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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25192: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte V: E se o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau fossem alvo de um ataque aéreo ? Em 23 de fevereiro de 1974 foi considerado inoperacional o material de deteção de alvos e de tiro...

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > BCAÇ 3852 (1971/73 > Antiaérea do tempo da II Guerra Mundial... "Simulando o ataque a um avião inimigo. Cada tiro, cada melro... pois aviões cá tem... A tropa não deixa de me surpreender: antiaéreas em Aldeia Formosa? Os "nossos amigos", ou IN, tinham mísseis terra-ar Strela (em março de 1973)", diz o Joaquim Costa...(*)

Que arma seria esta? E de que calibre? Parece ser uma peça AA 9,4 cm... A CCAV 8351 esteve em Aldeia Formosa entre meados de novembro de 1972 e princípios de abril de 1973... Nesta altura o pelotão AA que aqui estava, devia pertencer à Btr AAA 7040/72 (Out 72 / ago 74). Sabe-se  que o Btr AAA 7040/72 substituiu a Btr AAA3381, a partir de 1Jan73, no comando e controlo dos Pelotões da Nova Lamego, Aldeia Formosa e Nhacra. 

A bataria seguinte, a Btr AAA 7041/72, em 23Fev74, em virtude da inoperacionalidade do material de deteção de alvos e de tiro, foi desativada. A dois neses do 25 de Abril, o material 9,4 cm foi considerado inoperacional, tornando-se  necessário a criação de um Grupo de Artilharia Antiaérea da Guiné (GAAA)  (que já não chegou a sair do papel)...

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Base naval do Alfeite da Marinha , 
30 de abril de 1974

Foto (e legenda): © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em todas as épocas, em todas as guerras, em todos os regimes, todos os chefes têm a sua 23ª hora... Muitos de nós, antigos combatentes, já não estávamos lá no CTIG, quando o gen Spínola bateu com a porta a Marcello Caetano e foi substituído pelo gen Bettencourt Rodrigues. Este foi o último Governador e Comandante-chefe do CTIG: a sua história efémera passa-se entre 29 de setembro de 1973 e 26 de abril de 1974. (**)

Quem já não estava lá, tem direito a saber (é esse o papel do nosso blogue) como foi a 23ª hora deste militar com carreira brilhante que acabou por fechar um capítulo da história de Portugal com 500 anos. 

Ele quexou-se em 1997, em depoimento sobre a descolonização da Guiné (no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida), que não teve tempo para fazer o que se propunha (que era a retração do dispositivo militar, de 225 guarnições para 80 e tal) porque entretanto foi preso e destituído em 26 de abril de 1974.

Naquele que consideramos o seu "testamento político-militar" (o seu depoimento para o livro, escrito por ele e mais 3 generais, J. da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Slvino Silvério Marques, "Africa: a vitória traída", Braga, Intervenção, 1977, pp. 103-143), não há estranhamente a mais pequena referência à defesa antiaérea da cidade e do aeroporto de Bissau bem como  das localidades mais importantes, vulneráves a um eventual ataque aéreo inimigo.

Sabe-se hoje que a continuação da guerra  não  estaria em causa, a não ser em  caso de entrar  em cena a aviação inimiga (que o PAIGC ainda não tinha, mas que  também podia ser a de algum dos países amigos do PAIGC, como a Guiné-Conacri onde o PAIGC tinha a sua confortável retaguarda, pese embora o regime de Séku Touré ser então uma ditadura brutal e sanguinária).

Esta questão, o palno de defesa aniaérea da Guiné, também não tem sido abordada no nosso blogue. O único "catedrático" em AAA é o nosso amigo To Zé, cor art ref António José Pereira da Costa, que, enquanto capitão, foi o primeiro a comandar a Btr AAA 3434, "As Avezinhas" (Bissau, 1971/73).
  

Excertos de CECA (2015):

• Decisão de 25Fev74 - Reorganização da AAA no TO da Guiné - proposta apresentada pelo Delegado da DEFNACIEME, Ten-Cor Art Luis M.D.A. Corte Real

"1. A DEFNAC/EME [Defa Nacional / Estado Maior do Exército] através do seu delegado, Ten Cor Corte Real, atendendo a que o material de Art de 9,4 cm não oferece condições de operacionalidade,  propõe que se deixe de utilizar, no TO daGuiné, o material de 9,4 cm em missões de AA, para o que:

- se adaptaria a BtrAAA 7043/73 (9,4 cm) a ligeira (4 cm).

- não seria rendida, no final da sua comissão (21 meses em Julho) a BtrAAA 7041/72 (9,4 cm).

