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domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27376: Humor de caserna (219): Heróis de quatro patas que bem mereciam uma cruz de guerra: Bambadica, 1963, o Lobo e a sua matilha de cães rafeiros (Alberto Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 83, 1961/63)




Cartoon: adaptação e edição por Chat Português (GPT-5 Thinking mini). Disponível em https://gptonline.ai/. Ideia original: LG sob imagem original de João Sacoto  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Meados de 1969 > Um periquito em Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70),   o editor deste blogue, quando noutra incarnação foi Fur Mil Armas Pesadas Inf, pertencente à subunidade de intervenção CÇAÇ 2590 / CCAÇ 12... Nas suas costas, a grande bolanha de Bambadinca... (Bambadinca ficava num morro, 30 e tal metros acima do mar, tendo a Norte o rio Geba e a Sul a bolanha.)

Um anos depois, já após a chegada do BART 2917, os cães vadios enxameavam a parada do aquartelamento e tornavam-se um pesadelo, à noite, não deixando ninguém dormir... (Dentro do aquartelamento, ou do perímetro de arame farpado ficavam ainda as instalações civis: posto administrativo, escola primária, missão católica capela, reservatório de água, etc.)

Foi na sequência dessa situação que se decidiu preparar e executar a Op A Noite das Facas Longas, de que resultou talvez a maior mortandade em canídeos de toda a guerra da Guiné... Como tantas outras ações das NT, esta não ficará certamente para a História, mas já aqui foi evocada e sumariamente contada (*).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


    

O boxer Toby, um cão
que foi um bravo
combatente,
mais do que mascote.

Foto do João Sacôto.
1. Os cães também fazem parte da nossa "pequena história", ou das nossas "pequenas histórias" que pouco ou nada irão interessar à História com H grande. 

Temos pelo menos dez referências a este descritor. Até tivemos "cães de guerra". CCAÇ 763, "Os Lassas" (Cufar, 1965/67) teve "cães de guerra". Tinha uma secção cinotécnica. Mas a sua utilização, eficaz e eficiente, naquela guerra e naquele terreno, deparou-se com vários obstáculos. E a experiência foi abandonada. O maior inimigo do cão de guerra ainda era, afinal, o macaco- cão. Quando se encontravam no mato, não havia quem os segurasse.

Mas dalemos de outros cães que, à partida, não foram treinados para operações de guerra. E que mesmo assim participaram na guerra. 

Se há uma cão que merecia uma cruz de guerra, era o Toby, ferido em combate, bravo e leal companheiro do nosso João Sacôto e do seus camaradas da CCAÇ 617 (Catió, 1964/66) (**).

Cães que foram, mais prosaicamente, mascotes iu animais de companhia certamente os houve, na Guiné, ao longo da nossa guerra, um pouco por toda a parte. 

De um lado e do outro. O IN também os tinha, nas "barracas"  e tabancas", com a missão de o alertar da chegada das NT, no mato. 

Alguns dos nossos cães, infelizmente, como o Boby e o Chicas, que viveram connosco em Bambadinca, acabaram por ser vitimas do "fogo amigo" (*).

 Mas falando de cães que conviveram connosco, temos  de lembrar aqui, mais uma vez, nem que seja em registo  humorístico (***), o Lobo (também um Boxer)   e a sua matilha de cães rafeiros que no início  oficial da guerra, no 1º trimestre de 1963,  terão abortado  um ataque do IN a Bambadinca, ao tempo 
do Alberto  Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).
 

O Lobo e a sua matilha de cães rafeiros

por Alberto Nascimento


Alguém apareceu um dia no quartel, com dois cachorros recém desmamados, que foram imediatamente adotados e batizados com os nomes de Gorco, ele, e Djiu, ela.

Adaptaram-se facilmente ao hotel e, quando começaram a vadiar pelas imediações, devem ter feito grande publicidade porque passado pouco tempo veio outro e mais outro e mais uns quantos, até perto da dezena de rafeiros que, agora bem nutridos, não mostravam vontade nenhuma de voltar à antiga vida de privações e maus tratos.

Mais tarde, o tenente Castro, comandante do destacamento, juntou à matilha um boxer, o Lobo que, pelo seu pedigree, foi aceite como comandante da tropa canina, que passou a segui-lo para todo o lado.

Embora alguns dos rafeiros se desenfiassem durante algumas horas de dia, a hora das refeições e a pernoita eram sagradas e, após a última refeição, esparramavam-se num espaço entre as duas construções que constituíam o quartel, formando uma roda de cães no meio da qual, não sei se por estratégia, se acomodava o Lobo.

Uma noite, estava eu num posto guarda a trocar umas palavras com o sargento Leote Mendes, quando o Lobo se levantou subitamente e saiu a grande velocidade, seguido com grande algazarra pelo resto da matilha. 

Atravessaram a estrada e durante algum tempo continuámos a ouvir um barulho infernal, sem conseguirmos compreender o que se estava a passar, até que os latidos cessaram e pudemos vislumbrar o regresso da matilha.

Ficámos preocupados a pensar que a reacção dos cães se devia à passagem de algum viajante, já que era hábito quando a distância a percorrer era grande, fazerem os percursos de noite a pé enquanto mastigavam noz de cola e mais preocupados ficámos quando vimos que o Lobo trazia na boca um cantil de plástico cheio de leite. 

Deduzimos e desejámos que alguém tivesse tido a ideia de desviar a atenção dos cães, das suas canelas para o cantil de leite, largando-o enquanto fugia.

Depois da operação de Samba Silate (****), alguns prisioneiros disseram que nessa noite o quartel estava já cercado e seria atacado, não fora o alarme dado pelos cães, o que os levou a pensar que factor surpresa já não surtiria efeito.

Felizmente para nós, enganaram-se. Não sei que armas traziam mas a nossa surpresa ia com certeza ser grande. Nunca se soube com certeza absoluta, eu pelo menos não soube, com que apoios esta operação contava do exterior e do interior do quartel, mas um dia depois, um cabo indígena de Bafatá que reforçava o nosso destacamento, desertou.

Depois deste episódio, que recordamos sempre nos nossos encontros anuais, a matilha começou a desaparecer. 

Uns nunca mais voltaram ao quartel, outros voltaram doentes, acabando por morrer por envenenamento e nós passámos a redobrar a nossa atenção aos sistemas de vigilância e defesa, que dependiam mais de nós que do equipamento que possuíamos, na altura limitado às G3, granadas e uma metralhadora fixa num ponto estratégico.

