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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26863: Casos: a verdade sobre... (53): o ataque do PAIGC a Bissássema em 3 de fevereiro de 1968: entre a propaganda e o "apagão"



Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > 10 de março de 1968 > CCAÇ 2314 > Destruição, pelas NT, da tabanca, antes da retirada.  Très anos depois será reocupada e nela construído um reordenamento.


Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > s/d > 10 de março de 1968 > CCAÇ 2314 > Destruição, pelas NT, da tabanca, por ocasião da retirada.


Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > s/d >  c. 3 fev / 10 mar 68 > CCAÇ 2314 >  O alf mil at inf José Manuel Pais Trabulho.

Fotos do álbum do cor GNR ref Pais Trabulo, disponíveis na página do facebook da CCAÇ  2314 - Age quod agis, 9 de dezembro de 2020 (com a devida vénia...)



Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 04325.001.006 | Título: PAIGC - Communiqué | Assunto: Amílcar Cabral, Secretário-Geral, informa que o PAIGC, no combate de 03.FEV.1968 em Bissássema, a 12 km de Bissau, fez 3 prisioneiros portugueses, da companhia sediada em Tite. Terão direito ao tratamento previsto pelas convenções internacionais. | Data: Segunda, 19 de Fevereiro de 1968 | Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade | Tipo Documental

Citação:
(1968), "PAIGC - Communiqué", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84046 (2025-5-30)


(Reproduzido com a devida vénia...) Vd. tradução para português a seguir:


PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cbo Verde


Comunicado


No dia 3 de fevereiro do corrente, na sequência de um combate que opôs uma unidade do nosso Exército regular a um contingente colonialista, perto da tabanca de Bissássema, a 12 km de Bissau, na margem esquerda do rio Geba, foram feitos prisioneiros os elementos do exército colonial português, de que se apresenta a seguir a identificação:
  • Alferes de infantaria, António Júlio Rosa;
  • 1º cabo nº 093526/66, Geraldino Marques Contino;
  • Soldado nº 034680/66, Victor Manuel de Jesus Capítulo.
Todos os três pertencem à companhia 1743, estacionada em Tite.

Na sequência do mesmo confronto, 18 soldados inimigos foram postos fora de combate.

O inimigo, que retirou em debandada para o campo fortificado de Tite, abandonou no terreno uma grande quantidade de material, incluindo 8 aparelhos emissores-recetores de campanha, de fabrico inglês,

De acordo com os princípios do nosso Partido, estes novos prisioneiros terão direito ao tratamento previsto pelas convenções internacionais

Amílcar Cabral, Secretário Geral





Guiné > Região de Quínara > Carta de Tite (1955) (escala 1/50 mil) > Posição relativa de Tite, Jabadá, Enxudé, rio Geba e Bissássema (a sudoeste de Tite)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Já aqui o dissemos: tanto as NT como o PAIGC parece terem feito um "apagão" da batalha de Bissássema (que, em rigor, vai de 31 de janeiro, início da operação para reocupar Bissássema, a 10 de março de 1968, altura em a tabanca foi queimada e abandonada pelas NT, para renascer três anos depois com o gen Spínola  a mandar fazer um grande reordenamento de 100 moranças mais os equipamentos coletivos habituais: escola, posto sanitário, lavadouros, mercado, etc.) (*)


Na riquíssima e incontornável plataforma Casa Comum, desenvolvida pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso, que reúne diversos arquivos, surpreendentes e relevantes para a documentação e o conhecimento da guerra colonial (nomeadamente, o de Amílcar Cabral e o Mário Pinto de Andrade), há uma única referência a Bissássema, num comunicado assinado por Amílcar Cabral, em francês,  datado de 19/2/1968, quinze dias depois dos acontecimentos, sobre o grande "ronco" do dia 3; omite-se, portanto, os desaires que o PAIGC sofreu, nesse e nos dias seguintes. 

Cabral era perito em tirar o melhor partido dos sucessos militares e hábil em ignorar ou escamotear os revezes (tal como, de resto,  os nossos comandantes, o que é "humano", afinal não somos heróis nem santos, isto é, "semideuses"...).

Por sua vez, no livro da CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). , 6º Volume: Aspetos da Atividade Operacional, na Guin+e  no período de 1967/70, só há 5 referências a Bissássema: omite-se a acção do PAIGC, ocorrida em 3/2/1968 (*), de que resultaram 3 prisioneiros portugueses, da CART 1743, sediada em Tite.  Lapso ?  "Branqueamento" ou "apagão" ? 

