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sábado, 1 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26448: Fotos à procura de...uma legenda (194): Pastelaria e Café Império, diz o Cherno Baldé, "comi lá em 1979 o primeiro bolinho de arroz"... E o Patrício Ribeiro confirma: "É o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, ainda hoje tomei lá o pequeno almoço"...




Guiné-Bissau > Bissau > Vista aérea > S/d > Assinalado a amarelo o café e pastelaria Império, na antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independència) (ao lado, o Hotel Império, e atrás, com maior volumetria, o Hotel Royal)

Foto: cortesia da página do Facebook da Society for The Promotion of Guinea-Bissau, una ONG,com sede em Bissau. Disponibiliza centenas de fotos da Guiné-Bissau de hoje. Merece uma visita. As fotos, em princípio, são do domínio público, não é indicada a sua autoria.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné-Bissau > Bissau >  Antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independência) > s/d > "Café Império, que hoje já não deve existir (ou transformou-se numa padaria e pastelaria, segundo lemos algues). Era local de encontro de muitos militares, durante a guerra colonial". Foto do álbum do Albano Costa, ex-1.º cabo at inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional reformado (Guifóes, Matosinhos).

Foto (e legenda): © Albano Costa (2000).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > O "misterioso" estabelecimento comercial com esplanada, fotografado pelo Jorge Pinto, na véspera de regressa a Portugal... Alguns confundiram-no com o Café Bento, outros com a Cervejaria Solmar...A memória já não é o que era... Pormenor que podia ser uma pista: no pendão, ao nível do 1º piso, pode ler-se "Confeitaria" (e não "Continental", como sugere o Valdemar Queiroz)... 


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




1.  Alguns dirão que andamos aqui a discutir "o sexo dos anjos"...O mesmo é dizer, "conversa da treta" (*)...

A conversa quotidiana da generalidade dos seres humanos é sobre "coisas fúteis", do passado ou do presente.. Ninguém se interroga sobre o futuro... O passado e o presente conhecemo-los, mal ou bem... Temos uma narrativa "securizante", graças à nossa memória "seletiva"... O futuro, esse, não..., está carregado de incertezas. E a incerteza maior é a da hora e do lugar em que o "barqueiro de Caronte" nos vier buscar para a última viagem sem retorno...

Àparte esta reflexão melancólica (e meta...física!), lidamos mal com a incerteza... O futuro está fora da nossa zona de conforto...

Por isso, meus amigos, vamos lá continuar a decifrar o enigma (*): Café Bento ? Cervejaria Solmar ?... 

Nem uma coisa nem outra, dizem os mais "expertos" que calcorrearam a Bissau Velha do tempo colonial, à procura de uma bom vinho da "metrópole", de um bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas, ou simplesmente de uma "bejeca" (como se diz hoje) para matar a malvada da sede (que na guerra e nos trópicos era a triplicar)...


2. O Cherno Baldé, que é hoje o "dono do chão", é perentório: 

"Ah!, tugas do caraças, o tempo não volta para trás...Mas se voltasse, vocês iriam parar de novo à Pastelaria Império, que ainda hoje existe com esse nome!... Ali na antuga Praça do Império onde se ergue o mamarracho de um monumento racista e colonista "Ao Esforço da Raça", inauguradio em 1945!... Escapou à fúria iconoclasta do Luís Cabral e dos seus rapazes paigecistas, todos filhos do colonislismo!...

Descolonizaram tudo, deitaram abaixo as estátuas dos vossos ilustres antepassadpos, mudaram a toponímia (rebatizada com os nomes dos grandes combatentes da liberdade da Pátria), arrumaram com os resquíscios todos dos velhos 'colóns0 (comoo diz o Rosinha),  decidiram por decreto que iriam construir um 'homem novo', segundo a Bíblia do Amílcar Cabral, mas continuaram a chamar 'Império' à pastelaria e ao hotel, junto à antiga Praça do Império, agora dos Heróis da Independència"...

De facto, a Pastelaria Império ainda hoje existe, com esse nome, e tem página no Facebook!...  Localização: Praça do  Império" (sic), Bissau, Guiné-Bissau, Telef +245 966 467 126...

E o Patrício Ribeiro acaba de o confirmar:

(...) Uma das fotos, mostra o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, onde hoje tomei o pequeno almoço, com vento e algum frio, 20º.

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 12:47:00 WET "(...)

Quanto à antiga Casa Esteves...,. " desde alguns anos é um banco. Perto do antigo Hotel Portugal, onde hoje funciona um Hotel, casino, bar e restaurante."


