1. Mensagem da nossa amiga e tertuliana Felismina Costa *, com data de 21 de Setembro de 2011:
Boa noite Editor e Amigo Carlos Vinhal
É apenas o registo de alguns momentos deste meu dia. Um dia emocionante, porque a emoção é uma companheira permanente na minha vida.
Aliás, a vida... emociona-me permanentemente!
Quando olho à minha volta, tudo me transcende. Tudo me merece admiração e respeito.
Se achar que não vale a pena ser editado, ignore simplesmente.
Um abraço fraterno e os meus agradecimentos pela sua paciência.
Felismina Costa
Recanto da Serra de Sintra, em dia Invernoso, que fotografei em 2009
Foto: © Felismina Costa (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. Termina o Verão de 2011
O dia esteve fabuloso, de uma luminosidade fantástica!
Porque estou de férias, aproveitei a manhã, e, numa calma gostosa e descontraída, saí para viver o meu dia e olhar, com olhos de ver, cada pedra e relevo do meu Bairro.
Ao fundo da Rua cidade de Bruxelas, neste bairro onde habito há tantos anos, desfruto de uma vista maravilhosa sobre a serra de Sintra!
Ao longe, a uns dez quilómetros de distância, ela insinua-se alongada e assimétrica:
À sua direita, oferece-nos a visão fantástica do Palácio Nacional da Pena, que representa, segundo a wikipédia, (uma das melhores expressões do romantismo arquitectónico do século dezanove, no mundo.) Tão gostoso de ver, mesmo a esta distância, promovendo a visão imaginária de quem o habitou inicialmente.
Na sua assimetria, a serra, vista daqui, evidência relevos maternais, grandes seios, onde o sol se esconde ao fim do dia, e que eu, encantada, venho observar com frequência, feliz por poder fazê-lo.
Mas, hoje de manhã, desci a rua, fiz o pequeno circuito de manutenção (Abel dos Santos) e desci mais uma vez até à Ribeira. Havia uma paz, um sossego provinciano, difícil de imaginar por estas paragens!
Aspirei fundo a manhã gostosa!
Sorri para as árvores, para a relva molhada pela rega matinal, para as aves felizes nas margens da ribeira!
Olhei o céu…deslumbrada! Nem uma pequena nuvem se atreveu a manchar aquele azul velho, que todo o dia esteve em exposição permanente!
Sentei-me na esplanada. Pedi um sumo de fruta, peguei num livro que o Agostinho Gaspar teve a gentileza de me enviar, intitulado: (A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial) de Ana Bela Vinagre… e li. Digo-vos, as primeiras páginas, parecia ter sido eu a escrevê-las. Tão fiel está a descrição do que vivi e senti, quanto à guerra, e a toda a realidade contextual.
Arrepiei-me. Tive medo da emoção, por ter encontrado descrito com exactidão o que vivenciei. O tempo em que cresci. Foi… como se tivesse voltado… aquele tempo, vivendo todas aquelas realidades, saudosa apenas da família que tive, da infância e juventude que tive, do que perdi… Foi como uma viagem ao passado, a preto e branco. Senti frio, no dia quente.
Reagi. Fechei o livro, para ganhar ânimo, para continuar a lê-lo. Amanhã vou continuar a leitura.
Fechei na página 72.
Encetei o regresso casa. A meio do percurso, encontrei uma grande amiga e um enorme sorriso no rosto de cada uma e os braços abertos, expressando a alegria do encontro, foi um lenitivo fabuloso. Marcamos encontro amanhã no Shopping às 9h30 para tomar juntas o pequeno almoço e falarmos um pouco do que nos preocupa e nos alegra.
Ao final do dia, voltei novamente à Rua Cidade de Bruxelas. Não perdia por nada o espectáculo. Sentei-me numa pedra do rústico e pequeno jardim ali existente e esperei, que aquela bola única, descendo sobre a serra, se escondesse brilhando entre os seios da Terra-Mãe.
Senti uma paz única!
Sorri sozinha, emocionada, agradecida.
A serra ficou na penumbra. Tranquila, como uma mãe que aconchega os filhos ao fim do dia e os vê dormir sob a sua protecção…
Que grande dia, que fechou mais um verão das nossas vidas!
Nem uma folha bulia e a temperatura entre os vinte cinco, vinte e sete graus, convidavam a passear, a olhar a noite, que vinha a caminho, grande, misteriosa e sabedora.
Felismina Costa
Agualva, 21 de Setembro de 2011
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8669: Efemérides (54): 104.º aniversário de Miguel Torga (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 23 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8595: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (32): Hoje almocei com o Joaquim Gaspar (Joaquim Mexia Alves)