quarta-feira, 3 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25709: Tabanca Grande (891): Aurélio Manuel Trindade, ten gen ref, ex-cap 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), militar de Abril, e autor do livro de memórias "Panteras à solta": senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 891



O então cor inf Aurélio Manuel Trindade. 
Foto da Academia Militar, s/d, 
gentilmente cedida pelo seu camarada e 
amigo cor art ref Morais da Silva,
beirão de Lamego

1. Não somos um blogue de generais, nem os generais precisam deste blogue.  Somos um blogue de "amigos e camaradas da Guiné", antigos combatentes.  Mas sentimo-nos honrados por termos também alguns generais entre nós. Fomos arraia-miúda da guerra da Guiné: infantes, artilheiros, cavaleiros, marinheiros, fuzileiros,  "rangers", paraquedistas, enfermeiros, enfermeiras paraquedistas, médicos, capelães, vaguemestres, sapadores, condutores, cozinheiros, mecânicos, bate-chapas, escriturários, quarteleiros,  básicos, homens as transmissões, pilotos, especialistas da FAP, e por aí fora. 

Temos comandantes operacionais, capitães de várias armas, que combateram na Guiné e fizeram as suas carreiras, chegando a oficiais superiores  (coronéis, capitães de mar e guerra) a a oficiais generais (majores e tenentes 
generais). E alguns estiveram no 25 de Abril de 1974.  

Só não temos nemhum marechal: Spínola (tal Costa Gomes) morreu muito antes da criação da Tabanca Grande. Mas o Costa Gomes nunca nunca bebeu a água do Geba, do Corubal, do Cacheu, do Buba, do Cacine, do Cumbijã... 

O Aurélio Manuel Trindade foi nosso camarada (conceito que,  entre os infantes,  abarca todos os combatentes até ao nível de comandante operacional, ou seja, o que "alinha no mato" com a "canhota"). 

Foi combatente na Guiné e militar de Abril.   Faleceu no passado dia 12 de junho (*). Era tenente general, oriundo da arma de infantaria. Estava reformado. Tinha acabado  de fazer 91 anos.  Viúvo, deixa três filhos e não sei quantos netos. Na comunicação social a sua morte passou praticamente despercebida. Ele não er um figura mediática, vivia muito discretamente e era raro aparecer nos nossos convívios.  Convidei-o, através do seu amigo e cmarada cor inf ref Arada Pinheiro, a ir um dia à Tabanca da Linha. Declinou amavelmnete o convite. Mas sabia que estávamos a publicar notas de leitura e excertos do seu livro "Panteras à solta" (**)...

Recorde.se que, sob o pseudónimo literário Manuel Andrezo, escreveu um livro notável de memórias, de cariz autobiográfico, "Panteras à Solta" (edição de autor, 2010). 

Sabemos que  à frente da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), o cap inf Trindade revelou-se um excecional comandante operacional, e um grande líder:  percebeu, muito cedo, que naquela "guerra subversiva" o mais importante era conquistar as populações...

No CTIG, foi o último comandante da 4ª CCAÇ e o primeiro da CCAÇ 6. Fez a sua comissão sempre em Bedanda, entre julho de 1965 e julho de 1967

Com mais três comissões, primeiro na Índia, depois em Moçambique, como capitão (1962/64) e outra em Angola, já como major (1971/73), era um militar condecorado com Medalha de Prata de Valor Militar com Palma, Cruz de Guerra, colectiva, de 1.ª classe, Cruz de Guerra de 2.ª Classe, Ordem Militar de Avis, Grau Cavaleiro, Medalha de Mérito Militar de 3.ª Classe e ainda Prémio Governador da Guiné. Participou no 25 de Abril, como major, tinha então 41 anos e estava colocado na EPI, Mafra.



Foto da capa  do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010 / 2020] , 445 pp. , il. [ Manuel Andrezo era o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/ jul 67]

Na foto acima, da capa, o "capitão Cristo, sentado ao centro, na casa do Zé Saldanha [encarregado da Casa Ultramarina, em Bedanda, e onde se comia lindamente, graças aos dotes culinários da esposa, a balanta Inácia] . Por trás, em pé, os alferes Carvalho e Ribeiro e ainda o Zé Saldanha" (legenda, pág. 440).  O cap Cristo era nem mais nem menos do que o "alter ego" do cap Aurélio Manuel Trindade, o 10º (e último) comandante da 4ª CCAÇ, desde 1jan61, e o primeiro comandante (de dez!), a partir de 1bril de 1967, da CCAÇ 6 (Bedanda, 1967/74).



Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Brasão da CCAÇ no bolo da festa...


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo.


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo (metade esquerda)

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Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo (metade direita: o ten gen Aurélio Manuel Trindade, em mangas de camisa, é o segunda  a contar da direita, na primeira fila)


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das 
Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Da esqura para a direita, Gualdino, Luz e Coronel Renato Vieira de Sousa (este oficial foi quem comandou a CCAÇ 6,  em 1967/69, logo seguir ao Aurélio Trindade, que terminou a comissão em meados de 1967)


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Da esquerda para a direita, o ex-cap Trindade, o primeiro cmdt da CCAÇ 6, Lassano Djaló, Rui Santos (nosso grão-tabanqueiro da primeira hora) e o Amará Camará.

Fotos (e legendas): © António Teixeira (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Brasões das 4º CCAÇ e CCAÇ 6


2. O Aurélio Manuel Trindade, um beirão de Viseu, vai agora sentar-se, à sombra do nosso poilão,  no lugar nº 891 (***).  

É uma entrada, mais que merecida, embora infelizmente a título póstumo. É "apadrinhada" pelo seu amigo e camarada cor inf ref Mário Arada Pinheiro, um ano mais velho do que ele na Escola do Exército (1951/52).

Temos poucas fotos do novo grão-tabanqueiro. Uma delas é do 2º encontro do pessoal da CCAÇ 6, na Mealhada, em 6 de fevereiro de 2012, organizado pelo saudoso António Teixeira, "Tony" (1948-20123), ex-alf mil da CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73)  (****)

Como eu próprio escrevi na altura, foi um  êxito este 2º  encontro dos bedandenses, por uma razões que eu especifiquei:

(i)  por um lado, as qualidades de comandante do António Teixeira (Tony, para os amigos), à sua capacidade de liderança motivacional e de organização, qualidades que eu topei logo quando o conheci, no verão de 2011, na Lourinhã, por intermédio de um amigo e camarada comum, o Pinto Carvalho (infelizmente, morreria pouco tempo depois,  em 25/11/2013; era professor de educação física, reformado, natural de Espinho);

(ii) uma segunda razão,  tem a ver com  “bom irã” de Bedanda, essa terra mágica, as palavras eram do próprio Tony Teixeira:  (,,,) “muitos dos presentes neste encontro não se conheciam, visto terem pisado naquele chão em alturas muito diferentes. Mas aquele chão, aquela terra, é mágica, e exerce sobre nós um poder fantástico, poder esse que nos move e nos transcende"; e acrescentava o Tony:  "já depois do grande êxito que foi o nosso primeiro encontro, este ultrapassou todas as expectativas, conseguindo juntar 48 convivas, que por lá passaram entre 1963 e 1974, e  nem o dia cinzento, com uma chuva miudinha à mistura, arrefeceu o nosso entusiasmo: logo ao primeiro abraço era como se sempre nos tivéssemos conhecido”. (…)

 Entre esses convivas estava o ex-cap inf Aurélio Manuel Trindade, que não disse a ninguém que era tenente general.E era o mais antigo dos "Onças Negras" (antes  "Panteras Negras"), a a seguir ao Rui Santos (que foi alf mil, 4ª CCAÇ, 1963/65)...

Há homens que não precisam de se pôr em bicos de pés para mostrar que são grandes. O Aurélio Trindade era um desses, um português dos melhores. Vamos continuar a honrar a sua memória e a memória das "Panteras Negras" e  das "Onças Negras".

(***) Último poste da série > 26 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25684: Tabanca Grande (890): José Álvaro Almeida de Carvalho, ex-alf mil art, Pel Art / BCAC, obus 8.8 m/943 (1963/65) , adido 14 meses ao BCAÇ 619 (Catió, 1964/66): senta-se no lugar nº 890, à sombra do nosso poilão

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caros Arada Pinheiro e Morais Silva (by email),com data de hoje:

O vosso amigo e camarada Aurélio Trindade acaba de se juntar, no Olimpo dos bravos, a muitos outros antigos combatentes que passaram pelo TO da Guiné, e que eram (e continuam a ser) membros da nossa Tabanca Grande.

