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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17762: Os nossos seres, saberes e lazeres (229): Aquele último dia em Bruxelas, já saudoso pelo regresso (9) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Aqui não se escamoteia que existe uma elevada cumplicidade entre o viandante e uma cidade que o atrai, como onde eletromagnética, vai para 40 anos. Não é só a cidade em si é tudo aquilo que ela proporciona, o viandante é um sénior, pode chegar à gare central de Bruxelas, compra um bilhete por sete euros e pode passar o dia a visitar o país. Por exemplo, apanha aí pelas oito da manhã o comboio para Liége, por ali se passeia e almoça, regressa por Namur, que igualmente tem muito para ver, à noitinha regressa à capital. Ou em vez da Valónia vai para a Flandres, passa o dia em Bruges, em Gand ou Antuérpia ou Lovaina, é o país à carta por uma quantia irrisória, um esplêndido direito para os seniores.
Às vezes não nos atrevemos a estas aventuras porque desconhecemos as boas ofertas que estão ao nosso alcance.

Um abraço do
Mário


Aquele último dia em Bruxelas, já saudoso pelo regresso (9)

Beja Santos

O viandante está refratário em abandonar Bruxelas, temperatura amena, atrações culturais em barda, a cidade permanece no seu coração como uma eterna novidade, passados 40 anos de uma persistente convivência continua de pé o mistério desta relação tão afetuosa, mal sabe que tem dia e hora para aqui arribar e é música celestial que não mais se dissolverá, e parte sempre de orelha murcha, viveria aqui as quatro estações do ano sem grandes vicissitudes. É assim a vida, põe-se ao caminho e antes de partir para o museu de Ixelles grava mais uma imagem destas frondosas cerejeiras ornamentais, estão ao ponto.


A parelha de Pierre e Gilles não é propriamente santo do seu culto, mas tira-lhes sempre o chapéu, há imenso talento nesta arte do retrato altamente sofisticado, entre a fotografia e a pintura, há cerca de 40 anos eles multiplicam-se a dar um toque de humanidade a modelos que são elogios a gente comum e procuram um permanente encantamento do mundo com heróis-modelo arrancados à mitologia e aos contos de fadas. É uma arte que se alimenta de um cocktail de cinema, cultura popular, exibição da transgressão sexual, do questionamento social e político, tudo isto em tonalidades sombrias ou festivas. Há algo que fascina o viandante e que a parelha sabiamente modela nos seus trabalhos: toda esta exibição procura a reconciliação das idades, dos géneros e dos estilos, aqui cada um tem o direito a ser exceção.



O que é mais evidente nestas fotografias pintadas é o encantamento do real, aqui foge-se do que é penoso, o mundo parece ser um grande álbum de família onde se aceitam o diálogo inter-religioso, as construções feéricas, o profundo respeito pela orientação sexual de cada um, os heróis anónimos aparecem suspensos em decorações kitsch; em contrapartida, o espectador é também confrontado com padrões e cânones do classicismo, a imagem abaixo parece ser um bom exemplo. Enfim, uma arte que dispõe bem, muito ao sabor do nosso tempo em que na sociedade líquida tudo é a política, religiosa, social e sexualmente correto.


O museu de Ixelles para além das suas exposições permanentes tem um acervo extraordinariamente rico que vai da pintura a óleo ao cartaz. Fruto de muitas doações, é possível aqui encontrar grandes nomes da arte belga sobretudo dos séculos XIX e XX, como Léon de Smet, Frits Van der Berghe, Emile Claus, Gustav de Smet, Rik Wouters ou René Magritte. Estupenda é a coleção de cartazes onde prepondera um grupo excecional de peças de Toulouse-Lautrec.







E pronto, é o derradeiro passeio. Na véspera, à noite, com o anfitrião, a conversa andou à volta dos belos parques, dos cais com batelões, das calçadas, sim, a Bruxelas que veio da Idade Média estava juncada de calçadas como Ninove, Gand, Mons, Haecht ou Vilvorde, entre muitas mais, eram os eixos radiais de aproximação ou retirada. Escolheu-se então uma visita a obras imparáveis da Arte Deco de que Bruxelas é grande potência. E lá se partiu para o edifício imponente que pertenceu à rádio-televisão belga, na praça Flagey, neste edifício o viandante, há alguns anos viveu uma noite emocionante, um eminente violoncelista holandês executou as seis suites para violoncelo de Bach, coisa mais estafante não podia ter sido, ofereceu a assistência, devido à sua poderosa inspiração, um momento mágico em que a música de um só instrumento assume a plena transcendência.

