Mostrar mensagens com a etiqueta Bissau. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bissau. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26393: Historiografia da presença portuguesa em África (461): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos em 1891, chegamos a 1892 (18) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
É o final da governação de Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, irá entrar em funções Luís Vasconcelos e Sá. No acto de posse do novo governador, o secretário-geral interino, o capitão Passalagua, produz uma peça impressionante, não esconde o tumulto em que vive a província, as operações no Geba, as sequelas da guerra do Forreá, a necessidade de expulsar Mussa Moló, as hostilidades de Papéis, Balantas e Grumetes na ilha de Bissau; debelavam-se as sublevação, faziam-se acordos de paz, tudo era precário, o capitão Viriato Zeferino Passalagua dirá mesmo ao recém-chegado governador que ele está ao comando de uma província onde tem que combater e destruir um a um os obstáculos. E começa-se o ano de 1892 com uma espantosíssima concessão de terrenos a dois condes de apelido Buttler, concessões extensíssimas, espalhadas por todo o território, terão morrido à nascença, a vida das sociedades agrícolas e comerciais na Guiné, com exceções daquelas que irão prosperar como a Gouveia e a Sociedade Comercial Ultramarina, tiveram vida meteórica.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos em 1891, chegamos a 1892 (18)


Mário Beja Santos

Como se procurou sublinhar no texto anterior, o Governador Augusto Rogério Gonçalves dos Santos envolveu-se na operação a que chamou Guerra de Geba; no ano anterior houvera outro foco de incêndio, a Península de Bissau, hostilidades de Papéis, Balantas e Grumetes, fora debelada. Quanto à guerra de Bissau, o Governador tomara decisões: nomeou um oficial da classe dos capitães, conhecedor da ilha, Caetano Alberto da Costa Pessoa, tudo correu bem; a guerra de Geba envolveu lanchas canhoneiras a cooperar com a coluna de operações na circunscrição de Geba, sufocada a rebelião era louvado o capitão Zacarias de Sousa Lage pela dedicação, coragem, brio e valor militar e mérito com que dirigira as operações. E no rol dos louvores também apareceram civis:
“Tendo chegado ao meu conhecimento os serviços que a este Governo levaram diversos negociantes estabelecidos em Bissau, quando foi organizada a coluna de operações que devia bater os revoltosos na circunscrição do presídio de Geba, cujos serviços são dignos de ser tomados na maior consideração da sua natureza e importância, atendendo às circunstâncias em que foram prestados:
Hei por conveniente louvar os cidadãos seguintes:
Cidadãos franceses Gentil Maffrá e Benjamin Potin pelo oferecimento que fizeram como agentes da casa Blanchard & Companhia, de duas embarcações para transportarem tropas a Geba e não terem exigido frete por material que para ali foi transportado em embarcações diversas pertencentes à casa que representam;
Súbdito alemão Otto Schacht, como representante de Bernardo Soller; pelo oferecimento que fez de duas embarcações para conduzirem força e género a Geba, e duzentas libras de pólvora para auxiliares, e por ter gratuitamente posto à disposição do comandante militar de Bissau uma embarcação para descarregar carvão de pedra que estava a bordo do vapor Bissau;
José Sebastião de Sena, súbdito português, por ter oferecido um bote para transportar arroz para os auxiliares em Geba – e uma chalupa para transportar a esta capital uma força vinda do Geba;
Ricardo Barbosa Vicente, súbdito português, por ter oferecido uma chalupa para o desembarque do carvão de pedra que estava a bordo do vapor da empresa nacional.”


A 22 de junho de 1891 mudamos de Governador, agora é o tenente-coronel Luís Vasconcelos e Sá, toma posse com pompa e circunstância, recebe as laudes do secretário-geral interino, capitão Zeferino Passalagua. Avisa o novo Governador que a área da província é grande, porém a esfera de ação do domínio português é limitada. Fora dos pontos por nós ocupados e além de uma faixa com a escassa largura de 120 metros em volta dos muros ou das paliçadas que delimitam esses escassos pontos da presença portuguesa, a nossa autoridade e o nosso prestígio são iguais a zero, diz o secretário-geral interino. Entende não dever dizer na cerimónia as causas do abatimento, o novo Governador irá ler os documentos oficiais, limita-se a dizer a quem chega que os diversos selvagens que povoam esta região não conhecem o deslumbramento da civilização e do progresso – "são hoje tão selvagens como há quatro séculos quando ocupámos esta colónia; enquanto não conseguirmos civilizá-los, não conseguirmos também que o nosso prestígio se alevante e a nossa autoridade seja conhecida e respeitada.” E vai continuando a dizer verdades como esta: A não ser na ilha de Bissau, em que a nossa autoridade é respeitada, nos outros pontos é permanente o desassossego. Refere o que se passou no Forreá, que em Buba é preciso uma vigilância permanente, o presídio de Geba também não goza de tranquilidade e na sua circunscrição há permanente rebelião; o secretário-geral interino não esquece os dissabores provocados por Mussa Moló. E termina assim a sua alocução:
“Vem Vossa Excelência governar-me a província onde tem que combater e destruir um a um os obstáculos, os atritos e as dificuldades que a todo o momento hão de surgir, para prejudicar todos os projetos que Vossa Excelência conceber para bem administrar esta colónia; e quanto mais sublimes e grandiosos forem esses projetos, maior será a luta em que Vossa Excelência terá de empenhar-se para conseguir alevantar a província do marasmo, que a definha.”