3.  Mais umas achegas da "malta-do-tempo-que-não-volta-p'ra-trás":

(i) Valdemar Queiroz :

Na última fotografia, aumentada, lê-se CONTINENTAL, no pendão na varanda da esplanada , pelo que os dois (militares) "já olham pro Continente” . 

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 13:43:00 WET 


(ii) Cherno Baldé:

Em 1979 aconteceu a minha primeira viagem a capital Bissau e, ainda lembro-me como se fosse hoje, o meu irmão trouxe-me a cidade que, já não era a mesma cidade do Gen. Spinola, mas ainda respirava-se um pouco do ambiente colonial, e na Pastelaria Império (na foto), deu-me a comer o meu primeiro bolinho de arroz e a seguir fomos assistir a um filme na então famosa UDIB, logo d'outro lado da Avenida da República/Amilcar Cabral. E, desde então nunca mais nos separamos salvo os anos de estudos no estrangeiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 16:02:00 WET


(iii) Hélder Sousa:





(...) Tirei a minha carta de condução automóvel durante o ‘tempo da tropa’. Foi em Bissau, em Novembro de 1971.

Numa escola de condução ‘civil’, a “Escola de Condução Manuel Saad Herdeiros, Lda,” que se situava na Rua Tenente Marques Gualdes. À séria, com aulas de código e de condução pelas ruas de Bissau e também, já nas últimas lições, na estrada até ao aeroporto. O mais difícil era arranjar local para fazer “ponto de embraiagem”….

Quase tudo plano, havia três ou quatro sítios onde isso se fazia. Ensaiava-se em todos esses locais e um deles calhava de certeza no exame. A mim foi na pequena rampa de acesso à então “Praça do Império”, vindo do lado do aeroporto. Foi a última manobra e após isso, ficando aprovado, lá se foi comer uma ‘sanduiche’ de queijo da serra na “Pastelaria Império”. Com o examinador, claro! (...) (**)



(iv) Carlos Pinheiro:

(...) Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo: a Casa Gouveia, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra; o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província;o Cinema UDIB; e ao lado uma boa gelataria, mais acima, a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e a Associação Comercial. (...) (***)

Afinal, em que é que ficamos ? 

Café Bento, não, Cervejaria Solmar, não... Pastelaria ou Café Império. sim!!!





Excerto de mapa de Bissau > Posição relativa da Pastelaria (e Café) Império e o do Hotel Império, na antiga praça do Império, hoje dos Heróis da Independência. Uns chamam-lhe pastelaria, outros café... O Albano Costa tirou uma chapa em novembro de 2000 (****).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
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Notas do editor:

(*)  1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26446: Fotos à procura de... uma legenda (193): A foto de agosto de 1974, do Jorge Pinto, corresponderia a um dos três cafés-cervejarias existentes nas imediações da Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal ou o Chave 
de Ouro ?

Vd. poste anterior:

31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(****) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16287: Memória dos lugares (340): Café Império, Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, em novembro de 2000 (Albano Costa, ex-1.º cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74, o fotógrafo de Guifões, Matosinhos)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26422: S(C)em Comentários (57): os fulas e o gado bovino como extensão da própria família e da comunidade (Cherno Baldé, Bissau)

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1972 > A equipa juvenil da "Ferrugem", futebol de cinco, orientada pelo 1º cabo Sérgio Rodrigues ("Gasolinas"). De pé: Adama Suntu e Saido ("Barbosa"); ajoelhados: Amadi, Cherno Balde ("Francisco" ou "Chico") e um colega que não consigo identificar ainda.

Legenda do Cherno Baldé. Foto (adaptada) na página do Facebook de Sérgio Rodrigues, publicada na sua página do Facebook, em 28/10/2019, 21:28 (com a devida vénia...)


O ex-1º cabo mecânico Sérgio Rodrigues pertencia à CCAÇ 3549, "Deixós Poisar" (Fajonquito, 1972/74).

Dr. Cherno Baldé, Bissau,
foto atual
(...) É verdade que os camponeses fulas não gostavam de vender o seu gado 
e a razão é muito simples, era e continua a ser a única riqueza que têm e com a qual podem contar para se socorrer em casos de necessidade da família e da comunidade ou ainda em casos de calamidades naturais ligadas as suas atividades de sobrevivência.

Só quem (sobre)vive da terra, da agricultura,  
percebe as dificuldades e incertezas com  que se deparam e num país onde não existem nem subsídios, 
nem financiamentos ao agricultor.