Não há nada mais a acrescentar, o desejo de regressar já corrói o viandante, é tudo uma questão de disciplina, dar tempo e ajustar calendários para que as expetativas se tornem numa doce realidade.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17735: Os nossos seres, saberes e lazeres (228): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17735: Os nossos seres, saberes e lazeres (228): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 11 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Tudo se conjugou para que depois de uma férias em Malta houvesse um retorno a Bruxelas, três dias apressados, que se saldaram em encontros amigos e programas admiráveis.
Primeiro, o enamoramento por uma arquitetura invejável de Arte Nova, Arte Deco e período seguinte, a economia belga estava pujante e as casas e monumentos refletiam tal prosperidade.
De Namur seguiu-se para Mariemont, tarde mais aprazível não podia ter acontecido, com a visita a um museu de um colecionador que podia ter sido um rival de Gulbenkian. E à despedida mostram-se cerejeiras ornamentais, nunca o viandante entendeu porque é que estas árvores não abundam nas nossas cidades, já que temos os faiscantes jacarandás, de grande porte, podíamos espalhar pelas ruas estas cores tão risonhas.

Um abraço do
Mário


De Valeta para Bruxelas: 
Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8)

Beja Santos

Qualquer turista que arribe a Bruxelas e que circule pelos bairros mais centrais não pode deixar de ficar surpreendido com a quantidade e qualidade de edifícios Arte Nova e Arte Deco. Há mesmo programas específicos para visitar algum do património mais valioso, caso do museu Horta, que foi residência e ateliê do arquiteto Victor Horta, um os expoentes máximos da Arte Nova, somos surpreendidos por mosaico, vitrais, pinturas murais, artes decorativas, mobiliário da época, há outros museus como Alice e David Van Buuren e há visitas guiadas pelas ruas. Surpreende depois a majestade de certa arquitetura do início dos anos 1950, a Bélgica ainda é então uma importantíssima potência económica, dispõe do Congo, a cidade enxameia-se de galerias, vistosas como templos. Veja-se esta entrada da Galeria Ravenstein, que já conheceu melhores dias, é uma peça de grande beleza, cercada de escritórios em série.


Sempre que o viandante percorre o centro histórico dá uma saltada à Catedral de Santa Gudula, um colosso de pedra de gótico triunfal, que foi alvo de muitas intervenções, é impressionante pela sua harmonia, por uma construção que lhe facilita a luminosidade, e toca ainda mais pela cuidada sobriedade dos seus eixos, mostra-se o seu órgão, aqui mesmo, não há muito tempo, o viandante viu e ouviu o mágico Trevor Pinnock, cravista sem rival, a executar obras-primas de Bach.


O viandante detém-se junto da imagem ícone da catedral, há muito que promete a si mesmo procurar saber algo sobre Santa Gudula, o que não o faz, neste caso não importa, a imagem é muito bela e dá mesmo para interrogar como é que transcende tão forte espiritualidade sendo tão ofuscante a folha de ouro, que devia constituir um sério obstáculo, já que este espaço é comedido no luxo e na ostentação. Prossigamos.


Foi-se primeiro a Namur, o viandante tem ali uma amiga há muito mais de 30 anos, depois de ter servido um rico almoço avisou que íamos até Mariemont, o viandante andou perto, já esteve em La Louvière, no tempo da Europália Rússia, foi ali que se deslumbrou com os cartazes da propaganda soviética no tempo do culto de Estaline, vai feliz e contente, sabe que a sua amiga é useira e vezeira em bons programas. O parque circundante do museu real de Mariemont é espaçoso, por ali anda gente de todas as idades, há sombras acolhedoras, o elemento floral está sempre presente, como se ilustra.