Há uma referência, mas com outra data (8/2/1968), no cap II (Atividade operacional, relativa ao 1º semestre de 1968)

(...) Zona Sul

Acção - 08Fev68

Forças da CCaç 2314 e 2 Gr Comb/CArt 1743, que ocupavam temporariamente Bissássema, SI, em reação ao ataque desencadeado sobre a povoação, expulsaram e perseguiram o ln que já havia penetrado em dois pontos do perímetro defensivo, causando-lhe 15 mortos e muitos feridos em número não estimado e apreendendo:

1 LGFog
2 Pistolas metralhadoras PPSH;
7 Gran LGFog;
Munições e material diverso. (...)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pág. 166 (Com a devida vénia...)

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

Pergunta-se; será que o ataque a Bissássema, de 3 /2/1968 foi deliberadamente omitido pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (CECA) ? (**)

À partida, julgamos que não faria sentido essa omissão, mais de  4 décadas depois  do fim da guerra e da independência da Guiné-Bissau...  Mas confirmamos que a CECA também não refere, por exemplo, o ataque do PAIGC a Cantacunda, dois meses depois,  em 10/11 de abril de 1968, de que resultaram 1 morto e 11 "elementos retidos pelo IN" (prisioneiros de guerra, levados para Conacri, e só libertados, tal como os de Bissássema na sequência da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970).

Em conclusão, no volume nº 6, Tomo II, Guiné, Livros I, II e III, a CECA centra-se apenas na atividade operacional das NT e só esporadicamente refere a atividade IN.

O hoje cor GNR ref Pais Trabulo (ex-alf mil até inf, CCAÇ 2314, Tite, 1968/69)  escreveu (*):

(...) "Ainda hoje, temos no nosso pensamento a visão dolorosa do estado dos nossos camaradas em fuga para Tite, bem como as lágrimas que corriam nas suas faces, os olhos cobertos de lama e a maioria descalços, ou mesmo nus, parecendo figuras de filmes de terror, apenas com forças para agarrarem, desesperadamente, a arma, a sua única salvação para manter a vida, quando em redor somente havia a morte…

Sabe-se que esta intervenção, em Bissássema, foi um fracasso para ambos os lados e que o PAIGC sempre ocultou no seu historial:

(i) se, pelo lado português, para além dos três prisioneiros e dois desaparecidos e feridos, não se conseguiu concretizar os objetivos propostos;

(ii)  para o lado do PAICG, o elevado números de baixas levou a que sempre escondesse as suas consequências, tendo, inclusivamente, sido considerado por alguns, como um dos maior desaires que sofreu o movimento de libertação da Guiné." (...)

Esperemos que o nosso novo grão-tabanqueiro nº 905, o Joaquim Caldeira, nos possa akjudar a responder a algumas das nossas dúvidas.


 (seleção, revisão / fixação de texto, tradução,  edição de fotos: LG)

________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25102: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bissau, em 1969: (i) o "ataque" a Bissalanca em 19/2/1968; (ii) a carestia de bens essenciais como o arroz; (iii) a discriminação da população local no acesso aos cuidados de saúde; (iv) casos de violência verbal e física contra civis...


Vasco Cabral, membro do "bureau" político do PAIGC.
aqui em missão no exterior. Foto, s/d, s/l, cortesia do portal
Casa Comum >Arquivo Amilcar Cabral.
(Reeditada pelo Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné, 2024)

1. É sempre interessante conhecer o que é que, numa guerra, os contendores sabem (e/ou pensam) uns sobre os outros... Mesmo quando a guerra acabou há muito, como foi o caso da guerra na Guiné (1961/74)... Daí esta série "Memórias cruzadas"...

As Forças Armadas Portugueses tinham as suas próprias fontes de informação: os serviços de informação militares p.d., a PIDE, a administração civil, os prisioneiros, os desertores, os gilas, etc. 

O PAIGC tinha também, embora mais elementares, os seus próprios serviços de recolha e tratamento de informação, quer de natureza política quer militar, a começar pelos seus próprios combatentes, e outros, incluindo os gilas (que atravessavam as fronteiras e faziam jogo duplo), os seus simpatizantes e militantes civis em Bissau e no mato, etc.  

Muitas das informações que o seu quartel-general recebia era grosseiras, pouco ou nada válidas em fiáveis,  porque a "ideologia" aldrava a "realidade": na ânsia de mostrar resultados no campo de batalha, comandantes e comissários políticos das FAPLA acrescentavam sempre muitos pontos aos seus contos... Mas, se calhar, era isso que os "Cabrais" (o Amílcar, o Luís, o Vasco, o Fidelis...) gostavam de ouvir...lá no bem-bom de Conacri. 

