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sábado, 6 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27499: A nossa guerra em números (47): mais de 2/3 do consumo, do valor de vendas em junho de 1970 (n=89 contos), na cantina, da CCAV 2483, em Nova Sintra, foi em álcool e tabaco (Aníbal Silva / Luís Graça)





Imagens de bebibas alcoólicas que só podem ser "(re)vistas" por antigos combatentes, tudo rapaziada com mais de 18 anos...  A saudade não paga imposto, por enquanto... Fonte;: arquivo da Tabanca Grande.




Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné (2025)





Documento  nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970 : Resumo do balancete da cantina

A cantina de Nova Sintra, que era "democrática",  isto é,  "comum" ( aberta a oficiais, sargentos e praças), ao tempo da CCAV 2483 (1968/70), facturou 89,4 contos nesse mês de junho de 1970.

Recorde-se que a CCav 2483 assumiu, em 7mar69 a responsabilidade do subsector de Nova Sintra, com um pelotão destacado em S. João, até 31mai69, rendendo a CArt 1743. Em 23set70, foi  rendida pela CCav 2765, sendo transferida para Tite, a fim de substituir a CCav 2443, na sua função de intervenção do sector, cumulativamente com a responsabilidade da quadrícula. Em 14dez70, foi rendida pela CCav 2765 e recolheu a Bissau para o embarque de regresso. 

Portanto, em junho de 1970 o mercado do nosso  "cantineiro" Aníbal Silva andaria  à volta dos 160 militares (o efetivo normal de um companhia de quadrícula).

Não havia concorrência ali á volta (nem "bajudas" para distrair a vista), o Aníbal nem sequer precisava de promover os seus produtos: a rapaziada,  sempre sequiosa, e com algum poder de compra,  só queria é que os abastecimentos mensais não falhassem. E,  ainda por cima, já "velhinhos", a seis meses de terminar a comissão. Não havia população local nem milícia. Era um "bu..,rako", Nova Sintra, quem lhe pôs o nome devia ter um grande sentido de "humor... negro".

Em 1 de julho de 1970, em Nova Sintra estavam 3 Pel / CCAV 2483, 1 Pel / CCAV 2443 e 1 Esq Pel Mort 2114. Mas alguém sabia lá onde ficava Nova Sintra ?|... Nem sabia nem queria saber...











Documento  nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970  > Balancete da cantina


 A cantina, nesse mês de junho de 1970, vendeu artigos no valor de 89,4 contos (o que convertendo para preços de hoje são 30,7 mil euros).. Bom ngócio, mil euros por dia.

 Cada militar gastou, em média 560 escudos (arredondando) (=192 euros). O que era muito dinheiro, em especial para as praças. 

Mas o "sargento da cantina", e vagomestre, o nosso camarada Aníbal José da Siva, ex-furriel mil SAM, tem uma explicação que parece razoável: como o pessoal estava já próximo de ir para Tite (em setembro) antecipou o Natal, e fez mais umas compras "supérfluas" já a pensar na "peluda"... De facto, houve ao ao uísque, de tal se esgotarem os stocks da maior parte das marcas... E não foi  precviso fazer nenhum "Friday",,, Venderem-se 250 garrafas, do mais barato (Churtons, 47$00) ao mais caro (Long John, 86$00). Ainda sobraram 41... Boa parte destes artigos (bebidas importadas, mais caras na metrópole, eram para guardar e levar para casa).

Mas o que dizer da cerveja ? Quase 31 contos de cerveja é muita cerveja:  o equivalente a 7,8 mil garrafas de cerveja de 0,33 l dá cerca de 2,6 mil (uma média de 16 litros "per capital"... num só mês).

Com base nos preciosos elementos que o Aníbal Silva nos forneceu, há já alguns meses, respeitantes ao balancete da cantina de que ele era o gerente (juntamente com o alf mil Vasco César Tavares S. Silva), pudemos apurar alguns números sobre o nosso provável consumo de bebidas alcoólicos e de outros bens (como o tabaco, a coca-cola, o leite achocolatado e o leite estirilizado, outros produtos alimentares, etc.). (Claro, faltam-nos termos de comparação: outras cantinas, outros meses.)

De acordo com os gráficos nºs 1 e 2, o álcool (cerveja, vinho, bebidas destiladas, com o uísque, o gin, o vodca, o brandy...) representou nesse mês mais de  50% das vendas.

O consumo de coca-cola também é notável: quase 2,8 mil latas num mês (19 latas "per capita"), 

Já agora comparem-se, a título exemplificativo, os preços particados, por unidade e tipo de artigo:

  • Cerveja 0,33 l > 4$00
  • Cerveja 0,66 l ("bazuca")  > 6$50
  • Coca-cola (importada, em lata) > 5$00
  • Água de Castelo > 7$00
  • Maço de tabaço > 2$50 ("Porto", 3$00)
  • Uísque (importado) > c. 50$00 (novo)
  • Leite c/ cacau > 5$00
  • Laranjada / Sumol > 6$00
  • Lata de polvo ou sardinhas de conserva > 6$00
  • Creme p/ barbear >  7$00
  • Sabão azul > 13$00

A seguir à cerveja, uísque e coca-cola (em termos de valor de vendas),  o tabaco aparece em quarto lugar... Venderam-se nesse mês 3481 maços de cigarro e 1253 caixas de fósforo. Aqui o "Porto" deu  uma cabazada ao "Sporting": 1706 contra 1!

A seguir ao "Porto", as duas marcas mais consumidas foram o SG (n=886) e o Português Suave (n=677).

O leite (com cacau e estirilizado), a par das conservas, também tinha alguma expressão: 9% do total do valor das vendas... O resto eram os artigos de higiene e limpeza... 

Já não me lembro se a tropa nos fornecia papel higiénico: em Nova Sintra, nesse já longínquo mês de junho de 1970, só se venderam 12 maços de rolos de papel higiénico  (a 6$00 cada um!).. 

Como eu dizia, com "humor negro" em Bambadinca, na noite de 26 de novembro de 1970, depois da tragédia da Op Avencerragem Candente, a malta limpava (com a sua licença!) o cu às folhas do RDM...

Obrigado, Aníbal, gastei umas horas à volta dos teus papéis, mas diverti-me. É bom para quem tem insónias. Sáo seis horas da manhã. Vou voltar para a cama. 

PS - Aníbal, vou passar o Natal à Madalena, como habitualmente, desde há 40 anos. Temos que nos conhecer pessoalmente. Depois dou-te  um toque.

