guiné 61/74 - P25460: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XVI: Infandre, de trágica memória

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25720: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (1): O meu cruzeiro no N/M "Ana Mafalda": ficámos contentes por saber que era só até à Guiné, e não até Timor...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor de Geba > CART 1690 (1967/68) > Cantacunda >  Abrigo... ou "bu...rako"



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > O A. Marques Lopes em 1967, com duas beldades locais. Em 21 de agosto de 1967, seria ferido com gravidade na estrada de Geba para Banjara na sequência da explosão de uma mina A/C e, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. Voltou ao CTIG, em Maio de 1968, para acabar a sua comissão, tendo sido colocado então na CCAÇ 3, em Barro.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, então com 29 anos. Foi um dos 24 capitães mortos no TO da Guiné




Guiné > Região do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Grupo Os Jagudis >  O ex-al mil  Marques  Lopes,   com o seu guarda-costa, balanta... "O meu guarda-costas chamava-se Bletche-Intete. Grande amigo. Um dia deu-me um grande empurrão durante um tiroteio... é que eu tinha-me virado de costas para o local de onde o IN estava a disparar (fiquei mal dos ouvidos desde que fui ferido em Geba)".


Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viagem Porto-Bissau > Abril de 2006 > Percalços no deserto... e a solidarieade dos tuaregues... O Xico Allen, junto à traseira do jipe e o Hugo Costa, filho do Albano Costa, fazendo a cobertura fotográfica...

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > O nossso camarada e amigo,  coronel de infantaria DFA,  ref, A. Marques Lopes  (à direita), jantando com o "inimigo de ontem", comandante Lúcio Soares e o comandante Braima Dakar. 

Sobre este último acrescentou: "O Braima Dakar, nome de guerra de Braima Cama,  é outro comandante que esteve ligado à morte dos três majores no chão manjaco. Disse-me que se disseram muitas coisas sobre isso que não são verdade, que não queria falar, e não me contou nada" (...) (*) 

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... 


(ii) em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita

Os quatro fazem o pleno na Tabanca Grande em matéria de alferes milicianos de uma companhia: crieio que a CART 1690  é a única nessas condições... (Não temos notícias de nenhum deles há muito.)

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2007). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia em que o nosso camarada e amigo A. Marques Lopes (foto à esquerda) chega ao fim da picada da vida, ao km 80 (*), temos a obrigação de mostrar aos mais novos do blogue, os recém-chegados,  os "periquitos, alguns dos melhores postes por ele publicados, e pôr em evidência o seu exemplo de vida e de coragem.

Ele esteve particularmente presente, sempre ativo e proativo,  no arranque do blogue: um 1/5 dos postes de um total de 385 publicados em 2005,  foram da sua autoria ou têm o seu nome (A. Marques) como "descritor". 

Foi particularmente participativo, no nosso blogue, até ao ano de 2008. Em 2006, em abril, fez a sua *romagem de saudade" à Guiné-Bissau, de jipe  com mais meia dúzia de camaradas (entre eles, Albano Costa, o filho Hugo, o Xico Allen, e a filha, Inês), e assinou algumas das melhores crónicas da série "Do Porto a Bissau", com abundante documentação fotográfica, revisitando as estações do seu calvário...

O A. Marques Lopes que em 1975 , beneficiando do seu estatuto de DFA, aproveitou a legislação que lhe  iria permitir voltar á vida ativa militar, e fez a carreira chegando ao posto de coronel, foi dos nossos primeiros "tertulianos" a relatar e a documentar, com recurso  a um numeroso e valioso espólio fotográfico, as aventuras e desventuras dos milicianos na Guiné: no seu caso, primeiro como alf mil na CART 1690, no subsector de Geba, região de Bafatá, zona leste, onde foi gravemente ferido (com direito a evacuação para a metrópole), e depois (ainda mal recuperado ) no Cacheu, em Barro, junto à fronteira com o Senegal, na CCAÇ 3, onde foi obrigado a completar o resto da comissão (1967/68).

O A. Marques Lopes era um profundo conhecedor da Guiné e do PAIGC, mantendo com os seus antigos guerrilheiros e comandantes uma relação próxima, não hesitando por exemplo em sentar-se à mesa com eles e partilhar "confidências" do tempo da guerra (vd. foto acima com o comandante Gazela, nome de guerra do Lúcio Soares)...  

