Fernando de Sousa Ribeiro, membro nº 780 da nossa Tabanca Grande
1. Mensagem do nosso leitor e camarada Fernando Ribeiro, que foi alferes miliciano em Angola, integrado na CCaç 3535, do BCaç 3880, entre 1972 e 1974
Assunto: Comnvite para integrar a Tabanca Grande
Data: 31/10/2018, 02:22
Caro Luis Graça,
Sinto-me muito honrado com o convite que me dirigiste para me sentar à sombra do vosso poilão virtual (*) . Sou realmente um assinante do teu blog, através da feed RSS correspondente. Sempre que algum novo post é publicado, recebo um aviso através de um site próprio onde tenho conta gratuita.
O teu blog é um monumento. É de certeza absoluta o maior acervo que existe, na Internet e fora dela, sobre a guerra na Guiné. Está lá tudo, ou pelo menos assim parece. Não existe, para a guerra em Angola e em Moçambique nada que se lhe compare. Absolutamente nada. Zero vírgula zero zero zero.
Neste aspeto, os antigos combatentes em Angola e Moçambique têm que se contentar com a pobreza franciscana dos grupos no Facebook, dos quais nem sequer sou membro (menos de um, porque se refere, pelo menos teoricamente, à zona onde eu estive), além do do meu batalhão. Tu e os camaradas que te acompanham nessa tarefa merecem, no mínimo, um reconhecimento público.
Aceito, portanto, com todo o prazer o convite que me dirigiste, apesar de não ter praticamente nada para dizer sobre a Guiné. Mas como também aparecem posts que falam sobre o Hawai e sobre a Tailândia...
Já agora, aproveito para te dizer que já vi a Guiné ao vivo, sem nunca ter lá estado. Como assim?, perguntarás. No dia 29 de agosto de 1974, quando a minha companhia terminou a sua comissão em Angola e regressou a Lisboa a bordo de um Boeing 707 da Força Aérea, sobrevoei a Guiné. Eu vinha sentado à janela e a dado momento deu-me para espreitar por ela. Vi umas ilhas e pensei: «Já estamos a sobrevoar Cabo Verde». Mas reparei que as ilhas não tinham nada a configuração das de Cabo Verde, que estão alinhadas em dois grupos, o Sotavento e o Barlavento. Pensei então: «Será que aquelas ilhas que estão lá em baixo são o Arquipélago dos Bijagós?». Levantei-me do meu lugar e fui espreitar pela janela do lado oposto. Vi então a Guiné em toda a sua glória. Deslumbrante. A terra da Guiné estava verdíssima e os seus rios de um azul profundo, onde o sol se ia refletindo, faiscante, à medida que o avião avançava para norte. Fiquei maravilhado. Foi um espetáculo inesquecível.
Eu tenho pouquíssimas fotografias minhas da tropa, as quais, ainda por cima, deixam muito a desejar
em termos de qualidade. Envio-te uma a cores, mas que deve ter apanhado humidade ou coisa parecida e ficou em muito mau estado. Se não te agradar, avisa-me, que tentarei mandar-te outra.
Um grande abraço do antigo alferes miliciano da CCaç 3535 do BCaç 3880.
Fernando de Sousa Ribeiro
Fernando, obrigado (eu meu nome e dos meus coeditores e demais colaboradores permanentes) por aceitares o meu convite. Eu não faço discriminação entre combatentes dos diferentes teatros de operações. Mas não tenho a veleidade de querer falar (e querer por toda a gente a falar) sobre tudo o que se passou na guerra colonial, nos diferentes teatros de operações...
O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem uma história (e um "making of") que eu não posso negar ou alterar... Eu tinha um blogue pessoal (o "blogueforanada") que, um dia, a partir de 23 de abril de 2004, começou a "postar" coisas sobre a guerra, a "nossa" guerra da Guiné... Guerra do ultramar, para uns, guerra colonial, para outros... Cedo me apercebi que havia questões fracturantes entre os ex-combatentes, que se podiam ignorar nem escamotear... Arranjei algumas regras, elementares, de bom senso e bom gosto para a gente continuar a conviver... E até hoje. Como nosso leitor, assíduo, conheces (e aceitas) essas regras.