(Documentos: arquivo do Aníbal Silva | Infografias e legendas: LG)



1. Mensagem do Aníbal José da Silva, ex-fur mil SAM, CCAV 2583 (Nova Sintra e Tite, 1969/1970):

Data - 08/05/2025, 17:49
Assunto -  Balancete da cantina. Nova Sintra, junho de 1970

Caro Luís Graça

Após a nossa conversa telefónica de hoje, fui ao meu arquivo verificar se tenho algo mais para acrescentar, ao teu maravilhoso estudo, relativo a quantidades e preços dos artigos vendidos nas cantinas em tempo de guerra (*).

Dos quatro balanços em meu poder, só o de junho de 1970, tem o anexo relativo aos artigos vendidos, que junto envio , bem como os restantes, estes para teu conhecimento. 

Então, constato que em junho desse ano se vendeu quase o dobro da cerveja vendida em maio (4.245 para 7171). Não vejo uma razão plausível que o justifique, até porque, ao consultar a História da Unidade, verifico não ter havido atividade operacional para além do habitual. 

Creio haver justificação para o aumento das vendas do tabaco (2215 para 3481) e do whisky (61 para 250 garrafas), uma vez estarmos a dois meses de deixar Nova Sintra e o pessoal ter começado as compras para trazer para a metrópole. 

Face a estes números, provavelmente vais reformular o teu estudo. Noutro email vou enviar mais uns tantos anexo. (**)

Um abraço de amizade

Aníbal Silva 



Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)

__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26769: A nossa guerra em números (29): nos quartéis do mato, dentro do arame farpado, a malta consumia em média, por ano e "per capita" , 21 litros de... álcool puro (14 em vinho, 5,4 em cerveja, 1,6 em bebidas destiladas)... (Aníbal Silva / Luís Graça)

(**) Último número da série > 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27461 A nossa guerra em números (46): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte III

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27466: A Nossa Marinha (4): Reserva Naval : uma elite ? Era, pelo menos, mais apelativa para os jovens com formação universitária, de classe média e média-alta, do que o Exército e a Força Aérea e por ela passaram alguns dos melhores quadros da nossa geração



Escola Naval >  O curso de Marinha que frequentou o 16º CFORN, no verão de 1970. O curso teve início em 22 de janeiro e concluiu-se em 19 de setembro de 1970, com a promoção dos 63 cadetes que o haviam frequentado: 35 da classe de Marinha (55,6%); e 25 da classe de Fuzileiros (39,7%); 
 1 da classe de Engenheiros Construtores Navais mais 2 da clssse de Farmacêuticos Navais (0,7%).

Fonte: cortesia de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992) pág. 51.





Além de um exemplar de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1974",  da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), o Manuel Lema Santos (1942-2025) também nos ofereceu um exemplar do "Anuário da Reserva Naval: 1976-1992", da sua autoria (Lisboa, AORN, 2011, 113 pp). 

Dedicatória: 

"Para todos os antigos combatentes, tertulianos, camaradas, companheiros e amigpos do 'Blogue Luís  Graça & Camaradas da Guiné'...

"Guiné uma vez, Guiné para toda a vida!

"Com um abraçio Reserva Naval e Marinha do Amigo (assinatura), 2012-04-21"



1. A Reserva Naval, durante a guerra do ultramar / guerra colonial / guerra de África (1961/74), foi uma alternativa para, não direi os filhoas da elite portuguesa, mas para os jovens, mais qualificados, da classe média, média-alta e  alta, cumprirem o  serviço militar obrigatório.

Futuros altos quadros do País, nas mais diversas áreas (economia, finanças, gestão, banca, política, governação, justiça, saúde, ensino, investigação, etc.), fizeram o serviço militar na Reserva Naval, entre 1958 e 1974... Alguns deles, eram da classe de Administração Naval... Ou da classe de Técnicos Especialistas.  (São as duas classes a que demos mais atenção, na leitura da lista do "Anuário da Reserva Naval: 1958-1974", da autoria de  A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, AORN, 1992.)

Futuros banqueiros como Artur Santos Silva (n, 1941) ou Ricardo Espírito Santo Salgado (n. 1944)  ou o professor,  dirigente politicob e ministro  Diogo Freitas do Amaral (1941-2019) ou o engenheiro e ministro  Adelino Amaro da Costa (1943-1980) (ambos cofundadores do CDS) ou ainda  os economista, políticos e professores Ernâni Lopes (1942-2010) e Alexandre Azeredo Vaz Pinto, são alguns exemplos. (Estes últimos também tiveram funções governativas)

"Au voil d'oiseau", e folheando o "anuário da Reserva Naval: 1958-1974", reconheço nomes de figuras públicas (e entre eles vários académicos) como:
  • Alexandre Vaz Pinto (3º CEORN, 1960); 
  • o médico e psicólogo Orlindo Gouveia Pereira (foi professor na Escola Naval, na área da psicossociologia / gestão do comportamento organizacional, juntamente o cmdt  Correia Jesuino), António José Avelãs Nunes,  José Manuel Merêa Pizarro Beleza ( todos do 6º CEORN, 1963);
  • Artur Santos Silva, Ernâni Lopes, Rui Machete (todos do 7º CEORN, 1964); 
  • Alípio Dias, António Soares Pinto Barbosa, Manuel Soares Pinto Barbosa, Vitor Constâncio (todos do 9º CFORN, 1966); 
  • Adelino Amaro da Costa e Diogo Freitas do Amaral (ambos do 11º CFORN, 1967)(cofunmdadores do CDS);
  • Ricardo Salgado e Manuel Valentim Franco Alexandre (ambos do 15º CFORN, 1969); 
  • António Bagão Félix (17º CFORN, 1970);
  • Marinus Pires de Lima (18º CFORN, 1971) (um dos pioneiros da sociologia do trabalho, professor no ISCTE, no meu tempo); 
  • António Henriques Rodrigues Maximiano (20º CFORN, 1972) (futuro magistrado);
  • Luís Salgado Matos (22º CFORN, 1973);
  • Luís Valadares Tavares e José  António Sarsfield Cabral (24º CFORN, 1974)...

Fonte: "O Anuário da Reserva Naval, 1958-1974".


Eram jovens com cursos (ou frequência de cursos) universitários em áreas específicas, que iam ao encontro das necessidades da marinha (engenharia electrotécnica, mecânica, civil, química industrial, máquinas; construção naval; medicina e farmácia; administração; marinha, fuzileiros, etc.).

Mas estamos a falar de um pequena amostra do Portugal de então, que tinha menos de 9 milhões de habitantes...

