quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9344: Armamento (7): O foguetão de 122 mm (Luís Dias)


1. O nosso Camarada Luís Dias, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872,Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos mais uma mensagem desta série: 

O FOGUETÃO 122 mm 


Caros Camaradas,

Embora este tipo de armamento não seja propriamente da minha especialidade desejo dar este pequeno contributo, retirado de elementos colhidos na net.



Guiné > Cabuca > 1º Pel. da 2ª CART/BART 6523 > O Alf Mil Op Esp António Barbosa, junto dos restos de foguetões de 122 mm

O lançador de foguetes Katyusha é uma arma de artilharia (lançador de foguetes múltiplos) desenvolvida e utilizada pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Foi apelidado na época de "Órgão de Estaline" pelas tropas alemãs (em alemão: Stalinorgel) em referência ao dirigente soviético com o mesmo nome. Já o nome Katyusha foi dado pelo Exército Vermelho retirado de uma música famosa durante o período da guerra, que contava a história de uma jovem russa (Katyuhsa, diminutivo russo para Catarina) cujo namorado estava longe em virtude da guerra.



O desenvolvimento dos foguetes lançados por artilharia na URSS iniciou-se em finais dos anos 40, a fim de se substituírem ou complementarem os Katyusha de 82mm, 132mm e 300mm, da IIª GM. A fábrica estatal situada em Tula, sob a liderança de A. Ganichev, apresentou um foguete (míssil) no calibre 122mm, em 1963, denominado 122mm BM-21 GRAD. 

Ao longo de 1964 foram produzidos diversos tipos desta série e a serem transportados em camiões e outros veículos de vários tipos e dimensões, com diversos conjuntos e combinações de lançamento múltiplo. Também foi fabricado o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B.

O modelo standard é composto por uma cabeça (ogiva) explosiva de alta fragmentação (havia apontamentos no Exército Português que referiam que a cabeça se fragmentava em 14 000 estilhaços), um corpo em aço e um motor eléctrico de propulsão situado na cauda. 

A estabilização durante o voo é conferida por 4 alhetas estabilizadoras, situadas na parte de trás do foguete e quando completamente abertas atingem os 226mm. 

A cabeça contém 6,4 kg de explosivo e o detonador é armado por inércia, após percorrer entre 150 a 400 m. Podem ser aplicadas outro tipo de ogivas (químicas, fumos, incendiárias). 

O motor consiste em 20,5 kg de um propelente sólido. O peso total do foguete varia entre os 49,4 Kg e os 66 Kg e o seu comprimento entre os 2, 46 m e os 3, 22 m, também o seu alcance varia entre os 10 900 m e os 20 750 m. 

O míssil é reconhecível pelos seis tubos de descarga propulsora existente na cauda.

Sabemos que a arma (original) não era muito precisa e eram necessários muitos foguetes para que a sua eficiência fosse assinalável. No entanto, tinha um impacto psicológico enorme face ao volume e intensidade de som das saídas dos tubos.

Assim, a arma Katyusha era originalmente a denominação para os foguetões utilizados pelos multi-lançadores, que eram transportados em diversos tipos de camiões. Depois da guerra, os soviéticos aperfeiçoaram estes multi-lançadores, com o surgimento do míssil 122mm BM-21 GRAD, colocados em viaturas diversas e com diverso número de tubos. 

Aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo uni-tubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existente (CCAÇ 4740, 72/74 – Cufar).

Hoje, o uso de lançadores múltiplos de mísseis encontra-se difundido pela maior parte dos exércitos de todo o mundo.

De facto, a denominação Katyusha foi atribuída aos mísseis do tempo da IIª GM, que usavam vários calibres e eram transportados em camiões, mas tornou-se usual utilizar este nome, como “nick name”, uma alcunha, para os foguetões usados em multi-lançadores, mesmo os fabricados por outros países.

Eu, na Guiné, sempre utilizei a terminologia foguetão 122, quando me referia a esta arma (o IN usou-a na nossa zona, depois de passar entre a área de Cancolim e Galomaro e atacou Bafatá em 1972, embora sem grandes prejuízos), mas ouvi, também, muita gente referir-se como foguetão do tipo katyusha. No entanto, do que li, a terminologia katyusha é usada, unicamente, para os mísseis usados em lançadores múltiplos.

Espero ter dado uma ajuda sobre este tema.