Todos os camaradas que estavam na altura em Bambadinca sabem, julgo eu, o que ficaram a dever àqueles animais que, por acção indirecta, acabaram por ser as únicas vítimas, pelo seu natural instinto de guardiães e defensores de um território, que também era seu.


Alberto Nascimento

 
(Revisão / fixação de texto, títiulo: LG)

2. Ficha deunidade: CCAÇ 84

Companhia de Caçadores nº 84
Identificação:  CCaç 84
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Crndt: Cap Inf Manuel da Cunha Sardinha | Cap Mil Inf Jorge Saraiva Parracho
Divisa: -
Partida: Embarque em 06Abr61 e 09Abr61; desembarque em 06Abr61 e 09Abr61 | Regresso: Embarque em 12Abr63

Síntese da Actividade Operacional

Foi colocada em Bissau, onde manteve a sua sede durante toda a comissão, inicialmente na dependência directa do CTIG e depois integrada no BCaç 236.

A partir de 24Ag061, destacou efectivos da ordem de pelotão e secção para várias localidades, nomeadamente para Teixeira Pinto, Farim, Mansabá e Bambadinca, em missão de soberania e segurança das populações, onde foram atribuídos aos batalhões responsáveis pelos sectores respectivos.

A partir de 15Fev62, embora mantendo o comando em Bissau, os pelotões foram todos atribuídos a outros batalhões, instalando-se em Empada, em reforço do BCaç 237 em Piche e Nova Lamego, com secções destacadas em Buruntuma, Pirada e Nova Lamego, em reforço do BCaç 238 e continuando um pelotão estacado em Bambadinca, em reforço do BCaç 238.

Em 01Abr63, a subunidade foi toda reagrupada em Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte:  Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág, 305.

(***) 30 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27365: Humor de caserna (218): Análise interpretativa da história de Fernandino Vigário, "O jovem alferes graduado capelão, cheio de sangue na guelra, que queria ensinar o padre nosso ao...Vigário"


(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27318 Louvores e condecorações (18): os bravos de Contabane, naquela longa e pavorosa noite de 22 de junho de 1968, posteriormente condecorados com a cruz de guerra: fur mil inf Joaquim de Oliveira S. Gonçalo, 1º cabo inf, Amândio da Conceição Justo e sold inf Fernando Gomes da Silva




Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1968/70) > Dia do "santo patacão", o do pagamento do pré. Cap Mil Art Carlos Nery de Sousa Gomes de Araújo, sentado; alf mil Curado, de pé, à direita; o sargento José Boiça, à esquerda e o fur Mil Henrique, ao centro, em segundo plano; ao fundo,  o Ernesto Vasconcelos, identificado pelo nosso amigo e camarada José Manuel Cancela, também da CCAÇ 2382, e que estava em Contabane na noite do ataque.

A foto é do nosso camarada Manuel Traquina, retirada e editada, com a devida vénia, do seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" (Abrantes: Palha de Abrantes, 2009, pág. 130).





Foto nº 1 e 1A  > Guiné > Região de Tombali >_ Sector S 2 (Aldeia Formosa) > Contabane > Manhã de 23 de junho de 1968 > Chegada do heli com a enf pqdt Ivone Reis que vem evacuar os feridos, depois do ataque da noite anterior >

Legenda (Foto nº 1A)
  • creio que este ponto de vista é o do lado oposto ao da instalação inimiga e, portanto, menos atingido.; julgo que o lado Norte/Nordeste da tabanca;
  • veem-se algumas casas poupadas ao incêndio (E):
  • para cá da Mesquita (C), está um abrigo em princípio de construção (B);  o solo foi cavado e, junto, estão já colocados alguns troncos de palmeira;
  • o caminho bem marcado que se vê à direita, junto da cabeça do piloto, será o que vai em direcção ao Saltinho (F) (que ficava a Norte/nordeste de Contabane);
  •  mais abaixo, do lado esquerdo da foto, para cá do abrigo em início de construção (B), vê-se perfeitamente uma das fiadas de arame farpado (H); havia duas; esta creio que foi a lançada pela minha companhia (a amarelo); a outra, lançada pela 5ª. Companhia de Comandos, parece estar logo atrás, embora não tão fácil de ver, por estar mais escurecida;
  • militares e elementos da população inspecionam os estragos (A);
  • a parte mais destruída e queimada é visível no lado esquerdo da foto (D).

Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Contabane > Manhã de 23 de junho de 1968 > Chegada do heli com a enf pqdt Maria Ivone Reis (1929-2022)  que vem evacuar os feridos, depois do ataque da noite anterior. (**)


Maria Ivone Reis (1929-2022)

 Esta segunda foto foi tirada de mais perto e de um ângulo um pouco diferente. É perfeitamente visível o que restou de diversas casas consumidas pelo fogo. Dispersos pela tabanca vêem-se militares e cívis examinando as consequências do ataque.

Nas duas fotos parece perpassar um ambiente de perplexidade e de angústia. Aquela Contabane plena de vida e de simpatia tinha sido ferida de morte. Porém, a Companhia de "periquitos" tinha batido o pé a 'Nino' e aos seus morteiros e canhões sem recuo. Haveria tempo para outros recontros com o comandante lendário.

Olhando para as duas fotos oferecidas pela Enfermeira Ivone Reis, tenho dificuldade em perceber de que ângulo foram feitas. É perfeitamente visível, nas duas, a Mesquita. Era a única construção feita com alguma solidez em Contabane. Dentro dela se refugiaram, durante o ataque, muitos cívis e alguns militares

(---) "É talvez difícil de explicar o importante que era para nós, combatentes, a chegada de uma mulher ao local de combate onde sofrêramos baixas e estávamos ainda sob o efeito dessa traumatizante experiência. Senti-o intensamente em Contabane, na tabanca destruída por um dos ataques mais violentos da Guerra da Guiné.

A enfermeira paraquedista Ivone Reis quando se me dirigiu, tenho de o confessar, era a Pausa, o Lenitivo, a Mãe distante, a Noiva, a Mulher... Que sei eu? A sua decisão em ficar connosco, contrariando o estabelecido, enquanto os helicópteros levavam a Aldeia Formosa os feridos ligeiros, prestando os primeiros cuidados aos feridos graves que, em seguida, seriam levados para Bissau, foi de uma importância enorme para afastar a nossa angústia, para pôr uma pausa no nosso desespero!