De qualquer modo, em 25 cursos de formação de oficiais da Reserva Naval (CFORN), de 1958 a 1974, a Marinha irá beneficiar do concurso de 1712 oficiais, dos quais cerca de um milhar (segundo o.nosso saudoso Manuel Lema Santos) terá sido mobilizado para a guerra do ultramar / guerra colonial / guerra de África (cerca de 58%).

Acrescente-se, como curiosidade, que apenas uma pequena minoria (menos de 5%) seguiu depois a carreira militar. Os restantes passaram à "peluda", como todos nós.
 
2. Naturalmente, também passaram pelas fileiras do Exército e da Força Aérea milhares de oficiais, milicianos (sem falar nos do Quadro Permanente), que  tiveram igualmente brilhantes carreiras, em funções públicas,  civis ou militares, na academia,  em empresas privadas, em profissões liberais, nos mais diversos setores, etc. 

Mas há (ou havia) diferenças entre os três ramos das Forças Armadas, no período em apreço (1958-1974), no que diz respeito  a motivações, estatuto, contexto social, funções, riscos para a vida, a saúde e segurança, etc.   
 
 Afinal, o que tornava a RN tão apelativa? (Faltam-nos estudos sociológicos sobre a composição sociodemográfica dos CFORN,  os apontamentos apresentados a seguir são meras pistas de reflexão, baseadas em "evidências de senso comum".)

É sabido que os oficiais da Marinha (uma instituição que preservava uma cultura mais tecnocrática, estruturada e prestigiada),  incluindo os da RN, tinham melhor estatuto (socioprofissional), apoio logístico, condições de vida e de trabalho, do que os do Exército e até da Força Aérea. E também tiveram proporcionalmente muito menos baixas (por ferimentos em combate, acidente ou doença).

Vejamos melhor a  RN no contexto da  guerra colonial:

 (i) Enquadramento histórico:
 
Durante a guerra golonial / guerra do utramar  / guerra de África (1961–1974), Portugal enfrentou a necessidade de mobilizar centenas de milhares de militares para três teatros de operações longínquos (Angola, Guiné e Moçambique), operacionais e pessoal de apoio.

A Marinha, embora muito menos numerosa que o Exército, desempenhava funções essenciais no controlo de vias fluviais, logística costeira,  transporte de tropas e equipamentos,  segurança marítima, operações ( como a Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970, ou Op Tridenmte, jan-mar 1964), etc. 

Para reforçar os seus quadros, a Marinha utilizou a Reserva Naval (RN), um corpo composto por jovens licenciados ou estudantes universitários, geralmente provenientes da classe média e média-alta urbana. 

O acesso era competitivo e exigia habilitações académicas mais elevadas do que o comum dos oficiais do Exército e da Força Aérea.

A RN assumiu funções de elevada responsabilidade e que deixou uma marca singular na memória do conflito. Constituiu-se, de facto, como uma alternativa particularmente procurada por jovens  licenciados ou com frequência universitária, de estratos sociais que na  época eram privilegiados.

Na época a RN especificamente o corpo de oficiais da Reserva Naval (ORN), era amplamente considerado  como um grupo de elite em termos sociais e académicos.

O estatuto de "elite" da RN resultará de uma combinação de fatores relacionados com o seu processo de recrutamento, o perfil exigido e o contexto social e educacional de Portugal na época da guerra colonial (1961/74).

Recorde-se alguns números sobre a população que frequentava a universidade / ensino superior nestes últimos 75 anos:

  • em 1950, o acesso ao ensino superior era muito limitado,  apenas cerca de 16 mil (!) alunos frequentavam a universidade;
  • nos anos 70 (especialmente por volta de 1974, após as transformações políticas e sociais em Portugal), esse número aumentou para cerca de 56/57 mil;
  • por volta de 1978 havia já algo em torno de 80/82 mil estudantes de ensino superior;
  • hoje, o número de inscritos no ensino superior é quase 30 vezes superior ao de  1950:  perto de 446 mil estudantes.

(ii) Recrutamento baseado em habilitações académicas

A principal razão para o seu caráter de elite residia no facto do acesso ser altamente seletivo e condicionado pela formação universitária:

  • critério de preferência: a legislação da época (vd. Portaria nº 18710, de 4 de setembro de 1961) estabelecia que uma das condições de preferência para servir na Reserva Naval (através dos CEORN . Cursos Especiais de Oficiais da Reserva Naval, mais tarde CFORN - Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval) era possuir as "melhores habilitações escolares";
  • destino de universitários: a Marinha precisava de quadros especializados (engenheiros, economistas, advogados, construtores navais, gestores, médicos, fuzileros, oficiais de marinha, etc.) e recrutava a sua reserva de oficiais quase exclusivamente entre os diplomados ou estudantes das principais universidades e escolas superiores do país, com destaque para as faculdades de ciências, faculdade  de engenharia, Instituto Superior Técnico, faculdades de medicina, escolas de farmácia, ISEF, faculdade de economia, faculdades de direito... (Decreto-lei nº 41399, 26 de novembro de 1957).

  • voluntários e oferecidos: os voluntários (os que se apresentavam por iniciativa própria) tinham preferência; este grupo era composto, em grande parte, por universitários que procuravam uma modalidade de serviço militar que utilizasse a sua formação, e que, em alguns casos, era vista como uma alternativa mais "qualificada" ou mais apelativa em comparação com o serviço no Exército.

A diferença entre "voluntários" e "oferecidos" (sic)  para efeitos de acesso à RN da Marinha de Guerra Portuguesa, no contexto da guerra colonial (em vigor, por exemplo, na Portaria n.º 18710 de 1961), residia na forma como se apresentavam para o serviço militar na RN.

Essencialmente, ambos eram considerados condições de preferência para o ingresso, em comparação com os indivíduos que eram simplesmente chamados, mas a distinção era a seguinte:

  • voluntários: eram os cidadãos que se apresentavam espontaneamente para a prestação do serviço militar na RN sem terem sido previamente chamados; o  ato era totalmente por iniciativa própria;
  • oferecidos: eram os indivíduos que, embora talvez ainda não tivessem sido chamados ou tivessem outras obrigações, ofereciam-se para o serviço na Reserva Naval, em vez de cumprirem o serviço militar obrigatório noutro ramo ou modalidade. 

O termo pode ser interpretado como uma manifestação de desejo de servir na Marinha em particular, após terem sido incluídos no sorteio ou no processo de recrutamento, ou de terem sido destacados de outro ramo das Forças Armadas para a RN.

Ser "voluntário ou oferecido" era a primeira condição de preferência para servir na RN,  demonstrando um grau de iniciativa superior ao do contingente geral.