O documento que abaixo se reproduz,  é um exemplo das informações em bruto, que chegavam a Conacri, onde o PAIGC tinha o seu "quartel-general" e a sua "inteligentsia"...

Vasco Cabral (Farim, 1926 - Bissau, 2005) foi um dos mais qualificados quadros dirigentes do "Partido". (Não tinha qualquer relação de parentesco com o líder histórico do PAIGC, embora também fosse de origem cabo-verdiana ). Estudou em Portugal (licenciou-se em Ciências Económico-Finaneiras, pelo ISCEF/UTL),  apoiou a candidatura de Norton de Matos à Presidência da República em 1949, enquanto membro do MUD Juvenil, lutou contra o Estado Novo-

Não há muita informação (independente) sobre a sua biografia: foi preso político em Portugal, entre 1953/1954 e 1959, até que, já na clandestinidade, conseguiu fugir, em 1962, de barco até Tânger (cidade já itegrada, desde 1956, na soberania marroquina), juntamente com Agostinho Neto, com a ajuda (dizem)  do PCP - Partido Comunista Português. 

A partir daqui a sua história mistura-se com a de outros dirigentes (políticos) do PAIGC. Escapou à morte no atentado que tirou a vida a Amílcar Cabral.  Pertenceu ao "bureau" político e exerceu funções governativas depois da independência. Não se opôs ao "golpe de Estado" do 'Nino' Vieira, de 14 de novembro de 1980. Foi também escritor e poeta. E tem, juntamente, com Amílcar Cabral a melhor caligrafia de todos os dirigentes do PAIGC, a avaliar por esta amostra manuscrita que aqui hoje publicamos.

Não sabemos exatamente  onde decorreu esta "audição de camaradas fugidos de Bubaque" (sic), transcrita por Vasco Cabral em 5/12/1969 (*). Tudo indica que tenha sido em Conacri. Os três "camaradas", provavelmente de etnia bijagó (tal  como o Inocêncio Kani, o carrasco do Amílcar Cabral), eram o Marcelino Banca, o Marcos da Silva e o José Albino Sonda.  (Não parecem ter deixado "peugadas" na história do PAIGC...).

Vasco Cabral destaca o M.S. (Marcos da Silva) como informante priveligiado, que mostra conhecer razoavelmente Bissau (cidade que, ao tempo,  o Vasco Cabral já não devia cohecer de todo):

(i) fala, embora de maneira fantasiosa e propagandística, sobre a flagelação a Bissalanca, em 19 de fevereiro de 1968, quando um pequeno grupo, comandado por André Pedro Gomes e Joaquim N’Com,  fez uma incursão noturna na área de Bissau, atacando a BA 12 com tiros de morteiro e armas ligeiras; esta ação, embora audaciosa mas de alcance limitado, foi habilmente explorada por Amílcar Cabral para mostrar, sobretudo no exterior, a sua  capacidade para desferir ataques nos prósprios santuários do inimigo, neste caso a capital;

(ii) indica a localização dos principais quartéis em Bissau, Bissalanca e Brá, coisa que não era nenhum segredo militar, sendo conhecida de toda a gente; referência a um alegado "paiol da pólvora", a 800 metros abaixo do QG (Santa Luzia), de que nunca ouvimos falar;

(iii) refere o problema dos preços e do alegado racionamento de alguns bens essenciais como o arroz e o açúcar: já no meu tempo, em meados de 1969, em Bambadinca, o preço do arroz (comprado pela população) andava  à volta dos 6$00; o pré dos nossos soldados guineenses (600$00 + a diária para a alimentação, sendo desarranchados, 24$50) dava para eles compraram 2 sacos de 100 quilos de arroz (com que se podia alimentar uma família extensa e numerosa);

(iv) enfim, denuncia alguns casos (que naturalmente terão existido, pontuais)  de violência física e verbal contra a população civil de Bissau, já no tempo de Spínola...

Vamos lá a ver se há leitores que queiram cruzar,  com estas, as suas memórias de Bissau daquele tempo (1968/69).