Trocámos umas palavras, disse-lhe que aquela tinha sido a "minha noite mais longa"... Ouvi-lhe palavras apaziguadoras, que ainda guardo no meu íntimo.

Passadas semanas, já em Buba, recebo uma cartinha sua referindo essa "noite longa" acompanhada por duas fotos da tabanca destruída, tiradas por ela do helicóptero. Não serão muito bem tiradas mas são o objecto mais precioso das minhas recordações da Guiné" (...) (*)




Fotos (e legendas): © Maria Ivone Reis / Carlos Nery (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Bafatá > Carta de Contabane  (1959) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, Saltinho, Rio Corubal (Nesta altura não havia Sinchã Sambel, a um escasso quilómetro do Saltinho, na margem esque5ra, e não direita, do rio Corubal, portnteo dentro do "chão" do regulado de Contabane, com o ataque de 22 de junho de 1968 ficou completamente despovoado; Sinchã Sambel é já do primcípiodos anos 70).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. No ataque a Contabane, no sector S2 (Aldeia Formosa), na noite de 22 de junho de 1968 (**), distinguiram-se três militares da CCAÇ 2382, que foram posteriormente condecorados com a Cruz de Guerra (***).


Cruz de Guerra de 3ª e 4ª Classes para 3 militares da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)


Furriel Miliciano de Infantaria
JOAQUIM DE OLIVEIRA DOS SANTOS GONÇALO

CCac 2382 - RI 2
GUINÉ
3ª CLASSE


Transcrição da Portaria publicada na OE n. o 5 - 3. a série, de 1971.


Por Portaria de 12 de Janeiro de 1971:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 3." classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, Joaquim de Oliveira dos Santos Gonçalo, da Companhia de Caçadores n.º 2382 - Regimento de Infantaria nº 2.


Transcrição do louvor que originou a condecoração (Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, Joaquim de Oliveira dos Santos Gonçalo, da Companhia de Caçadores n.º 2382, do Regimento de Infantaria nº 2 e na dependência operacional do Batalhão de Artilharia n.º 2866, pela forma briosa e eficiente como comandou a sua Secção e mesmo o seu Grupo de Combate, quando eventualmente chamado a desempenhar essa função.

Salienta-se a sua actuação no decorrer de um violento ataque inimigo a um aquartelamento em que, com evidente e absoluto desprezo pelo perigo, pegou na metralhadora e, debaixo de intenso fogo, aproximou-se do arame farpado, utilizando eficazmente a sua arma, conseguindo pôr em debandada os agressores, sendo ainda o primeiro a sair,  na perseguição movida a esses elementos.

Nas flagelações, acorria logo à primeira salva, ocupando o local onde se encontrava instalado o morteiro 81, desprezando posições mais abrigadas, para orientar com precisão a resposta ao fogo adverso; e foi, justamente numa dessas situações, quando corria a descoberto numa zona fortemente batida por ajustado e contínuo fogo, que ficou gravemente ferido, ao ser atingido por estilhaços de uma granada de morteiro.

Astucioso e hábil na implantação e levantamento de minas e armadilhas colocou-as em grande número, conseguindo deste modo criar ao inimigo um clima de insegurança, muito contribuindo para o abandono por parte deste de um tradicional corredor de reabastecimentos.

Excepcionalmente dotado de qualidades de coragem e rara agressividade, aliadas a uma invulgar determinação no cumprimento do dever, tornou-se, o Furriel Gonçalo, credor da estima e apreço dos seus superiores e subordinados, devendo os seus serviços em campanha ser considerados de elevado mérito.


pp. 368/369

1º Cabo de Infantaria, n.º 09558167 AMÂNDIO DA CONCEIÇÃO JUSTO
CCaç 2382 - RI 2
GUINÉ
4ª CLASSE

Transcrição da Portaria publicada na OE nº 5 - 3. n série, de 1971.

Por Portaria de 12 de Janeiro de 1971:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
1.° Cabo de Infantaria, Amândio da Conceição Justo, da Companhia de Caçadores
n.º 2382 - Regimento de Infantaria nº 2.

Transcrição do louvor que originou a condecoração. (Publicado na OS n. 047, de 12 de Novembro de 1970, do QG/CTIG):


Que, por seu despacho de 06Nov70, louvou o 1º Cabo n.009558167, Amândio da Conceição Justo, da CCaç 2382, porque durante a sua permanência nesta Companhia, se revelou um elemento altamente positivo no desempenho das suas funções de graduado, mesmo quando, eventualmente, foi chamado
ao comando da sua Secção.

Elemento muito aprumado e modesto, demonstrou grande energia e coragem num violento ataque a um destacamento das nossas tropas, pois que, ao ver incendiar-se o tecto de colmo de uma casa perto de um abrigo abandonado pelos seus camaradas, nele entrou sozinho a fim de retirar um lança-granadas aí deixado, bem como as respectivas munições, em sério risco de explodirem, em virtude do calor abrasador proveniente do incêndio.

Apontador de metralhadora Iigeira e de lança-granadas, ocupou sempre os primeiros lugares, tendo em todas as situações de combate acção destacada, como aconteceu na reacção a uma emboscada montada às forças de segurança e picagem aos trabalhos de abertura de uma nova estrada, em que o 1.° Cabo Justo actuou corajosamente, fazendo vários disparos de lança-granadas, de pé e em posição desabrigada, devendo-se em parte a esta atitude a debandada do inimigo, com baixas prováveis.

Pelas qualidades evidenciadas, soube o 1º Cabo Justo ganhar a admiração e apreço de superiores e camaradas, creditando-se como militar de muito mérito
.

pp. 374/375

Soldado de Infantaria, n." 09043667 FERNANDO GOMES DA SILVA
CCaç 2382/BArt 2866 - RI 2
GUINÉ
4." CLASSE

Transcrição da Portaria publicada na OE n. o 6 - 3. a série, de 1971.

Por Portaria de 04 de Fevereiro de 1971:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4." classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Soldado n." 09043667, Fernando Gomes da Silva, da Companhia de Caçadores
n." 2382/Batalhão de Artilharia n." 2866 - Regimento de Infantaria n." 2.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Publicado na OS n. o 34, de 13 de Agosto de 1970, do QG/CTIG):

Que, por seu despacho de 10Ago70, louvou o Soldado nº 09043667, Fernando Gomes da Silva, da CCaç 2382, porque durante a sua permanência nesta Unidade se tem revelado elemento correctíssimo e aprumado, evidenciando elevados dotes de coragem, valentia e serena energia debaixo de fogo, em inúmeras circunstâncias.

