sábado, 17 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19203: Efemérides (296): No 1º centenário da Grande Guerra: fomos revisitar o Diário de Lisboa, de 5 de abril de 1924: a mediatização do herói. o Soldado Milhões













Diário de Lisboa, 5 de abril de 1924, p. 1












Diário de Lisboa, 5 de abril de 1924, p. 5

Excertos editados pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum >  Pasta: 05741.005.01198 > Título: Diário de Lisboa > Número: 918 > Ano: 3 > Data: Sábado, 5 de Abril de 1924 > Directores: Director: Joaquim Manso > Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos


Citação:
(1924), "Diário de Lisboa", nº 918, Ano 3, Sábado, 5 de Abril de 1924, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_31651 (2018-11-16)


1. Já esquecido, depois do regresso à terra, em Trás-os-Mintes,  a história de heroísmo do soldado Milhões, condecorado com a Torre e Espada, coisa rara para um soldado raso, por ter salvo dezenas e dezenas de camaradas na batalha de La Lyz, é resgatada pelo jornal "Diário de Lisboa", em 1924. 

A partir daí, com a sua mediatização, transforma-se num símbolo nacional, usado e abusado pela propaganda tanto da I República, como do Estado Novo. Achámos que valia a pena reproduzir este nº histórico do "Diário de Lisboa"  (pp. 1 e 5), até como exemplo do estilo jornalístico que se praticava há mais de 90 anos. É uma delicía o diálogo entre o jornalista e o soldado Milhões... (LG)

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Guiné 61/74 - P19202: Os nossos seres, saberes e lazeres (293): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (12): O esplêndido Museu Arqueológico Saint-Raymond, em Toulouse (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Agora, estou na fase terminal desta viagem inesquecível, resolvi descer às catacumbas, antes de tomar o avião de regresso, aqui se fala da visita ao Museu Arqueológico, uma instituição vibrante, como pude testemunhar.
A série fica definitivamente arrumada com as últimas imagens de Toulouse e um retorno a Toulouse-Lautrec, era doloroso não partilhar convosco a beleza que nos legou este génio albigense.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (12): 
O esplêndido Museu Arqueológico Saint-Raymond, em Toulouse

Beja Santos

Não há hoje museu que não procure incentivar a diversidade de públicos mediante propostas de eventos, concertos, conferências, atos culturais extraordinários. Antes do viandante entrar propriamente na exposição do faustoso acervo, onde prima a Roma das Gálias, procurou inteirar-se do que se oferecia naquele preciso instante. Logo chamou a atenção a proposta de distinguir o objeto genuíno da cópia, réplica ou imitação, o museu expunha mensalmente um objeto falso no meio de obras da coleção permanente, convidando o visitante a despistar o verdadeiro do falso. Chamou igualmente a atenção as jornadas nacionais de arqueologia, as visitas guiadas, a noite europeia dos museus, o acervo de conferências. Inclusivamente a inter-relação entre o museu e os sítios arqueológicos de Toulouse.






Aqui só se confronta o mundo antigo, o que se expõe é sobretudo a época galo-romana, já não cabe nestas coleções a arte visigótica, atingida pelo período medieval. Tolosa teve circo, e há monumentos posteriores que têm nos seus fundamentos os tempos da presença romana. O Museu Arqueológico Saint-Raymond incita o visitante a procurar a Igreja Saint-Pierre-des-Cuisines, ali bem perto, onde há uma necrópole romana. Nesta igreja eram sepultadas crianças nas ânforas e os adultos em urnas de tijolo cobertas por telhas ou madeira, aqui se implantou o cemitério da primeira basílica funerária.






Qualquer uma destas imagens fala por mil palavras, quem se interessa pelo estudo da escultura romana, tem aqui exemplares de primeiríssima água, não se ignora que os romanos, em termos da escultura, procuraram evoluir face aos gregos, mas faltou-lhes a delicadeza, aquele golpe de asa que separa, por exemplo, aquilo que aqui vemos da escultura da Vitória de Samotrácia, hoje no Louvre, ou a Vénus de Milo. Mas não deixa de emocionar a vitalidade das formas e perceber-se com meridiana clareza que se caminha para uma nova etapa, a Idade Média, na sua dimensão singela, um tanto tosca.