Outras condições de preferência incluíam possuir conhecimentos náuticos (como carta de patrão de costa ou alto mar) e melhores habilitações escolares.

Em suma, ambos os termos ("voluntários" ou "oferecidos") indicavam uma predisposição e proatividade para servir na RN, o que lhes dava preferência no acesso aos  CEORN /  CFORN.

(iii) o Contexto sociopolítico da época

No Portugal do Estado Novo, nas décadas de 1960 e 1970, o acesso ao ensino universitário era ainda  bastante restrito:

  • privilégio social: a frequência universitária era, por si só, um forte indicador de pertença a classes sociais mais abastadas ou com maior capital cultural (classes média,. média-alta e alta):

  •  "viveiro" de líderes: O grupo de jovens que frequentava as universidades de prestígio (como o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras - ISCEF, que formou muitos economistas e futuros banqueiros; ou o IST -  Instituto Superior Técnico) era, inevitavelmente, o grupo que viria a ocupar os mais altos cargos na economia, na política e na academia: ao recrutar este universo, a RN tornou-se um ponto de passagem obrigatório para a futura classe dirigente do país.

A RN não era uma elite no sentido de ser uma força especial de combate (esse papel era desempenhado pelos Fuzileiros Especiais, por exemplo), mas sim uma elite social, cultural, intelectual e profissional.

Os oficiais da RN  eram jovens com elevada formação civil que cumpriam o seu serviço militar, muitas vezes em funções administrativas, logísticas,  técnicas ou de comando a bordo de navios, utilizando os seus conhecimentos académicos. 

O facto de alguns deles terem alcançado notoriedade pública pode ser visto como uma consequência direta de terem pertencido a esse grupo social e educacional altamente privilegiado e selecionado.

Há quem não gosto do termo, “elite”. No mínimo, os oficiais da RN formavam um grupo socialmente mais qualificado e diversificado da juventude portuguesa, em tempo de guerra, que via na Marinha uma via mais segura e confortável de serviço militar, mas também  mais compatível com o seu perfil académico, técnico ou profissional, as suas necessidades e expetativas, os seus projetos de vida, etc.  

Entre estes, encontram-se vários nomes  que mais tarde viriam a assumir papéis de destaque na vida económica, académica e política do país — como Artur Santos Silva ou Ricardo Salgado,  duas figuras de proa da banca portuguesa, ou Diogo Freitas do Amaral, fundador do CDS, professor universitário;  ou  Adelino Amaro da Costa, antigo Ministro da Defesa Nacional. Mas também Vitor Constâncio e outros.

(iv)  Motivações dos jovens que escolhiam a Reserva Naval

A opção pela RN surgia por vários motivos:

a) Menor risco e melhores condições

A Marinha, incluindo os oficiais da Reserva Naval, registou índices de baixas muito inferiores aos do Exército, particularmente em zonas de guerra intensa como a Guiné ou Moçambique. As missões navais eram geralmente:
  • em  navios (fragatas, navios hidrográficos, navios de transporte, LFG, LDG);
  • em bases costeiras ou fluviais mais organizadas e seguras; 
  • com melhor capacidade de evacuação, apoio médico,  alimentação, lazer, etc.
b) Estatuto social e prestígio

A figura do “oficial da Marinha”, impecável na sua "farda do botão de âncora",   tinha, tradicionalmente, maior prestígio social do que o oficial do exército; a  instituição mantinha uma cultura mais elitizada e tecnocrática, preservando modelos de carreira próximos dos padrões europeus.

c) Evitar condições mais duras do Exército

A tropa terrestre enfrentava nos TO ultramarinos:

  • condições de campanha mais precárias, 
  • maior exposição ao combate, 
  • baixas mais elevadas sobretudo em operações do mato, ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos, minas e armadilhas, emboscadas, 
  • instalações precárias, insalubres e inseguras, 
  • isolamento, 
  • dificuldades de abastecimento, etc..

Comparativamente, a Força Aérea também oferecia boas condições, mas dispunha de bem menos vagas e exigia aptidões muito específicas.


(v) Composição social e formação

Entre 1958 e 1974, os 25 cursos da Reserva Naval formaram 1712 oficiais, dos quais cerca de mil foram mobilizados. O seu número de candidatos foi sempre crescendo a apartir do 9º CFORN (1965), atingindo o valor mais expressivo no final da guerra.

Estes cursos atraíam:

  • universitários de direito, economia, engenharia,  educação física, farmácia, medicina;
  • jovens de famílias ligadas ao funcionalismo qualificado, indústria, banca e profissões liberais, etc.. (famílias que, além do poder económico, tinham também um importante capital de relações sociais);
  • futuros quadros políticos e económicos do Portugal democrático (como Artur Santos Silva,  Freitas do Amaral, Vitor Constâncio, Rui Machete, Ernâni  Lopes, Bagão Félix,, etc.).

A Marinha proporcionava-lhes uma formação disciplinada, tecnicamente exigente e socialmente valorizada, além de viagens (20 dias, a viagem de instrução). 

E também facilitava (mais do que o Exército e FAP) uma curta licença para efeitos de congressos e seminários, concursos académicos, actividades docentes, competições desportivas, etc.

(vi) Funções operacionais da Marinha e da Reserva Naval

Os oficiais da Reserva Naval desempenhavam funções em:

  • navios de patrulha e escolta: controlo das costas africanas; inspeção de embarcações; transporte de tropas e abastecimentos.
  • unidades de fuzileiros; 
  • hidrografia e vigilância fluvial: em Angola e Moçambique, a Marinha operava nas zonas ribeirinhas e lacustres, essenciais para garantir mobilidade estratégica; na Guiné, circulava sobretudo nos rios e braços de mar;
  • administração e logística: atividades menos expostas ao combate direto, mas fundamentais para o esforço de guerra.

(vii) Comparação com o Exército e Força Aérea

a) Estatuto

  • Marinha: tradicionalmente mais prestigiante, com cultura mais próxima das marinhas europeias (a Royal Navy, por exemplo);
  • Exército: mais massificado, com maior presença de mobilizados (contingente geral e milicianos) e menor distinção social;
  • Força Aérea: tecnocrática e profissionalizada, mas com menor dimensão e capacidade de absorver quadros da Reserva; mas incluia os batalhões de caçadores paraquedistas;

b) Condições de vida e de trabalho
  • Marinha: melhores quartéis/destacamentos/bases, alimentação, condições sanitárias e descanso (a bordo, de navios);
  • Exército: operações prolongadas no mato, maior desgaste físico e psicológico;piores instalações no mato (em geral);
  • Força Aérea: boas bases, mas frequentemente o pessoal era colocada em zonas de risco mais elevado.

c) Baixas

  • Exército: a esmagadora maioria das baixas portuguesas (mas também era o grosso dos efetivos militares: 6,7 vezes mais do que a FA (em 1973); 29,2 vezes mais do que a Marina (em 1973);
  • Marinha: reduzidas (maior risco para fuzileiros e guarnições das lanchas de desembarque; operações mais controladas e com evacuação mais rápida; 
  • Força Aérea: baixas sobretudo entre os pilotos e mecânicos, e os paquedistas.