Estando a Companhia sediada numa tabanca fortemente pressionada pelo inimigo que pretendia intimidar a população e quebrar o tradicional bom entendimento havido, salientou-se o Soldado Gomes da Silva porque durante um violentíssimo ataque, e apesar do abrigo adjacente à posição do morteiro 60 de que era apontador ter sido atingido em cheio por uma granada, ficando ferido um camarada seu, utilizou com extraordinário rendimento a referida arma, procurando sempre as melhores posições ainda que desabrigadas, alternando-as quando se sentia detectado, mas sem nunca desistir de fazer fogo.

De assinalar ainda o ocorrido na reacção a um ataque inimigo contra as nossas tropas em que, fazendo parte da emboscada colocada na zona NE do alto da pista, voltou a ter acção destacada, contribuindo para que fosse posto em  debandada um efectivo inimigo cerca de dez vezes mais numeroso do que o das NT.

Por tudo isto tornou-se o Soldado Gomes da Silva credor da estima e apreço dos seus superiores e camaradas, sendo digno de ser apontado como um exemplo a seguir.

pp. 392/393

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971. Lisboa, 1994, pp. 368/369, 374/375, 392/393

(Revisão / fixação de texto, negritos, itálicos: LG)
________________

Notas do editor LG:

(*)  Vd. poste de 29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (15): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou em Contabane a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)

(**) Vd-. poste de 9 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27300: Casos: a verdade sobre... (58): O inferno de Contabane, na noite de 22 de junho de 1968... Não consta do livro da CECA sobre a actividade operacional no ano de 1968... Felizmente temos a versão do Manuel Traquina e Carlos Nery, da CCAÇ 2382 


sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27143: Louvores e condecorações (17): Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha, comandante da CMil 14 / BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68), régulo de Badora: cruz de guerra de 4ª classe

 

Tenente de 2ª Linha MAMADU SANHÁ

CMil 14 - CTIG

GUINÉ

CRUZ DE GUERRA 4ª CLASSE


Transcrição do Despacho publicado na OE nº 5 - 2ª série, de 1968.


Agraciado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, nos termos do artigo 12º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto nº 35 667, de 28 de maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 03 de fevereiro de 1968, o tenente de 2ª linha, Mamadu Sanhá.

Transcrição do louvor que originou a condecoração:

(Publicado na OS n.O06, de 08 de fevereiro de 1968, do QG/CTIG):

Que, por seu despacho de 02 do corrente e por proposta do Cmdt Agr 1980, louvou o  tenente de 2ª Linha, Mamadu Sanhá, Comandante da Companhia de Milícias nº 14/BArt 1904, porque, ao ter conhecimento de que grupos itinerantes inimigos, muito numerosos e armados com o mais moderno material, se infiltravam no regulado de Badora, do qual é régulo, imediatamente organizou um grupo constituído por milícias, caçadores nativos e pessoal civil armado, num total de cerca de 550 homens e moveu tenaz e impiedosa perseguição ao ln, tendo conseguido com o seu dinamismo, coragem e serena energia, restabelecer o moral das populações que co
meçavam a acusar indícios de perturbação. 

Conseguiu assim, em proveito do seu 


Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


próprio grupo, obter a iniciativa das operações, fazendo com que o ln, sentido-se hostilizado por todos os lados, pela própria população nativa, acabasse por retirar da região, depois de ter sofrido pesadas baixas em dois contactos com os homens de Mamadu Sanhá,

No primeiro contacto, em 03 jan, continuando implacável perseguição ao ln, acabou novamente por com ele contactar na tarde de 06jan68, tendo o seu grupo infligido desta vez, onze mortos confirmados, capturando mais uma pistola metralhadora e diverso material. Mas nem mesmo assim abandonou Mamadu Sanhá a sua perseguição que só terminou no dia oito depois de se ter convencido de que o ln abandonara definitivamente a região.

Demonstrou assim o  ten 2ª linha Mamadu Sanhá, extraordinárias qualidadesde chefe, coragem e fina tempera, pelas quais merece ser distinguido pela sua brilhante ação levada a cabo no regulado de Badora.


Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo V: Cruz de Guerra (1968-1969). Lisboa, 1993, pp. 127/128


(Revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

____________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 3 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25710: Louvores e condecorações (16): Aurélio Trindade, ten gen ref (1933-2024), ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): Cruz de guerra de 2ª classe e Medalha de Valor Militar, Prata com palma

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27028: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (5): Consagração de um grande homem e combatente, o João Gualberto Amaral Leite (1944-2011)




Da esquerda para a direita, Fernando Almeida, Narciso Durão, João Leite e Anselmo Adrião, ex-furrieis da CCaç. 2314. Foto: cortesia de Blogue BART 1914 > 9 de fevereiro de 2011 (Legendagem: Joaquim Caldeira)


Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905; 
vive em Coimbra; autor do livro, "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


Fotos (e legendas: © Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Consagração de um grande homem e combatente: o João Gualberto Amaral Leite
 
por Joaquim Caldeira (*)


Estávamos nos finais de 1967 e, à entrada  do quartel de Tomar, cruzei-me com o João que trazia um braço ao peito e vinha abatido. Mal nos conhecíamos e não nos víamos desde os tempos da recruta, muitos meses antes. Nem sabia o seu nome tal como ele não saberia o meu. Satisfez a minha curiosidade dizendo que se chamava João Leite e que tinha tido um acidente…

Despedimo-nos nesse dia e só voltámos a rever-nos no seguinte, na caserna que nos foi destinada. Ficámos a saber que o nosso destino era comum. Íamos formar companhia para depois seguirmos para o ultramar, mas nem sabíamos ainda para onde.

Não sabíamos que os dois anos seguintes iriam ser muito cheios de emoções fortes, perigos, mas também de solidariedade só possível de construir nos momentos mais difíceis e de grande perigo.

E vim a conhecer melhor o Leite e toda a equipa com quem fizemos grandes amizades.

Passarei a designá-lo por Leite, pois era o nome que usávamos por lá e mais tarde, já no fim da guerra, quando nos encontrávamos por ocasião dos convívios.

