sábado, 14 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9351: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: o ignorado Agrupamento E (CCAÇ 557): Parte I (José Colaço)




O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a seguinte mensagem. 


Operação Tridente - O ignorado agrupamento E

Parte 1


Porque lhe chamo ignorado agrupamento E, o qual era composto pela CCaç 557 e comandado pelo capitão Ares? A razão é simples: quando pesquiso Operação Tridente surge na maioria dos sites agrupamento A, B, C e D; parece que o agrupamento E não existiu… Será por - opinião pessoal - ter sido o mais sacrificado durante e após a operação tridente.

Cito: A começar pelo desembarque para a ocupar a posição no Cachil com o especial apoio do 7º destacamento de fuzileiros enquanto os agrupamentos A, B, C e D desembarcaram numa praia de areia límpida, quase de certeza que um dos desejos seria tomar banho e gozar o prazer da temperatura ambiente a rondar os 40º, mas a missão não era o turismo mas sim a guerra, o mal que lhes poderá ter acontecido foi molhar os pés na água salgada…

Já o agrupamento E desembarcou no lodo movediço do rio Cumbijã em que só os primeiros 3 ou 4 fuzileiros conseguiram alcançar terra firme. Os que se seguiram ficaram atolados no lodo e só com a ajuda de uma corda conseguiram sair de lá puxados para um bote de borracha. Quanto mais se mexiam mais se submergiam e não estou a falar da tropa macaca, estou-me a referir a elementos de fuzileiros do 7º destacamento, homens treinados a andar no lodo. Mas com os fuzileiros em terra estes partiram, cortaram com a ajuda de uma catana vários ramos de árvores que colocaram sobre o lodo e fizeram um improvisado cais de desembarque onde o pessoal passou.

Recordo as últimas palavras ouvidas através de megafone na LDM: 

- Atenção camaradas e amigos, prá frente é que é o caminho!

E por mais que viva, a gravação continua viva a minha mente, ainda hoje se houvesse possibilidades de a ouvir eu reconheceria a voz, a seguir uma ponte construída pelo pessoal nativo que era um autêntico baloiço mas de um em um todos passaram, um pouco mais à frente uns tiros de aviso.

O que acabo de relatar não posso comprovar com fotos porque o rolo desapareceu quando foi enviado para ser revelado. Suposição minha, alguém deve ter considerado as fotos de valor extra ou comprometedoras para quem mandou fazer aquele desembarque naquela hora e naquele local, ou então incúria do SPM (serviço postal militar).

Na ocupação do Cachil, nos primeiros dias tivemos o apoio do 7º destacamento de fuzileiros comandado pelo 1º tenente Ribeiro Pacheco mas passado uma semana ou duas, não posso precisar, passamos a ficar quase sós. Estávamos reforçados com uma secção de milícias, mais tarde quase no final da operação passamos a contar com uma secção do pelotão de morteiros 912 e amputados do 2º pelotão que estava em Caiar às ordens do tenente-coronel Fernando Cavaleiro, do BCAV 490, isolados naquele ponto da Ilha a atacar e defender, enquanto no lado de Cauane e Caiar, a que nós chamávamos a praia, estava um batalhão completo reforçado e apoiado por um pelotão de comandos de vinte homens, um pelotão de pára-quedistas, um pelotão de caçadores fulas, um pelotão de morteiros, duas bocas-de-fogo de obus 8.8 pessoal, sapadores distribuídos pelos vários agrupamentos e o 2º pelotão da CCAÇ 557.

Vejam a disparidade de forças de um lado e do outro, para não falar dos fuzileiros que, esses, quando era nos dias para atacar apareciam sempre, umas vezes o 2º destacamento do 1º tenente Faria de Carvalho, o 7º do 1º Tenente Ribeiro Pacheco ou o oitavo, do 1º tenente Alpoim Calvão.

Continuando a minha análise ao ignorado agrupamento E, fiquei indignado com a montagem quando há dias estava a rever o episódio da guerra colonial do jornalista Joaquim Furtado sobre a Op Tridente. A certo passo da entrevista com o 2º tenente José Luís Couceiro, o imediato do 2º destacamento de fuzileiros diz terem abatido um guerrilheiro que na altura se comentou ser o famoso agricultor guerrilheiro Pansau Na Isna. Não ponho em causa as palavras do tenente José Luís Couceiro, ele também não afirma, diz que se dizia, mas uma coisa eu tenho a certeza, a arma que põem ao lado do tenente José Luís Couceiro é montagem, não foi capturada naquele dia nem naquele local. Armas, Kalashnikov, há muitas iguais mas a base onde ela está que serve de cenário é que tinha que ser diferente.

Para comparar, ver a foto nº 3 [P1170648.jpg], a arma Kalashnikov, a célebre costureirinha, ao lado do tenente Couceiro, com a chancela RTP1, a única coisa diferente foi ter sido rodada para a vertical e a chancela da RTP1 quando na foto genuína está na horizontal - foto nº 4 - [P1170613.jpg].

Esta arma foi capturada na mata do Cachil, na manhã do dia 17 de Novembro de 1964 no último ataque que a 557 sofreu no Cachil. Com ela foi abatido e capturado o elemento que a usava. Além da arma, o guerrilheiro também tinha com ele uma pistola de defesa pessoal e granadas de mão que segue em anexo. Pelos adereços [roncos] que usava devia ser um guerrilheiro com uma certa predominância no meio da guerrilha.



Na foto nº 2 [P1170609.jpg], vê-se guerrilheiro abatido e capturado na manhã de 17 de Novembro de 1964. Posso dizer que esta foto também passa na reportagem do jornalista Joaquim Furtado mas sem comentário.



Foto nº 1 [P1170498.jpg] - Elementos da CCaç 557 no caminho do cais do Cachil para o quartel. Á frente o que está em 2º lugar, é o ex-alferes Hélder Ildefonso Leal.



  Foto nº 3 [P1170648.jpg] - A montagem da arma ao lado do tenente Couceiro. [Fonte: RTP1. Com a devida vénia]


Foto nº 4 [P1170613.jpg] - A foto genuína da arma, obtida no dia 17 de Novembro de 1964, no quartel do Cachil.


Foto nº 5 [P 1170614.jpg] - A pistola de defesa pessoal, o cantil da água e alguns objectos de usados pelo próprio guerrilheiro.



Foto nº 6 [P 1170615.jpg] - Adereços vários do guerrilheiro que quase todos os nativos faziam brio e fé em usar.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

(Continua)

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.

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