ORGANIZAÇÃO, FORMAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
5-12-69

Audição de camaradas fugidos de Bubaque [folhas nºs, 13-16 ] 

(A láspis, no alto da folha nº 1, está escrito: "Informações recolhidas pelo camarada Vasco Cabral")

M.S.  [Marcos da Silva ]  - Depois do ataque do Partido a Bissau,  
[em fevereiro do ano passado,
muitos africnos em Bissau ficaram contentes com isso. Os colonialis-
tas reagiram violentamente no dia seguinte atacando algumas taban-
cas mais próximas do campo de aviação como as tabancas de Bis-
salanca e de Plaque. Fizeram-lhes de madrugada uma emboscada, 
tendo matado algumas pessoas, ferido outras, e prendido toda a popu-
lação restante. Mais tarde,vieram a soltar alguns presos, mas outros fi-
caram presos até lá até agora.

A partir desse ataque os tugas tomaram outras medidas: reforçaram
a vigilância; agora, a partir das 6h da tarde, dirigem-se para o cam-  



po de aviação 4 ou 5 camiões grandes Unimog 
[no original, Hanomag], 
 [cheios de soldados
e vigiam o campo até de manhã. De vez em quando efectuam bombar-
deamentos pelas redondezas. Minaram as imediações do campo. Puseram 
à volta do campo 2 filas de arame farpado que deve ser electrifica-
do, pois puseram avisos em que se diz: "Perigo de alta tensão!" - avis-
ando o povo para se manter afastado.

Com o ataque que se fez, ficaram destruídos aviões, hangares 
 [angares, no original]  uma parte 
importante da Central Elétrica, o que ocasionou falta de luz durante
1 dia.

A população de Bissau não se deixa influenciar pela popaganda do 
tuga de uma Guiné Melhor. Dizem que o Spínola segue uma política por


causa da guerra, mas sabem que a guerra não vai acabar,

Há em Bissau milhares de soldados. À  [há, no original] volta de Bissau  há
7 quartéis: o Quartel-General que está em Santa Luzia; há
uns 800 metros mais abaixo o Paiol de pólvora;  há o quartel
da Amura; o Batalhão de Serviço de Material perto da Amura;  em
Brá há o Quartel de Engenharia; há também em Brá mais 
dois quartéis: o de Comandos e um outro de Adidos. Há ainda
o Quartel dos Fuzileiros, ligado à ponte de Pidgiguiti.

Perto do campo de aviação há ainda 2 quartéis: o dos Páras e outro
da Força Aérea. Estes 2 quartéis estão dentro da cercadura de arame
farpado.

= Há bichas em Bissau para a compra de arroz e de carne. Isto acontece du-


rante todo o ano. O preço do arroz varia com frequência. O ano passado vendia-
-se a 5$60 / kg., agora custa 6$90/kg. Há grande falta de açúcar.

Estabelecem às vezes para a venda do arroz um contingente máximo de venda   
[avulsa
de 1 kg. Também para o açúcar estabelecem 250 gramas, por pessoa.  Mas  
[açúcar
falta âs vezes durante 15 dias ou mais.


Há dificuldades sanitárias grandes: em 1º lugar , às consultas; fazem-
se bichas para as consultas e há muita gente que não é atendida, às vezes
durante 1 mês; em 2º lugar quanto a medicamentos que faltam em grande
quantidade. Afirmam que os medicamenmtos são só para os militares.

Não há bichas para os europeus civis, é só para os africanos.

Também qanto às outras bichas, são só para os africanos, uma única


excepção do Serviço dos Correios, onde os europeus também entram nas bichas.

= Coisas que os soldados tugas dizem dos africanos abertamemte nas
ruas: "Barrote queimado", "saco de carvão", "nharro", "negro",
nas suas relações com os africanos.

De vez em quando os fuzileiros liquidam africanos. No Alto Crim
este ano mataram 4 mulheres, uma rapaz em Santa Luzia, 3 pessoas
(2 rapazes e 1 rapariga) na Avenida Gago Coutinho. Para isso fazem
provocações.

Este ano a 2 de Novembro houve um incidente no Alto Crim entre 
um fuzileiro e um rapaz africano. Este agrediu o fuzileiro. Então.
ele queixou-se no quartel dizendo que um terrorista o agredira. Mais



tarde mandaram do quartel um pelotão de soldados que incendiou
casas, bateram em várias pessoas e feriram outras.

Ha frequentemente incidentes entre a população e a tropa colonialista.
Há habitualmenmte cenas com as raparigas africanas que passam nas
ruas. Os soldados tentam beijá-las, como elas reagem, às vezes, batem-
-lhes. Quando os africanos se dirigem à Polícia, para se queixarem
de certos abusos dos europeus, a Polícia não liga, não toma nenhumas medidas.

= É proibido ouvir-se a nossa Rádio em Bissau. Mas há muita gente
que ouve. Um tio do camarada Conrado foi preso por estar a ouvir
a nossa Rádio, em Julho deste ano. Ainda está preso por isso.