 2. Após discussão do problema em reunião de Comandos, em250900Fev74, decido:

a. Concordar com a transformação da BtrAAA (9,4 cm) 7043/73 em BtrAAA (4 cm) com os problemas inerentes à sua adaptação (aumento de efectivos e instrução).

b. Aceitar a não rendição da BtrAAA (9,4 cm) 7041/72, aproveitando a disponibilidade daí resultantes para a reorganização,que se considera indispensável, da estrutura antiaérea do TO..

Assim, considera-se necessário a criação de um Grupo de Artilharia Antiaérea, com possibilidades de exercer o Comando táctico de toda a AAA do TO e acionar o funcionamento do Serviço de Informações e do Centro de Operações da AAA, e ainda, garantir:

- as transmissões entre os órgãos da AAA e as armas;

- a administração do pessoal das Batarias AA;

- a manutenção do material;

- a instrução do pessoal a formar no TO. [... ]"

Fonte: CECA (2015), pp. 464/465

Anexo n" 3 - Subunidades de Artilharia Antiaérea" (CECA, 2015):

[ Extracto da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 7° Volume Tomo II - "Fichas dasnidades Guiné",  da CECA, EME. Sobre este assunto consulte-se o artigo "A Artilharia Antiaérea noUltramar" do Coronel de Artilharia António José Pereira da Costa - Boletim da Artilharia Antiaérean" 3 - II Série, Outubro 2003 - Edição Especial do RAAA nº 1.]

(...) -  Quando do início da luta armada com o PAIGC, em Janeiro de 1963, já se encontrava, há um ano, instalado no aeroporto de Bissalanca (Bissau), o Pelotão de Artilharia Antiaérea n° 43, dotado de radar com peças AA 4cm "Bofors M-42/60" e metr AA quádruplas 12,7mm, para garantir a defesa AA a baixas altitudes. 

No início de 1964 foi rendido pelo Pel AAA 943; em Janeiro de 1966 este foi substituído pelo Pel AAA 1066; em princípios de 1968 nova rendição pelo Pel AAA 1257; em meados de 1969, chegou o Pel AAA 2141 e em 1970 o Pel AAA 3001.

Este último foi destacado para Nova Lamego (Sector L3). Todos estes pelotões tiveram missões semelhantes e o mesmo material AA.

- Para cumprimento do despacho do MDN de 11Ago 70 o dispositivo antiaéreo no TO da Guiné foi reforçado com Batarias de Artilharia Antiaéreas.

Em 19 Fev 71, foram aumentadas ao efectivo, a Btr AAA3381 (lª fase) e a Btr AAA 3382. A 2ª  fase da primeira Btr apresentou-se em 31 Maio 71.

A Btr AAA 3381 integrou os dois últimos Pelotões independentes acima referidos e um outro Pelotão que chegou na 2ª fase. Foi dotada com peças 10,4cm, metr AA quádruplas 12,7mm e radar nº 4 MarkVI; as guarnições tiveram pessoal de recrutamento da Província.

Após a realização da IAO foi colocada em Bissau no aquartelamento do GA7, exercendo o comando e controlo dos Pelotões que foram destacados para Bissalanca, Nova Lamego, Aldeia Formosa, a partir de 25 Jul71 e Nhacra, a partir de 01 Nov 71.

- A Btr AAA 3382, após a realização da IAO, em 13 Mai 71 foi colocada no aqt do GA7. Foi a primeira a ser dotada com peças AA 9,4cm e dispunha de radares (táctico) MK VI e (de tiro) MK VII (que através de um preditor dava pontaria direta às 4 peças), para defesa a média altitude do aeroporto, parte da cidade de Bissau,  Cumeré e paióis do CTIG.

Iniciou o estudo das posições das peças: radares e preditores de AA. Em Jan71, começou a construção das posições e do aqt na região  de  Bor (Bissau), com vista ao cumprimento da missão, tendo a orgamzação operacional ficado completa em Set72. 

Em meados de Maio, desse ano, passou a ocupar as instalações de Bor, cumulativamente ficou com a responsabilidade daquela região na dependência do COMBIS.

- A Btr AAA 3434 desembarcou na Guiné em 31Mai71; efectuou a IAO e a 04Jul71 ficou instalada no aqt do GA7. 

A partir de 20Jul desse ano,passou a realizar os trabalhos de construção de espaldões para peças de radares da área do aeroporto de Bissalanca. Foi dotada com peças AA 4cm e metr AA quádruplas 12,7 mm. Colaborou em coordenação com a BA12, na defesa terrestre das instalações daquela área.