Mas que museu é este? Um rico industrial de nome Raoul Warocqué deu em colecionador apaixonado, um tanto eclético: arte egípcia, Grécia e Roma antigas, uma manifesta devoção pela história e arqueologia da região, muito fascínio pelo Extremo Oriente, pela porcelana de Tournai, um grande bibliófilo. Quando aqui se entra logo nos alertam que este domínio de Mariemont tem história ilustre, foi fundado no século XVI por Maria da Hungria, servia de residência a governadores, aqui se deu acolhimento a Carlos V ou Luís XIV. E apontam para as ruínas do castelo, que era ponto alto destes 45 hectares de domínio. O museu foi inaugurado em 1975, desenhado cuidadosamente para nos encaminhar para a contemplação de todas estas jóias de arte, ver-se à légua que o senhor Warocqué se sentia deslumbrado pela arte egípcia, pelo classicismo, pelos primores da arte oriental.



O viandante tem de vez em quando que recordar que usa uma câmara modesta, o seu flash é proibido em telas e peças sensíveis, daí, na hora da despedida deste tão belo museu se ter registado um busto que qualquer museu não se importaria de acolher.


E assim acabou o penúltimo dia em Bruxelas. Não há melhor despedida do que mostrar as cerejeiras ornamentais que pululam em Watermael-Boisfort, onde o viandante tem um ponto de partida e de chegada, é de uma enorme impressão este colorido de feição orientalizante, pois são cerejeiras japónicas, cercadas de construções com quase um século de existência. Amanhã, último dia, haverá ainda uma deambulação pedestre dentro de bosques e a visita à exposição de Pierre e Gilles, no Museu de Ixelles, e depois ala morena que se faz tarde, pega-se na bagagem e vai-se até Zaventem. Até á próxima.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17713: Os nossos seres, saberes e lazeres (227): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (7) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17713: Os nossos seres, saberes e lazeres (227A): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (7) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 4 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
A ilha de Malta ficou para trás, sai-se de manhã cedo e aterra-se horas depois em terreno familiar, Bruxelas, de que há memórias e uma permanente saudade. Emerge a Primavera, está uma tarde gloriosa, depois de um terno acolhimento de alguém que estimamos vai para 40 anos, segue-se para a cidade, procura-se o antigo e o moderno, entra-se numa zona chique e depois numa livraria cheias de pergaminhos. Foi um dia agitado com final feliz, o viandante foi obsequiado com um prato típico belga.
E mais não se diz, amanhã há muito que fazer.

Um abraço do
Mário


De Valeta para Bruxelas: 
Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (7)

Beja Santos

Um dos caprichos dos voos low-cost é esta possibilidade de num regresso se poder fazer uma paragem um pouco mais prolongada. Ao fazer-se o desenho da viagem, descobriu-se com agradável surpresa que por aqui se podia cirandar uns dias sem mais despesa. Telefona-se ao anfitrião, está disponível, pois no dia tal a horas tantas aí arribamos, como sucedeu, para alegria plural. Porque escolher esta imagem, para encetar o registo da chegada? Há uns bons anos, aqui entrou o viandante ufano por ter adquirido uma pechincha, aí por uns cinco euros encontrou na feira da ladra de Bruxelas esta Torre de Belém bem emoldurada. O anfitrião gostou, subtilmente apontou para uma parede vazia, foi instantâneo o gesto de oferta, a torre vigia quem entra e sai nesta preciosa casa sita na Citié du Logis, em Watermael-Boitsfort, na fímbria de Bruxelas.


O viandante não pode ficar insensível a este gesto de delicadeza, uns belíssimos cravos a anunciar as boas vindas. O acolhimento faz parte de todas as culturas, encher a barriga logo à entrada, oferecer um chá, o muito mais que se sabe. Estes cravos, em toda a sua singeleza, marcaram a chegada, tornaram-na irrepetível. Para que conste.


Estávamos nisto, no embelezamento com os cravos, e o viandante viu com outros olhos um móvel e alguns adornos que para ali estão, há muitíssimo tempo. Mas o que se vê neste exato momento e deslumbra foi até agora uma névoa, lembra aquela história de um funcionário que passou dezenas de anos, a caminho do escritório, por debaixo de uma janela até que um dia a viu com outros olhos de ver, se prendeu de amores. Nesta circunstância, o viandante sentiu enamoramento pela disposição dos objetos e pela coesão das cores, encontrou em tudo uma dada harmonia e zás partilha com quem quer que seja a euforia da sua descoberta.


Também faz parte do acolhimento dar de beber e comer ao princípio da tarde, tudo breve para aproveitar a luz do dia neste arranque da Primavera. Fotografou-se à esquerda e à direita, junquilhos, azáleas, tudo o que florescia. Mas o mais impressivo foi esta magnólia, nobre e generosa, mais a mais um lugar eleito para a miudagem andar na brincadeira.


