terça-feira, 30 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22051: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte III: Na ilha da Madeira, a partida para o CTIG no T/T Niassa, em 2/8/1965


Foto nº 1 > Madeira > Funcal > T/T Niassa > CCAÇ 1439 > 2 de agosto de 1965 > Por ser o alferes miliciano mais antigo e de operações especiais, o João Crisóstomo foi quem  assumiu o comando da companhia durante a viagem até Bissau, onde já estava o cap mil  inf Armando. Na imagem, o Governador Militar da Madeira, brigadeiro Fernando Pires Monteiro na presença do comandante do navio foi desejar à Companhia, na do alf mil Crisóstomo, pessoa, boa viagem.


Foto nº 2 > Madeira > Funchal > T/T Niassa > CCAÇ 1439 > 2 de agosto de 1965 >  O brigadeiro Fernando Pires Momteiro  e demais oficias, a bordo do navio onde apresentar cumprimentos de despedida.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
 

1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)

O João Crisóstomo é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, conhecido ativista de causas sociais, com repercussão a nível nacional e internacional: a autodeterminação de Timor Leste, as gravuras de Foz Coa ou a reabilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Bordéus em 1940  são três das mais conhecidas e bem sucedidas...

Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun]. Tem cerca de 135 referências no nosso blogue.


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)


Parte III - BII 19,  Funchal, Ilha da Madeira, e partida para o CTIG em 2/8/1965

A minha falta de visão e previdência leva a que pouco possa dizer agora sobre a preparação da CCaç 1439 na Madeira. Apesar de inúmeras vezes "ter intencionado" escrever as coisas em agendas para memória no futuro, a verdade é que poucas vezes o fiz. E agora pago as consequências, com poucas memórias minhas escritas, contando assim muito com a memória de outros, mais ajuizados do que eu.

Os “quadros” da CCaç 1439 eram quase todos da metrópole, (a única excepção era o alferes mil Freitas, que era natural da ilha da Madeira); os soldados eram todos madeirenses, com uma única excepção: o soldado Manuel Pacheco Pereira Júnior, de apelido o "Açoreano”, por ter nascido nos Açores.

Na Madeira vivemos a maior parte do tempo no quartel do Batalhão II 19, mesmo na cidade do Funchal, mas fomos passar algum tempo no interior da ilha, supostamente para uma melhor preparação  de sobrevivência  em ambiente e circunstancias de maior isolamento.

Depois de seis meses fomos dados por “preparados” e a 2 de Agosto  embarcamos no “Niassa” para a Guiné. O mesmo navio nos traria de volta quase dois anos depois. Os recortes de jornais e algumas fotos que conservei ajudam a lembrar com saudade este tempo na ilha da Madeira. Algumas das fotos já aqui foram publicadas, pelo que não vamos repeti-las (**)  

Estas fotos (nºs 1 e 2)   foram tiradas no dia em que acabou o nosso isolamento/preparação nas montanhas da madeira e fomos dados como “prontos para seguir". Alguém, (penso que foi o Zagalo) apareceu com cigarros e uma garrafa de uísque para celebrar


Foto nº 3 > Madeira > Funchal >BII 19 > CCAÇ 1439 >  1965 > Da 
esquerda para a direita: alferes Freitas (que era natural da ilha), e eu, quando ainda tinha cabelo...); ao centro o capitão Pires que anunciou no momento que ia partir no dia seguinte para a Guiné para preparar a nossa chegada; e à sua esquerda, os alferes Zagalo e Sousa.


Foto nº 4 > 
Madeira > Funchal > BII 19 > CCAÇ 1439 > 1965 > "Os quatro alferes  (ainda aspirantes...): Sousa  e Zagalo  (sempre independente,  apareceu de roupão);  à direita,  o  Freitas;   a minha cabeça aparece por  detrás do Zagalo."

Depois de seis meses fomos dados por “preparados” e a 2 de Agosto de 1965  embarcamos no “Niassa” para a Guiné. O mesmo navio nos traria de volta quase dois anos depois. 

Os recortes de jornais e algumas fotos que conservei ajudam a lembrar com saudade este tempo na ilha da Madeira.