(viii) Síntese

A Reserva Naval (RN)  era mais apelativa. E, de facto, funcionou como uma alternativa preferencial para jovens qualificados,  de formação universitária, oferecendo:
  • melhor estatuto social,
  • melhores condições de vida e trabalho,
  • talvez menor risco operacional (à parte os fuzileiros e as guarnições das LGF e LDG, nas LDM e LDP não havia oficiais)
  • e formação de qualidade, tecnicamente exigente.

Isto explica porque muitos futuros líderes políticos, académicos e económicos passaram por esta via durante o conflito. Parte deles não terão sido sequer mobilizados para o ultramar.
 
Entre 1961 e 1974, Portugal viveu um dos períodos mais marcantes da sua história recente: a Guerra Colonial. 

  • em primeiro lugar, o estatuto social associado ao oficial da Marinha (uma instituição que preservava uma cultura mais tecnocrática, estruturada e prestigiada);
  • em segundo lugar, as condições de vida, apoio logístico e organização interna eram, em regra, mais favoráveis do que as enfrentadas pelas tropas terrestres; a bordo, havia melhores condições sanitárias, maior acesso a cuidados médicos, melhor alimentação e períodos mais regulares de descanso e  oportunidades de aventura, "escape" e lazer;
  • finalmente, a Marinha, embora exposta a perigos significativos, sobretudo em operações fluviais e costeiras bem como no corpo de fuzileiros,  terá registado proporcionalmente um número de baixas muito inferior ao do Exército.

As funções desempenhadas pelos oficiais da RN eram variadas: desde o serviço em navios de patrulha e transporte, à fiscalização costeira, hidrografia, vigilância fluvial, logística e apoio administrativo. Outros integraram também unidades de fuzileiros, assumindo papéis de combate direto. No conjunto, tratava-se de um corpo técnico e operacional que contribuiu de forma essencial para manter a presença portuguesa nos territórios ultramarinos, e que prestigiou as nossas Forças Armadas.

Como notam os autores de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975" (Lisboa, 1992, pág. 657), "em 1974 a Marinha tinha mais Oficiais Subalternos oriundos da comunidade universitária (412) do que aqueles que ela própria formara na sua Escola Naval (355).

(...) "Por outro lado, dentre os 655 Oficiais Subalternos  do QP apenas pouco mais de 400 tinham formação de nível superior e somente 355, ou seja, 33%,,  eram oriundos da Escola Naval".

Hoje, ao olhar para a história da Reserva Naval, percebemos que ela reflecte não apenas a estratégia militar portuguesa, mas também a realidade social do país nessa época: as oportunidades desiguais, o valor atribuído à formação académica, e as diferentes formas de viver  (e sobreviver)  numa guerra que marcou profundamente  toda uma geração (a nossa,  nascida entre finais de 1930 e princípios de 1950)
.

De qualquer modo pode concluir-se, citando os autores do citado anuário, os comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado:

"Foram 1712 cidadãos que a Marinha teve o privilégio de caolhger e de com eles conviver. Foram 1712 marinheiros que,  à margem do sextante ou do fuzil, a Marinha ajudou a preparar para uma vida diferente.

"A Marinha recordo-os e este trabalho é também uma homenagem que os seus autores lhe prestam" (op.cit., pág. 67).

Pesquisa: LG + Net - Assistentes de IA (Gemini / Google, ChatGPT)

(Condensação, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27461 A nossa guerra em números (46): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte III


Almada >  Perímetro Militar do Alfeite > Escola Naval >   21º CFORN (1972) > Juramento de bandeira dos 93 cadetes incorporados. Foto do blogue Reserva Naval,do Manuel Lema Santos (com a devida vénia...)



Manuel Lema Santos (1942-2025).
Foto: Manuel Resende

1. Não conheço melhor elogio da Reserva Naval do que o que foi feito pelo nosso amigo e camaraada Manuel Lema Santos (1942-2025), 1º ten RN (1965-72), e que serviu na Guiné como imediato da LFG Orion (1966-68), com o  posto de 2º ten RN.(*)

1.1. Eis, entretanto, alguns números coligidos por ele com referência à Reserva Naval:

  • dos 1712 oficiais RN formados em 25 cursos (1958-1974), 71 ingressaram no QP dos Oficiais da Armada (4,1%);
  • desses 71,  56 ingressaram na classe de Fuzileiros (78.9%);
  • tomando como referência os 16º e 17º CFORN, de 1970, frequentado por 166 cadetes,  57% foi mobilizado para o ultramar;
  • em 63 Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE) distribuídos pelos TO de Angola, Guiné e Moçambique, da totalidade de 139 oficiais neles integrados, 82 eram Oficiais RN (56%);
  • e, mesmo dos 57 dos Quadros Permanentes que comandaram os DFE, mais de uma dezena tinham desempenhado missões anteriores como oficiais da Reserva Naval e vieram a optar pelo ingresso no QP;
  • com referência só às Companhias de Fuzileiros: das 45 Unidades que nos mesmos teatros operacionais estacionaram, considerando incluídos os Pelotões Independentes e de Reforço (também em Cabo Verde), 217 dos 328 Oficiais (66%) que integraram o Comando das Companhias pertenciam à Reserva Naval; 
  • e entre estes últimos, 11 pertenciam à Classe de Médicos Navais e alguns Comandantes daquelas unidades eram igualmente oriundos da Reserva Naval;
  • ainda numa outra perspectiva, em finais daquele ano de 1974, do total de Oficiais que prestavam serviço na Armada, 24% pertenciam à Reserva Naval e, considerando apenas os Oficiais subalternos, essa percentagem aumentava para 40%;
  • morreram 6 oficiais RN durante a sua prestação de serviço, dos quais 4 fuzileiros; 3 por doença, 2 por acidente de viação e 1 em combate (em Angola, em 2 de junho de 1973; subtenente FZ  RN António Bernardino Apolónio Piteira , do 18º CFORN, 1971); 
  • 6 outros oficias RN (dos quais 5 fuzileiros) foran licenciados por invalidesz, resultante de ações em campanha: 1 em Angola e 5 na Guiné.