Há um bairro típico em Bruxelas do nome Marolles, são diferentes os pretextos que leva o viandante a por aqui passar. São duas as ruas fundamentais deste bairro popular onde viveu e está sepultado um dos maiores pintores do mundo Pieter Bruegel, o Velho, de quem temos uma obra celebérrima no Museu Nacional de Arte Antiga. Hoje foi um passeio de nostalgia e também de descoberta de montras atrevidas, convidativas para olhar e para fotografar. Foi o que aconteceu com esta bela porta, com esta fachada de outro tempo e esta montra empilhada de cadeiras.



O pretexto, nesta fase do passeio, era vir visitar um dos ícones das livrarias de Bruxelas, Tropismes, nas galerias reais Saint-Hubert. Estamos agora num loca chique, que nasceu em 1847, um espaço de 40 mil metros quadrados com cinema e teatro, hotel e lojas para todos os gostos, desde iluminação, sapatos, indumentária, chocolates, design provocante para móveis. Aproveitou-se para fazer um alto, um bom chocolate ao fim da tarde sabe sempre bem.



As livrarias Tropismes, à semelhança do que diz um slogan publicitário, têm tudo, desde os últimos romances belgas e franceses, as mais recentes traduções de outros países, arquitetura, livros de viagens, banda desenhada, obras clássicas. O expediente do viandante era procurar um álbum de seguidores de Edgar P. Jacobs, desde menino e moço que o viandante trata com muito respeito as aventuras de Blake e Mortimer, e está atento a todos os seus seguidores, são obras que trata religiosamente. O expediente foi coroado de êxito. E aproveitou para tirar um instantâneo de um local que vale sempre a pena visitar.


E assim acabou o primeiro dia em Bruxelas, regressa-se a penates, amanhã há muitíssimo que fazer. A vida de turista tem destas complexidades.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17694: Os nossos seres, saberes e lazeres (227): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (6) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17694: Os nossos seres, saberes e lazeres (227): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Abril de 2017:
 
Queridos amigos,
Aqui ficam os últimos registos de Malta, entre os vestígios opulentos da cultura megalítica até à monumentalidade da cidadela da lha de Gozo.
Em jeito de balanço, o orgulho pela presença portuguesa neste cadinho que é prova provada dos cruzamentos europeus frente ao Mediterrâneo.
É bom partir sabendo que há condições para voltar, preside o bom-senso de que se visitou algum património e entre o deve e haver, já se está saudoso pelo haver, o mesmo é dizer a hipótese de regressar. E num tempo em que avulta o pessimismo pelo projeto da União Europeia não deixa de impressionar o que os malteses edificam, melhoram e transformam num país eminentemente turístico, onde a História e as belezas naturais são determinantes.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: 
Nos templos de Tarxien e na ilha de Gozo (6)

Beja Santos

Em Tarxien situa-se o maior dos complexos de templos de Malta, a cultura megalítica deixou aqui vestígios impressionantes. Podemos ver e deslumbrar-nos com as técnicas arquitetónicas e decorativas que marcam o estilo dos Construtores de Templos. Tarxien tem quatro estruturas de templo trifólias e foi usado durante a era de construção de templos. As peças preciosas estão no museu nacional de arqueologia mas é possível encontrar aqui uma voluptuosa deusa/sacerdotisa de saia. Resta informar quem se prepara para visitar Malta que aqui se encontra o maior templo central de Malta com seis absides, data de cerca de 2800 a.C. E para quem gosta da arte pré-histórica dá-se a saber que temos aqui exemplares requintados da arte megalítica, a decoração espiral é magnífica, vejam só.




