Reabastecimento do C-130 H da FAP
Foto: João Girão/Global Imagens/Arquivo, com a devida vénia
1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2018:
Hoje, em que os fogos Florestais estão permanentemente na ordem do dia, ocupando noticiários televisivos e acesas discussões e debates em regime de exclusividade, penso que não será desajustado esclarecer algumas mentes sobre o tão propalado uso do Avião C-130 H da nossa Força Aérea no combate a incêndios florestais.
Esclareço que este artigo foi elaborado pelo Gen. Pil./Av. José Nico que foi também Comandante destas aeronaves e nos diz o seguinte:
Já não estava a voar os C-130H quando a operação MAFFs teve início. No entanto fui dos primeiros a ter contacto com o sistema porque em 1980 ou 1981 fizemos um "squadron exchange" com os C-130 italianos que estavam baseados em Pisa.
Levava a incumbência de pedir uma demonstração do funcionamento do MAFFS que os italianos já possuíam. Não foram capazes de fazer a demonstração mas mostraram o equipamento.
Deixei a operação C-130H em 1982, no entanto a minha opinião sobre a utilização dos C-130 no CI é basicamente a seguinte:
1. Num combate a um incêndio com meios aéreos é muito importante a quantidade de água que a aeronave consegue transportar mas ainda mais importante é a frequência da rotação. É necessário que o tempo entre descargas seja o mais curto possível.
No caso do C-130, porque só tínhamos uma aeronave em alerta, o intervalo entre descargas era muito grande e, grosso modo, devia ser cerca de uma hora. Era preciso regressar à Base, aterrar, rolar, estacionar, parar motores, reabastecer, pôr em marcha, rolar, descolar, voar outra vez para o incêndio e fazer nova descarga. Num intervalo de tempo tão grande qualquer incêndio retomava facilmente a sua carga térmica e por isso penso que o combate se não era ineficaz, era, pelo menos muito pouco eficaz.
2. A calda retardante, que se chamava PHOSCHECK se bem me recordo, destinava-se a fazer baixar a temperatura do fogo e permitir a aproximação do pessoal que estava em terra, ou seja, pelos bombeiros. Isto pressupunha que os lançamentos da calda se fariam depois de os bombeiros terem sido posicionados nas proximidades. Ora isto raramente acontecia. O que acontecia é que os fogos se desenvolviam em zonas com relevo e sem caminhos que permitissem o acesso ao incêndio.
Normalmente as matas iam ardendo mas os bombeiros estavam a quilómetros da linha de fogo e não conseguiam lá chegar. Chamavam então o C-130 que fazia um lançamento mas como os bombeiros não estavam lá perto para combater o fogo, este reganhava intensidade. Por sua vez o C-130 demorava muito tempo para fazer a segunda descarga e assim por diante, o que não resultava.
3. Resumindo, que eu saiba só os anfíbios CANADAIR, porque foram desenhados de propósito para combater fogos é que oferecem a resposta mais eficaz. Fazem uma descarga e vão reabastecer no lago ou albufeira mais próximos e estão de regresso ao fogo no menor espaço de tempo possível.
Ao pé deles o C-130 com o MAFFS não vale nada.
Sobre a conversa que tem aparecido nos media quanto à utilização dos PUMA que foram abatidos, ou sobre a adaptação dos futuros KC-390, é tudo conversa de treta. Ninguém sabe do que está a falar, incluindo alguns dos meus camaradas.
José Nico
C-130 H - Carregamento do kit MAFF's
Foto: Com a devida vénia ao Blogue O Adamastor
C-130 H no combate a incêndio
Foto: Com a devida vénia a Associação Bombeiros para Sempre
C-130 H a usar Calda Retardante
Foto: Com a devida vénia ao Blogue O Adamastor
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Abraço
Mário Santos
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18813: FAP (110): FIAT G-91, um caça entrado ao serviço de Portugal, na guerra do ultramar, em 1965 (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)