Foram ouvidos os seguintes camaradas:
- Marcelino Banca
- Marcos da Silva
- José Albino Sonda

(Seleção, transcrição, fixação / revisão de texto, itálicos e negritos: LG. Observ: Mantivemos a ortografia usada por Vasco Cabral)
_________________

Citação:
(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2024-1-16) (Com a devida vénia...)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006 | 
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós. | Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral. | Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos.
___________

Nota do editor:

(*)Vd. último poste da série > 16 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 1978  >  O "Palácio do Estado" (hoje, 2024, em completa ruína)... Edifício da época colonial, de arquitetura alemã,conhecido também como "Palácio do Governador"... Do lado esquerdo,  uma outra casa que terá sido construida, para efeito de lazer,  para os oficiais superiores portugueses...  ("Foto tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Tierno Bagulho. c. 1974/75, como cooperante, já falecido"). Cortesia de Patrício Ribeiro (*)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" "ou "Palácio do Governador", hoje uma total ruina...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
2-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós
(A láspis,no alto da folha,está escrito: "Informações recolhidas pelo camarada Vasco Cabral")


(...) BUBAQUE não tem quartel. Tem lá padres italianos (2) e co-
merciantes cabo-verdianos, que são 4. Um deles, sabe-se de certeza
que é contra o Partido e está como empregado encarregado da
Casa Gouveia em Bubaque. A loja da Gouveia vende tecido, compra
coconote, compra óleo de palma. Vende também arroz.
 

Há 3 tugas que trabalham na fábrica de extração de óleo de 
palma. Esta fábrica pertenceu em tempos aos alemães. Esses
tugas estão armados com armas de defesa pessoal - pistolas.
Estão em Bubaque uns 10 cipaios que se enontram armados 
de carabinas Mauser, mas só usasm as armas em momentos
de serviço. O serviço de vigilância é montado poe 2 cipaios : um que circula 
na ilha eoutro que monta a guarda à Administração. Drante o
dia não usam armas no seu serviço. De noite usam as armas.
Por volta das 10h da noite o cipaio da guarda à Administração
custuma ir dormir. Mss o cipaio que vigia a iha faz  ua roda
até de manhã.

De uma maneira eral as pessoas da ilha são favoráveis ao Partido.







ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
3-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós

(...) 2. BUBAQUE - Está contra o Partido um comerciante cabo-verdiano de     
[nome 
Juca Ferraz que pertence à Pide. Também pertence  à
à Pide um outro empregado cabo-verdiano de nome Alberto
dos Santos.

Cada cipaio trabalha 24 h seguidas: das 7h da manhã de um 
dia às 7h da manhã do dia seguinte.

As tabancas grandes têm um nº de pessoas que oscila



entre 600 e 1 000.

Há um outro elemento favorável ao Partido e que ouvia frequente-
mete as nossas emissões. Trata-se de Luís de Barros, empregado da Casa
Espinheiro [? ] .

Há carreiras turística de avião e de barco que vêm de Bissau para
gente visitar as praias ao fim de semana. Em geral, trata-se de oficiais do Exér-
cito português que aí vão com as suas famílias. Às vezes, alguns, aproveitando
o tempo de férias ou gozando um certo tempo de licença, permanecem 15 dias e
até um mês. Existe em construção ainda uma casa destinada a albergar esses
oficiais. Trata-se de um edifício em  3 blocos, cada um com uns 4 quartos,
o que perfaz um total de 12 quartos. Situa-se à beira-mar.

Há também cerca deste edifício a casa do Governador da Guiné que já
está pronta. Trata-se de uma casa grande com 4 grandes quartos, também


está na praia. O antigo governador Schultz  [sic, Schulz ]   ia lá 
de vez  em quando,
com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá
esteve morado. Foi só visitar. (*)

Uns aspirantes [cadetes ] da Marinha, um grupo vindo 
de  Portugal,  comeram  lá perto por altu- 
ras do mês de março e abril. Comeram numa pensão à beira-mar que é des-
tinada aos turistas e que foi construída pelos alemães. Esta casa pertence
ao Estado, mas é explorada comercialmente por um tal Teodoro Romano Pe-
reira.  Há ainda mais 2 casas semelhantes a esta, que pertencem ao
Estado e onde moram os empregados portugueses da Fábrica de Extração de
Óleo de Palma, em nº de 3, havendo um outro ainda de nome Lourenço de Pina.

