Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Partida de mais um coluna logística com destina ap Cheche, Beli e Madina do Boé. Era sempre uma operação de grande envergadura, envolvendo muitas viaturas e pessoal. Normalmente iam elementos da CCAÇ 5 (Canjadude) à frente, a picar a estrada. A companhia de intervenção de Nova Lamego, naquela época (set 1967/ abr 1968) era a CART 1742, do Abel Santos. "Sentia estas deslocações como algo de grande perigo, dadas as minas, os mortos e feridos que caíram por aquela estrada, e com este sentimento, resolvo um dia acordar mais cedo e fazer as fotos, que para mim, são uma ‘nostalgia’ incrível, que nunca esqueço". (*)
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O DESASTRE DO CHECHE
Alguns contributos para a tentativa de esclarecer aquele terrível acidente, que por muito tempo que ainda andemos por cá, nunca será esclarecido, é um daqueles mistérios que ninguém quer ver revelados, é a minha opinião, sem qualquer intenção de julgar, até porque nada sei mais do que os outros.
O Abel que não tenho o prazer de conhecer, esteve em Nova Lamego e Buruntuma. É mais antigo que eu, perguntava-lhe se esteve lá no mesmo período que eu; 21-09-67 até 26-02-68.
A CART 1742 fazia parte de um grupo de 17 Unidades que estiveram naquele período sob o comando do BCAÇ 1933. Eu não conhecia bem as instalações da chamada Companhia de baixo, a CART 1742, ao contrário, em São Domingos, com a CART 1744, que conhecia e bem e confraternizávamos, pois, aquilo era mais pequeno, e que penso que a 1744 ser do mesmo Batalhão.
Estive a ler, na História da Unidade, todos os acontecimentos no período de Nova Lamego, e não encontro referência a muita coisa, não sei qual o critério que seguia a história.
Contudo vejo que a CART 1742 estava sediada em Nova Lamego, apenas o 3º pelotão estava em Camajabá. O Abel não sei de que pelotão era.
Ele diz que a foto nº 1 é de Janeiro de 1968, estava eu lá, em Nova Lamego, e notava-se sempre grande burburinho com as famosas colunas para Madina e Béli, tudo se agitava à volta deste tipo de acontecimentos, eu tenho reportagens feitas de madrugada a quando da saída das colunas.
Na história da Unidade – HU – não consta por exemplo a emboscada que provocou a morte do Alferes Gamboa e outros, perto de Piche, da CCAV 1662, foi no 4º trimestre de 67.
Como também não refere aqui um caso que muito chocou a malta em Nova Lamego: a emboscada de uma coluna vinda de Nova Lamego, após rebentamento de minas perto do Cheche, e na sequência da qual foi morto com uma bazuca o Major Pedras, entre outros.
Este acontecimento causou grande consternação, em especial à mulher e família que estavam em Bissau. Os pormenores foram-me contados por um dos meus amigos, um soldado condutor, que estava lá presente, e que eu encontro com frequência em Vila do Conde, é um empresário da Têxtil em Guimarães, que me tem muito em consideração, e que eu retribuo.
Este oficial que eu conheci na messe, pertencia ao Batalhão de Engenharia [BENG 447], e vinha com frequência a Nova Lamego, pois era o responsável pela operacionalidade da Jangada da morte.
Nunca me ocorreu, mas agora pergunto: essa foto nº 1, seria já uma nova jangada com as 3 pirogas mandada construir pelo Major Ruas? Não sei mais nada.
No dia 17 de Janeiro de 1968, dá-se a operação Lince, nome dado à operação de retirada da CCaç1589 de Madina do Boé, substituída pela CCAÇ 1790 do meu Batalhão e do Capitão Aparício.
Esta operação de 5 dias mobilizou enormes meios humanos e materiais, e lembro-me de ter assistido à chegada dos homens daquela companhia a Nova Lamego completamente pirados, com o devido respeito, tinham passado um ano naquela fogueira, isolados do mundo.
O Abel, caso tenha participado nesta operação, deve saber muito mais, e pelo menos sabe mais do que eu, mesmo que não tivesse estado nessa operação.
Fica aqui o meu pequeno contributo, para a história deste caso,
PS - O incidente no Cheche, atrás referido, teve como protagonistas o Major Pedras bem como o Furriel Jorge, ambos foram atingidos, um morreu no local - o furriel Jorge - o Major foi evacuado para o HM 241 em Bissau, onde veio a falecer pouco depois. A esposam após ver a sua morte, deu-lhe um ataque, insultando todos de «assassinos».
Aquela jangada da foto nº 1 não é a do acidente [, em 6 de fevereiro de 1969], esta é uma pequena jangada só para pessoas, a jangada do acidente era enorme, para levar GMC e militares, não podia ser esta.
Foi-me contado por um soldado condutor que esteve no local várias vezes e assistiu a tudo, inclusive na ajuda a carregar o Major para o Heli, ele era um homem forte com peso, um farto bigode. Eram ambos do Batalhão de Engenharia de Bra, e responsáveis pela manutenção da estrutura de travessia do Rio Corubal, no Cheche. (***)
2. Comentário do editor LG:
Virgílio, é a primeira vez, se bem recordo, que aqui se fala dessa emboscada, durante uma coluna logística no Boé, que vitimou um oficial superior, o major Pedras, além do furriel mil Jorge, que dizes terem pertencido, ambos, ao BENG 447.
Na Liga dos Combatentes > Mortes do Ultramar vem a seguinte nota de óbito;
Nome: Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras
Posto: Major;
Ramo: Exército;
Teatro de operações: Guiné;
Data: 15/01/1968;
Motivo: Combate
(****) Vd. poste de 15 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)
A única referência que temos, no nosso blogue, a este oficial superior (, que não era do BENG 447 vem no poste P1370 (****):
(...) Chefia do Serviço de Material / QG-CTIG
Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras, Major do Serviço de Material, natural de São João das Caldas / Guimarães, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, foi vítima , em 13Jan68, de ferimentos recebidos em combate junto a Fariná, durante uma coluna no itinerário Canjadude ao Che-che, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 15 de Janeiro de 1968.
Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras, Major do Serviço de Material, natural de São João das Caldas / Guimarães, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, foi vítima , em 13Jan68, de ferimentos recebidos em combate junto a Fariná, durante uma coluna no itinerário Canjadude ao Che-che, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 15 de Janeiro de 1968.
O fur mil Abílio Duarte Jorge, que morreu logo no local, em 13 de janeiro de 1968, esse é que era do BENG 447. Era natural de Montelavar, Sintra.
O martirológio do Boé é impressionante, foi há aqui feito há 15 anos atrás pelo nosso dedicado camarada e amigo, José Marcelino Martins, ex-fur mil, da CCAÇ 5, "Gatos Pretos" (Canjadude, 1968/70). (****)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18660: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: as colunas logísticas até Madina do Boé
(*) Vd. poste de 21 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18660: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: as colunas logísticas até Madina do Boé
(**) Vd. poste de 31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)
(***) Último poste da série > 23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22029: (In)citações (182): Vúvas e viúvos da minha aldeia (em números) (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)
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