Início de novo ano, há estrangeiros a cobiçar as terras da Guiné. No Boletim Official n.º 2, de 9 de janeiro, vemos que o Governo está pronto a cedências, através da Direção Geral do Ultramar, do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar. Recorda-se que há consideráveis tratos de terrenos incultos na Guiné, completamente desaproveitados pelos indígenas, são necessários modernos processos agrícolas que assegurem um rápido desenvolvimento moral e intelectual dos habitantes, e depois de vários consideramos decreta-se a concessão para explorações agrícolas cruciais à companhia ou sociedade que for legalmente constituídas pelos súbditos franceses, conde Buttler e conde Raoul Buttler, os terrenos públicos baldios, e são citados territórios manjacos, parte de território das Balantas e Brames situados entre a margem esquerda do rio Cacheu, terrenos na margem direita do rio Geba perto de S. Belchior, territórios limitados a Oeste pelo mar, ao Sul pela margem direita do rio Cacheu até Farim, ao Norte pela fronteira franco-portuguesa… Tudo isto é impressionante, vai até à ilha das Cobras ao Norte de Bolama e às ilhas Caraxe, Caravela e Galinhas. Reza o decreto que ficavam expressamente excluídos da concessão todos os terrenos ocupados e plantados pelo gentio, a companhia devia estar legalmente constituída dentro de um ano, ficando para todos os efeitos sujeita às leis portuguesas. E dizem-se quais as obrigações da sociedade concessionária: explorar agricolamente os terrenos da sua concessão e introduzir novas culturas, até hoje não empreendidas na Guiné; a fazer a exploração vegetal, a fazer todas as obras necessárias para a canalização e navegabilidade do rio Corubal; a ceder ao Governo português os terrenos que forem precisos para a construção de caminhos de ferro, estradas, fortificações, alfândegas ou quaisquer outras obras ou estabelecimentos do Estado. Ao que se sabe, nenhuma concessão foi criada.

Morança do Régulo de Chulame. Manjacos. Região de Cacheu, por Fernando Schiappa de Campos, 1959. Imagem da exposição Habitats tradicionais da Guiné-Bissau¸ que decorreu no Museu Nacional da História Natural e da Ciência, em 2018
Fortaleza de São José da Amura, na atualidade
Todos ao aeroporto de Bolama, é um modesto campo de aviação, vão chegar os aviadores portugueses, 2 de abril de 1925

(continua)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26362: Historiografia da presença portuguesa em África (460): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, começou a última década do século XIX (17) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26363: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: o embarque, no T/T Uíge, de regresso a casa, em 4 de agosto de 1969 (continuação)



Foto nº 2 >  Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda atracado na ponte-cais, visto à noite, ao luar (1)


Foto nº 2A > Guiné > Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda atracado na ponte-cais, à noite ao luar (2)



Foto nº 1 > Guiné > Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda, na ponte-cais, ao amanhecer



Foto nº 3 >  Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  Escadas de acesso e minha entrada a bordo (1)


Foto nº 3 > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  Escadasa de acesso e minha entrada a bordo (2)


Foto nº 4 > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (2) 


Foto nº 4A -   Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (3): na ponte-cais, o N/M  Rita Maria, da Sociedade Geral (SG)


Foto nº 4B > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (4): destaque para o Forte da Amura ao fundo


Foto nº 4C > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (4):  destaque para o edifício da Alfândega à direita



Foto nº 5  > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   A LDG 101, da Marinha, encosta ao nosso navio, para embarcar os miligytares e suas bagagens (1)


Foto nº 5A > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   A LDG 101, da Marinha, encosta ao nosso navio, para embarcar os militares e suas bagagens (2)



Foto nº 6  >  Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha > Tropas ao molhe, aguardando embarque


Foto nº 7 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha > Tropas ao molhe, aguardando embarque... Como se fossem "gado"...



Foto nº 8 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha >  O içar das bagagens... Há quem aguarde em traje pouco regulamentar, tocando violando e entoando quiçá o "Fado da Guiné"


Foto nº 9 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > O navio visto do lado de terra, a LDG 101 e os militares que foram embarcando ao longo da tarde


 Foto n º 10 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > Barcaça civil, vista de cima do nosso navio


Foto nº 11 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > Barcaça civil, vista de cima do nosso navio

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) que estava no sítio certo na altura certa, a preparar o embarque dos seus camaradas, no T/T Uíge, de regresso à Metróple, em 4 agosto de 1969



1. Mensagem do Virgílio Teixeira:

Data - 28/12/2024, 16:17

Assunto - O nosso regresso, no T/T Uíge, em 4ago1969 (*)

No seguimento deste tema (o regresso das Nossas Tropas) (**), envio o lote completo das fotos do meu álbum, cobrinndo esse evento.

Já estão algumas publicadas (***), agora é só fazer a seleção daquilo que interessa para postar e finalizar este impportante momento da nossa vida.