  [ Seleção, edição,  transcrição, revsão / fxação de texto, parênteses retos: LG ]

Citação:
(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2024-1-16) (Com a devida vénia...)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006 | 
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós. | Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral. | Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos.

____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25073: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (32): Os encantos e os mistérios da ilha deBubaque (incluindo o "Palácio do Governador", hoje em total ruína, onde o PAIGC quis matar Spínola)

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24829: S(c)em comentários (12): As (des)ilusões de Luís Cabral... (António Rosinha, ex-topógrafo, TECNIL, Bissau, 1979-1993)


Guiné-Bissau > Região do Boé  (?) > 24 de Setembro de 1973 > Foto (e legenda) da revista PAIGC Actualités, nº 54, Outubro de 1973

"O Camarada Luís Cabral, secretário geral adjunto do nosso Partido, eleito Presidente do Conselho de Estado, seu representante nas relações internacionais, sendo igualmente o comandante supremo das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP)"...

No Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, estas e outras fotos do dia 24 de setembro de 1973, o da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, partido revolucionário que se intitulou único e legítimo representante de todo o povo da ex-Guiné Portuguesa (!), são alegadamente  tiradas na  "região libertada de Madina de Boé" (sic), uma ficção que se mantem até hoje, 50 anos depois, mesmo contra toda a evidêncial factual... 

O PAIGC sempre foi um partido que viveu, no plano interno e externo,  da propaganda, do "show-off", do cinismo, da mentira (a começar pelos comandantes da guerrilha e dos comissários políticos que engavam o Amílcar Cabral com números fantasiosos de retumbantes vitórias militares,e alguns eram racistas e violentos para com a sua própria população), para não dizer até da capacidade de  sedução,  da basófia  e da "lata" (nomeadamente dos seus "diplomatas"... reclamando-se, nas instàncias internacionais,  do controlo, por exemplo, de 2/3 do território e de 400 mil habitantes, com estruturas que seriam as futuras bases do novo Estado independente: escolas hospitais, armazéns do povo, granjas, forças armadas, tribunais, gestão local, etc.).

 Já falámos, "ad nauseam", da ajuda sueca (alegadamente "desinteressada", "humanitária", "solidária",  etc.), que atingiu valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, o montante correspondente ao período da "guerra de libertação", de 1969/70 até 1976/77)... 

Enfim, essa ajuda chegou a representar 5 a 10% do total do valor das importações da Guiné-Bissau...Ao fim destes anos todos, os suecos fecharam a torneira, ao descobrirem que estavam a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo... 

A administração de Luís Cabral e, depois, do golpista  e tribalista'Nino' Vieira, dois heróis da liberdade da Pátria, infelizmente não conseguiram trilhar com sucesso os caminhos da liberdade, da justiça, da paz, da reconciliação e do desenvolvimento com que sonhara e por que lutara o "pai" da Pátria, Amílcar Cabral, hoje tão mal-amado e esquecido na sua própria terra, talvez  por ser meio-guineense e meio-cabo-verdiano...




Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-"colon" e retornado, como ele gosta de se intitular com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar... por que já as viveu (as "Berças", Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Portugal pós-25 de Abril...)



Antº Rosinha disse (*)...

"Declarações de Luís Cabral que deplorava ter encontrado os cofres vazios, uma administração sem quadros", quer dizer, o aprendiz de colonialista, Luís, irmão de Amílcar, estaria à espera de uma passadeira vermelha e um abre alas com banda de música.

Depois de andarem 13 anos a dizer que não precisavam de nada do 'colon', que nós sabemos governar melhor e os nossos amigos vão-nos ajudar, admira a desilusão de Luís Cabral, com a debandada dos funcionários colonialistas.

De facto até parecia fácil governar as colónias portuguesas para quem conhecia bem aquela "paz colonial", por dentro e por fora, com a colaboração de funcionários como Luís Cabral, Amílcar Cabral, Aristides Pereira... em geral.

Para alguns correu bem, outros nem tanto. (**)


7 de novembro de 2023 às 19:10

domingo, 8 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24735: Armamento do PAIGC (5): O sistema Grad, o "jacto do povo", a "mulher grande", o foguetão 122 mm: as expetativas, demasiado altas, de Amílcar Cabral

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm). Nascido 1951, o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande, faleceu em 2011. Era natural de Mafra.