1.2. Excertos do Blogue Reserva Naval  > 1 de fevereiro de 2023 >   Reserva Naval 1958-1992
 

(...) A Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório.

Ao tempo, uma opção pessoal possível num percurso universitário completo ou em vias de o ser, passagem obrigatória no rumo de vida traçado, ao serviço da cidadania e do país onde nasceram. Diria melhor e mais correctamente, da Pátria.

A evasão temporária ao amplexo paternalista, algum inconformismo e a necessidade inadiável de transpor aquela linha no horizonte terão sido algumas das motivações. Outras tantas, eventualmente condicionadas por aspectos pessoais, profissionais, familiares e também económicos.

De um lado, incertezas, anseios, dúvidas tumultuosas, sentimentos contraditórios e algumas perspectivas goradas, mas também natural confiança e esperança. Do outro, o salto no desconhecido, arrojado mas sonhador, a aventura e o desejo de bem cumprir.

Se para muitos configurou uma escolha alternativa enquanto no desempenho de um dever cívico, para outros terá representado uma ponte provisória para a vida profissional. Ainda para alguns, em menor número, mas mais tarde a própria carreira profissional.

Escola Naval, viagem de instrução e juramento de bandeira marcaram, em sucessão, formação académica e humana, camaradagem e também crescimento.

Em cenários de guerra como Moçambique, Angola e Guiné, mas igualmente em S. Tomé, Cabo Verde e no Continente, quase quatro mil Oficiais da Reserva Naval desempenharam funções ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa:

  • a navegar ou em terra, como oficiais de guarnição ou nos fuzileiros, todos fazendo parte do transbordante testemunho de solidariedade, generosidade e convívio partilhado com as Unidades e Serviços onde permaneceram;
  • ombreando com militares e camaradas de outros ramos das Forças Armadas;
  • ganhando acrescido sentido de responsabilidade e maturidade;;
  • grangeando pelo cumprimento, pelo exemplo e pela dedicação, a amizade, admiração, respeito e camaradagem de superiores, subordinados e também das populações com que contactaram.

Na memória que o tempo não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal História.

História da Reserva Naval e da Marinha de Guerra que lhe deu origem. No espírito Reserva Naval, um passado comum a preservar.

Uma palavra para todos aqueles que nos deixaram prematuramente, chamados para a última viagem. Estarão sempre connosco!  (...)

Manuel Lema Santos

 (Seleção, revisão / fixação de texto: LG

2. Outro grande elogio da Reserva Naval é feitos pelos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, autores do  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975" (edição de autor, Lisboa, 1992, 143 pp.).

 Aqui vão excertos de 2 páginas (com a devia vénia):


 Breve análise dos CFORN



- pág. 26 - 

 

- pág 27 - 

Fonte: excertos de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992, pp. 26 e 27). Sublinhados nossos.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

 (*) Vd, postes anteriores da série:

19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN) e foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974 - Parte I

19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27445: A nossa guerra em números (45): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte II

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27445: A nossa guerra em números (45): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte II



Capa do livro de Manuel Lema Santos, "Anuário da Resreva Naval: 1976-1992" (LIsboa, AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, 2011, 116 pp.)  (Depósito Legal: 323356/11, ISBN 978-989-20-2321-2).



Em 25 de Julho de 2005, com a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada, o Presidente da Assembleia Geral da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval e várias outras individualidades, foi descerrada na Casa da Balança - Instalações Centrais de Marinha (ICM), junto da "Doca da Caldeira", em Lisboa, uma placa evocativa do cinquentenário da criação da Reserva Naval. Fonte: Blogue "Reserva Naval" (com a devida vénia...)

Foto (e legenda): © Manuel Lema Santos (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Segundo as "contas" do Manuel Lema Santos (MLS)  (oficial da Reserva Naval, entre 1965 e 1972, 1º ten  licenciado, como ele gostava de frisar, detestando que lhe chamassem ex-1º ten);

  • "foram  1.712 admitidos pela Briosa entre 1958 e 1975;
  •  a que se adicionaram mais 1.886 entre 1976 e 1992". 

Em 1975 não re realizou nenhum CFORN. O MLS é o autor de  "Anuário da Reserva Naval: 1976-1992"(Lisboa, AORN, 2011, 116 pp.).

"Dos primeiros que desfilaram enquanto esteve no palco a Guerra do Ultramar, cerca de 1.000 daqueles camaradas estiveram nos vários teatros de guerra, especialmente em Angola, Moçambique e Guiné. Vou mesmo mais longe nos meus considerandos já que, mesmo em Macau, esteve um oficial RN e, em Timor, outros dois camaradas completamente ignorados. 

A LFG «Orion», 1966-1968, num teatro difícil, complementou a minha formação social e humana, pouco atractivo para jovens recém-saídos da Casa Paterna, universitário IST  [Instituto Superior Técnico] e com 24 anos de percurso na vida"..

E acrescenta:  "(...) repetiria aquela rota tendo em conta o caminho que me foi permitido percorrer, com as opções que tive de fazer como qualquer comum mortal." (*)

Ora desses cerca de mil Oficiais da Reserva Naval, mobilizados para a guerra colonial / guerra do uktranara (não sabemos quantos estiveram  no CTIG)l, só temos 3 membro registados, formalmente, n nossa Tabanca Grande. Infelizmente dois deles já faleceram:

  • Fernando Tabanez Ribeiro  (n. 1946) (18º CFORN, 1971)(**)
  • João  [Frederico de Saldanha de ] Carvalho  [e ] Meneses (1948-2020) (19º CFORN, 1971; classe Fuzileiros, 2º ten fuz, RN, 21º DEF, ) (***)
  • José   [ Joaquim  Caldeira Marques Monteiro de ]   Macedo (n. 1950) (21º CFORN, 1972; classe Fuzieiros (****)
  • Manuel Lema [Pires dos ] Santos (1942 - 2025) (8º CEORN, 1965; classe Marinha) (*****)
2. No perído pós-guerra colonial (1976-1992),  a Marinha incorporou 1885 oficiais cuja formação (n=78 cursos)  decorreu na Escola Naval (n=41 cursos)  ou na Escola de Fuzileiros (n=37 cursos).    É de salientar que desse total de 1885 oficiais da RN (******):