Foto nº 5 > Madeira > Funchal > BII 19 > CCAÇ 1439 > Os “quadros" 2º pelotão: da esquerda para a direita: furriel Lopes, sargento Cabrita, eu e o furriel Bonifácio (à minha esquerda).


Foto nº 6 > Madeira > Funchal > BII 19 > CCAÇ 1439 >  O 2º pelotão, completo,


Foto nº 7 > Madeira > Funchal > BII 19 > CCAÇ 1439 >  Celebração da missa, pelo cónego Manuel Francisco Camacho, auxiliado pelo aspirante a oficial miliciano Francisco João Crisóstomo >  Momento em que era benzida a imagem de N. Sra. de Fátima, que acompanhou a companhia por terras da Guiné, por iniciativa dos soldados madeirenses.

 
Foto nº 8 > Madeira > Funchal > T/T Niassa > CCAÇ 1439 > 2 de agosto de 1965 > O Governador Militar da Madeira passa revista às forças expedicionárias; à esquerda, "o 2º Sargento Bicho, já falecido, eu e o furriel mil António Lopes".

 





Recorte do jornal “ Diário de Notícias “ da Madeira, de 3 de Agosto de 1965, com a reportagem e imagens da partida da CCaç 1439 para a Guiné (pp. 1 e 6). A notícia da partida da madeirense CCAÇ 1349 teve naturalmente honras de caixa alta na edição do dia 3.

(Continua)
__________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:



13 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, sei que ficaste com uma ligação forte à Madeira e aos madeirenses... Eu também, que comecei a lá ir em travalho nos anos 90 do séc. XX, e agora é tenho uma neta madeirense...

Por outro lado, dizes, num dos textos, que fostes a comandar a companhia "por razões burocráticas", tendo o vosso capitão ido mais cedo para Bissau... Nunca percebi porque é que alguns capitães tinham que ir mais cedo...

De qualquer modo, importa lembrar que tu eras o alferas miliciano mais antigo e com a especialidade de operações especiais e, portanto, o nº 2 na hierarquia da CCAÇ 1439... Está correto ?...

Um abraço e santas páscoas. Luís

Carlos Vinhal disse...

Luís, a Especialidade de Operações Especiais, por si, não dava estatuto de antiguidade. A única condição era ser o mais antigo, ano de incorporação ou nota de curso. Se não estou em erro, na minha Companhia, o alferes de Op Esp (Alf Mil Rodrigues) era o 2º na escala para assumir a função de CMDT (incorporação de 1967). O saudoso alferes Casal, Atirador, era o "atingido" (também era de 1967), tendo comandado a Companhia desde o Funchal até Mansabá. Só deixou a função quando o CMDT da CCAÇ 2403, que fomos substituir, assumiu o comando da CART 2732.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Carlos, não sabia dessa... Achava que ser "ranger" (como mandava a p... da sapatilha!) é que dava direito a ser o nº 2... Fiz confusão, com o caso da minha companhia, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12... O nº 2 era o alf mil op esp, o Francisco Moreira.

A tua observação faz sentido, numa organização, afinal burocrática até mais não, como o exército... Não era por acaso que a gente aprendeu a dizer que "a antiguidade era um posto"...

Aquele abraço, Luís

Anónimo disse...

Não meus caros. O Carlos Vinhal tem razão; não foi o facto de ter feito o tal curso de "Ranger express a martelo". De facto não era eu , o "senior". O Freitas era o segundo em comando. E nessa posição esteve até ao momento de entramos no barco Niassa. Aí porém fui formalmente notificado ( eu tinha sido avisado no dia anterior, de que o Freitas tinha um assunto pendente, mas pensei que tudo se resolveria no ultimo momento ainda antes de entrarmos no barco) de que a companhia ficaria sob o meu comando até a entregar ao Comandante Pires. Eu não sei exactamente qual o problema, mas foi-me dito (como que em segredo) que o comandante do batalhão por qualquer motivo "não gostava" muito do Freitas; talvez( assim me insinuaram) a única razão era o facto de o Freitas ser da Madeira... "mesquinhices" que ninguém compreende, mas acontecem; e que ele podia ter resolvido o assunto, mas não teve pressa em o fazer. O facto é que não levou muito tempo a sermos notificados (mas já depois de chegarmos ao Xime) de que o "assunto" tinha sido resolvido e o Freitas retomou o seu segundo lugar em comando na CC 1439.
Eu não estive com esses detalhes, pois na verdade não os sei; a única coisa que sei ao certo foi o que escrevi: razões burocráticas" foi a única explicação que me deram; e eu acabei por ter a companhia a meu cargo durante a viagem para a Guiné.
Não sei as razões que levaram o capitão Pires a ter de ir mais cedo: parece ter sido o facto de sermos uma companhia em rendição individual, não integrados em nenhum batalhão. Só depois de chegarmos a Bissau me é que me foi dado a saber que iamos para o Xime onde passaríamos a ser parte do batalhão que estava em Bafatá.
João Crisostomo , Nova Iorque