Vais-te então sentar no lugar nº 780 (**), à sombra do nosso poilão (, aqui não há lugares ao sol..:), e vais continuar por certo a intervir, e momeadamente através dos teus postes e comentários, sobre os assuntos que entenderes, já que a condição de militares e combatentes noa guerra de Africa é comum a todos, quer tivéssemos sido "periquitos" na Guiné, "maçaricos" em Angola ou "checas" em Moçambique. Temos, de resto, "grã-tabanqueiros" (isto é, membros da Tabanca Grande) que estiveram em Angola, como tu. E é um país em que tenho bons amigos e onde ainda vou, esporadicamente, por razões profissionais.
Vejo que tens uma página no Facebook e que de resto já és um dos amigos 2800 da página Tabanca Grande Luís Graça. Gosto da tua apresentação ("De tudo quanto vejo me acrescento"), para mais sendo um verso da Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos meus poetas/poetisas de referência. A tua página é discreta, mas pelo que deduzo pareces-me ser do (ou viver no) Porto.
Espero um dia destes poder conhecer-te ao vivo, de preferência aí no Norte, região a que me prendem fortes laços afetivos.
Obrigado igualmente pelo elogio que fazes ao nosso blogue, que passa doravante a ser também teu. O teu nome figura agora na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande (n=780), constante da coluna do lado esquerdo,.
Obrigado igualmente pelo elogio que fazes ao nosso blogue, que passa doravante a ser também teu. O teu nome figura agora na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande (n=780), constante da coluna do lado esquerdo,.
PS - Há um blogue sobre a tua companhia, a CCAÇ 3535, criado pelo teu camarada Jorge Madureira. Não ponho aqui o link porque já não é atualizado desde janeiro de 2016 e eu tenho dúvidas quanto a abri-lo por razões (que prezo muito) de segurança informática. Tem 19 seguidores. E meia dúzia de postes com histórias de vida,
_________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 29 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19147: O nosso livro de visitas (197): Conheci em Angola o cap inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, ex-cmdt da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, que passou por Guileje (1968/69) e que esteve prisioneiro na Índia (1961/62), tendo falecido em 2014 (Fernando Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3380, 1972/74)
(...) Comentário do editor LG:
(...) Obrigado por nos teres trazido notícias de um camarada da Guiné, o então cap inf Castel-Branco Ferreira que não conheci, e infelizmemte já falecido, como dizes, em 2014. Deve ter-se reformado como coronel de infantaria. Conheci, isso sim, em 1969, o oficial que o foi substituir na CCAÇ 2316, o cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques, mas noutras funções, como instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga (Setor L1, Bambadinca),
Nessa medida venho-te convidar para te juntares à nossa "caserna virtual" onde cabe sempre mais um camarada e/ou amigo da Guiné. Somos 779 entre vivos e mortos. Tu poderás ser o 780 a sentares debaixo o nosso mágico e fraterno poilão...Só tens que mandar as duas fotos da praxe (uma atual e outra do tempo da tropa), mais o teu endereço de email. Um alfabravo. Luís Graça (...)
(**) Último poste da série > 13 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19099: Tabanca Grande (468): Gertrudes da Silva (1943-2018), ex-cmdt da CCAÇ 2781 (Bissum, 1970/72)...Senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, sob o nº 779.
1 comentário:
Eu é que tenho que agradecer a honra de me sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande. Espero não desmerecer.
Como na Guiné, em Angola também existem poilões, onde são chamados mafumeiras, mas em relação aos quais não existe a mística que existe na Guiné. Este papel é desempenhado por uma outra árvore, que é extraordinariamente frondosa e talvez também exista na Guiné, que é o sicômoro, chamado mulemba em Angola. Há mulembas históricas, que são quase consideradas monumentos nacionais. Nas regiões desérticas e semidesérticas do sul, onde não existem árvores de grande porte, o papel dos poilões é desempenhado por telheiros cobertos de capim, construídos pelos habitantes de cada aldeia. A estes telheiros dá-se o nome de jangos ou djangos. São o centro cívico, cultural, religioso, etc. da aldeia.
Sou do Porto e vivo no Porto, mas vivi em Lisboa durante doze anos. Dei-me muito bem (mesmo muito bem) com os alfacinhas e outros "mouros" na capital. Sempre fui bem tratado por eles. Havendo respeito, as amizades nascem quase por geração espontânea. Tenho grandes amigos em Lisboa.
Um forte abraço do
Fernando de Sousa Ribeiro
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