O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a seguinte mensagem.
Operação Tridente - O ignorado agrupamento E
Parte 1
Porque lhe chamo ignorado
agrupamento E, o qual era composto pela CCaç 557 e comandado pelo capitão Ares?
A razão é simples: quando pesquiso Operação Tridente surge na maioria dos sites
agrupamento A, B, C e D; parece que o agrupamento E não existiu… Será por -
opinião pessoal - ter sido o mais sacrificado durante e após a operação
tridente.
Cito: A começar pelo
desembarque para a ocupar a posição no Cachil com o especial apoio do 7º
destacamento de fuzileiros enquanto os agrupamentos A, B, C e D desembarcaram
numa praia de areia límpida, quase de certeza que um dos desejos seria tomar
banho e gozar o prazer da temperatura ambiente a rondar os 40º, mas a missão
não era o turismo mas sim a guerra, o mal que lhes poderá ter acontecido foi
molhar os pés na água salgada…
Já o agrupamento E
desembarcou no lodo movediço do rio Cumbijã em que só os primeiros 3 ou 4
fuzileiros conseguiram alcançar terra firme. Os que se seguiram ficaram
atolados no lodo e só com a ajuda de uma corda conseguiram sair de lá puxados
para um bote de borracha. Quanto mais se mexiam mais se submergiam e não estou
a falar da tropa macaca, estou-me a referir a elementos de fuzileiros do 7º
destacamento, homens treinados a andar no lodo. Mas com os fuzileiros em terra
estes partiram, cortaram com a ajuda de uma catana vários ramos de árvores que
colocaram sobre o lodo e fizeram um improvisado cais de desembarque onde o
pessoal passou.
Recordo as últimas
palavras ouvidas através de megafone na LDM:
- Atenção camaradas e
amigos, prá frente é que é o caminho!
E por mais que viva, a
gravação continua viva a minha mente, ainda hoje se houvesse possibilidades de
a ouvir eu reconheceria a voz, a seguir uma ponte construída pelo pessoal
nativo que era um autêntico baloiço mas de um em um todos passaram, um pouco
mais à frente uns tiros de aviso.
O que acabo de relatar não
posso comprovar com fotos porque o rolo desapareceu quando foi enviado para ser
revelado. Suposição minha, alguém deve ter considerado as fotos de valor extra
ou comprometedoras para quem mandou fazer aquele desembarque naquela hora e
naquele local, ou então incúria do SPM (serviço postal militar).
Na ocupação do Cachil, nos
primeiros dias tivemos o apoio do 7º destacamento de fuzileiros comandado pelo
1º tenente Ribeiro Pacheco mas passado uma semana ou duas, não posso precisar, passamos
a ficar quase sós. Estávamos reforçados com uma secção de milícias, mais tarde
quase no final da operação passamos a contar com uma secção do pelotão de
morteiros 912 e amputados do 2º pelotão que estava em Caiar às ordens do tenente-coronel
Fernando Cavaleiro, do BCAV 490, isolados naquele ponto da Ilha a atacar e
defender, enquanto no lado de Cauane e Caiar, a que nós chamávamos a praia, estava
um batalhão completo reforçado e apoiado por um pelotão de comandos de vinte
homens, um pelotão de pára-quedistas, um pelotão de caçadores fulas, um pelotão
de morteiros, duas bocas-de-fogo de obus 8.8 pessoal, sapadores distribuídos
pelos vários agrupamentos e o 2º pelotão da CCAÇ 557.
Vejam a disparidade de
forças de um lado e do outro, para não falar dos fuzileiros que, esses, quando
era nos dias para atacar apareciam sempre, umas vezes o 2º destacamento do 1º
tenente Faria de Carvalho, o 7º do 1º Tenente Ribeiro Pacheco ou o oitavo, do
1º tenente Alpoim Calvão.
Continuando a minha
análise ao ignorado agrupamento E, fiquei indignado com a montagem quando há
dias estava a rever o episódio da guerra colonial do jornalista Joaquim Furtado
sobre a Op Tridente. A certo passo da entrevista com o 2º tenente José Luís
Couceiro, o imediato do 2º destacamento de fuzileiros diz terem abatido um
guerrilheiro que na altura se comentou ser o famoso agricultor guerrilheiro
Pansau Na Isna. Não ponho em causa as palavras do tenente José Luís Couceiro,
ele também não afirma, diz que se dizia, mas uma coisa eu tenho a certeza, a
arma que põem ao lado do tenente José Luís Couceiro é montagem, não foi
capturada naquele dia nem naquele local. Armas, Kalashnikov, há muitas iguais
mas a base onde ela está que serve de cenário é que tinha que ser diferente.
Para comparar, ver a foto
nº 3 [P1170648.jpg], a arma Kalashnikov, a célebre costureirinha, ao lado do
tenente Couceiro, com a chancela RTP1, a única coisa diferente foi ter sido
rodada para a vertical e a chancela da RTP1 quando na foto genuína está na
horizontal - foto nº 4 - [P1170613.jpg].
Esta arma foi capturada na
mata do Cachil, na manhã do dia 17 de Novembro de 1964 no último ataque que a
557 sofreu no Cachil. Com ela foi abatido e capturado o elemento que a usava.
Além da arma, o guerrilheiro também tinha com ele uma pistola de defesa pessoal
e granadas de mão que segue em anexo. Pelos adereços [roncos] que usava devia
ser um guerrilheiro com uma certa predominância no meio da guerrilha.
Na foto nº 2 [P1170609.jpg], vê-se guerrilheiro abatido e capturado na manhã de 17 de Novembro de 1964. Posso dizer que esta foto também passa na reportagem do jornalista Joaquim Furtado mas sem comentário.
Foto nº 1 [P1170498.jpg] - Elementos da CCaç 557 no caminho do cais do Cachil para o quartel. Á frente o que está em 2º lugar, é o ex-alferes Hélder Ildefonso Leal.
Foto nº 3 [P1170648.jpg] - A montagem da arma ao lado do tenente Couceiro. [Fonte: RTP1. Com a devida vénia]
Foto nº 4 [P1170613.jpg] - A foto genuína da arma, obtida no dia 17 de Novembro de 1964, no quartel do Cachil.
Foto nº 5 [P 1170614.jpg] - A pistola de defesa pessoal, o cantil da água e alguns objectos de usados pelo próprio guerrilheiro.
Foto nº 6 [P 1170615.jpg] - Adereços vários do guerrilheiro que quase todos os nativos faziam brio e fé em usar.
Nota: As fotos, todas elas,
são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram
reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de
Caçadores 557.
José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557
(Continua)
Fotos: © José Colaço (2011).
Todos os direitos reservados.
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