O viandante parte para a ilha de Gozo com uma certa melancolia, está na contagem decrescente para se sair de Valeta para Bruxelas, gostava de voltar a deambular sem tempo nem horas por Valeta, visitar a Casa Rocca Piccola, que é uma janela para a vida quotidiana de tempos idos, passear-se pelas fortificações, sentar-se num balcão altaneiro diante do porto grande, voltar as bairros antigos, caso de Birgu, não desdenharia descer aos gabinetes de guerra de nome Lascaris, um complexo ultrassecreto das operações aeronavais nesta tão sensível região do Mediterrâneo durante a II Guerra Mundial. O tempo urge e em dia ensolarado, saiu uma só nuvem, atravessa-se toda a ilha para apanhar o ferry num local com nome estranhíssimo Cirkewwa em direção a Gozo. Sofreu muito com os ataques otomanos, depois do grande cerco de Malta, os Hospitalários fortificaram a ilha, deram-lhe uma cidadela que parece inexpugnável, réplica das muralhas ciclópicas de Valeta. Era fim de semana, os transportes públicos rareavam, à cautela o viandante meteu-se num autocarro de turismo, descobriu que também há preços low-cost, uma menina bradava que agora eram 13 euros quando anteriormente eram 19. Alguém avisou que uma das maiores atrações da ilha, a janela azul, um belo rochedo que lembra uma janela, tinha ruído na semana anterior. Indiferente a tal perda, o viandante lançou-se em direção à cidadela, ainda se passeou pela catedral de Victoria, mais um templo de barroco requintado, era um sol abrasador, desceu à procura de refúgio, e imprevistamente deu com uma casa de ópera nesta ilha minúscula.



A música é um dos elementos que associam Malta à presença italiana: bandas, filarmónicas, inúmeros grupos musicais… e a ópera. Recorde-se o Teatro Manoel em Valeta, o teatro estava fechado mas o viandante ficou impressionado com o belíssimo cartaz a anunciar a ópera em dois atos “Os palhaços”, de Ruggero Leoncavallo. Prossegue a excursão com belas panorâmicas, santuários, igrejas, povoações típicas. E assim se regressa a Valeta.



Está na hora da despedida, o depósito de aprazimento é enorme. Como os gostos não se discutem, o viandante não fica de boca aberta perante tão belo barroco, mas não esconde as sólidas impressões que trará de palácios e mansões, de múltiplos sinais de cultura, encruzilhadas europeias onde se entrepõem religião, misticismo, empreendimentos por todo o Mediterrâneo, e a omnipresença da Ordem de Malta. Algo mais tocou o viandante: a estatuária como farol de identidade. Podia aqui prosseguir-se com um rol de centenas de imagens de ícones malteses, pais da cultura até líderes políticos que consagraram a independência. De tudo quanto viu, esta imagem de memória a vítimas dos bombardeamentos sofridos entre 1942 e 1943 ganha para o viajante um peso específico: vejam o sacrifício da juventude para que a nossa pátria não arrede pé, leiam este livro aberto do nosso heroísmo.


É como se fosse a despedida, no alto dos jardins de Barrakka desfruta-se a vista impressionante de um porto e de um complexo de fortificações sem rival. Aqui se travou a armada turca, aqui o marquês de Niza se cobriu de glória com os seus marinheiros portugueses, aqui transitaram as embarcações britânicas que sulcavam em direção à Índia. E como marca final o viandante impressionou-se com o desenvolvimento trazido pela adesão à União Europeia, Malta é um caso de sucesso, de beleza e de património histórico europeu.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17674: Os nossos seres, saberes e lazeres (226): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17674: Os nossos seres, saberes e lazeres (226): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
São os últimos dias passados em Malta, amanhã vou até Gozo e farei relatório.
Malta vive essencialmente do turismo, é gigantesco, desdobra-se em atividades ao ar livre, visitas culturais, excursões em todas as direções. Hoje movimentei-me a pé durante horas, quando me senti esfaimado entrei num snack e fui servido por um português que ali vive e se sente muito bem, o salário mínimo ronda os 840 euros, ele sente-se satisfeito com o estado social de Malta.
Continuo à volta do Grão-Mestre Vilhena mas há outros vultos portugueses referidos com regularidade. Para os estudiosos das guerras informo que tem aqui um largo pitéu com as instalações poderosas que foram vitais durante a II Guerra Mundial para assegurar sucessos da aviação e da frota naval.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: 
À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5)

Beja Santos

Pelas contas do viandante, hoje será um dia exclusivamente dedicado a contemplar preciosidades em Valeta. Já ficou dito que este pequeno país tem entre as suas peculiares atrações um número elevadíssimo de estátuas em todas as localidades, é um país novo que procura a identidade com os seus vultos e eventos superiores. Logo esta dinâmica estátua alusiva à independência, à entrada da cidade.