Depois pediu-nos uma "licença sabática," porque estava a escrever um livro e tinha outros afazeres, incluindo a sua intervenção cívica nas escolas, associações e autarquias, mostrando e explicando o dossiê guerra colonial, no âmbito da A25A - Delegação Norte, a que pertencia.

 Pelo meio, meteu-se o projecto da Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, bem como da Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano, de que foi o vice-presidente do Conselho de Administração.

Nado e criado em Lisboa, com costela alentejana (logo "mouro", sulista), vivia, há muito, disfarçado de "morcão", em Matosinhos...  Do seu segundo casamento, com uma nortenha, a Gena, teve um filho, o Francisco, que já terá os seus 30 anos. Tem ainda o Vasco, do primeiro casamento. Não falava muito da sua vida privada e familiar. Deixa-nos, entre outra produção literária, um grande livro de memórias, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Books, 2015).

Dele guardo a grata memória de um grande homem, de fibra, de coragem, um bom amigo e camarada, que, mesmo na fase mais dramática da sua doença, era um otimista, um apaixonado pela vida. Costumava telefonar- lhe  no aniversário natalício.  O José Teixeira, seu vizinho, e que com ele conviveu e partilhou os projetos da Tabanca de Matosinhos, escreveu: 

"A sua grande vontade de viver fez com que travasse por longo tempo uma luta de vida. A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. 'Estou aqui para a luta', dizia-me ele há dias. Desta vez a doença foi mais forte" (*)...

Pedi ao Zé Teixeira que nos representasse, a todos nós, Tabanca Grande, na hora da despedida. Para a esposa, Gena, e os filhos,  Vasco e Francisco, vai a nossa solidariedade na dor por esta perda enorme, para eles e para todos nós, seus amigos e camaradas. (LG)


T/T Ana Mafalda



O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024):

O meu cruzeiro no "Ana Mafalda":  ficámos contentes por saber
 que era só até à Guiné, e não até Timor...


Tinha 103 metros de comprimento e 14 metros de largura, em linguagem de pescador de canoa em água doce, e tinha uma velocidade máxima de 13,5 nós, isto é, em linguagem de velho motorista de fim-de-semana, dava no máximo 25 km por hora.

Tinha 16 alojamentos em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira. Tinha 47 tripulantes (estou muito agradecido a um deles, um que me vendeu a máquina fotográfica com a qual tirei as fotografias que vocês conhecem). Alguns dos modernos "cacilheiros" que atravessam o rio Tejo não serão tão "grandes", mas aproximam-se.

Pois é verdade, meus amigos, foi neste transatlântico que a CART 1690 [Geba, 1967/69] largou do cais de Alcântara até à Guiné. Era a única unidade que lá ia, porque não cabia mesmo mais ninguém, penso eu.

Como alguns meses antes de embarcarmos nos tinham dito que íamos para Timor, ficámos satisfeitos por decidirem mandar-nos para a Guiné, pois pensámos que seria terrível ir num barco daqueles até à Oceânia...

Os alferes, sargentos e furriéis foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes" de segunda e terceira classe. Em primeira classe ficou o capitão da companhia, o comandante do navio, o imediato, o oficial das máquinas, certamente, e uns mangas que se penduraram em nós à boleia, que eu não sei quem eram nem procurei saber.

O Zé Soldado, sempre o mais fodido nestas situações, foi para o porão onde estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.

Largámos às 12h00 do dia 8 de abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejetos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.

Mas deixem-me contar o que aconteceu antes do embarque. No dia 3 de Abril houve a cerimónia de despedida, assim lhe chamaram, no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, que era onde estávamos à espera de embarque. Houve missa na parada celebrada pelo padre Nazário, perdão, o senhor major-capelão Nazário, que, ainda por cima tinha sido meu "superior" quando eu fiz a instrução primária nas Oficinas de S. José, em Lisboa!

Não fui à missa nem ouvi o sermão que ele fez, e que me 
disseram que foi uma bela dissertação sobre o amor à pátria e a defesa do património nacional. Mas tive que o gramar mais tarde, porque ele, um dia, apareceu em Geba para ver como estava a guerra.

− Nós por cá todos bem, é claro − disse-lhe eu.