Segue um memorando anexo, com algumas cenas desse evento. As fotos estão cronologicamente numeradas (de 1 a 21, e de 31 a 32) e legendadads.

Um abração. Bom ano se não falarmaos antes e saúde para todos.
Virgílio.
2024-12-28

PS - Agora e depois de ver todo o filme da nossa partida de Bissau, vou comentar algumas fotos e cenas. Ultrapassada a fase das datas (4 e não 10 de agosto de 1969), tenho ainda vários documentos de prova. (...)

Guiné 61/74 - P26362: Historiografia da presença portuguesa em África (460): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, começou a última década do século XIX (17) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Convém recordar que as hostilidades em Geba não foram suspensas e que o governador no fim de 1890 preparou uma expedição comandada pelo capitão Zacarias de Sousa Lage, chamou-lhe Guerra de Geba; no início do ano seguinte, o presidente da Junta de Saúde diz-se claramente favorável a mudar a capital de Bolama para Bissau e explica porquê; isto em simultâneo com a abertura de novas hostilidades dentro da ilha de Bissau que, como veremos adiante, não serão fáceis de debelar.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, começou a última década do século XIX (17)


Mário Beja Santos

O ano de 1890, como vimos, foi marcado por um surto de sublevações, com especial realce para as hostilidades de Mussa Moló, isto na região de Geba. Ainda em 3 de dezembro desse ano o então Governador da Guiné, Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, publicava portarias, acusando Mali-Boiá como rebelde contra as determinações do Governo, assalto à mão armada a povoações pacíficas, hostilidade às autoridades, e procurando a conivência dos régulos do Corubal, Xime, Badora, Guerat, o Governador suspendia as garantias na região do presídio de Geba, mandava preparar uma coluna de operações, determinando a despesa da expedição com o título de guerra de Geba, escrevendo expressamente:
“Desde esta data são considerados rebeldes o referido Mali-Boiá e todos os seus partidários que sejam encontrados armados; como espiões são considerados e como tais, presos, processados e julgados nos termos das leis especiais em vigor para tais casos, todos os indivíduos que pertencerem ao partido de Mali-Boiá; os comandantes militares de Buba e Cacheu e os chefes dos presídios de Geba e Farim, procederão a um arrolamento minucioso de armas e munições de guerra que houverem em casa dos negociantes e os prevenirão de que não podem vender quaisquer desses artigos até que termine a guerra de Geba; hei por conveniente nomear comandante da coluna de operações o capitão Zacarias de Sousa Lage.”

No Boletim Official n.º 3, de 17 de janeiro do novo ano, o mesmo Governador expede novas portarias, chegara ao conhecimento que os negociantes da praça de Geba vendiam pólvora aos Mandigas de Bambadinca, a qual era por estes conduzidas em canoas para fornecer aos rebeldes, e assim proibia expressamente a venda de pólvora em Bissau, fosse a quem fosse, devendo o comandante militar daquela praça proceder contra os infratores.

No Boletim Official n.º 8, de 21 de fevereiro, publica-se o notório do serviço de saúde da Guiné referente a 1889. Nas considerações gerais, escreve o autor:
“Não discutirei se a capital da Guiné teria sido bem escolhida (era Bolama). Temos visto sustentar-se que ela deve ser transferida para a ilha de Bissau, por ser o ponto mais importante do comércio, o mais central da província e com um porto excelente e de fácil acesso para navios de grandes dimensões e tonelagem. São razões de alta ponderação que merecem sério estudo, antes que se façam os melhoramentos de que merece a atual capital da Guiné Portuguesa. Não partilhamos, porém, a opinião de que a capital seja transferida para a vila de Bissau, mas sim para a povoação de Bandim, situada na mesma ilha e próxima da vila. A povoação de Bandim está efetivamente colocada em terreno suficientemente elevado e com vertentes para a praia que é completamente arenosa: vantagens estas que não oferece a vila de Bissau que está situada em terreno baixo e com uma praia completamente lodosa.
Voltando à atual capital da província, diremos que ela precisa de vários melhoramentos dentre os quais avultam mais o aterro da sua extensa praia e o das duas enseadas que a cercam e que são verdadeiros pântanos; bem como a conclusão da ponte-cais de madeira cujas obras estão de há muito suspensas.”


E dirige agora as suas observações para os hospitais:
“O edifício do Hospital de Bolama demanda atualmente urgentes reparações. Este edifício é constituído de um corpo de madeira e compreendido por outro de alvenaria e tijolos ocos. Estes, que são mantidos por barras de ferro, não levaram exteriormente o mais ligeiro emboco e expostos à ação do tempo que os têm gasto em boa parte, precisam ser substituídos porque de outra forma em pouco tempo as paredes ficarão desfeitas. O edifício interno de madeira não é já pintado a óleo desde há três anos e meio a esta parte. O soalho, que é de madeira, está também deteriorado em grande parte.” Reclama outros melhoramentos e descreve minuciosamente as condições de fornecimento de medicamentos, entre outras questões. Quem assina é o presidente da Junta de Saúde, Albino Conceição Ribeiro.