São impressionantes estas imagens, o viandante olha para o relógio, ainda tem que atravessar um parque e ir buscar a bagagem para partir para o aeroporto. Na noite anterior, andou a espiolhar as imagens que tirou, já eliminou o que tinha a eliminar, para sua surpresa guardou um número elevado de imagens das obras de Toulouse-Lautrec, seria uma dor de alma não as partilhar com quem nos acompanha neste andarilho. É o que acontecerá na narrativa do derradeiro episódio desta viagem que teve o seu epicentro na cidade de Toulouse, viagem inesquecível.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19182: Os nossos seres, saberes e lazeres (292): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (11): A grandiosidade dos Augustins, um convento gótico, um soberbo museu (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19201: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LI: Sentado à sombra do grande poilão...


Foto nº  1 > Arredores de Nova Lamego >  Janeiro/fevereiro de 1968. Um gigantesco poilão. Eu mais outros camaradas.


Foto nº 2  > Nova Lamego >  Janeiro/fevereiro de 196 > .Um grupo de camaradas, em dia de descanso, domingo, à civil, já em cima do poilão. 


Foto nº 7 > Nova Lamego > Outubro de 1967 > Um poilão ou outra grande árvore, com o camarada Furriel Rocha, o Algarvio.


Fpoto nº 6 > Nova Lamego > Outubro de 1967 > Dormindo a sesta, num ramo de uma grande árvore, protegendo-me do sol ameaçador.  


Foto nº 10 > Nova Lamego > Outubro de 1967 > Junto com pessoal administrativo e intendência. Da esquerda para a direita: Alferes Carneiro, eu (alferes Teixeira), o Furriel Riquito, o Furriel Paiva Matos (Vagomestre), o Cabo Seixas.  


Foto nº 8 > Nova Lamego > Novembro de 1967 > Dois meses depois de ter chegado... Eu e outros camaradas, numa mata próxima, numa tentativa de caça com lanças, como fazia a população local. Não se apanhou nada.  


Foto nº 4 > Nova Lamego > Na sombra de um arvoredo, protegendo-me do sol, em hora de sesta, na companhia do camarada Alferes (aqui ainda aspirante) Mesquita,  das Transmissões.


Foto nº 5 > Nova Lamego > Outubro de 1967 > Protegendo-me do sol, sozinho, num arvoredo dos arredores, em hora de sesta. Tínhamos chegado há pouco.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Virgílio Teixeira, natural do Porto,
a viver em Vila do Conde
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: 


NOS TEMPOS EM QUE AINDA NÃO SABIA QUE PASSADOS MAIS DE 50 ANOS, IRIA SENTAR-ME (VIRTUALMENTE) À SOMBRA DO GRANDE POILÃO DA NOSSA TABANCA GRANDE…


T066 – À SOMBRA DO GRANDE POILÃO 



I - Anotações e Introdução ao tema:


Esta peça faz parte de um conjunto de mais de 200 fotografias – todas a preto e branco – dos tempos em que passei no leste da Guiné – Sector L3, Gabu - Nova Lamego.

Cheguei a esta zona em 23 de Setembro de 1967, e saí juntamente com o meu batalhão, no dia 26 de Fevereiro de 1968. Fomos render o BCAV 1915, e fomos substituídos pelo BCAÇ 2835.

Tentei passar todas estas fotos para um ou dois Postes, mas eram tantas as fotos, que nunca foi editado, e ainda bem que não.

Organizei esta fase da minha estadia, isto é, as fotos, em 10 Temas mais pequenos, que estão já numerados e legendados desde o T060 a T069.

Escolhi este para dar a conhecer o que era a cidade de Nova Lamego, conhecida também como Gabu, ou Gabu-Sara, nome do dialeto Fula.

Vão ter temas sobre os arredores de NL, os passatempos, as várias colunas para diversos outros aquartelamentos, na maior zona do Leste da Guiné, o que existia para conviver, os muitos petiscos e aniversários com festas, o Natal e Ano Novo de 1967, e tantas outras variadas coisas, como esta, por exemplo que escolhi para este arranque, sob a designação que arranjei oportuna, face à primeira foto, de “À Sombra do Grande Poilão”.