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pronto, João, fica esclarecida, para a História, a razão porque tu foste, por poucos dias, ms foste, comandante da CCAÇ 1439, uma brava subunidade de madeirenses...

Já agora fica aqui também o nome do comandante do BII 19, o major José Afonso, segundo o jornal local, "Diário de Notícias" que deu um grande cobertura à vossa partida. Afinal, sempre eram 150 jovens madeirrenses que iam para a guerra, e seguramente a esmagadora maioria nunca saído da ilha.

Ab, Luis

Carlos Vinhal disse...

Caro João (e camaradas) saberás que a minha CART 2732 também era madeirense, foi a primeira Companhia Independente, a par da CART 2731, mobilizada pelo GAG 2 (Grupo de Artilharia de Guarnição n.º 2) que ficava lá em cima, em S. Martinho (lembras-te?). A "32" embarcou em 13 de Abril de 1970 para a Guiné e a "31" a 27 do mesmo mês para Angola.
Como a tua, fomos sem Capitão mas por razão diferente. O nosso Comandante recebeu o Guião, talvez para a fotografia mas não seguiu connosco. Suponho que deu baixa ao hospital. Aquela malta já estava farta de guerra, tanto mais que se seguiram no Comando da Companhia, o Capitão Carreto Maia, herdado da CCAÇ 2403, que ficou connosco até ao fim da sua comissão; o Capitão José Maria Belo, que deu baixa ao hospital; o Capitão Catalão, que deu baixa ao hospital; o Capitão Mil Jorge Picado, até seguir o seu destino para o CAOP1; novamente o Capitão Catalão, até ser evacuado definitivamente, e finalmente, o Capitão Mil Santos Caeiro.
Conclusão: a CART 2732 foi para a Guiné, e regressou, sob o comando do Alf Mil Manuel Casal, que infelizmente nos deixou em Agosto de 2019.
Como a tua Companhia, a minha era composta por militares atiradores madeirenses, sendo que os especialistas e quadros eram oriundos do continente.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, o caso da tua companhia, com oito comandantes operacionais em diferentes momentos da comissão de serviço, devia ser um "case study" ou estudo de caso!... Não basta dizer que "aquela malta já estava farta de guerra"... O caso da tua companhia é um de entre outros mais... (Mas a dança dos comandos de batalhão também merecia outro estudo.)

Nunca ocorreu aos "altos crâneos" de então que as guerras ganham-se ou perdem-se também pelo "factor humano" ?!...

Valeria a pena (,s e tal fosse possível, em tempo útil, não daqui a 50 anos...) consultar os processos indvuduais dos oficiais que deram baixa ao hospital... Devia haver "razões clínicas, médicas" para tanta baixa... E a verdade é que as Forças Armadas (e em especial o Exército) não tinham uma gestão estratégica de recursos humanos.. Nem a nossa demografia lhes permitia dar dar a volta ao texto... A "africanização" era uma espaad de dois gumes...

Ab, Luís

Anónimo disse...

Já agora, também na CCaç 2589, que pertencia ao BCaç 2885, o Alf Mil substituto do Capitão era de OP Esp e quem embarcou primeiro para a Guiné, em avião dos TAM foram: o Cmdt do Batalhão, o Maj de Op. e os Alf Mil "subcmdt" das 3 CCaç operacionais, todos de Op Esp.

AB
JPicado

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, quem os oficiais que estão com o Governador Militar na foto 2... O primeiromance do lado direito parece o Zagalo...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É pena o Freitas não poder dialogar connosco aqui... E quem era este major José Afonso ?