Passa-se agora para o suplemento ao Boletim Official n.º 9, de 5 de março, abarcam um conjunto de portarias do mesmo Governador, destacam-se as seguintes:
“Achando-se em grande parte desmoronadas as fortificações permanentes e mistas que há na província, e sendo urgente repará-las convenientemente, bem como convém se edifiquem outras para garantirem a defesa dos pontos ocupados; não tendo as obras públicas da província verba disponível para ocorrer às despesas, votou-se uma verba de 30 contos para as fortificações da província, a pagar pela Tesouraria Geral da Fazenda Pública da Província.”

E o que vem a seguir é o relato de novas sublevações:
“Em 29 de junho de 1890 irromperam em hostilidades as tribos Papéis de Antula e Intim da ilha de Bissau, a primeira auxiliada por Balantas, a segunda pelos Grumetes. As tribos beligerantes empenharam-se em sangrentas lutas quem em alguns dias terminaram junto das muralhas da referida praça à frouxa e pálida luz dos últimos raios solares. Essas lutas por diversas vezes tiveram lugar a estabelecer-se o pânico entre os habitantes da praça que viram em perspetiva uma invasão gentílica, acompanhada de todo o triste cortejo de consequências funestas e desastrosas.
A intervenção política deste Governo, secundado nos seus esforços pela autoridade local, deu lugar às tribos beligerantes suspenderem as hostilidades, conseguindo-se que os gentios de Antula prometessem solenemente em 14 de fevereiro último conservarem-se em paz; mas, os gentios de Intim não só se recusaram a aceitar a benéfica intervenção deste Governo senão ainda começara a dar manifestas provas da sua rebelião, opondo-se o Cumeré, régulo de Intim, às ordens dimanadas deste Governo, negando-se a comparecer na administração do concelho, e a aceitar a paz que por via da autoridade local lhe era oferecida, a fim de se restabelecer. Enquanto duraram as hostilidades entre as referidas tribos, ressentiu-se o comércio na vila de Bissau, e paralisaram os trabalhos agrícolas no interior da ilha.”


É um extenso documento que iremos procurar sintetizar no próximo texto.


Selos antigos da Guiné Portuguesa
Chegou o cinema a Bolama, A Fera Humana, filme em 6 partes, um preço carote, 3 mil réis
Estamos em 1924, os Balantas mostraram-se desobedientes, o Governador Velez Caroço declara o estado de sítio até que se volte à obediência às autoridades

(continua)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 1 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26332: Historiografia da presença portuguesa em África (459): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, já estamos em 1890 (16) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26332: Historiografia da presença portuguesa em África (459): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, já estamos em 1890 (16) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Se é facto que o ano de 1889 decorreu numa relativa acalmia, atendendo à ausência de informações em sentido contrário no Boletim Official, 1890 vai reacender três focos de sublevação, arremetidas de Mussa Moló a partir do Senegal, alta tensão na Península de Bissau, guerras étnicas na região de Buba, isto quando ainda é manifestamente claro que há ainda muito território por ocupar. Tomou posse o novo Governador, Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, em janeiro do ano seguinte será substituído por Luís Augusto de Vasconcelos e Sá. O que se vai manifestando é a pouca capacidade de Bolama dispôr de efetivos para apagar tantos fogos. E a Guiné ainda não sofreu o impacto da crise financeira que se abrirá em 1891, entrar-se-á num período de penúria, com efeitos na colónia.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, já estamos em 1890 (16)


Mário Beja Santos


Por muito que o leitor se surpreenda, 1889 foi um ano bastante árido, não consegui extrair de tanta monotonia informações de interesse. E confesso que os primeiros meses de 1890 também não saíram da modorra. A Guiné mudou de Governador, o novo chama-se Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, e vão começar conflitos que irão permanecer bastante tempo em três pontos: Cacheu e Geba; Bissau e Bolola. O Boletim Official vai finalmente exprimir decisões em função do novo quadro de hostilidades.

O Boletim Official n.º 26, de 26 de junho, dá as seguintes informações, ambas assinadas pelo Governador:
“Tendo-se dado diversos factos pelos presídios de Geba e Farim, dependentes, aquele de Bissau e este de Cacheu, os quais só mui tarde têm chegado ao meu conhecimento por os respetivos chefes não se poderem corresponder com a secretaria geral do Governo senão por intermédio dos comandos militares de que dependem, e convindo que não haja delongas na resolução de quaisquer assuntos relativos àquele presídio, hei por conveniente determinar que os chefes dos referidos presídios se correspondam de futuro diretamente com a secretaria geral do Governo, participando ao comandante militar respetivo, em extrato, o que tiverem comunicado diretamente à referida secretaria.” E, mais adiante:
“Sendo sob todo o ponto de vista conveniente averiguar minuciosamente os factos ocorridos na praça de Buba na noite de 19 do corrente, em que foi ali morto por força pública um dos régulos do Forreá, Mamadi Paté, de Bolola, e preso um dos grandes daquele régulo; convindo não menos conhecer as causas para originar a prisão deste e a morte daquele, para se adotarem as providências que convierem: hei por conveniente determinar que o tenente Luís Maria Alves Costa siga na primeira oportunidade para Buba, a fim de com urgência proceder ali a um auto de averiguação.”