Para nós, na tabanca, tirar uma galinha já representa um grande sacrifício. E de mais a mais, as manadas representam uma propriedade coletiva onde crianças, mulheres e homens adultos, cada um tem a sua vaquinha para seu sustento (ordenha do leite) e a sua poupança para o futuro a titulo individual e coletivo.(...)


(ii) Poste P22232 (**)

(**) Vd. poste de 29 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22232: Antologia (78): Estereótipos coloniais: os fulas, "maus criadores de gado e piores agricultores"... (excerto de Geografia Económica de Portugal: Guiné / coordenado por Dragomir Knapic. Lisboa: Instituto Comercial de Lisboa, 1966, 44 pp)

domingo, 12 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P22382: S(C)em Comentários (56): Entre os povos criadores de gado como os fulas, as brincadeiras sexuais com bezerras, por parte dos mais jovens, são toleradas (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma, afluente do Rio Geba... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto, ou Dembataco, ou Taibatá)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa (tínhamos que ir a Sonmaco comprá-las!)..´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social, parte inalienávcel do património familiar... Os pastores eram, geralmente, "djubis", rapazes de corpo feito...(podendo estar armados com uma Mauser, distribuída à milícia) (já os os guardadores dos campos de "mancarra", que sofriam frequentes invasões de macacos-cães, erianças...). Na foto, está assinalada, a amarelo, a posição do pastor ou guardador do rebanho. A ponte era defendida por um Gr Comb. Nesta época (1969/71) não havia instalações militares, apenas toscos abrigos...

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Cherno Baldé
 (Bissau)
1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P26375 (*):

Caros amigos,

O autor do Poste fala de "cenas caricatas (e afinal tão humanas)" !

Na verdade, são tão humanas que posso confirmar que, entre os povos criadores de gado como os fulas (aos quais eu pertenço com todo o orgulho) e agora os outros povos animistas também (balantas, papéis, manjacos etc...) estas cenas (**) são normais ou normalizadas entre os mais jovens e são toleradas com toda a humanidade possivel, necessária e até imprescindivel, em certas circunstâncias, para os jovens que, tendo atingido a idade de casar,  ainda continuam solteiros e, muitas vezes, obrigados a passar a maior parte da sua vida atrás dos ditos animais.

No meu caso e mais uma vez, como aconteceu com a ida a tropa, não tive o privilégio e a sorte de poder experimentar, pois ainda era muito pequeno e logo logo fui obrigado a deixar a aldeia para continuar a escola no Ciclo e Liceu de Bafatá, mas sabia que eram práticas correntes entre os pastores essas tentativas de satisfação sexual que, na verdade, não passavam de isso mesmo, de pura curiosidade juvenil,  sendo que os tamanhos, a altura do animal e a natureza dos orgãos de uns e outros não são compatíveis, pelo menos foi a minha constatação pessoal.

Não obstante, confirmo que, na altura, os rapazes mais velhos proibiam aos mais novos de se aproximarem das suas "prediletas", sendo que, na primeira e última vez que assisti a tal práica ao vivo, o autor não tinha sido bem sucedido pois a bezerra, por inexperiência do autor ou outra razão qualquer, ao sentir a mão penetrante vagina dentro, vazou encima do violador uma enxurrada de urina amarelada e quente que o deixou todo molhado e mal cheiroso, tendo ganhado ainda para o resto da vida a alcunha de "Banel",  ou seja,  o nome da vaca que tentara penetrar.

Voltando ao presente Poste (**), acho que o António Carvalho disse o essencial da narrativa e com toda a razão no seu comentário quanto aos sentimentos do Furriel Enfermeiro, relativamente à jovem bezera, sua "predilecta". Sendo bem caricato, todavia acontece e é bem humano. (***)

Cordialamente,

Cherno Baldé

2025 M01 11, Sat 15:43:09 GMT
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(***) Último poste da série > 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26364: S(C)em comentários (55): O fantasma do "capitão-diabo" (João Teixeira Pinto) e o "djubi" que, na fortaleza do Cacheu, de costas voltadas, não está a pensar no futuro-mais-que-perfeito, mas no presente mais comesinho e mais premente: o que é que eu vou comer hoje ao almoço… (Luís Graça)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26225: Por onde páram os nossos fotógrafos ? (29): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: São Domingos ou a "Guiné para os guinéus"...