Depois são outras fotos e as legendas de cada uma, alguns comentários, para quem estiver interessado, pois há vários camaradas que me pedem para mandar fotos de Nova Lamego, sitio que, par quem lá esteve, nunca vai esquecer. É preciso ter em conta, para não cair no ridículo, que são as primeiras fotos de militares periquitos, acabados de chegar a um mundo que lhes era totalmente estranho, e com o tempo a ‘endurance’ foi aparecendo.

Espero que sejam apreciadas e que lembrem a alguns as suas memórias de 50 anos. No total não irei colocar mais de 150 fotos, pois não há espaço no Blogue para mais.



II – Legendagem das fotos:



F01 – Um grande poilão e vários militares, entre eles o autor, parecendo quase formigas, face ao tamanho desta grande árvore, simbolicamente chamada de Poilão. Foto captada em Nova Lamego – arredores, entre Janeiro e Fevereiro de 1968.

F02 – Um grupo de camaradas, em dia de descanso, Domingo, à civil, já em cima do poilão. Foto captada em Nova Lamego – arredores, entre Janeiro e Fevereiro de 1968.

F03 – Sentado na sombra do arvoredo, possivelmente na hora da sesta quando a temperatura está muito alta. Ao meu lado o Furriel Rocha. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 67, poucos dias depois de lá chegar.

F04 – Na sombra de um arvoredo, protegendo-me do sol, em hora de sesta, na companhia do camarada Alferes (aqui ainda aspirante) Mesquita das Transmissões.

F05 – Protegendo-me do sol, sozinho, num arvoredo dos arredores, em hora de sesta. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 67, poucos dias depois de lá chegar.

F06 – Dormindo a sesta, num ramo de uma grande árvore, protegendo-me do sol ameaçador. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 67, poucos dias depois de ter chegado àquelas paragens. 

F07 – Subindo a um poilão ou outra grande árvore, com o camarada Furriel Rocha, o Algarvio.
Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 67, poucos dias depois de ter chegado àquelas paragens. 

F08 – Junto de um grupo de soldados e camaradas, numa mata próxima, numa tentativa de caça com lanças, como fazia a população local. Não se apanhou nada. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 67, dois meses depois de ter chegado àquelas paragens. 

F09 – [Não enviada.] Estou subindo uma árvore, mas só vejo a minha mão, eram as primeiras fotos que estavam a ser feitas, sem experiência, quer minha, quer do outro camarada que a tirou. Foto captada em Nova Lamego, no dia 28 de Janeiro de 1968, na véspera do meu aniversário de 25 anos. 

F10 - Junto com pessoal administrativo e intendência. Da esquerda para a direita: Alferes Carneiro, Eu (alferes Teixeira), o Furriel Riquito, o Furriel Paiva Matos (Vagomestre), o Cabo Seixas.  Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 67, poucos dias depois de ter chegado àquelas paragens. 

F11 – [ Não enviada.] Foto no meio de um bananal, já com uma nova carecada, e provavelmente das últimas fotos obtidas em Nova Lamego. Foto captada em Nova Lamego, em finais de Fevereiro de 1968, poucos dias antes de deixar aquelas paragens. 

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-11-12

Virgílio Teixeira

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Guiné 61/74 - P19200: Notas de leitura (1121): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (60) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Março de 2018:

Queridos amigos,
São bem pessimistas as informações sobre a vida económica e financeira da Guiné no início da década de 1960. O gerente de Bissau envia os dois panfletos enviados aos funcionários e oficiais do Exército, a autoria teria pertencido ao Movimento de Libertação da Guiné, o seu principal ativista era Rafael Barbosa, nacionalista convicto que estabelecerá um acordo com Amílcar Cabral para a fusão de partidos, existe historiografia que ajuda a compreender este contexto, leia-se, por exemplo, António Duarte Silva ou Leopoldo Amado.
Aproveito a circunstância para lembrar que até esta data não há sinais, pelo menos documentais, do PAI que se transfigurará em PAIGC. Talvez não haja estranheza nenhuma, ao contrário do que diz a mitologia o PAIGC arranca efetivamente em 1959 e torna-se público em 1960, a presença de Amílcar Cabral em Conacri e de Rafael Barbosa na agitação interna até março de 1962, é decisiva.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (60)