- A 1ª  fase da Btr AAA 7040/72 desembarcou em 200ut72 e a 2ª fase em 2Jan73. Após a IAO da la fase, no GA7, em 23Nov72, deslocou um Pelotão para Nova Lamego para realizar a sobreposição com idêntico efectivo da Btr AAA 3381 até 18Dez72: de seguida assumiu a responsabilidade de defesa AA a baixa altitudes da pista de aviação e destacamento aéreo. 

Substituiu a Btr AAA3381, a partir de 1Jan73 , no comando e controlo dos Pelotões da Nova Lamego, Aldeia Formosa e Nhacra. 

Para estas duas últimas localidades, marcharam em 4Fev73, 2 Pelotões da 2ª fase que renderam idênticos efectivos da Btr AAA 3381; colaboraram ainda na defesa terrestre das referidas localidades.

- A Btr AAA 7041/72 desembarcou em 160ut72; realizou em Bor a IAO e em 1Dez72, substituindo a Btr AAA 3382, assumiu a responsabilidade da defesa AA a médias altitudes da BA12, aeroporto, Cumeré e parte da cidade de Bissau. Foi dotada com peças AA 9,4cm. Assumiu também a responsabilidade do subsector de Bor na dependência do COMBIS. 

Em 23Fev74, em virtude da inoperacionalidade do material de deteção de alvos e de tiro, a Bataria foi desativada.

- A Btr AAA 7042/72 desembarcou em 2Jan73. Após IAO, no GA7, assumiu em 26Fev73, substituindo a Btr AAA 3434, a responsabilidade de defesa AA, a baixas altitudes, do aeroporto e da BA12, tendo-se instalado em Bissalanca; colaborou em coordenação com BA12, na defesa terrestre das instalações.

- A Btr AAA 7043/73, desembarcou em 17Nov73; foi colocada em Bor a fim de realizar a IAO e a seguir reforçar a Btr AAA 7041/72 com vista à implementação do sistema integrado de defesa AA a médias altitudes do aeroporto e da cidade de Bissau cujo estudo estava sendo efectuado.

Foi dotada com peças AA 9,4cm. Colaborou na segurança e proteção das instalações e populações do subsector de Bor, sob controlo operacional do COMBIS. 

Em 23Fev74, devido a inoperacionalidade do material, passou a realizar a adaptação ao material AA 4cm.

- Depois de feito os estudos para a sua organização foi criado por depacho do CCFAG, o Grupo de Artilharia Antiaérea da Guiné (GAAA).

Destinava-se a comandar, coordenar e controlar a actividade das Subunidades, na altura: Btr AAA 7040/72, 7041/72 e 7043/73. 

Apesar de oficialmente criado em 1Mai74 não chegou a ter existência e organização efectivas, sendo extinto em 7Set74.

Fonte: Excertos de: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operaciona. Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015, pp.   464/465 e 491/492.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20393: Memória dos lugares (402): Nhacra, a guarda avançada da capital, Bissau: afinal, era um sítio onde se podia ir, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974)


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477, "Os Gringos de Guileje"  (Guileje, Nhacra e Brá, 1971/73) > O fur mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.

Foto (e legenda)  © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Como era Nhacra ao tempo do nosso grã-tabanqueiro Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974) ? (*)


(...) Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AAA 7040/72, além de dois pelotões de Milícias: o 329,  aquartelado em Oco Grande, e o 230, aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.

O IN não possuía, dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento. 

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes:

(i) a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7;

(ii)  e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. 

Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA, a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram: 

 (i) a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra; 

(ii) o itinerário Bissau–Mansoa; 

(iii)  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a impedir que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos milttares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.


Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia, distribuíam-se por dois regulados: 

(i) o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra (Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe);

(ii)  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais.Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.
Bissalanca, BA 12, c. 1972/74: os alf mil
 Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ~
e Jorge Pinto, prontos para ir até Nhacra,
de motorizadas, comer umas ostras (**)...
Foto: Jorge  Pinto (2019).

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).

Os Fulas, de um modo geral,  eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos. (...).

(...) A área do subsector de Nhacra tinha por limite a norte o Rio Mansoa, a sul o Rio Geba, a oeste o Canal do Impernal e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa e, ainda, pela ligação entre Nhacra e Cumeré, também ela em estrada asfaltada. 

A piscina de Nhacra.
Foto de Eduardo Campos (2009)
As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas. Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaracterísticas, em que os relevos praticamente não existiam, apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal. Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada, aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas Zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”. A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies.

Afinal, Nhacra, a 25 / 30 km, a nordeste de Bissau, era um sítio onde se podia ir, de carro, de moto ou de motorizada, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra. (***)
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Notas do editor:



27 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)