No Boletim Official n.º 27, de 5 de junho, a referência vai para a região de Geba:
“Tendo sido votado em sessão do concelho de Governo de 16 de junho último que, para ser tomada uma resolução definitiva sobre as providências que convém adotar, para pôr termo à discórdia sempre crescente entre os Fulas que habitam os territórios Joladu e Ganadu, dependências do presídio de Geba, os moradores da praça do mesmo presídio e os Mandingas e Biafadas que povoam a ponta de Sambel Nhantá, é preciso que se conheça por um relatório circunstanciados a origem das dissensões que ali se têm havido; pelo que o mesmo concelho foi de parecer que vá àquele presídio um oficial de exército ou empregado de confiança indagar minuciosamente qual a atitude que desde a última guerra os referidos Fulas têm tomado em relação àquela praça que os referidos Mandigas e Biafadas, compreendendo nas suas indagações o que há de verdade relativamente à forma como os territórios de Corolá e Sam Corlá, entre aquele presídio e o de Farim, foram invadidos e atacados por uma horda de gentios capitaneado pelo súbdito francês Mussa Moló, e que de tudo façam relatório de qual constam todos os factos de que ali se têm dado.” E faz a nomeação do capitão de artilharia.

No Boletim Official n.º 30, de 26 de julho, o Governador não está pelos ajustes perante atos que apontam para indisciplina militar:
“Tendo constado oficialmente a este Governo que o 2º tenente da bataria de artilharia Eduardo Augusto Perfelin, na qualidade de chefe do presídio de Farim deu autorização ao Mussa Moló, súbdito francês e chefe de guerra do rei Dembel para invadir e atacar os territórios portugueses Corolá e Sam Corlá, situados entre os presídios de Farim e Geba, hei por conveniente ordenar o seguinte: 1.º - Que no presídio de Farim seja aberta uma sindicância extraordinária aos atos oficiais do referido chefe, Eduardo Auguto Perfelin; 2.º - Que o capitão do Batalhão de Caçadores n.º 1, Joaquim Ribeiro de Brito Teixeira, comandante militar e administrador do concelho de Cacheu, proceda à referida sindicância; 6.º - O mesmo capitão, chegando a Farim, assumirá a direção político-administrativa e militar do presídio, fará seguir para Cacheu o 2.º tenente Eduardo Augusto Perfelin, que fica suspenso.”

O Boletim Official n.º 31, de 2 de agosto, traz notícias sobre a morte de Mamadi Paté, eis o que consta, de acordo com o relatório apresentado: "Mamadi Paté de Bolola, régulo do Forreá, foi morto na praça de Buba na noite de 19 de junho último, porque, quando o alferes João Moreira do Carmo, do Batalhão de Caçadores n.º 1, o foi chamar a comparecer ante o comandante militar para a conferência que tinha combinado ter, agrediu o referido alferes, pretendendo desarmá-lo e matá-lo; pelo que, teve este oficial de gritar socorro, o que sendo ouvido por aquele comandante e praças daquele destacamento, correram em seu auxílio, sendo então salvo da morte por um soldado que num ato de defender o pré-citado oficial ficou ferido e com a espingarda inutilizada devido aos contínuos golpes que sobre ele vibrou o falecido régulo com um ferro, o qual também feriu o 2.º sargento do referido batalhão, dando-lhe uma punhalada na cabeça e atacou todas as praças do destacamento que se lhe aproximaram; - Consta dos autos que o régulo tinha dentro da praça uns 30 homens, sendo alguns deles cavaleiros, e que fora da paliçada parecia ter alguma gente acampada; o que faz crer, que o falecido régulo pedindo ao comandante militar para guardar a conferência que havia de ter com ele depois do toque de recolher, era com fim premeditadamente sinistro, fim que se evidencia pelo seu procedimento, quando foi chamado pelo alferes Carmo para ir à conferência que tinha combinado ter com o comandante militar; consta também dos autos que as agressões dirigidas pelo falecido régulo à força pública deram lugar a estabelecer-se a uma completa desordem e confusão dentro da praça, a qual teria sérias consequência, se o comandante militar não fosse enérgico nem ativo, mandando dar fogo para fora da praça; por todos estes fundamentos, deve-se à energia do tenente comandante militar da praça não ter sido atacada e o alferes João Moreira do Carmo soube defender-se das agressões que o régulo Mamadi Paté lhe dirigiu.”

E termina o documento com o pedido de louvores tanto para o tenente como para o alferes e outros militares. Iremos ver seguidamente que ainda não acabou o contencioso com Mussa Moló, temos rebeliões em Geba, é uma nova época de instabilidade.