Foto nº 1 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos (era cabo-verdiano, passou a ser guineense...) > Miúdos da Mocidade Portuguesa local, trajando a rigor e usando ténis... O Cherno Baldé enriqueceu a legenda, complementando: 

(...) "Desde 1968 ou mesmo antes, que em todas as escolas da Provincia havia a formaçãao e preparação da Mocidade Portuguesa e, mocidade que se preza,  tinha que ter o equipamento completo: camisa verde, calções, meias, sapatilhas e chapéu de cor castanho. Depois eram organizados encontros a nível de cada regiãoo para competições desportivas e confraternização e ainda um acampamento nacional, para os mais destacados,  em Quinhamel.

Surpreende-me que o Luís Graça nunca tenha visto jovens da Mocidade Portuguesa em Bambadinca e Bafatá. Em Fajonquito sempre aproveitavámos a boleia da tropa para vir a Bafatá ou Contuboel.

Na foto nº 1, o elemento da mocidade do lado esquerdo parece-me que é um menin com o par de ténis (Sanjo) que não era propriamente um equipamento oficial da Mocidade Portuguesa. (...) 

Nos anos 60, com o início da guerra, foram construídas escolas, em todas as localidades com alguma importância demográfica. Já era tarde demais para o império." (,,,).


Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > "Djubis" da população local, imitando, com alguma irreverência,  os jovens da Mocidade Portuguesa... (Nem todos tinham "patacão" para comprar botas ou sapatilha-.. mas presume-se que a farda fosse distribuída gratuitamente pela administração da circunscrição.)



Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, o cmdt do BCAÇ 1933 e o administrador cessante, cabo-verdiano.



Foto nº 4 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, e de costas, o novo administrador, guineense, e o administrador cessante, cabo-verdiano. Ao fundo, uma representação da Mocidade Portuguesa local. Todos os elementos da MP, meninos e ,meninas, estão obviamente calçados...

Comenta o Cherno Baldé: 

"A mudanºa do Administrador era algo que se enquadrava perfeitamente na política ou estratégia do gen Spínola, em que ele acreditava profundamente e quis dar continuidade mesmo após o 25Abril74 (o que poderia motivar o 11 de Março, por exemplo). Não foi compreendido e poucos o quiseram acompanhar na sua aventura que, provavelmente, vinha muito atrasada ou muito cedo demais, não sei ao certo. O tempo se encarregará de mostrar quem tinha razão. Eu, pessoalmente, acho que ele tinha razão,  mesmo se as hipóteses de fazê-las passar fossem muito poucas. Os velhos têm sempre razão."



Foto nº 5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Formatura da Mocidade Portuguesa e, atrás, elementos da população local (1)



Foto nº 6 >  Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois administradores, com o cessante, em primeiro plano. Uma cerimónia cheia de significado: "A Guiné para os guinéus", como dizia o Spínola...



Foto nº 7 > : Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  Finais de 1968  No grupo, um menino da Mocidade Portuguesa.. As raparigas apresentam calçadas, elas, de chinelos de plástico; e deviam ser cabo-verdianas, tal como o menino.



Foto nº 8 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Finais de 1968 > Felupes, que vieram à vila... E obviamente descalças...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais uma preciosidade, estas fotos do nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [foto atual à esquerda]. 

É uma seleção de fotos, agora reeditadas. Não só documentam a época em que ele lá esteve, em São Domingos, nos anos de 1968/69, como também as mudanças que se estavam a operar com o spinolismo... 

Julgo que ainda hoje o  Virgílio é capaz de sentir o fascínio que sobre ele exerceu o "chão felupe" que, de resto, poucos de nós. conheceram... 

(Seleção, revisão / fixação de texto, reedição das fotos: LG)
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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26211: S(C)em Comentários (53): O drama dos felupes, que estão a perder o seu chão e a sua identidade, afetados pelas alterações climáticas (Cherno Baldé)... E que agora perderam uma grande amiga, a antropólogia Lúcia Bayan , falecida no passado dia 26

1. A propósito do drama dos felupes, os primeiros refugiados ecológicos da Guiné-Bissau, vítimas das alterações climáticas, e da morte,  inesperada, da sua amiga portuguesa, a antropóloga Lúcia Bayan (*), vamos repescar este comentário do nosso Cherno Baldé (**):

A minha primeira visita ao Chão Felupe foi em maio de 1997, por ocasião do dia internacional dos trabalhadores, tendo feito o percurso de Bissau - Varela, passando por S. Domingos. 