Um abraço

Luís Dias

Fotos: © António Barbosa (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Vd. também o último poste desta série em:

9 de julho de 2011 > Guiné 63/74 – P8533: Armamento (6): As caixas de madeira ou de metal que nos causavam muito respeito (Luís Dias)

10 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Luís Dias:em Novembro de 69, Bolama foi atacada com foguetões. O cubano, capitão Peralta, que foi apanhado pelas NT creio ter estado envolvido nesse ataque.
Foi quando embarquei (4 de Dez) e, como tinha que ir ao Hospital tratar de assuntos da Companhia,- finais de Nov. - ainda o vi ao longe através, creio eu, do vidro da porta. Não interessa. O que eu gostava de saber era que foguetões foram utilizados e se esse cubano estava envolvido. Se souberes apita.
Um abraço do T.

Anónimo disse...

É bastante esclarecedora a intervenção do nosso especialista em armamento, o Luís Dias... Destaco duas frases:

(....) [Os russos] aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo uni-tubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existente (CCAÇ 4740, 72/74 – Cufar)". (...)

(...) "Eu, na Guiné, sempre utilizei a terminologia foguetão 122, quando me referia a esta arma (o IN usou-a na nossa zona, depois de passar entre a área de Cancolim e Galomaro e atacou Bafatá em 1972, embora sem grandes prejuízos), mas ouvi, também, muita gente referir-se como foguetão do tipo Katyusha. No entanto, do que li, a terminologia Katyusha é usada, unicamente, para os mísseis usados em lançadores múltiplos". (...)

É possível que o PAIGC tenha utilizado, junto às fronteiras (norte, sul e leste), o Katyusha em lançadores múltiplos, montados em camiões... Era bom documentar isso, através de testemunhos dos nossos camaradas.


O Nuno Rubim, outro dos nossos especialistas em armamento do PAIGC, fala sempre no GRAD...

(LG)

Luís Graça disse...

Nuno Rubim chama-lhe "foguete", o que me parece mais apropriado... O Nuno é provavelmente o maior especialista de armamento (armas pesadas de infantaria, e artilharia...), usado por nós e pelo PAIGC no TO da Guiné... (Infelizmente, não tenho tido notícias dele). LG

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Vd. poste do Nuno Rubim, de 10 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1828: Armamento do PAIGC (3): O Foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (Nuno Rubim)

(...) Caro Luís:

Para complementar as informações sobre o Foguete de 122 mm, utilizado pelo PAIGC, aqui vão mais alguns dados:

(i) O Sistema era conhecido pelo PAIGC como Arma Especial - Grad;

(ii) Era uma arma de artilharia, de bater zona e não de tiro de precisão;

(iii) O alcance máximo era de 11.700 m para 40º de elevação. Segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de Novembro de 1969, a 9.800 m.

(iv) Como se poderá ver nas imagens acima, o foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho ) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade afim de estabilizar a vôo. As alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo.

Enviei para o blogue, há algum tempo, a fotografia do Tubo que se encontra no Museu Militar de Lisboa, que julgo ser o capturado em Cufar, em Janeiro de 1973. (...)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/06/guin-6374-p1828-armamento-do-paigc-3-o.html

Luís Dias disse...

Caro Luís Graça

O nome GRAD dado ao míssil soviético 122mm, embora incompleto, é correcto. De facto e como referi no meu post, os russos aperfeiçoaram um foguetão/foguete (também lhe chamei assim), a partir de 1963, ao qual denominaram BM-21 GRAD e a partir de 1964, foram produzidos diversos tipos desta série e também um míssil portátil - o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B e que é também um GRAD.
Um abraço.
Luís Dias

Luís Dias disse...