 Foto à direita: Nazário Domingues de Carvalho (salesiano) (capelão, CTIG, 1964/68)

Depois, no dia 8 de Abril, então, seguimos de comboio especial para a gare marítima. Fizemos um belíssimo e aprumadíssimo desfile, com a nossa mascote Morena à frente (...) ( coitada, não vem na lista, mas estava em Sare Banda, aquando do ataque, e foi morta durante ele; morreu em combate também; era uma cadela muito porreira) perante um representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército.

As senhoras do Movimento Nacional Feminino deram muitos santinhos, calendários e bolachas a todos. O representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército ainda fez uma preleção aos sargentos e oficiais dentro do navio. Aos soldados não deu trela. E lá embarcámos com as lágrimas dos familiares presentes.

Às 16h00 do dia 15 de abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de abril a companhia passou diretamente do navio para LDG e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca.

Foi engraçado e giro, como devem calcular, para o pessoal que ia enfiado, ouvir os fuzileiros que nos levaram ir dizendo, em cada curva ou ponto mais apertado do rio:

−  Olhem que aqui costuma haver ataques!...
 
Dormimos em Bambadinca, em tendas, ao pé do rio, porque não havia instalações. Foi o primeiro combate com a mosquitada.

A 17 de Abril seguimos de Bambadinca para Geba em coluna auto. E fomos render a CCAÇ 1426, do Belmiro Vaqueiro.

A brincar, a brincar, é o começo da nossa estória. (**)

(Seleção, revisão / fixação de fotps, edição e legendagem de fotos, título: LG)
__________

Notas do editor:

(*) 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(**) Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P87: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (Marques Lopes)

domingo, 26 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25564: In Memoriam (503): Lino Bicari (1935-2024) foi a sepultar ontem, no Alvito, Alentejo... "Senti a partida deste bom amigo, que encontrei na Guiné, e desejo-lhe o descanso eterno" (Arsénio Puim, ex-alf grad capelão, BART 2917, Bambadinca, mai 70/mai71)


Recorte do jornal "Público", de  24 de setembro de 1990... Do Lino Bicari, depois de o entrevistar em Lisboa (onde se fixou em 1990, para uma "última missão"),  disse o jornalista João Paulo Guerra: (...) "Não é um homem desiludido, mas um homem amargo que hoje, à margem da Igreja e do Estado da Guiné-Bissau, continua, no entanto, a afirmar-se religioso e militante do PAIGC." (...)


1, Mensagem do Arsénio Puim:

Lino e Arsénio, em maio de 2019,  na ilha de
São Miguel, Açores. Um reencontro ao fim de 48 anos.
Conheceram-se em Bafatá, em 1971.
Foto (e legenda): © Arsénio Puim  (2019).
Todos os direitos reservados.
 [Edição e legendagem complementar:
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Data - sábado, 25/05/2024, 22:46 
Assunto - Lino Bicari

Caro amigo Luís

Primeiramente, dou-te a saber - talvez já saibas - que o Lino Bicari faleceu, como já se esperava. Sepultou-se ontem em Alvito, onde tinha residência.

Falei com a Fernanda acerca 
do texto publicado no blogue (*), prontificando-me para lho enviar por email. Ela disse-me que podia ter acesso ao mesmo indo diretamente ao blogue. Missão cumprida, portanto.

Posso também dizer-te que o jornalista  
António Marujo está a preparar 
uma reportagem sobre  o Lino, a publicar muito em breve.

Digo-te que senti a partida deste bom amigo, que encontrei na Guiné. 
E desejo-lhe o descanso eterno. (**)

Um grande abraço. Arsénio Puim

2. O jornalista António Marujo, no jornal diário digital "7Margens" já  deu  a notícia da morte do amigo do Arsénio Puim, nestes termos:

Missionário e médico da guerrilha, padre e professor

António Marujo | 25 Mai 2024


(...) O antigo missionário italiano e depois militante do PAIGC, na Guiné-Bissau, Lino Bicari, morreu na última quinta-feira no Alvito (Alentejo), onde residia desde 1990. Era “um homem bom, simples, de altos ideais humanos e com um currículo rico, corajoso e autêntico”, diz dele o amigo Arsénio Puim, também antigo padre, que o conheceu na Guiné quando foi capelão militar em Bambadinca, no início da década de 1970. Tinha 88 anos.(...)