Afinal, era um homem diferente do que conheci à entrada do quartel, em Tomar. Era folgazão, brincalhão, sempre de boa disposição e muito bem humorado.

Cedo demos conta de que se tratava de homem determinado, sabia o que queria, como queria e quando queria.

Quis o destino que tivéssemos de viver o desastre de Bissássema onde ele, mesmo na linha da frente por onde o IN pretendia repetir o assalto, tal como fizera uns dias antes e se apoderara de armamento, equipamento e prisioneiros, soube infligir a maior derrota sofrida pelo IN durante toda a guerra que travou com o Exército português. Esta batalha nem consta da história de guerra do PAIGC.

Outros desastres aconteceram nas nossas vidas e, em todos, o Leite teve participação com vantagens para o nosso lado.

Desgostoso com o conformismo que reinava na companhia, decidiu formar o seu próprio grupo indo buscar os melhores de entre os melhores. E assim nasceu o grupo “Os Brutos ”. E fizeram história deixando um rasto de medo nos grupos do IN.

Estavam sempre na linha da frente. Tive o privilégio de os comandar nas ausências do Leite. Eram o escol da companhia. E ajudaram o seu comandante, o Leite, na conquista de uma condecoração justa e merecida, só atribuída aos bons. Uma “Cruz de Guerra” (**).

Mas nem sempre foi fácil a vida do grupo. Tiveram as suas horas más. Entre outras, talvez a pior, o acidente do Viriato Lopes.

E assim se passaram dois anos de uma convivência fraterna, só possível em teatros de guerra. Fizemos amizades para a vida. Ficaram as saudades dos amigos e de algumas, muitas vivências.

Só voltei a ver o Leite passados alguns anos, por ocasião dos convívios a que ele não queria faltar, mesmo vindo de tão longe.

Por fim, soube da sua doença. Fui dar-lhe o meu abraço numa das suas vindas a Lisboa para tratamentos. A doença venceu o homem. Mas não venceu o marido, o pai, o profissional bem realizado, o amigo e o camarada de quem todos sentimos saudades.

O Leite ainda vive em nós. Até sempre, companheiro.


(Revisão / fixação de texto: LG)


PS - O João Gualberto Amaral Leite nasceu em São Miguel, Açores, em 13/07/1944, e faleceu em 16/02/2011. Era bancário.

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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 10 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


(**) Furriel Miliciano de Infantaria JOÃO GUALBERTO AMARAL LEITE, CCaç 2314/BCaç 2834 - RI 15, GUINÉ - Cruz de Guerra, 4." CLASSE



Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


Transcrição da Portaria publicada na OE nº 15 - 3ª série, de 1970.

Por Portaria de 15 de Abril de 1970:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores 2314/Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria nº 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores nº 2314, do Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria n.º 15, pelo modo brilhante e abnegado como se desempenhou de todas as missões de que foi incumbido durante a sua comissão de serviço na Província da Guiné.

Criando um Grupo de Combate tipo Comandos, "Os Brutos", soube logo de início imprimir-lhe notável eficiência para o combate, incutindo nos seus homens o espírito aguerrido e audaz de que ele próprio é' possuidor.

Realizando dezenas de emboscadas, participou em numerosas acções, onde a actuação do seu Grupo de Combate foi bastante influente nos resultados obtidos.

Num ataque sofrido por um dos nossos aquartelamentos, em 24 de Dezembro de 1968, apesar do intenso fogo, deslocou-se para um dos abrigos periféricos mais próximos das posições inimigas, onde dirigiu eficientemente o fogo do pessoal que o guarnecia, tendo ele próprio efectuado o lançamento de dilagramas, de posições a descoberto.

Já antes, em 09 de Fevereiro de 1968, numa acção semelhante, manteve a sua posição num abrigo que guarnecia, apesar de na altura dispor de poucas munições, contribuindo para o aniquilamento de quinze elementos inimigos e para a captura de diverso armamento e outro material.

Numa operação em 26/29 de Maio de 1969, soube conduzir o pessoal do seu Grupo de forma assinalável, no assalto a um acampamento inimigo, debaixo de intenso fogo e na perseguição imediata ao inimigo, até este dispersar.

Militar dotado de elevadas virtudes militares e invulgar capacidade para o comando do seu Grupo, tendo resultado dos seus serviços honra e lustre para a Pátria e para o Exército a que pertence, merece o Furriel Leite que aqueles sejam considerados extraordinários e importantes.

 
 Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 202/203.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26523: In Memoriam (534): O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci (José Teixeira/Tabanca de Matosinhos)



O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci

Por José Teixeira

Bastaram três meses de guerra ao Alberto Leite Rodrigues para ganhar uma Cruz de Guerra, da qual nunca falou aos seus amigos, e para o marcar para toda a vida. Foram umas curtas, mas dolorosas “férias” que acabaram com uma basucada nos queixos a caminho de Sinchã Jobel. Fora colocado por azar nos trilhos do famoso comandante Gazela e este não perdoava. Andou por lá o saudoso Marques Lopes e teve de recuar com feridos e mortos por duas vezes. O Alferes Fernando da Costa Fernandes que foi substituir o Marques Lopes, ferido em combate, numa terceira tentativa, caiu numa emboscada em 18 de dezembro de 1967 e não resistiu. Morreu a caminho de Sinchã Jobel.

O nosso saudoso e querido amigo Leite Rodrigues, teve um pouco mais de sorte, pois, ao tentar lá chegar, caiu de queixos, ficou com a língua em bocados, mas conseguiu levantar-se, e regressar a Portugal, ao fim de três meses de guerra, com uma cruz ao peito, mas estranhamente nunca nos falou dela.

Alferes Miliciano de Cavalaria ALBERTO BERNARDO AZEVEDO LEITE RODRIGUES
CCav 1748 / BCav 1905 - RC7 - GUINÉ
Cruz de Guerra de 4.ª CLASSE

Transcrição do Despacho publicado na OE n.º 1- 2.ª série, de 1972.

Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª classe, nos termos do artigo 12.° do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n." 35 667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 03 de Novembro último, o Alferes Miliciano de Cavalaria, Alberto Bernardo Azevedo Leite Rodrigues, da Companhia de Cavalaria n.º 1748 / Batalhão de Cavalaria n.º 1905 - Regimento de Cavalaria n.º 7.