1890: o rei morreu, viva o rei! D. Carlos inicia o seu reinado e dirige uma carta a José Luciano de Castro que o Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa reproduz
O jovem D. Carlos
Sociedade do Fomento da Guiné, Bissau, bilhete-postal
Dispensário do mal de Hansen, Cumura, Guiné
Culturas da Guiné, gravura de Johann Theodor de Bry, séculos XVI e XVII

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 25 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26310: Historiografia da presença portuguesa em África (458): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26310: Historiografia da presença portuguesa em África (458): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
A governação da província, nestes tempos, passa do contralmirante Teixeira da Silva para a governação interina de Joaquim da Graça Correia e Lança, o Boletim Official não deixa de ter um tom monótono de entradas e saídas, nomeações, assuntos da fazenda pública e alfândega e raramente dados que possam ser aproveitados para a investigação. O que aproveitei deste período foi a vinda em comissão extraordinária dos chefes do serviço de saúde a Bissau que existiu sobre a necessidade de derrubar o muro à volta da povoação, ele achava que a vila devia sair de Bissau e ir para Bandim, ali havia melhores ares e condições de salubridade, insiste na vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar e na má construção das casas existentes na vila, faz referência ao lazareto que estava no Ilhéu dos Pássaros, devia ser transferido para o Ilhéu do Rei e termino com a apresentação dos enviados do régulo Mamadi Paté, do Forreá, este fazia questão de reiterar os seus protestos de fidelidade ao rei, então D. Luís,. No próximo texto, far-se-á um cômputo dos acontecimentos de 1889, morre o monarca e o Infante D. Augusto.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15)


Mário Beja Santos

Há muito pouco mais a dizer sobre o ano de 1888, encontrei o relatório do Chefe de Serviço de Saúde em Bissau, datado de 12 de março desse ano, é assinado por Aristides Bernardo de Sousa, contém informações que reforçam outras já conhecidas, mas também há aspetos inovadores, como o leitor apurará. Um tanto à semelhança do documento lavrado por Damasceno Isaac Costa, ele apresenta a ilha de Bissau e a respetiva fortaleza, destaca a situação da vila e dá uma sugestão:
“Como em diferentes capitais e filas das nossas províncias ultramarinas, na instalação da vila não presidiu infelizmente o elemento mais essencial da higiene, a escolha do terreno, porque era a todos os respeitos preferível para sede da capital da província a aldeia de Bandim, ponto relativamente elevado e com vertentes para a praia que é completamente arenosa. Ainda não era tarde para se mudar a capital para a aldeia de Bandim e não seriam grandes os sacrifícios encarregados com a transferências das repartições públicas, dos quartéis, do hospital e de outros edifícios.
Os negociantes que de futuro quisessem estabelecer-se na Guiné preferiam prontamente a nova capital e muitos dos atuais encontrariam grande compensação na maior garantia da sua saúde.”


E o problema da higiene atormenta-o:
“São várias as causas que tornam insalubre a praça de Bissau. As medidas higiénicas não podem decerto modificar as condições meteóricas, mas removendo tudo quanto possa concorrer para poluir o solo e inquinar a atmosfera, podem aniquilar ou ao menos atenuar as causas da insalubridade. Cercada por um muro, a vila acha-se soterrada num vale e é dominada por alturas e com uma área de circunscrição incomportável com a sua população; de onde resulta a aglomeração dos seus habitantes.
As ruas são estreitas e na construção das casas não se observaram s mais rudimentares preceitos da higiene. O muro que cinge a população obsta à disseminação da população, ao desaperto das casas e à circulação do ar e da luz difusa. A permanência do muro é incompatível com eficaz saneamento geral. O principal e imprescindível empreendimento, referente à saúde pública, deve ser a demolição do muro, porque só assim desaparecerá o perigo da acumulação alargando-se o terreno e desafogando-se as ruas e as casas.”


O chefe do serviço de saúde aborda seguidamente o Ilhéu dos Pássaros onde tinham sido construídos três barracões para o isolamento dos doentes, ilhéu com 219 metros de comprimento e 33 de largura, refere a superfície lodosa, a natureza do terreno, os ventos, a composição dos barracões, observando que estes barracões podem comportar 18 leitos, são construções temporárias que não poderão durar mais de 1 ano, a bagabaga já estava a destruir a madeira. “Tendo, porém, visitado ultimamente os dois ilhéus que defrontam com a praça de Bissau, parece-me que é o ilhéu do Rei que deve ser escolhido para futuro lazareto permanente da Guiné, e para enfermarias isoladas, porque além de estar mais próximo da praça, tem bastante água potável e condições meteóricas mais constantes.”

Atenda-se a outros aspetos higiénicos da vila de Bissau e à enfâse que o relator põe:
“Tendo percorrido a vila mais de uma vez, observei que eram regulares as condições da limpeza pública nas ruas e nos domicílios. Não se pode conseguir muito mais da população indígena que geralmente não prima pelo asseio e está aferrada a conceitos velhos. Peço finalmente a atenção do ilustrado Governo da província para os melhoramentos que exige o Hospital de Bissau, cujo teto está bastante deteriorado e o sobrado também precisa de ser reparado. Além disso, o edifício em grande parte não está caiado por dentro, há muitos anos, apesar das repetidas instâncias do delegado de saúde. A farmácia precisa também de armação e de vidrame novos. Faltam também os mais indispensáveis artigos de mobília que convém prover-se tão importante edifício.
A existência das muralhas e dos fossos, circundando a praça; a vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar; a má construção das casas existentes na vila, são outros tantos fatores que se no estado ordinário prejudicam a salubridade da terra, muito mais agravantes são quando reina uma epidemia.
Muitas edificações precisam ser reparadas e convirá determinar que os pavimentos de todas as casas tenham certa e determinada altura do nível das ruas; que os pavimentos sejam argamassados ou assoalhados de madeira; que as portas e janelas sejam largas a fim de que o ar circule livremente. Depois de demolido o muro, será também conveniente ordenar-se que as futuras construções sejam feitas fora do recinto da atual praça.”