Anónimo disse...

1--A idade faz destas coisas... os oficiais... somos os quatros alferes da CC1439: Zagalo, João Crisóstomo, Sousa e Freitas.
2-O major José Afonso era o comandante do quartel ( batalhão) BI19.
João C

Anónimo disse...

O João Crisóstomo trouxe-nos um excelente documento fotográfico. É uma história dentro de outra história e ainda bem que a preservou. Mas uma das fotos chamou-me a atenção, a bênção da imagem de Na, Sra. Fátima. Imagens como essa e outras foram companheiras inseparáveis das unidades oriundas da Madeira e dos Açores. Dito isso, ainda não li aqui, o que não quer dizer que isso não acontecia, referências a essas imagens nas unidades oriundas do continente. Talvez não fosse má ideia publicar aqui as imagens e os altares onde se encontravam e o que foi feito delas após a desmobilização?
Abraço transatlântico

Anónimo disse...

PASSAGEM DE TESTEMUNHO
Acerca das dúvidas aqui levantadas, o porquê de irem primeiro alguns membros das companhias e batalhões, posso esclarecer com o meu caso.
O BCAÇ1933 tinha feito o IAO em Santa Margarida, onde estive, quando vem uma Nota para seguirem à frente alguns oficiais e Sargentos, com o objectivo de passar o testemunho, era assim que se dizia. Ou seja, tomar conta do espólio deixado pelas unidades que iam ser substituídas por outras e tomar conta dos acontecimentos mais relevantes:
Assim, consta na HU do meu batalhão, que tinha as CCAÇ 1790, 1791 e 1792.
Embarcaram para a Província da Guiné Via Aérea, num velho DC6 , do tempo da 2ª guerra mundial e com carga diversa, os seguintes oficiais e sargentos:
OFICIAIS DO COMANDO E CCS:
- Ten Coronel de Infantaria, Armando Vasco de Campos Saraiva, Comandante
- Major de Infantaria, Graciano Antunes Henriques, Oficial de operações
- Alf. Mil do SAM, Virgilio Oscar Machado Teixeira, Conselho Administrativo
COMPANHIA DE CAÇADORES 1790:
Alf. Mil de Infantaria, Eurélio F. S. Amorim, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, Carlos de Oliveira, Comandante de Secção
COMPANHIA DE CAÇADORES 1791:
Alf. Mil de Infantaria, Antero T. Igreja, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, José Carlos A. Canas, Comandante de Secção
O restante pessoal do batalhão seguiu em 27 de setembro de 1967, no navio TT Timor, chegando a Bissau em 03out67.
A CCAÇ1792, não veio neste transporte, seguiu no UIGE um mês depois, juntamente com o BCAÇ1932, e nunca mais esta Companhia esteve junto ao seu Batalhão orgânico.
A razão de ser desta força militar ir à frente, tem a ver com a tal passagem de testemunho, e pelo que toca aos Alferes das 2 companhias, eles são talvez dos mais antigos.
O NIM acaba em 66 para o Eurélio, é, portanto, da inspecção de 65, nascido em 45, incorporado em 1965. Os outros são terminados também em 66 ou 65.
O NIM do Igreja acaba em 65, inspecção de 64, nascido em 44, e possivelmente incorporado em 1964. Os outros são terminados em 65.
Para o meu caso, que nada tem a ver com estes, o NIM acaba em 64, inspecção de 63, nascido em 1943, e devido a adiamentos incorporado em 1967.
Quanto aos Sargentos, também me parece que é pela antiguidade, uma vez que os Furriéis são todos mais novos, e os 1º Sargentos eram da Secretaria, e não faziam parte destas contas.
Curiosamente, eu fui substituir o meu homologo do BCAV 1915, do qual herdei imensos problemas, que tiveram de ser resolvidos por mim.
Por outro lado, o meu homologo do BCAÇ1932, seguiu junto das restantes tropas e não sei se os comandos foram também à frente de Avião. Sei que regressou comigo, por isso fez menos um mês de comissão do que eu.
Salvo alguns lapsos, acho que dei conta da nossa situação, que era generalizada para todas as Unidades.
Virgilio Teixeira