Há razões fundadas para os guias proporem, entre as principais atrações, a visita à Igreja do Naufrágio de S. Paulo e às suas 25 relíquias. Caminhando para o templo, surpreende a amálgama de diferentes estilos arquitetónicos da sua fachada neogótica oitocentista, parece mais a sede de um banco do que uma igreja. Entra-se e tudo muda de figura. Ali predomina o barroco. Os visitantes vão à procura das relíquias, diz-se que há um osso do pulso direito e um fragmento da coluna onde terá sido decapitado. O viandante já aqui esteve e voltará aqui logo que possível. A cúpula do tempo não é nada de transcendente, mas o arquiteto foi subtil nos jorros de luz que a elevam e lhe dão uma dimensão sublime. Também esta relíquia de S. Paulo, a sua cabeça, é uma impressiva imagem da mortificação, ele que falou na dádiva pelos outros assim cumpriu a sua missão, parece dizer o génio desta estatuária.



Não teria sentido ignorar o nosso Grão-Mestre Manoel, sempre presente, vamos ao seu encontro no teatro que ele providenciou para que o público tivesse “entretenimento honesto”, logo ópera séria. O Teatro Manoel abriu as suas portas em 19 de Janeiro de 1732. Em rigor, é hoje uma casa de espetáculos, promove concertos, recitais, mas também óperas. Foi ligeiramente atingido durante os bombardeamentos da II Guerra Mundial e restaurado. Dizem que é uma réplica do teatro da ópera de Catânia, a capital da Sicília.



O turista recebe ampla informação sobre o património maltês, dentro das referências fala-se nas fontes e o viandante gosta muito desta, está na Praça de S. Jorge, lugar de grande afluência, o viandante pôs-se a observar e escreveu no caderninho: mais um elemento italiano a juntar a tantos outros.


Sendo Valeta uma cidade com tantos fortes e fortificações, é sempre uma tentação descer e olhar de cima para baixo a monumentalidade das muralhas. O viandante tomou o elevador nos jardins superiores de Barrakka e desceu. Recorde-se a ironia de ter feito esta construção ciclópica que ficou operacional no exato momento em que o império Otomano entrou em refluxo.


O viandante sobe ao nível superior de Valeta, encontra aberta a igreja de Nossa Senhora das Vitórias, considerada a primeira igreja de Valeta, mandada construir por Jean Parisot de Valette, para comemorar a sua vitória sobre os otomanos em 1565. Foi a principal igreja de ordem e o Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca mandou embelezá-la com a fachada barroca que podemos admirar. Fala-se das vitórias, não é só a de 1565 é também para marcar a capitulação da Armada italiana em 1943, representou a chegada da paz para os malteses. Os viandantes podem agora admirar uma igreja praticamente toda restaurada, é um encanto para os olhos tanta arte preservada.


Nisto o viandante tem uma veneta, olha para o céu, busca um autocarro e procura novo desfrute, as falésias Dingli, muito procuradas pelos amantes da conservação da natureza. Estas falésias de calcário na Costa Ocidental proporcionam panorâmicas de cortar o fôlego. Foi construída uma agradável marginal e dá-se um passeio de alguns quilómetros a ouvir o piar dos pássaros, a ver o funcho e a contemplar, mantendo uma respeitosa distância das falésias uma brancura que cai abruptamente nas águas. Está na hora do regresso, volta-se a Sliema.


Isto de vasculhar à procura de promoções dá por vezes resultados sensacionais. Um hotel de Sliema assegurava um quarto por 30 euros, com vista para o pátio, por sinal sem graça nenhuma. Mas era um quarto cheio de conforto, foi um ótimo negócio. Porque Sliema é a principal faixa turística de Malta, passeios não faltam e as vistas são soberbas. O viandante despede-se hoje dos seus amigos com uma vista da cidade e em dado momento até pensou em Veneza, imagine-se, estava na marginal a ver os barcos e o serviço de ferry que atravessa a baía em dez minutos. O viandante escreve no seu caderninho: amanhã começamos pela pré-história e a seguir parte-se para Gozo. O passeio maltês dentro em breve finda para se partir para Bruxelas, o viandante está saudoso desta cidade que percorre com tanta alegria.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17660: Os nossos seres, saberes e lazeres (225): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do grão-mestre António Manoel de Vilhena (4) (Mário Beja Santos)