Foto: © Joaquim Vicente Silva (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O foguete 122 mm, o Grad
(na terminologia do PAIGC
ou "jato do povo").
Foto: Nuno Rubim (2007)









Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 04602.060 | Título: Sobre a utilização do sistema GRAD | Assunto: Directivas de Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, sobre a utilização do sistema GRAD (sistema de lançamento múltiplo de foguetes). Formação e intruções para os grupos Grad. Comando dos grupos Grad: Manuel dos Santos (Manecas), Paulo Correia Landim ou António Barbosa, Alfa Djaló, Amâncio Lopes, Agnelo Dantas, Samba Candé, José Marques Vieira, Pene Djassi, Júlio de Carvalho, Eduardo Santos, Olívio Pires, Mamadu Lamine. | Data: Setembro de 1970 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral

Citação:
(1970), "Sobre a utilização do sistema GRAD", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40434
 (2023-10-7)

(Seleção / fixação de texto / sublinhados a vermelho, para efeitos de edição deste poste: LG... CVom a devida vénia...)
 


O famoso "Jacto do Povo" (na gíria do PAIGC, também conhyecido como "mukhger garnde") (*), o foguetão (ou foguete, mais propriamente dito)  de 122 mm, que terá sido utilizado pela primeira vez em 24 de outubro de 1969 contra Bedanda e só depois em 3 de novembro de 1969, numa flagelação contra Bolama, segundo o nosso especialista em artilharia , o  cor art ref Nuno Rubim. (A seguir, Cacine, 4/11/69) e depois Cufar (24/11/69).

Felizmente para nós, era um arma pouco precisa e fiável (embora metesse "respeitinho" o seu silvo,  a sua detonação e a sua fragmentação). Por outro lado,   a Guiné, tirando Bissau, a BA 12 em Bissalanca, Bafatá ou Nova Lamego não tinha grandes alvos, civis ou miitares, apropriados... (excluindo os grandes reordenamentos). 

Afinal, a História com H grande, também se faz com a pequena história... Mais mortífero foi o morteiro pesado soviético, de 120 mm: de ter feito  mais vítimas entre as NT e a p0opulação civil do que o pomposo "jacto do povo"...



 
1.  Na nossa gíria eram os foguetóes 122 mm. (Temos 3 dezenas de referências com este descritor.) (**)

Tinham um alcance máximo de 16 mil metros (a versão usada no TO da Guine). Esta nova arma era já referenciada como fazendo parte do arsenal do IN em finais de 1969. (CECA, 2015, p. 297). Era uma arma para a qual os nossos aquartelamentos, construídos em alvenaria, não tinham abrigos seguros.  O PAIGC já usava também o mortífero morteiro pesado soviético, de 120 mm. Poucos quartéis tinham abrigos de betão armado (caso de Gandembel, construído a partir de abril de 1968 e abandonado menos de nove meses depois, em janeiro de 1969, por ordem de Spínola; ou Guileje, abandonado em 22 de maio de 1973).

Vejamos um excerto do 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), da CECA:

(...) Capítulo IV - Ano de 1970

Inimigo

(...) Organização e dispositivo militar

Organização

Em Maio, o Conselho de Guerra decidiu alterar o dispositivo militar e as chefias superiores das FARP.

Os Comandos de Frente foram anulados e substituídos pelos Comandos de Inter-Região. Os bigrupos foram reforçados e passaram a ter um efectivo permanente de 50 a 60 combatentes.

Foram criadas unidades de foguetões de 122 milímetros e distribuídas em número de 2 a 3 por cada inter-região. Neste ano apareceram também as peças antiaéreas de 37mm.

Relativamente a efectivos globais, estima-se que o inimigo poderia dispor de 4 corpos de exército no final do ano, cada um constituído por unidades de infantaria, artilharia e foguetões.

A constituição orgânica destes corpos de exército previa um comando e órgãos permanentes de efectivo reduzido (onde existia um grupo de comando, um grupo de reconhecimento e um serviço de abastecimentos) sendo-lhe atribuídas as unidades necessárias ao desempenho de qualquer missão, em
qualquer lugar, conforme o objectivo a atingir, sendo normal a sua actuação com 3 bigrupos, 2 grupos de artilharia ou canhões sem recuo e 1 grupo de foguetões a 2 rampas. (CECA, 2015, p. 435)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), (Com a devida vénia...)

A avaliar pelo documento do PAIGC que acima se reproduz, o Amílcar Cabral depositava muitas esperanças (talvez demasiado altas) nesta arma, que de facto foi utilizada, sem grande eficácia, contra alguns alvos militares e civis (Bissau, Bissalanca, Bafatá, Bolama, Catió, Nova Lamego,  povoações fronteiriças, etc.).