Transcrição do louvor que originou a condecoração. (Publicado na OS n.o 56, de 08 de Maio de /968, do Comando do Agrupamento n.o 1980):

Louvo o Alferes Miliciano de Cavalaria, Alberto Bernardo Azevedo Leite Rodrigues, da CCav 1748 / BCav 1905 - RC7, pela forma eficiente e dinâmica como soube comandar e instruir os homens do seu Gr Comb, tipo "comandos", quer na Metrópole, quer durante os três meses de permanência nesta Província.

Nas operações em que tomou parte, sempre se afirmou como um bom combatente,dotado de reais qualidades de coragem e decisão. Tendo sido ferido numa operação, com bastante gravidade, pelo que ficou impossibilitado de falar, longe de ficar abatido por tal facto, continuou a incutir coragem a todos com o seu exemplo, acorrendo a toda a parte onde a acção se tornava necessária.

Sendo-lhe aconselhado, atendendo a que estava ferido, que fosse para a retaguarda e não se expusesse repetidas vezes, indiferente ao perigo, voltou à frente para auxiliar e receber ordens do seu comandante de Companhia.

Disciplinado e disciplinador, bom camarada e bom chefe, conquistou o Alf. Leite Rodrigues a consideração e estima do seu comandante de Companhia, dos seus camaradas e dos seus subordinados, em todos deixando saudades.


Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VII: Cruz de Guerra (1972/73), Lisboa, 1995, pág. 42
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O Leite Rodrigues era um exímio contador de histórias, não só da guerra, mas também:

Contava ele que o avião que o trouxe, ferido, da Guiné, veio de noite de modo a chegar a Lisboa no escuro da alta madrugada, para não serem notados, e vinha carregado de feridos muito graves. O que estava em melhores condições era ele, que apenas vinha com uma fome de criar bicho, com a língua traçada e a boca selada com arames, pois os ossos do queixo ficaram em bocados. Entre os feridos, vinha um grande grupo de queimados em grau elevado, devido ao rebentamento de uma granada incendiária num embate com o inimigo, creio que em Bula. Todos embrulhados em gaze, pareciam múmias, era assustador e doloroso olhar para aquelas criaturas, comentava com ar pesado o Leite Rodrigues, nas suas lembranças, passados tantos anos…

Acompanhavam-nos duas zelosas enfermeiras, que tudo tentavam para lhes amenizar as dores. Às tantas ouve-se um gemido. – Senhora enfermeira quero mijar! E logo uma sorridente bata branca se aproximou, desapertou-lhe a carcela, e o pobre do rapaz aliviou-se. De seguida, todos os queimados, em carreirinha, apelaram às enfermeiras para os por a mijar… e foi assim durante o resto da noite. E, ele que nem falar podia, apreciava silenciosamente a paciência e o zelo das queridas enfermeiras.

Quando chegaram a Lisboa, desembarcaram e seguiram para o Hospital em ambulâncias militares, sem fazer o tradicional ninau! ninau!ninau!, para não incomodar os lisboetas.

Encaminharam-no para uma camarata, e atribuíram-lhe uma cama no R/C.
Ao pousar os seus haveres tocou em uma coisa dura, que tombou ruidosamente.

O Camarada que dormia no primeiro andar disparou:
– Deste-me cabo da perna, amanhã vou foder-te o juízo!

O Leite Rodrigues tentou dizer-lhe que foi sem querer, mas apenas consegui balbuciar, nh! nh! nh!
– Tu grunhas meu fdp! Quando me levantar vou te partir os queixos!

No dia seguinte de manhã, cruzaram o olhar calmamente, e descobriram que tinham sido colegas do mesmo pelotão na recruta em Mafra. Um abraço não esperado, sem palavras, mas sentido. Do Leite Rodrigues apenas se viam os olhos; o camarada chegara uns tempos antes vindo de Moçambique, sem uma perna que fora levada por uma mina antipessoal.

Tinha um prazer imenso em usar da palavra, nos almoços semanais da Tabanca de Matosinhos. Era exímio e profundo. Tocava-nos no coração e todos nós adorávamos ouvi-lo saudar um camarada em festa de aniversário, como o fez, em 12 de fevereiro, pela última vez para me saudar a mim, Zé Teixeira, na minha passagem para o 79. De surpresa, sem eu contar, ouvi soar da sua boa palavras tão lindas que ficarão gravadas eternamente.

Acolher alguém que vem pela primeira vez; para relembrar um acontecimento, uma passagem da história, saudar uma senhora, esposa de um camarada, que nos visita; uma pessoa ex-combatente, ou não, de alguma relevância que vem ao nosso encontro. Tantas e tantas vezes, que algum de nós, ia ter com o Leite Rodrigues a pedir para falar sobre um assunto de interesse.

Mas o que ele gostava mais, era falar da guerra, suas causas e consequências no tempo e ainda hoje, pelas marcas que nos deixou e que irão connosco para a cova. Falava com muito entusiasmo do Vinte e Cinco de Abril, sem paixões, mas com paixão e ardor. Relembrar o antes, o estado do povo e sobretudo de nós os jovens dessa altura. As razões da origem deste dia, como se foram acumulando. Como fomos preparando o terreno, até que chegou o momento em que os militares rebentaram com o regime, e ele estava lá como Capitão na GNR. Depois o povo fez o resto. Gostava de falar desse Vinte e Cinco de Abril que acabou com uma guerra estúpida, sem sentido, que estava a matar a juventude deste país e um povo. E todos nós fomos as suas vítimas.

Gostava de falar aos jovens e todos os anos, por altura do Vinte e Cinco de Abril, fazia um périplo pelas escolas de Vila do Conde, a convite de um tabanqueiro muito querido, Presidente da Associação local de Antigos Combatentes, o Manuel Nascimento Azevedo, para falar aos jovens do Grande Dia da Liberdade.

Foi este homem que acabamos de perder.

Há outras facetas da vida dele: O seu amor aos cavalos. A sua ligação ao Hipismo como atleta campeão olímpico e nacional por diversas vezes. A sua arte como professor de Hipismo e a escola que criou no Centro Hípico de Matosinhos Leça.

Mas, a marca que vai ficar mais patente em nós é o tempo em que convivemos com ele, desde 2006, pelo que aprendemos com ele, pelo prazer de ouvir as suas palavras de alento, que agora nos vão falhar, pela sua alegria e boa disposição contagiante, sobretudo pela sua presença.

