Hamburgo > 1967 > O António Graça de Abreu e a sua namorada alemã
Hamburgo > Ao centro, a imponente Rauthaus, a câmara municipal
Hamburgo > O famoso Star Club, em Reeperbahn, onde os Beatles tocaram, em 1962, antes de se tornarem famosos
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 280 referências no blogue.
António Graça de Abreu
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[ Texto e fotos recebidos em 16/7/2021]
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 280 referências no blogue.
Hamburgo, Alemanha, 1967
A cidade de Hamburgo, nos meus dezanove anos, por causa da menina do Elba, loira e linda.
Bramfeld, a rua Steilshooperstrasse, o Stadtpark, encaminhar os meus passos. O senhor Balk, meu potencial sogro, nascido em Danzig, actual Polónia. Havia sido, então há vinte cinco anos atrás, soldado de Hitler, marchando, consumindo-se, combatendo na campanha da Rússia. Regressou vivo, sobreviveu à guerra. Falava pouco, saía de casa ao fim da tarde para, com amigos, se encharcar em schnapps, as aguardentes tedescas. Mas, com a minha quase sogra de Berlim, fez esta filha de olho azul e cabelos de ouro, doce e perfeita, meia de alabastro, meia de marfim, que me acompanhava e tomava conta de mim.
O Alstersee dividido em dois lagos, quantas vezes atravessado no frio do Inverno, à noite, com neve caindo devagar, no silêncio das águas geladas… Logo ali ao lado, levantava-se a imponência do rendilhado do poder na Rathaus, o palácio do município onde ainda havia judeus gerindo, governando.
Hamburgo, cidade hanseática, o rio Elba, o trato, o comércio, o saber fazer, o porto unido a todos os recantos do mundo.
Nesse tempo era a serena loucura, quase um ano na organizada e disciplinada Germânia, estudando alemão, trabalhando doze horas por dia numa espécie de restaurante, um Selbstbedienung encaixado na Hauptbanhof, a estação central dos caminhos de ferro.
Aos fins de semana, com a menina de Hamburgo, íamos dançar, unindo corpos e bocas no recato de uma discoteca romântica por detrás da Jungfernstieg, a rua central, ou, em alternativa, íamos pular, saltar com a batida das bandas de ocasião no Star Club, em Reeperbahn, onde os Beatles, recentemente, antes da fama, haviam tocado.
Recordo a visita à cidade de um decadente e obsoleto Xá da Pérsia. Grandes manifestações contra a sua presença, eu, entre estudantes alemães e muitos jovens iranianos a estudar em escolas de Hamburgo e Berlim, e os gritos "morte ao xá!".
Nos protestos, em Berlim, então sitiada entre Leste e Oeste, tiros da polícia e um jovem alemão assassinado [ em 2 de junho de 1967 ], de nome Benno Ohnesorg . (Vd. Wipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Benno_Ohnesorg). Perfazia vinte anos, tal como eu. Os estudantes iranianos iriam em breve regressar a Teerão. Depois do ódio ao xá, reverenciariam o Aiatolah Khomeini.
Bramfeld, a rua Steilshooperstrasse, o Stadtpark, encaminhar os meus passos. O senhor Balk, meu potencial sogro, nascido em Danzig, actual Polónia. Havia sido, então há vinte cinco anos atrás, soldado de Hitler, marchando, consumindo-se, combatendo na campanha da Rússia. Regressou vivo, sobreviveu à guerra. Falava pouco, saía de casa ao fim da tarde para, com amigos, se encharcar em schnapps, as aguardentes tedescas. Mas, com a minha quase sogra de Berlim, fez esta filha de olho azul e cabelos de ouro, doce e perfeita, meia de alabastro, meia de marfim, que me acompanhava e tomava conta de mim.
O Alstersee dividido em dois lagos, quantas vezes atravessado no frio do Inverno, à noite, com neve caindo devagar, no silêncio das águas geladas… Logo ali ao lado, levantava-se a imponência do rendilhado do poder na Rathaus, o palácio do município onde ainda havia judeus gerindo, governando.
Hamburgo, cidade hanseática, o rio Elba, o trato, o comércio, o saber fazer, o porto unido a todos os recantos do mundo.
Nesse tempo era a serena loucura, quase um ano na organizada e disciplinada Germânia, estudando alemão, trabalhando doze horas por dia numa espécie de restaurante, um Selbstbedienung encaixado na Hauptbanhof, a estação central dos caminhos de ferro.
Aos fins de semana, com a menina de Hamburgo, íamos dançar, unindo corpos e bocas no recato de uma discoteca romântica por detrás da Jungfernstieg, a rua central, ou, em alternativa, íamos pular, saltar com a batida das bandas de ocasião no Star Club, em Reeperbahn, onde os Beatles, recentemente, antes da fama, haviam tocado.
Recordo a visita à cidade de um decadente e obsoleto Xá da Pérsia. Grandes manifestações contra a sua presença, eu, entre estudantes alemães e muitos jovens iranianos a estudar em escolas de Hamburgo e Berlim, e os gritos "morte ao xá!".
Nos protestos, em Berlim, então sitiada entre Leste e Oeste, tiros da polícia e um jovem alemão assassinado [ em 2 de junho de 1967 ], de nome Benno Ohnesorg . (Vd. Wipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Benno_Ohnesorg). Perfazia vinte anos, tal como eu. Os estudantes iranianos iriam em breve regressar a Teerão. Depois do ódio ao xá, reverenciariam o Aiatolah Khomeini.
No pequenino quarto alugado na pensão de Frau Hamm, um amor bonito para enfeitar os dias. Inge Balk e António, um infindável abraço luso-alemão. No Verão, a janela aberta para o respirar do jardim situado em frente, Planten un Blomen, plantas e flores.
António Graça de Abreu
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22378: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XII: Las Vegas, Nevada, Estados Unidos da América, 2005: What a wonderful world!
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22378: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XII: Las Vegas, Nevada, Estados Unidos da América, 2005: What a wonderful world!