Beja Santos

A partir de 1960, o gerente de Bissau não mais deixará de dar notícias sobre “acontecimentos anormais”, forma adocicada de indiciar que já se vive em agitação e há iniludíveis sinais ou pré-avisos da luta armada. Mas a vida continua. Dentro desta documentação avulsa encontra-se uma carta da Procuradoria das Missões Franciscanas endereçada à Administração do BNU solicitando um crédito para a construção de biblioteca e fornecimento de livraria, como se verá, o Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Tardini é favorável a que se contraia tal empréstimo. De outro lado, e com data de agosto e setembro de 1961, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné solicita ao BNU a concessão de créditos aos pequenos “comerciantes do mato”.
Atenda-se aos argumentos da carta expedida pelo gerente de Bissau:
“O interesse destas operações, no actual momento, reside essencialmente na utilidade de fixarmos elementos brancos no interior por forma a não darmos ao indígena a ideia do ‘abandono’, não lhe criando dificuldades ou perturbações nas suas tradicionais relações de troca.
Acrescente-se que as chamadas casas grandes, ao que parece, não têm facilitado a estes comerciantes os adiantamentos que era uso conceder-lhes e, também ao que parece, estão seguindo uma política de retracção que, a ter as cores que certas fontes me têm descrito, suscitaria amargos comentários…
Mas porque se trata de pequenos comerciantes, isolados no interior, com uma estrutura económica extremamente frágil não se vê como seria possível ao Banco conceder-lhes crédito, tanto quanto ao aspecto técnico das operações como no que se refere à sua garantia.
Analogamente ao processo que, na Metrópole, temos usado com os Grémios da Lavoura, poderá aceitar-se aqui um crédito indirecto, por intermédio do organismo que legalmente representa esta actividade. Assim e se a Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné tiver personalidade jurídica e capacidade para se obrigar, fica a Dependência autorizada a abrir a favor da mesma associação uma conta-corrente, com garantia de livrança, até ao montante de 3 mil contos”.

A Inspeção do Ultramar pronunciou-se dias depois:
“Deve escrever-se à Dependência no sentido de a instruir para que no eventual arranjo a fazer com a Associação Comercial estude uma fórmula que permita ligar mais directamente os comerciantes do interior à acção do Banco. Isto é, pretende-se que os benefícios a conceder o sejam claramente pelo Banco, embora através da Associação Comercial”.

Dirigindo-se em setembro ao Governo do BNU, o gerente da Filial de Bissau acrescenta novos dados:
“O Sr. Governador da Província, conhecedor do assunto por intermédio do nosso Exm.º Administrador confessou-nos estar bastante interessado na operação, que considera, sob o ponto de vista económico, contributo valioso para a prosperidade dos pequenos comerciantes e agricultores. Voltaremos à presença de V. Exas. logo que a Associação Comercial conclua a elaboração do sistema de funcionamento de crédito a dispensar aos pequenos comerciantes e agricultores”.

Regressemos aos “acontecimentos anormais”.
Tem inequívoco interesse o que Bissau envia para Lisboa logo em 21 de fevereiro de 1960:
“Há cerca de 10 dias todos os Directores de Serviço e Oficiais de Exército receberam, pelo correio, lançados na central desta cidade, dois miseráveis panfletos de ataque à nossa soberania na Guiné. Todos os funcionários os foram entregar a Sua Ex.ª o Governador, o mesmo fazendo os oficiais ao seu comandante. Mas conseguimos que nos emprestassem um exemplar para tirar as cópias que enviamos. Nos meios responsáveis suspeita-se que os nojentos papéis tenham vindo da Metrópole, pois o seu aparecimento nos CTT coincidiu com o dia da chegada do avião. Atribui-se a sua redacção a um advogado, pela disposição do texto.
Entretanto, a estação emissora de Conacri desencadeou um covarde ataque a algumas personalidades desta terra, ataque que tem lugar nas emissões de domingo, pelas 18 horas. Com a montagem de um posto de interferência no mesmo comprimento de onda, conseguiu-se, ao que consta, anular a recepção.
Não falta na Guiné quem aplauda, com fins nitidamente antipatrióticos, a política do Governo local. Também existe quem discorde dela. Paralelamente, a situação económica não dá indícios de melhoria. A produção de mancarra e arroz estima-se inferior à do ano passado e as três grandes firmas aqui estabelecidas desencadearam uma forte alta nos preços de aquisição ao indígena, indo ao mato competir com os pequenos comerciantes, o que causou descontentamento neste sector. O arroz é insuficiente para alimentação da população. Está em curso uma importação de 3 mil toneladas para cumprir o défice da campanha.
A situação cambial agrava-se, mais por deficiência do sistema. Urge que se adoptem regras rígidas de disciplina nas importações e promover a entrada na Província das coberturas derivantes das taxas de concessão do petróleo.
Este conjunto de acontecimentos e circunstâncias traz a população, especialmente a população europeia, alarmada e inquieta”.