Caro Amigo e Camarada Torcato

O Capitão cubano Pedro Rodrigues Peralta foi capturado por forças pára quedistas da CCP122, no dia 18 de Novembro de 1969. Segundo relatos existentes o ataque a Bolama terá sido no dia 4 de Novembro de 1969. Assim, há fortes hipóteses do mesmo ter estado envolvido nesse ataque.
De facto, como sabemos, os militares cubanos eram conselheiros militares do PAIGC e também, como se dizia, serviam de apontadores/reguladores de tiro de armas pesadas, retirando-se para zonas mais seguras quando os ataques/flagelações tinham início.
Em 14 de Dezembro de 1972, encontrava-me num curso de Unidades Africanas, em Bolama, sob a direcção do então Major Coutinho e Lima (que mais tarde ordenaria a retirada de Guileje), quando ao princípio da noite fomos atacados por forças do PAIGC, com recurso a canhões sem recuo e morteiros pesados. As nossas comunicações conseguiam ouvir diversas ordens a serem dadas na língua de Cervantes, com recurso a códigos com referência a países Sul-americanos, deduzindo-se tratar-se de elementos cubanos que os estavam a apoiar. O ataque foi atribuído às forças comandadas por Nino Vieira.
Segundo o post de Nuno Rubim de 2007, também aqui assinalado pelo LG, o ataque a Bolama nessa altura terá sido pelos mísseis GRAD.
..."O alcance máximo era de 11.700 m para 40º de elevação. Segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de Novembro de 1969, a 9.800 m.".
Um abraço
Luís Dias

Torcato Mendonca disse...

Obrigado Luís Dias.
Com as outras notas fico a saber mais sobre esta arma.
Com o Cor Nuno Rubim aprende-se e contigo igualmente. O Cor.Rubim tirou-me, a mim e não só, dúvidas. Além disso deixou-me uma frase que não esqueço: -"um dia em que nada se aprende é um dia perdido". Agradecesse e praticasse.

Sobre o cubano Peralta, não sei ao certo se lá esteve ou não. Andava na zona e junto ao Nino. Certamente que sim. Parece que estava adoentado aquando da captura. A emboscada ,parece-me , ter sido montada para o Nino.
Os cubanos tomaram parte directa na luta armada e a minha Companhia tem a certeza disso.A emboscada da fonte foi montada por um ou mais.Foi o meu corte com tal gente. No Poidom fiquei com o boné de um. Perdi o mais importante o conteúdo do boné. As fotos que estavam no boné podiam ter sido enviadas para a Embaixada de Cuba em Lisboa. Uma deselegância cometida.
Ob e um Ab do T.

Anónimo disse...

Rectificações

Os "foguetes" 122 mm, eram disparados de um tubo com alma lisa, mas que tinham uma ranhura onde se encaixava um "perne" da base do foguete para que este quando disparado tivesse um movimento de rotação de forma a que se abrissem,por inércia, as "aletas" de estabilização de voo.

O capitão Peralta esteve na organização do ataque a Buba, por sinal mal planeada,felizmente para as nossas NT .

Quando foi ferido e capturado,no "corredor de Guilege" pela CCP 122, esta operação tinha como finalidade capturar o Nino.

Os cubanos iniciaram a cooperação com o paigc só com médicos e fora da Guiné,por vontade expressa do Amilcar Cabral, tendo posteriormente sido alargada a militares no terreno.Estes tinham como função principal o planeamento de operações e manobrar as armas pesadas.

Tiveram 18 baixas no total.

C.Martins

Anónimo disse...

"Os cubanos iniciaram a cooperação com o paigc só com médicos e fora da Guiné,por vontade expressa do Amilcar Cabral"

C. Martins, ao afirmares esta ideia, embora sem documentação, podemos quase dizer, que os cubanos militares tinham ideias diferentes de Amilcar.

Ou seja o Capitão Peralta e colegas, tinham uma estratégia contrária à de Amilcar.

As coisas que se podem imaginar ao "bricarmos" com estas recordações.

E quantos lutas que Amilcar tinha que enfrentar.

Cumprimentos

Luís Dias disse...

Caro Luís Graça

Eu escrevi foguetão 122mm, porque foi assim que sempre ouvi chamar-lhe na Guiné (possivelmente dos apontamentos militares existentes para nossa informação sobre esta arma).

Acontece que hoje ao percorrer a net em busca de uma foto sobre este foguetão, acedi ao site:http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_equipamento_militar_utilizado_na_Guerra_do_Ultramar, e lá está também a designação de Foguetão para este míssil.

Vou-te enviar fotos do míssil e do lançador uni-tubo.

Um abraço.

Luís Dias

Anónimo disse...

Para o anónimo

Eu escrevi "iniciaram".
Sobre documentação...remeto para uma entrevista a Luís Cabral, recentemente retransmitida pela RTP,após o seu falecimento.
Sou irónico em geral, mas não brinco com assuntos sérios.
Cumprimentos

C.Martins