E terminam as referências a 1988 com uma notícia publicada em novembro e referente a Buba:
“No dia 19 de novembro estiveram nesta capital os grandes de Forreá, Bóbójintos e Saná, enviados por Mamadi Paté, régulo principal daquele território, os quais acompanhados de um intérprete vieram pedir uma audiência ao conselho governativo, que de bom grado lhe a concedeu. Na sessão do conselho desse dia disseram que: - Vinham encarregados pelo seu rei de significar ao governo provincial, como delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal a amizade que lhe dedicava e reiterar-lhe os seus protestos de fidelidade, por isso que só conhecia e respetiava a nossa bandeira à sombra da qual desejava viver e o nosso Governo de quem gostosamente recebia ordens e a quem somente queria estar sujeito, por cujos motivos solicitava do Governo lhe permitisse estreitar mais as suas relações de amizade com os portugueses, consentido a sua aproximação à praça de Buba pelo estabelecimento de três tabancas, sendo uma em cada um dos postos denominados Sambafim, Iaocunda e Cam-Ióbá, pelo que prometia prestar todo o auxílio que lhe for pedido pelo comando da praça, para onde fará convergir todos os seus produtos a fim de os permutar, demonstrando por esta forma o empenho que tem em estreitar as suas relações de amizade já referidas.”

Nada de relevante encontrei nos primeiros meses de 1889, aa partir de 4 de maio, e depois em 11 e 18, temos um relatório do serviço de saúde da vila de Bissau que merece referência, mais adiante se falará do estado de suspensão de garantias no presídio de Geba por insurreição do régulo de Ganadu, e teremos depois um documento do comando militar de Buba, bastante interessante.

Notícia do falecimento do Infante D. Augusto, Duque de Coimbra
Notícia do falecimento do rei D. Luís
Monumento a Nuno Tristão, Bissau, década de 1960
Uma imagem que vale por mil palavras
Ilhéu dos Pássaros, Guiné-Bissau

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Oficial de prestígio e com provas dadas em várias missões, o capitão Zacarias de Sousa Lage, então administrador do concelho de Bissau, envia para Bolama um relatório que se distingue pela linguagem franca: à exceção do presídio de Geba, em todos os outros pontos do concelho de Bissau não existia autoridade alguma: os roubos e a pirataria eram incontroláveis; dá-nos uma lista das casas comerciais existentes, o que compram e vendem; as dívidas dos contribuintes são na sua maioria inquebráveis, a administração da justiça está entregue a comerciantes que acabam por cometer graves negligências, é escandalosa a falta de um código penal; não esconde o estado deteriorado das instalações públicas, a má qualidade do ensino e a falta de recursos a nível hospitalar. Sousa Lage irá posteriormente comandar o presídio de Geba, onde teve comportamento valoroso.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14)


Mário Beja Santos

Voltamos à formalidade do movimento marítimo, dos boletins de saúde, de quem foi preso e porquê, chegadas e partidas de funcionários, a ambientação política está praticamente ausente. Mas logo em janeiro deste ano de 1888, o administrador do concelho de Bissau, Zacarias de Sousa Lage, produz um sucinto relatório sobre os diferentes ramos de serviço afetos ao seu concelho. Justifica-se a citação de parágrafos considerados bastante impressivos:
“À exceção do presídio de Geba, em todos os outros pontos do concelho não existe autoridade alguma que possa apresentar-se como delegado do Governo português.
Dificilmente se pode avaliar as dificuldades com que luta a autoridade do concelho de Bissau, quando existem pendências a resolver nos territórios sob a sua jurisdição, por não haverem ali delegados. Frequentes são os casos de roubos e piratarias aos negociantes estabelecidos; roubos estes exercidos pelas tribos Balantas, gentio de Boty, Caió e Cajegute, que não tem convívio frequente com a praça de Bissau, e em geral ficam impunes resultando o contínuo abuso.
É necessário que o Governo tenha um representante nas tribos, o qual deve ter conhecimento de causa perfeita, fornecer-lhe todos os meios para ser respeitada a autoridade sem vexame; porque se entre os povos mais avançados, gozando das melhores leis, há sempre margem para descontentamentos, não é de estranhar que os espíritos rudes e vulgares, como o do selvagem, se não conformem com o regime que nos rege.

O gentio em geral é indolente, aqui não existem indústria própria; a agricultura é representada com meia dúzia de grãos ou milho lançados no solo, numa área que cada preto cultiva não excedente a 10 ou 12 metros de circunferência: e eis aí representado o seu trabalho fatigante que não lhe dá alimentação para mais de um ou dois meses!
Finda a colheita, e enquanto se existe com que alimenta, não trabalha; findo isto, aproveita-se da riqueza que a própria natureza lhes deu, fazendo a quebra do coconote e fabricando algum azeite de palma, isto unicamente para permutar com arroz, ou fazer a compra de uma arma, resumindo-se a sua única ambição a contínuas correrias; atacando uma ou outra tribo dotada de instintos.
A agricultura, se imperasse nesta tão decadente província, cujo solo é tão fértil, riquíssimo em fauna e flora, daria, com o andar dos tempos, a riqueza do nosso mercado colonial, tão decadente hoje. Hoje, porém, ainda nada se consegue porque o atraso dos filhos da Guiné não os deixa compreender quais os deveres que cabem ao cidadão".