3. Descobrimos este amigo do nosso Arsénio Puim só em 2018, numa pesquisa pela Net (**). Nunca o conhecemos pessoalmente. Falámos uma vez ao telefone, trocámos alguns mails por causa dos nossos capelães, expulsos do CTIG, o Mário de Oliveira e o Arsénio Puim (de quem ele ficou amigo, na Guiné; nunca conheceu o Mário de Oliveira) .  

Nascido em 1935, na Sicília, viveu  23 anos na Guiné, primeiro, como missionário católico (1967-71)  e depois, mais tarde, a partir de 1973, como militante do PAIGC: era  o único estrangeiro que tinha o estatuto de "combatente da liberdade da Pátria" (sic), mas nunca pegou em armas. Serviu o PAIGC e a Guiné-Bissau nas áreas onde se sentia competente e útil: a educação e a saúde. Radicou-se em Lisboa em 1990. Tinha como "última missão" criar uma espécie de "Casa do Estudante" pós-colonial...

O jornalista João Paulo Guerra fez, na altura, uma nota biográfica deste homem: 

(...) "O padre Lino Bicari chegou à Guiné em Maio de 1967. Tinha 31 anos, um curso teológico e formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e etnologia. De passagem por Lisboa, meteu na bagagem curso rápidos de língua portuguesa e administração colonial e, como todos os missionários destinados às colónias portuguesas, assinou compromissos renunciando aos seus direitos como cidadão italiano e submetendo-se às leis e tribunais portugueses, à Concordata, ao Acordo e ao Estatuto missionários.

"Na Guiné vivia-se o quarto ano de guerra e Lino Bicari foi colocado em Bafatá, a cidade natal de Amílcar Cabral. A guerra, para ele como para os outros missionários, significava ouvir tiros ao longe e viver num centro populacional sob controlo militar, de onde só podia ausentar-se à luz do dia.

(..) "Foi em Itália, onde se deslocou em 1972 no âmbito de um programa de apoio ao Terceiro Mundo, que o padre Lino Bicari conheceu José Turpin, dirigente do PAIGC e, por seu intermédio, trocou correspondência com Amílcar Cabral. Quando tomou a decisão da sua vida, resolvendo trabalhar com o PAIGC, a Secretaria de Estado do Vaticano sentiu-se embaraçada. Não disse que sim, nem que não, e acabou por consentir, pedindo-lhe apenas que, formalmente, se desligasse do [Pontifício] Instituto para as Missões Estrangeiras [PIME]

(...) "No final de 1973, proclamado já o Estado da Guiné-Bissau, Lino Bicari entrou de novo no território. Mas, dessa vez, não levava o visto de Lisboa nem as guias de marcha do colonialismo missionário. Entrou através da fronteira com a Guiné-Conakry, numa ambulância da Cruz Vermelha e foi instalado pelo PAIGC na região de Boé, a sul de Madina, como responsável pelo Hospital Regional. 'Não era uma base de guerrilha mas uma zona totalmente libertada, defendida por forças armadas locais e, dada a sua configuração geográfica, de difícil acesso às tropas portuguesas', recorda Bicari." (...).

O Lino Bicari e a Maria Fernanda Dâmaso traduziram do italiano o livro do Salvatore Cammilleri, "A identidade cultural dos balantas" (***). 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25548: Banco do Afeto contra a Solidão (29): Hospitalizado em Beja, o luso-italiano Lino Bicari, de 88 anos, antigo missionário do PIME (Bafatá, 1967-1971), professor do nosso Cherno Baldé, grande amigo e companheiro do nosso capelão Arsénio Puim

(**) Último poste da série > 22 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25424: In Memoriam (503): Agradecimento a René Pélissier (1935-2024) que ao blogue é devido; paraninfo a um devotado historiador (Mário Beja Santos)

(***) Vd. poste de 19 de outubro de 2018 > 
19 DE OUTUBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19116: Notas de leitura (1111): Salvatore Cammilleri, missionário siciliano do PIME, expulso da Guiné em 1973 por ordem de Spínola, autor de "A identidade cultural dos balantas" (Lisboa, 2010, tr. do italiano: Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso) - Parte I (Luís Graça)