Vejamos agora o teor dos panfletos distribuídos na circunstância:



A 8 de março, o gerente de Bissau volta a informar o governo do BNU sobre essas ocorrências:
“Informamos V. Exas. que já foi preso pela PIDE um dos comparticipantes da miserável manobra do chamado Movimento de Libertação da Guiné.
A máquina de escrever onde foram dactilografados os papéis pertencem à Alfândega de Bissau e o dactilógrafo foi um mestiço, aspirante daquela repartição.
E fora de dúvida que o autor não foi ele, mas alguém de maior envergadura intelectual.
É possível que o malandrim já tenha confessado o nome de quem o incumbiu da tarefa, mas, ou por conveniência da polícia ou por outras razões, o certo é que não se sabe ter sido preso alguma das pessoas julgadas capazes de redigir o triste documento”.

(Continua)


Clicar nas imagens para as ampliar


Imagem esclarecedora do papel que desempenhava a Sociedade Comercial Ultramarina, a grande rival da Casa Gouveia (CUF), que, a partir dos anos 1950 passara a pertencer maioritariamente ao BNU.
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Notas do editor

Poste anterior de 9 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19178: Notas de leitura (1119): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (59) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19187: Notas de leitura (1120): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19199: Notas de leitura (1121): "Tatuagens da guerra da Guiné", de Capitão Luís Riquito [, cmdt, CCAÇ 818, Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/66) ("Elo", jornal da ADFA, novembro de 2018)


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Recorte que nos acaba de ser enviado pelo nosso camarada A. Marques Lopes , lisboeta que vive em Matosinhos [, cor DFA, na reforma, ex-alf mil,  CART 1690,  Geba, e  CCAÇ 3, Barro (1967/68)], e  que reproduzimos, para divulgação, com a devida vénia ao jornal ELO, órgão de informação, de periodicidade mensal, da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas.


Nota do portal Wook sobre o autor, Luís F. G. Riquito:

 (i) nasceu em Parada de Gonta, no concelho de Tondela;

(ii) fez o curso liceal em Braga, Évora, Coimbra e Viseu; (iii)

(iii) ingressou em 1957 na Escola do Exército, onde se formou no Curso de Infantaria;

(iv) mobilizado para o Ultramar, cumpriu comissões em Timor, Guiné e Moçambique, onde montou e comandou a segurança da construção da barragem de Cabora Bassa;

(v) em 1975, foi considerado Deficiente das Forças Armadas (DFA), por abate do helicóptero onde seguia quando apoiava as populações a realojar pelo enchimento da albufeira da barragem de CB;

(vi) é condecorado com a Ordem Militar de Avis – Grau de Cavaleiro, com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma, com três Medalhas de Prata de Serviços Distintos com Palma e a Medalha de Mutilados e de Inválidos de Guerra;

(vii) licenciou-se no ISCTE em OGE (Organização e Gestão de Empresas);

(viii) em 1980, assessorou o Serviço Nacional de Protecção Civil no apoio a Angra do Heroísmo, atingida pelo sismo;

(ix) continuou nos fogos florestais de 1981 e na seca de 1982- -1983;