  • 666 se destinaram à classe de Fuzileiros (35,3%);
  • 484 à classe da Especialistas (25,7%);
  • 414 à classe de Marinha (22,0%);
  • 249 à classe de Médicos Navais (13,2%):
  • 50 à classe de Técnicos (2,6,%)
  • 11 à classe de Engenheiros Construtores Navais (0,6%)
  • e 11 à classe de Farmacêuticos Navais (0,6%)
Observ - A classe de Especialistas inclui engenheiros eletrónicos, químicos, mecânicos; juristas e outros)

(Continua)
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Notas do editor LG:

(*) Vd, poste de 11 de fevereiro de 2021 > Guiné 6/74 - P21885: A Nossa Marinha (2): Em louvor dos bravos da Reserva Naval (1961/74) (Luís Graça / Manuel Lema Santos)

(**) Vd.poste de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18489: Tabanca Grande (461): Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval (LFG "Lira" e "Cassiopeia", CTIG, 1972/73), 770.º tertuliano do nosso Blogue


(******) Último poste da série > 19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN) e foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974 - Parte I

Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte I




Capa de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992. 143 pp.)



Gráfico nº 1 > Distribuição por anos (1958-1974) das incorporações de cadetes da Reserva Naval 

Fonte: Adapt de  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.26



1. Com a morte do Manuel Lema Santos (MLS) (Barrancos, 1942 - Cascais, 2025) (*),  fomos redescobrir nas nossas estantes este livro, que ele havia oferecido ao blogue, em 21 dce abril de 2012, em Monte Real, por ocasião do VII Encontro da Tabanca Grande.

O MLS era do 8º CEORN (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval) (data de alistamento: 9/10/65). Sendo um "filho da Escola", sempre manifestou um especial carinho pela Reserva Naval e criou inclusivamente um blogue, com esse nome, "Reserva Naval". 

https://reservanaval.blogspot.com/ 

Também fez parte, se não erro, dos corpos sociais da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

A Reserva Naval foi criada ou reformulada pelo Decreto-Lei nº  41399, de 27 de novembro de 1957. (Neste diploma foram definidos os diferentes quadros das reservas da Marinha, designadamente a: 
  • RA - Reserva da Armada, 
  • RN - Reserva Naval, 
  • RM -  Reserva Marítima; e 
  • RL - Reserva Legionária.)

No que respeita à RN, era estabelecido que os indivíduos a ela destinados seriam alistados provisoriamente, na idade militar, em contingentes a solicitar ao Ministério do Exército e fixados anualmente pelo Ministério da Marinha para as diferentes especialidades.

Esses contingentes eram constituídos por indivíduos que frequentassem ou tivessem frequentado as seguintes escolas (ou cursos):

  • Faculdade de Ciências;
  • Faculdade de Engenharia e Instituto Superior Técnico /cursos de Engenharia Civil,  Mecânica, Eletrónica, Química Industrial e Máquinas);
  • Faculdades de Medicina;
  • Escolas de Farmácia;
  • Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (cursos de  Ciências Económicas e Financeiras, Economia e Finanças);
  • Faculdade de Economia;
  • Instituto Superior de Agronomia.

Era dada preferência aos "voluntários e oferecidos" (sic) e  aos que possuíssem conhecimentos náuticos (titulares de carta de Patrão de Costa ou de Patrão de Alto Mar),

Finalmente, o referido Decreto-Lei remetia para o Ministro da Marinha a responsabilidade pela expedição das instruções necessárias à sua execução. Era então ministro da Marinha (havia um ministério da Marinha em 1957! ) o futuro presidente da República (e último do Estado Novo), o vice-almirante Américo Tomás (1894-1987).

Em 27 de Maio de 1958, através da Portaria no. 16.714 foram estabelecidas as condições de recrutamento e de prestação de serviço dos reservistas da Reserva Naval.

Esta Portaria, sucessivamente adaptada às realidades e necessidades da Marinha, constitui o instrumento regulador mais relevante da atividade da Reserva Naval. 

O livro em apreço  faz um breve historial da Reserva Naval e passa em revista os 25 CEORN / CFORN (Cursos de Especiais, até ao 8º, e depois Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, do 9º ao 25º).

Os CFORN foram interrompidos em 1975 e retomados em 1976. 

 Neste poste queremos destacar  que entre 1958 e 1974 foram realizados 25 CEORN/ CFORN e formaram-se 1712 oficiais RN, com destaque para;
  • a classe de Marinha (M) (n=612) (35,7%), 
  • seguida da classe Fuzileiro (FZ) (n=465) (27,2%), 
  • Técnicos Especiais (TE) (n=246) (14,4%) 
  • e Administração Naval (AN) (n=243) (14,2%);
  • estas quatro classes  representavam mais de 90 % do total (Quadro nº 1).

 


Quadro nº 1 - CEORN / CFORN, data de alistamento, total de cadetes. e quantitativos por classes, de 1958 a 1974

Legenda: M=Marinha; MN = Médicos Navais; EMQ = Engenheiros Maquinistas Navais; AN= Administração Naval; FZ = Fuzileiros; ECN = Engenheiros Construtores Navais; TE = Técnicos Especialistas; FN = Farmacêuticos Navais.


Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.25.


O gráfico acima, nº 1, pode ter vária leituras: até 1966 (9º CFORN) (1966), a incorporação anual de cadetes da RN (n=459) representou apenas 26,3% do total. A partir de 1967 e até 1974  disparou (n=1262)( 73,7%)

Houve um aumento da oferta e da procura a partir de 1966:


(vd. Gráfico nº 1)

Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992). pág.25.


(Cintinua)

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Notas do editor LG:

sábado, 8 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27399: Notas de leitura (1861): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte V: "Tenho um papel na gaveta", disse-lhe o Salazar, na véspera de partir para o CTIG, como capelão-chefe, em fevereiro de 1966... Era o papel que criava a capelania militar, a meio da guerra...



Padre Bártolo Paiva Pereira,
alferes graduado capelão,
Cabinda, 1962

1. Só em 1966, com a criação da Diocese Castrense,passou a existir a figura jurídica do capelão militar (Decreto Lei nº 47 188, de 8 de setembro).


Este diploma que vem promulgar "a estruturação da assistência religiosa nas forças armadas": embora já revogado (em 1991), tem interesse para a história da capelania militar e da guerra colonial. Até então os capelães mobilizados para os 3 teatros de operações eram todos, teoricamente, voluntarios, como foi o caso do padre Bártolo.

