
Contradições… Já são demais
Joaquim Coelho
Se servir nas Forças Armadas exige disponibilidade total, mesmo da própria vida, é preciso que os incentivos cativem os interessados mais capazes.
Com o fim do SMO (Serviço Militar Obrigatório) criou-se um vazio muito grave no percurso de formação cívica dos cidadãos. Apesar de ser um serviço incómodo para os mais bem instalados na sociedade, é nas Forças Armadas que se cultivam os mais nobres valores da ética e da disciplina, bem como os valores patrióticos e de cidadania que deveriam ser preservados, difundidos e absorvidos pelos jovens da sociedade. Os padrões da disciplina e a cultura da mística fundamentada nas tradições castrenses ajudam a moldar a personalidade dos mancebos dentro dos princípios da responsabilidade e do respeito da causa pública. As Forças Armadas são a mais importante instituição para defesa da coesão nacional, onde a camaradagem ajuda a fortalecer o espírito de corpo determinante para levar acabo as mais diversas acções com vista à defesa da soberania nacional e da liberdade democrática.
É notório que a maior parte dos governantes não está à altura de entender o que é a vida militar. Porque não querem ou porque pertencem à “vanguarda dos covardes e desertores” que renegaram o serviço militar e a defesa da Pátria. Não percebem que é preciso um forte “espírito de corpo” para enfrentar situações de perigo, em que cada um defende o espaço onde se movimentam os companheiros, na reciprocidade da ação comum. Muitos governantes deste país nunca souberam quanto é desconfortável andar dias seguidos com as fardas encharcadas, dormindo no chão e alimentados por rações de combate que, grande parte da população acharia intragáveis. As consequências para a saúde aparecem mais tarde, desgastando o corpo e o espírito mais precocemente, pelo que necessitaram de tratamentos e cuidados de saúde mais específicos e adequados.
Se as remunerações não compensarem o esforço do desempenho as evoluções nas carreiras se processarem com décadas de atraso e os incentivos se reduzirem a zero, não tarda nada que nas Forças Armadas (única instituição isenta na salvaguarda dos valores patrióticos) fique apenas os incapazes e os desafortunados. Depois, em vez da pujança física e capacidade moral vamos ter umas Forças Armadas deprimidas e compostas de gente desmotivada, incapaz e infeliz. Estamos a assistir ao desmoronar dos alicerces que sustentam as instituições chave da democracia: Forças Armadas e Justiça.
Quando vemos os políticos, incapazes e incompetentes, a afrontar as instituições mais credíveis do país, tentando modelá-las à sua imagem e semelhança, não atendendo à especificidade das respectivas necessidades básicas, só podemos esperar novos protestos que poderão conduzir a um levantamento nacional que os ponham na ordem ou mande para o inferno, antes que Portugal se afunde mais no caos económico e na corrupção instituída, alguém terá de dizer basta e imitar a Maria da Fonte.
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Nota do editor
Último poste da série de 27 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21485: (In)citações (171): Frei Henrique Pinto Rema, OFM, hoje com 94 anos, Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (2018), autor da "História das Missões Católicas na Guiné" (1982) (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, Nova Iorque)