Referindo-se à população, comércio e navegação, depois de falar em decadência, sublinha que o comércio de Bissau tem aumentado de ano para ano, Bissau é a primeira praça da província, mantendo relações comerciais com Bolama, Cacheu, Geba e Farim e com as tribos selvagens limítrofes, muito especialmente a dos Balantas, que diariamente abastece o mercado. Na praça de Bissau existem estabelecidas diversas casas comerciais, nacionais e estrangeiras, recebendo diretamente da Europa as mercadorias e exportando os produtos do país. As casas comerciais mais importantes aqui estabelecidas são: Blanchard & Companhia, de Marselha, F. C. Butman, de Boston, B. Soller, representante de uma casa de Hamburgo, British Congo & Companhia Limited, de Liverpool, casas estas que permutam produtos coloniais desta costa que se resumem ao coconote, cera, borracha, couros de boi secos e alguma goma copal, importando em grande escala o álcool, tabaco em folha, genebra ordinária, pólvora, bretanjil, panos da costa, etc., principais artigos indispensáveis ao indígena. Estas casas entretêm operações externas e algumas delas nos próprios territórios gentílicos onde exercem um perfeito comércio de concorrência, chegando mesmo a venderem-se mercadorias por preços inferiores ao deste mercado.

Tece considerações sobre a fazenda pública, diz abertamente que a maioria das dívidas de contribuintes é incobrável, que o movimento da delegação da alfândega é grande e o pessoal é pouco em relação ao trabalho. O edifício onde se aloja a alfândega acha-se muito deteriorado e precisa de grandes consertos. Mudando para o tema da administração da justiça, refere que existe neste julgado, desde 1880, um juiz ordinário e dois substitutos por nomeação do Governo da província. “Permita-me V.ª Ex.ª que eu diga que as autoridades judiciais neste julgado quase de nada servem, por isso que, sendo este importante ramo confiado a negociantes sem que por tal encargo percebam renumeração alguma dada pelo Estado, claro está que nada mais fazem se não tratar dos seus interesses, mandando ordinariamente arquivar os autos que pela sua autoridade administrativa lhe são enviados, alegando não terem escrivão nem pessoa de confiança que possa exercer este cargo.” E solicita as providências necessárias.

O último capítulo do relatório de Zacarias Sousa Lage é dedicado à instrução pública e à administração geral. Parece útil reproduzir o que ele escreve:
“Existem duas escolas régias, sendo uma para o sexo masculino e outra para o feminino. A do sexo masculino é frequentada por um grande número de rapazes sendo o contrário a do sexo feminino. A instrução pública pouco progride por lhe faltar o principal elemento, as habilitações dos mestres, quer de um ou do outro sexo, estão muito longe de poder satisfazer o cumprimento dos seus deveres.
E infelizmente assim está paralisada a instrução, permitindo-me Sua Excelência o Governador, ser tão prolixo nas minhas observações, mas que é de urgência a reforma deste grande ramo muito especialmente nesta vila em que o número de educandos é bastante elevado. A câmara municipal deste concelho dispõe de grandes recursos e não seria oneroso ao município o inscrever no seu orçamento uma verba condigna para a manutenção de uma escola e deixar de figurar a irrisória verba orçamental de gratificação mensal de 10 mil réis pagas aos professores régios, a título de gratificação.”


O relatório termina com uma exposição sobre o serviço de saúde, desempenhado por um facultativo, dr. Albino Ribeiro, que também tinha a seu cargo o hospital. “Infelizmente, apesar do edifício ser bom, faltam-lhe os principais elementos para poder ter o fim a que é destinado. As camas da enfermaria estão em péssimo estado, desprovidas de roupas e utensílios apesar de terem decorridos poucos meses que a fazenda lhes forneceu alguns artigos, sendo urgentíssimo o fornecimento de louças, roupa e acessórios indispensáveis a um hospital. A farmácia do Estado, única aqui existente, acha-se também alojada no mesmo edifício, carece de grandes melhoramentos para assim poder funcionar como estabelecimento desta natureza. De medicamentos acha-se quase sempre desprevenida dos mais indispensáveis, apesar das contínuas requisições, e dificilmente pode dar cumprimento às exigências do público. O administrado do concelho despede-se com um Deus guarde a V.ª Ex.ª e assina em 8 de novembro de 1887".
Cartografia do rio Corubal, 1897, Comissão de Cartografia, província da Guiné
Carta da província da Guiné, distribuída na Exposição Colonial do Porto, 1934
Balanta em Festa comemorando o ano da prosperidade. Imagem retirada do site cabazgarandi4, com a devida vénia
1.ª página do relatório do capitão Zacarias de Sousa Lage relativo às campanhas de pacificação de 1890-91, era então comandante do presídio de Geba. Créditos: Fundação Mário Soares

(continua)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26256: Historiografia da presença portuguesa em África (456): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, o importante relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, Marques Geraldes, 1887 – 2 (13) (Mário Beja Santos)