Obrigado, Leite Rodrigues.
Zé Teixeira

A comemorar o seu aniversário no restaurante do Centro Hípico.
A saborear o almoço ao lado do tabanqueiro mor - Eduardo Moutinho Santos.
Outro aspeto da Tabanca de Matosinhos em dia de festa.
A amizade expressa no abraço ao camarada que uma vez por mês nos vem visitar e a quem o grupo paga o almoço.
Uma imagem da Tabanca de Matosinhos à quarta-feira
Talvez a falar do Vinte e Cinco de Abril.
O Leite Rodrigues a usar da palavra
A saudar o aniversariante no dia 12 de fevereiro.
No Aniversário do Leite Rodrigues no Restaurante do Centro Hípico, com o Nascimento Azevedo a fazer um brinde.
O abraço do José Fernando Couto
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Nota do editor

Vd. post de 22 de Fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26518: In Memoriam (533): Cap Cav Ref Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025), ex-Alf Mil Cav da CCAV 1748 (1967/69): A Tabanca de Matosinhos fica doravante mais pobre (José Teixeira)

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25838: Em busca de... (326): Camaradas do malogrado Fur Mil Op Esp Dinis César de Castro, da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, que morreu em combate, no dia 12 de Outubro de 1970, durante a emboscada a uma coluna auto no itinerário Mansoa-Infandre

1. Mensagem de Ana Marques Ribeiro, enviada ao nosso Blogue através do Formulário de Contacto do Blogger em 10 de Agosto de 2024:

Boa tarde, caro Sr. Luís Graça.
Sou amiga da prima do Furriel Miliciano Dinis César de Castro, morto na emboscada de 12 de Outubro de 1970, no trajecto Braia-Infandre, na Guiné-Bissau.
Os membros da família que o conheceram, em número muito escasso e pouco dados às novas tecnologias (daí ser eu quem descobriu este blog nestas férias e quem está a redigir este pedido), gostaria de entrar em contacto com alguns dos combatentes que o conheceram e que, eventualmente, possam ter registos fotográficos e testemunhos sobre a última parte da sua brevíssima vida.
Desde já, agradeço tudo o que puder fazer para dar informações aos primos, já idosos, que não esquecem o rapaz muito simpático, brincalhão , amigo do seu amigo, sempre bem disposto, alegre, e um filho único que nutria uma grande veneração pela sua mãe. A sua morte foi uma perda irreparável para a família.

Cumprimentos,
Ana Marques Ribeiro


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2. Comentário do editor CV:

Cara Ana Marques Ribeiro,
Muito nos sensibilizou a sua mensagem onde procura camaradas do malogrado Fur Mil Op Esp, Dinis César de Castro, que caiu em combate no dia 12 de Outubro de 1970, numa emboscada a uma coluna auto no itinerário Mansoa-Braia-Infandre.
Estou a publicar este post no sentido de se encontrar camaradas que queiram de algum modo lembrá-lo.

Entretanto pode encontar os textos publicados no nosso Blogue, referentes à fatídica emboscada à coluna auto no itinerário Braia-Infandre, de que resultou a sua morte, assim como à condecoração com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe com que foi agraciado, a título póstumo, clicando aqui: Dinis César de Castro.
Poderá assim informar os primos do Dinis das circunstâncias que levaram à sua morte e que eventualmente desconheçam.

Este dossiê foi elaborado pelo nosso camarada Afonso Sousa, ex-Fur Mil TRMS da CART 2412, a quem estamos gratos pelo seu trabalho de pesquisa.

Lembremos agora, a transcrição do Despacho publicado no OE n.º 022 - 3.ª Série, de 1971:

Furriel Milicianio de Infantaria Dinis César de Castro, CCaç 2589/BCaç 2885 - RI 15, Guiné > Cruz de Guerra de 4.ª Classe (Título póstumo)

"Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª classe, a título póstumo, nos termos do artigo 12.° do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 21 de Junho findo, o Furriel Miliciano de Infantaria, Dinis César de Castro, da Companhia de Caçadores n.º 2589/Batalhão de Caçadores n.º 2885 - Regimento de Infantaria n.º 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração (Publicado na OS n. 024, de 17 de Junho de 1971, do QG/CTIG):

Que, por despacho de 09Jun71, o Brigadeiro Comandante Militar louvou, a título póstumo, o Furriel Miliciano, n.º 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885, porque, numa emboscada levada a efeito por um grupo inimigo numericamente muito superior e tendo a viatura em que seguia ficado na 'zona de morte', patenteou invulgares qualidades de coragem, decisão, sangue-frio e muita serenidade debaixo de fogo.

Ligeiramente ferido num braço logo aos primeiros tiros, reagiu prontamente, tentando a todo o custo aproximar-se da testa da coluna, onde o número de baixas era mais elevado, sendo mortalmente atingido quando prestava ajuda a um camarada que se vira cercado por quatro elementos inimigos.

Com o seu acto, pleno de generosidade, demonstrou o Furriel Castro uma compreensão nítida dos seus deveres que o levaram até à dádiva da sua própria vida, o que além de constituir exemplo inesquecível, ficará a merecer a maior admiração e o respeito de todos."

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 491.

Guiné > Região do Oio > Trajecto Mansoa - Braia - Infandre > 12 de Outubro de 1970
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Vamos dar conhecimento da sua mensagem aos nossos camaradas, ex-Cap Mil Jorge Picado, ao tempo Comandante da CCAÇ 2589 a que pertencia o Dinis e ao ex-Fur Mil Sapador César Dias, que pertencia à CCS do Batalhão 2885. Pode ser que se lembrem dele.

Por uma questão de salvaguarda da sua privacidade, não publico os seus contactos. Quem a quiser contactar pode e deve utilizar os endereços do Blogue para nós encaminharmos para si.

Muito obrigado por se nos dirigir e creia-nos ao seu dispôr.
Carlos Vinhal
Coeditor

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Nota do editor

Último post da série de 27 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25453: Em busca de... (325): O ex-cap inf Manuel Figueiras, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); cor inf ref, morava em Faro em 2005 (Humberto Reis, ex-fir mil op esp, CCAÇ 12, 1969/71)

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25710: Louvores e condecorações (16): Aurélio Trindade, ten gen ref (1933-2024), ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): Cruz de guerra de 2ª classe e Medalha de Valor Militar, Prata com palma


Aurélio Trindade, membro da Tabanca Gande,
 a título póstumo (nº 891)


Capitão de Infantaria AURÉLIO MANUEL TRINDADE

4* CCAÇ - CTIGUINÉ 

Cruz de Guerra 2ª  Classe


Cruz de Guerra de 2ª Classe. 
Imagem: cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da


Transcrição da Portaria publicada na OE n.o 5 - 2.8 série, de 1967.