Na impossibilidade de falar com alguém da família (e em especial dos seus filhos Luís Aurélio e Isabel Cristina, que o ajudaram no processo de imressão do sue livor...na Alemanha ), tenho o OK do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, seu camarada dos tempos da Escola do Exército (há mais de 70 anos!), para lhe prestar "honras de Tabanca Grande".

Julgo que o Morais da Silva, também seu bom amigo (embora mais novo, mas beirão como ele), terá o mesmo entendimento: tendo sido comandante operacional na Guiné em 1965/67, e tendo escrito um notável livro de memórias ("Panteras à solta"), o Aurélio Trindade, e por tudo o mais que foi em vida como português, cidadão e militar, não pode ficar inumado na "vala comum do esquecimento"...

Sei, pela dedicatória que ele escreveu no livro que ofereceu ao Mário Arafa Pinheiro(um dos comandantes do Comando Geral de Milícias, em 1973), que Bedanda (e a Guiné) lhe ficaram para sempre no coração.

Infelizmente, não chequei a conhecê-lo pessoalmente, ao ten gen Aurélio Trimdade (não estive no convívio de 2012, na Mealhada, dos "Onças Negras"), mas conheço (e tenho convivido com) alguns dos bravos "Onças Negras", ainda do tempo da 4ª CCAÇ e depois da CCAÇ 6 (de que o Trindade foi, como se sabe, o último e o primeiro comandante, respetivamente).

O Trindade tem 20 referências no nosso blogue. "Apadrinhado" pelo cor inf ref Arada Pinheiro, passa agora a sentar-se simbolicamente no lugar nº 891 à sombra do nosso fraterno poilão.

É a nossa pequena, modesta mas sincera homenagem a um dos nossos melhores. Aproveitei para dar conhecimento, em BBC, a alguns dos "bedandenses" da Tabanca Grande.( Poderão escrever também o que bem entenderem na caixa de comentários ao poste P25709, de hoje.)

Um alfabravo, Luís Graça.

Anónimo disse...

Antonio Morais Silva (by email)
3 jul 2024 13:20

Caro Luís

Muito obrigado.

Abração

MS

Rui G dos Santos disse...

Agradeço Minha presença numa foto com o nosso "alquimista do medronho" o amigo Renato ..... lembro desse dia mas depois de uma ou duas idas a Algés ... dei por encerradas as minhas idas a "reuniões" de mal dizer ...Grato pela minha presença nesta publicação ... abraço.RUI SANTOS ..
.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rui, camarada veteraníssimo das nossas lidas bloguísticas... És sempre bem aparecido... Já, agora, gostava de saber se chegaste a trabalhar com o capitão Trindade na 4ª CCAÇ, em Bedanda, em 1965...Ele era "periquito" à tua beira, foi para lá em meados de 1965...

Terás alguma foto com ele ? ...

Abraço, Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rui: pelo ue estive a reler dos teus escritos no blogue (entraste para a Tabanca Grande em 2009, pensava que tinha sido antes), já não devets ter conhecido o último comandante da 4CCaç , o cap inf Aurélio Trindade (e o primeiro da CCAÇ 6, a partir de abril de 1967)... Conheceste ainda o alf Ribeiro (que ainda apanhu o Trindade)... DEpois fose para o CIM Bolama, em data que nunca precisaste (1965, provavelmente).

Qual destes comandantes da 4ª CCAÇ são do teu tempo ?

Cap Inf Manuel Dias Freixo
Cap Inf António Ferreira Rodrigues Areia
Cap Inf António Lopes Figueiredo
Cap Inf Renato Jorge Cardoso Matias Freire
Cap Inf Nelson João dos Santos
Cap Mil Inf João Henriques de Almeida
Cap Inf Alcides José Sacramento Marques
Cap Inf João José Louro Rodrigues de Passos
Cap Inf António Feliciano Mota da Câmara Soares Tavares
Cap Inf Aurélio Manuel Trindade

Observ- Os Cmdts Comp são apenas indicados a partir de lJan61 (Fonte: CECA)