(x) dirigiu o CCDPC (Centro de Coordenação Distrital de Protecção Civil) de Viseu, intervindo na seca, nos fogos florestais e nos acidentes rodoviários;

(xi) regressou em 1992 ao Serviço Nacional como Vice-Presidente com o pelouro dos estudos dos Riscos Naturais que promoveu;

(xii) de 1985 a 1992, foi Presidente da Câmara e da Assembleia Municipal de Tondela, onde organizou e implementou a actividade autárquica; definiu o plano de desenvolvimento para o Concelho, assente em projectos de candidatura a apoios do Governo e da CEE, que elaborou; empenhou as Juntas de Freguesia na resolução dos problemas locais, para quem transferiu meios económicos, técnicos e humanos
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19187: Notas de leitura (1120): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19198: Parabéns a você (1526): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68) e Ten-Coronel Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Fur Art do 9.º Pel Art (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série  de 15 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19195: Parabéns a você (1525): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reabast Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19197: Agenda cultural (659): O António Martins de Matos ,"Voando Sobre um Ninho de Strelas", sente-se agora totalmente realizado por, depois de ter plantado duas árvores, e dado o seu contributo para fazer dois filhos, acaba de publicar um livro, que é muito da sua história de vida, e em especial como piloto da FAP, mas também um bocado das nossas vidas de ex-combatentes...


Alfragide, Amadora > Estado-Maior da Força Aérea  (EMFA) > 13 de novembro de 2018 > O ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande, a autografar o seu livro "Voando Sobre um Ninho de Strelas"... Não temos fotos da mesa que foi presidida pelo Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo, sendo a obra apresentada pelo maj gen Campos Almeida, que foi colega de curso na Academia Militar, do autor (tal como outros colegas ilustres, o Virgílio Varela, do 16 de Março, e o Salgueiro Maia, do 25 de Abril,  sem esquecer o 'strelado' Miguel Pessoa).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guié]



Capa do livro de António Martins de Matos




Ficha técnica do livro




Nota curricular do autor


Dedicatória manuscrita ao editor do nosso blogue



Índice do livro


Nova Lamego, 1 de fevereiro de 1974. Ao autor no cockpit do Fiat G-91 (pag. 245)

Imagens reproduzidas do livro, com a devida vénia ao autor e ao editor

1. Decorreu ontem, como noticiámos, a sessão de lançamento do livro do ten gen pilav ref António Martins de Matos (AMM). "Voando sobre um ninho de Strelas", no edifício do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), em Alfragide, no Auditório General Lemos Ferreira.

Presidiu à mesa o Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo, sendo a obra apresentada pelo maj gen Campos Almeida, que foi colega de curso na Academia Militar, do autor.  Houve três intervenções, por esta ordem: i) Chefe do EMFA; (ii) apresentador; e (iii) autor.

O auditório estava muito composto, atendendo à hora da sessão (17h00), a maioria dos participantes eram pares e/ou  amigos e familiares do autor, com destaques para os militares, no ativo ou na reforma, da Força Aérea. Havia igualmente representantes do  Exército e da Marinha. O nosso blogue marcou presença, através do editor Luís Graça  e do casal Miguel e Giselda Pessoa. (O Miguel, como se sabe, é o editor do blogue da Tabanca do Centro e da sua revista digital "Karas".)

O Chefe do EMFA abriu a sessão, começando por dar os parabéns ao  autor pelo seu livro, um "história na primeira pessoa", e ao mesmo tempo pelo seu 73.º aniversário, ocorrido há dias, a 3 de novembro. Considerou igualmente este livro de memórias como uma homenagem a todos os militares, em geral, e aos da FAP, em particular que se bateram na guerra de África, de 1961 a 1975.

Por sua vez, o maj  gen Campos Almeida fez um brilhante e longo improviso, com uma apresentação detalhada da obra, que ele enquadrou na literatura da guerra do ultramar. onde a FAP também tem os seus, não muitos, representantes. E mencionou, entre outros, o nosso amigo e camarada cor pilv ref Miguel Pessoa, que tem escritos (, incluindo no nosso blogue,) sobre a  sua experiência sob os céus da Guiné: como se sabe, ele foi o primeiro piloto da FAP que viu o seu Fiat G-91 ser abatido por um Strela, em 25 de março de 1973, sendo o AMM o seu asa... Felizmente foi recuperado, com vida, no dia seguinte e, depois de umas "férias forçadas" no Hospital Militar Principal, voltou para o seu posto de combate  (Vd. AMM,  cap. 23 . O míssil Strela, pp. 145-158).