Por Portaria de 31 de Janeiro de 1967:

Condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª  classe, ao abrigo dos 
artigos 9º  e 10º  do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.

(Publicado nas OS n.o 10/66, de 06 de Dezembro de 1966, do CCFAG e nº  49, de 08 de Dezembro do mesmo ano, do QG/CTIG):

Louvado o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade porque, sendo Comandante da 4ª  CCac, aquartelada no Agrupamento Sul, conseguiu durante
os 15 meses do seu comando, mercê 
duma acção notável de chefe, transformar aquela Unidade de características muito  especiais, aquartelada numa região sujeita 
a grande isolamento e onde o lN se tem mostrado  forte e aguerrido, numa Unidade disciplinada, de elevado moral, agressiva e eficiente, solucionando sempre da melhor maneira os problemas administrativos e operacionais, com grande destaque para estes, que resolveu sempre dando provas de elevado espírito ofensivo.

Sob o seu comando, a 4ª CCAÇ, realizou e tomou parte em cerca de 20 operações e em todas elas o Capitão Trindade soube extrair dos seus meios grande rendimento. Salienta-se a sua acção na operação "Sempre Fixe", uma das muitas que realizou por sua iniciativa, durante a qual a Companhia, devidamente articulada, em frente de um grupo lN bem armado e instalado em boas posições de tiro, oferecendo forte resistência, executou, a descoberto, uma valorosa manobra envolvente, com um grupo de combate em que se incorporou o Cap Trindade, a qual conduziu à fuga desordenada do ln, com muitas baixas, tendo confirmado nesta acção serenidade, decisão, coragem e sangue frio, a par da forte determinação em bater o ln e dum elevado espírito manobrador.

Oficial muito modesto, os relatos das acções em que tomou parte quando elaborados por ele não realçam suficientemente a sua acção que se pode classificar de verdadeiramente extraordinária através das opiniões dos seus subordinados e dos Comandos sob cujas ordens serviu.

Por todos estes factos e porque se trata de um oficial inteligente, com óptimos conhecimentos militares, dotado de forte personalidade, perfeitamente
integrado na sua missão, e, ainda, porque sempre dispensou a maior e mais eficiente colaboração aos outros ramos das Forças Armadas, designadamente às Forças Navais nas inúmeras vezes em que se tornou necessário dar protecção aos comboios por estas efectuados na sua zona de acção, deve o Cap Trindade ser apontado como exemplo dignificante ao CTIG e ao Exército. 

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo IV: Cruz de Guerra (1967). Lisboa, 1992, pp. 116/117
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Medalha de Valor Militar, Prata, com palma. 
Imagem: cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da


Capitão de Infantaria AURÉLIO MANUEL TRINDADE

Medalha de Prata de Valor Militar, com palma

CAÇ 6 - CTIGUINÉ

Mdalha: Valor Militar | Grau: Prata, com palma



Transcrição da Portaria publicada na OE n.o 21 - 2.a série, de 1967:

Por Portaria de 3 de Outubro de 1967:

Condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, nos termos do artigo 7º , com referência ao § 1º do artigo 51º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade, pela forma altamente eficiente e extraordinariamente brilhante como, durante mais de 23 meses, em zona isolada e muito difícil do Sector Sul da Guiné, comandou a Companhia de Caçadores nº 6 (antiga 4.ª Companhia de Caçadores), constituída por pessoal do recrutamento da Província.

Tendo participado em cerca de 50 operações, em todas cumpriu integralmente
a missão, alcançando êxitos consideráveis à custa de ligeiríssimas perdas, e, actuando sempre com determinação e decisão inquebrantáveis, ocupando no dispositivo os lugares de maior perigo, comparecendo onde mais necessário se tornava fazer sentir a sua acção e não raro, à frente de um punhado de soldados, arrancando heroicamente sobre o inimigo, o obrigou a aliviar a pressão, desalojando-o de posições que lhe conferiam vantagens.

Merecem especial relevo as últimas actuações deste oficial nas operações "Pronta" e "Penetrante", em que, mais uma vez, conseguiu resultados valiosos, mercê das hábeis e ousadas manobras que pôs em execução e dos conhecimentos especiais que possui do tipo de guerra que se trava na Guiné.

Dotado de extraordinárias qualidades de Chefe, reconhecidas, aliás, pelos seus subordinados, que, em todas as cicunstâncias, o seguiram cegamente e com total confiança, o Capitão Trindade conseguiu evidenciar exuberantemente, no comando da sua Companhia, em operações, a prática de actos de rara abnegação, arrojo, audácia, valentia, coragem moral e física, sempre com grave risco de vida frente ao inimigo.


Mealhada (2012).
Aurélio Trindade,
ten gen ref
Militar de excepção, muito leal, inteligente, de forte carácter e vincada personalidade, disciplinado e disciplinador, enérgico, decidido e voluntarioso
e com excepcionais qualidades de comando, a par da sua invulgar actuaçãono campo operacional, conduziu com muita proficiência, em todos os aspetos, a Companhia de Caçadores nº 6, que conseguiu transformar numa unidade combatente de real valor.
 
O Capitão Trindade prestou, no exercício das suas funções no Comando Territorial Independente da Guiné, valorosos e distintos feitos de armas, de que resultaram brilho e honra para as Forças Armadas e para a Nação.

Ministério do Exército, 3 de Outubro de 1967. 

O Ministro do Exército, Joaquimda Luz Cunha.

Promovido por distinção a Major, por Portaria de 1 de Maio de 1969, pubJicada na OE n" 12 - 2ª série, de 1969:

Estado-Maior do Exército
Major de Infantaria, por distinção, supranumerário, o Capitão de Infantaria,
do Estado-Maior do Exército, Aurélio Manuel Trindade.

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo I: Torre e Espada e Valor Militar. Lisboa, 1990, pp. 258/259

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

(**) Últimno poste da série > 15 de junho de  2023 > Guiné 61/74 - P24401: Louvores e condecorações (14): Ordem da Liberdade, Grande Oficial, para o antigo cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, cmdt da CCAÇ 12 (e também da CCAÇ 14, e antes da CART 3359)