No seu artigo 10º (de um total de 23), o Decreto-Lei noº  47 188 determinava a realização de um curso, a ser regulamentado por portaria conjunta do Ministro da Defesa Nacional e dos Ministros e Secretário de Estado de cada um dos departamentos das forças armadas. Diz o nº 1 do art. 10º

(...) "Após a incorporação, os sacerdotes frequentam um curso destinado a ministrar-lhes os necessários conhecimentos de natureza militar e pastoral." (...)

O nosso autor diz que o primeiro curso realizou-se na Academia Militar, em Lisboa, logo em 1967. Foi frequentado por 58 sacerdotes, graduados no posto de aspirante miliciano (pág. 46). Entre eles, o nosso conhecido padre Mário de Oliveira, já falecido, que foi alferes g
aduado capelão, CCS/BCAÇ 1912 (Mansoa, entre novembro de 1967  e em março 1968).

De 1967 a 2017, realizaram-se 43 cursos de capelães militares, frequentados por total de 877 sacerdotes Bártolo Paiva Pereira, op. cit., pág. 47).

O curso e a participação na guerra colonial ajudaram a "arrumar a casa".


 Capa do último livro de Bártolo Paiva Pereira, padre da diocese de Braga, capelão militar, capelão-chefe do CTIG (1965/67); nascido em 1935, em Santo Tirso,  foi ordenado sacerdote em 1959, em Braga; foi capelão militar desde 1961, em Angola, e serviu nas Forças Armadas durante 30 anos (um caso raro de dedicação á Pastoral Castrense; é hoje major do exército na situação de reforma;  também exerceu o seu múnus espiritual no seio da diáspora portuguesa na Suíça; é autor de uma dezena de livros; vive em Vila do Conde, é vizinho e amigo do nosso camarada Virgílio Teixeira.

Esta última obra, que acaba de sair,  é edição de autor (Vila do Conde, 2025, 120 pp.). A capa é de Joaquim António Salgado de Almeida. Depósito legal nº 548769/25. Não tem ISBN. Impressão: Gráfica São João, Fajozes, Vila do Conde. ~(*)


(pág. 48)


O abandono do sacerdócio terá sido mais dramático com a guerra.

 O autor diz que de 1967 a 1971, em nove cursos e num total de 305 capelães, houve um em cada três que pediu a redução ao estado laical. 

 Não se percebe como é que o padre Bártolo calculou a taxa de 10% de abandono para o total dos 877 capelães , formados no período de 1967 a 2017.

Há aqui dois factores a considerar na análise deste fenómeno:

 (i) a realização do Concílio Vaticano II (que se reunuiu em 4 outonos,de 1962 a 1965); e 

(ii)  a experiência da guerra colonial. 

Valeria a pena ir mais longe na especulação sobre as razões (sociológicas, teológicas, éticas, psico9lógicas,  etc.) que levaram à crise náo só do clero como das vocações sacerdotais, em Portugal, nos anos 60/70/80.

 "Se a farda militar ajudou alguns sacerdotes a despirem a batina, (...) foi saudável" (pág. 49).

Por outro lado, há que reconhecer que apenas dois capelães foram "expulsos do Exército", por coincidència dois membros da Tabanca Grande, um deles o já supracitado Mário da Lixa (sic) e o Arsénio Puim. Falaremos destes dois caso em próximo poste.

Mas também morreram dois capelões durante os 13 anos de guerra: um em combate, o padre Lomba, da diocese de Braga, e o padre Manuel Cunha, em acidente de viação (pág. 53).
 

O padre Bártolo, que não nos lê, nem tem acesso à Net, náo deve ter lido a excelente e bem documentada reportagem sobre os capelães militares e a guerra do ultramar / guerra colonial. da autoria do jornalista António Marujo (do jornal digital 7Margens), publicada na revista do semanário Expresso, edição nº 2673, de 12/5/2023,  

O destaque é dado à figura do açoriano  Arsénio Puim  Mas o autor acabou por descobrir "pelo menos outros 11 padres católicos que se opuseram à guerra colonial e não quiseram ser capelães", para além dos dois que foram expulsos do CTIG e exonerados das suas funções de capelania (Mário de Oliveira, em 1968 e Arsénio Puim, em 1971):

  • José Maria Pacheco Gonçalves, 
  • José Alves Rodrigues, 
  • Domingos Castro e Sá, 
  • Serafim Ferreira de Ascensão, 
  • Manuel Joaquim Ribeiro, 
  • António de Sousa Alves, 
  • José Domingos Moreira, 
  • José Lopes Baptista, 
  • Joaquim Sampaio Ribeiro 
  • Carlos Borges de Pinho,
  • José Carlos Pinto Matos.

Eram todos da diocese do Poto, com exceçáo do último que oertencia à diocese de Viseu. "

Destes nomes destaque-se o do Carlos Manuel Valente Borges de Pinho, que foi capelão da CCS / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74), no curto período de 16/3 a 16/9/73. Foi amigo pessoal do nosso tabanqueiro José Teixeira. que deixou de ter notícias dele. hoje leigo (para saber mais ler aqui o poste P19055.).


2. Surpreendente ou talvez não, é a "inconfidència" ou a partilha de um pequeno segredo do padre Bártolo, na véspera de partir para a Guiné, em fevereiro de 1966. Teve ensejo de fazer uma visita inusitada, de conversar durante 20 minutos  e de inclusive tomar chá com o homem mais poderoso do país naquela época

Registe-se a opinião (ou a imoressão ) do autor:  

"Salazar era o único governante que se opunha à oficialização do Serviço de Assistência Religiosa às Forças Armadas. 

"Já a guerra colonial ia a meio, quando foi criada a Diocese Castrense. Saiu o 'papel da gaveta' e o Serviço Religioso das Forças Armadas e de Segurança foi legalmente instituído" (pág. 49). 

Porquê ? O autor não aprofunda as razões da má-vontade, reserva, se não mesmo "antipatia" e até "oposição" de Salazar à ideia da oficialização do serviço de assistência religiosa nas forças armadas, já há, de resto,  muito reclamado pelas chefias militares.

Acrescenta apenas que, apesar de uma pretensa amizade entre ele e o Cardeal Cerejeira,  Salazar sempre terá cultivado,  com a Igreja enquanto instituição,  "uma cautelosa diplomacia" (pág. 50). 

A história do "papel na gaveta" vem a seguir. É uma "petite histoire":


(pp. 50/51)

Quanto ao número de capelães mobilizados terão sido mais de mil pelas contas do autor:
  • c. 500 para Angola;
  • c. 400 para Moçambique;
  • 113 para a Guiné.
(Continua) (**)

____________________

Notas do editor LG:

 (*) Vd. postes anteriores da série:




7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)