O apresentador  não deixou de chamar a atenção para o título, deveras sugestivo, do livro do AMM, parodiado deliberadamente do aclamado filme de Milos Forman, "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975).

Procedeu depois a uma análise pormenorizada da obra, balizando as memórias do AMM,  em termos de espaço e tempo: (i) a situação no TO da Guiné, e na BA 12 (1972/74); (ii) as questões técnicas do "aair power"; e (iii) as interrogações a nível político-militar... Para cada uma destas áreas, o autor soube utilizar  linguagem diferente mais apropriada; por exemplo, o jargão militar, quando fala da adaptação à Guiné e ao quotidiano da BA 12; a linguagem mais técnica quando discorre sobre o "air power" e as missões operacionais; e por fim, uma abordagem mais interrogativa e crítica no que respeita ao 25 de Abril  e o fim da guerra.

É um livro  onde se apanha,  com humor, os "flagrantes da vida real", em situações de guerra que eram muito menos conhecidas dos portugueses da metrópole do que a das guerra do Vietname. O regime de então, socorrendo-se da censura à imprensa, procurava dar uma "visão idealizada da Guiné". Mas a pressão interna e a escalada da guerra obrigam a algumas cedências: por exemplo, a fotografia do ten cor pilav José de Almeida Brito, comandante da esquadra de Fiat G-91,  atingido mortalmente por um Strela, em 28 de março de 1973, aparece na primeira página dos jornais... Infelizmente, os seus restos mortais só foram encontrados, identificados e recuperados 15 anos depois (!), em 1988 (pp. 149/151).

O apresentador faz ainda referência  às mais de 60 páginas de anexos ao livro e, em nota final, não quis deixar de valorizar a contribuição da filha do autor, a drª Teresa Matos, psicóloga clínica, com a sua abordagem sobre o problema do medo e do stresse  em combate (vd. cap 42. O sabor do medo, pp. 277-285). Não se esqueceu também o apresentador de destacar um tema que é caro ao AMM, justamente "os esquecidos", os ex-combatentes, os que sobreviveram e os militares que morreram, com ênfase para os da FAP (mais de 4 dezenas, entre 14 de outubro de 1961 e 20 de julho de 1975: 12 em Angola; 12 na Guiné; 19 em Moçambique).

Esse tema vai ser recuperado pelo autor, o AMM, quando encerrou a sessão, com a sua intervenção... Começou por dizer que se sentia um homem plenamente realizado, a partir de agora, porque, parafraseando o Eça de Queiroz, já tinha plantado 2 árvores, contribuído para o nascimento de 2 filhos e acabava  de escrever um livro (com outro já na forja, se bem percebi).

Seguiu-se a tradicional e sempre calorosa e gratificante sessão de autógrafos. Obrigado ao AMM, pelo exemplar do livro que nos ofereceu com uma  tocante dedicatória: não somos os "responsáveis morais"... do crime de ele ter passado a escrito um bom pedaço dos seus  73 anos de vida... Seguramente que outros, a começar pela família, merecem mais esta dedicatória e este epíteto. Pela nossa parte, ficamos felizes por passar a haver mais um título na nossa coleção... "Tabanca Grande"...  E já são tantos, os títulos,  que eu lhes perdi a conta. (LG)
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Vd. também pste de 30 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19149: Agenda cultural (655): lançamento oficial do livro do ten gen ref António Martins de Matos, Voando sobre um Ninho de 'Strelas' , no dia 13 de novembro de 2018, terça-feira, às 17h00, no Estado Maior da Força Aérea, Alfragide... Membro da nossa Tabanca Grande, o autor foi ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, tem mais de 80 referências no nosso blogue. Uma sessão de apresentação da obra, aberta ao público em geral, e aos amigos e camaradas da Guiné, em particular, será realizada em Lisboa, em data a anunciar, no princípio de dezembro próximo.