Por outro lado, o peso total do  foguete (mais de 50/60 e tal quilos), a par do sistema de lançamento, tubo,  etc., além do seu comprimento, também  levantavá problemas logísticos,  embora o PAIGC tivesse muitos '"burros de carga"  (nunca ninguém ousou falar aqui de "trabalho forçado" nas "áreas libertadas" de que vítimas os elementos civis, usados nas "colunas logísticas"...).  Já não falando  do "preço" ... destes brinquedos de morte!... (O Amílcar Cabral nunca levanta esta questão, incómoda, mesmo sabendo que um dia teria que pagar a "fatura da libertação": homem inteligente, mas cínico, sabia que a "solidariedade internacionalista" também tinha um preço...)

A utilização correta da arma implicava competências em matéria de literacia e numeracia que faltavam à generalidade dos guerrilheiros do PAIGC, a par das cartas (militares), do reconmhecimento do terreno, etc.... Daí vários dos comandantes serem cabo-verdianos, com mais habilitações literárias e formação específica  no estrangeiro (Rússia, Cuba...), caso do Manecas dos Santos, Agnelo Dantas, Amâncio Lopes, Júlio de Caravalho e Olívio Pires (contei, pelo menos , cinco cabo-verdianos, no documento supra, pág. 3),  O mesmo se irá passar com os Strela (comandados pelo Manecas dos Santos).

Felizmente que também os homens que operavam o "sistema Grad" eram mais artilheiros... (Veja-se aqui o poste P9352, de 14 de janeiro de 2012:  Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (4): Os foguetões 122 mm que vi, ouvi e contei ao longo de quase dois anos...

O Amílcar Cabral teve a lucidez de reconhecer que quem ganha (va) as guerras, são  (eram) os homens e não as armas. Hoje diriamos: o segredo da vitória está no "mix" hardware, software e humanware.... (material,  conhecimento,  pessoal)... Mas a "sorte das armas" depende também de outros factores, a começar pelos aliados, a diplomacia, a geopolítica, o contexto histórico e geográfico, etc, que são factores "exógenos".
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Notas do editor:

(*) Último poste da série de 10 de maio de 2023 > Guiné 61/71 - P24305: Armamento do PAIGC (4): Morteiro pesado 120 mm M1943, de origem russa, usado nos ataques e flagelações a aquartelamentos das zonas fronteiriças, como Gandembel, Guileje, Gadamael, Guidaje, Copá ou Canquelifá

Vd. postes anteriores: 

19 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24234: Armamento do PAIGC (3): peça de artilharia 130 mm M-46, cedida pelo Sekou Turé para os ataques, a partir do território da Guiné-Conacri, contra Guileje e Gadamael, em maio/junho de 1973

8 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24208: Armamento do PAIGC (1): As polémicas viaturas blindadas BRDM-2 que teriam sido utilizadas contra Copá (7/1/1974) e Bedanda (31/3/1974)

13 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24220: Armamento do PAIGC (2): Ainda as viaturas blindadas BRDM-2: em finais de 1973/princípios de 1974, o PAIGC teria apenas 2 viaturas blindadas...


Em comentário o  nosso especialista em armamento, o Luís Dias,  acrescentou:

(...) O nome GRAD dado ao míssil soviético 122mm, embora incompleto, é correcto. De facto, e como referi no meu post, os russos aperfeiçoaram um foguetão / foguete (também lhe chamei assim), a partir de 1963, ao qual denominaram BM-21 GRAD e a partir de 1964, foram produzidos diversos tipos desta série e também um míssil portátil - o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B e que é também um GRAD.(...)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19447: Recortes de inprensa (100): para a história da luta dos deficientes das Forças Armadas: a manifestação em Lisboa, de 20 de setembro de 1975 (Diário de Lisboa, 22/9/1975)




Fonte: Diário de Lisboa, 22 de setembro de 1975, p. 8.


Citação:
(1975), "Diário de Lisboa", nº 18873, Ano 55, Segunda, 22 de Setembro de 1975, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4410 (2019-1-27) (com a devida vénia...).


Casa Comum
Título: Diário de Lisboa
Número: 18873
Ano: 55
Data: Segunda, 22 de Setembro de 1975
Directores: Director: António Ruella Ramos; Director Adjunto: José Cardoso Pires
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos
Tipo Documental: IMPRENSA
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19254: Recortes de imprensa (99) O capitão José Manuel Carreto Curto, dado como morto pela propaganda do PAIGC, em entrevista à ANI, Bissau, 20 de março de 1963 (Diário de Lisboa, edição de 20/3/1963, pp. 1 e 9)