Nessa ocasião constatei que, contrariamente ao que acontece no Chão Fula (Zona Leste), os Felupes e seus irmãos Baiotes, não tinham aldeias plantadas junto da estrada principal que atravessava o seu Chão,  indo de S. Domingos para Varela, preferindo ficar afastados, em zonas escondidas e de difícil acesso,  facto que, também, tinha verificado no Chão Balanta,  logo após o fim da guerra colonial e em Biombo nos anos 80 quando trabalhei como professor nesta região do litoral guineense.

A conclusão lógica a que cheguei, na altura,  é que, sendo povos indígenas de longa data,tendo sofrido várias invasões e agressões de povos conquistadores vindos do interior do continente, como nos explica o Amílcar  Cabral no livro sobre a história da Guiné e as Ilhas de Cabo-Verde (PAIGC 1974), estes povos foram obrigados, cada vez mais, a se refugiar e adaptar-se em zonas muito inóspitas e de difícil acesso como foi o caso dos Nalus que foram habitar as ilhas e zonas baixas de Cubucaré e Quitáfine, ou o caso extremo dos Bijagós que vivem no arquipélado de mesmo nome. 

No caso dos Felupes e Baiotes esta localização geográfica teria sido muito importante durante o periodo da ocupação colonial, já que lhes permitia oferecer uma notável resistência e prática da guerrilha num espaço reduzido mas semeado de obstáculos naturais.

Mas, vivendo o pais hoje num contexto de completa liberdade, onde se desenvolve pouco a pouco uma interação e concorrência apertada com as outras regiões e grupos étnicos em diferentes domínios da vida social e económica, estes povos fazem a constatação lógica e normal das dificuldades e desvantagens da sua inadequada situação habitacional, para a qual procuram encontrar uma saída razoável para viver e expandir-se como os outros povos,  seus vizinhos. 

As mudanças climáticas vêm juntar-se e complicar ainda mais esta situação que já em si era insustentável há muito tempo, pelo menos desde que a monocultura de caju se tornou no principal produto de renda e de subsistência social e económica. 

De resto, os conflitos sobre a posse da terra são extensivos ao resto do país e nos diferentes Chãos tradicionais sem deixar de lado outros problemas transversais como o género e os direitos humanos, hoje muito em voga nos países do terceiro mundo.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

2020 jan 16 12:17 (***)

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(***) Último poste da série > 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26127: S(C)em Comentários (52): General António Spínola 'versus' general Bettencourt Rodrigues (Morais da Silva, cor art ref, e 'capitão de Abril')

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26103: S(C)em Comentários (50): "A malagueta no cu dos outros é refresco"... A propósito do A. Marques Lopes (1944-2024), e da comparação entre fulas e balantas (Cherno Baldé, Bissau)


Dr. Cherno Baldé,
em Bissau (2019),
colaborador permanente do nosso blogue
1. Comentários do Cherno Baldé ao poste P26089 (*)


(...) O Marques Lopes escreve: 

(...) "Gostava mais dos balantas. Eram pão pão, queijo queijo. Se gostavam, gostavam, se não gostavam, mostravam logo que não gostavam. Os fulas, está bem, estavam abertamente com a tropa, mas as suas falinhas mansas e de submissão deixavam-me muitas interrogaçóes sobre o que estaria no interior". (...)

Tem toda a razão,  o ex-alferes da martirizada CART 1690, na verdade são duas realidades diferentes, uma, a dos fulas, um povo originário do vale do Nilo, que atravessou o continente de ponta a ponta baseando-se na sua capacidade de resiliència, de adaptaçáo e integração social, habituado à a submissão ao poder hierárquico de reis, soberanos e sacerdotes de diferentes carizes e formas religiosas;  e a outra realidade, a dos balantas, que não existem em nenhum outro lado fora dos territórios da Senegàmbia (Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri) e que não reconhecem nenhum outro poder fora do seu próprio agregado familiar. 

De certeza que não seria de esperar que tivessem o mesmo comportamento sociocultural.

Todavia, não vejo muita diferençaa entre a forma de ser dos fulas e dos europeus ou asiáticos que, historicamente, são sociedades hierarquizadas e que foram longa e duradouramente submetidos ao "dikat" politico e religioso de índole variado, pelo que subsiste a mesma forma reservada e esquiva, prória de sociedades onde subsistiram classes de dominadores e dominados, em que as atitudes do tipo "pão pão, queijo-queijo" podem ser muito desvantagiosas,  quiçá perigosas.(...)




A.Marques Lopes (1944-2024)
Foto: LG (2015)

(...) O A. Marques Lopes era uma pessoa que eu admirava e apreciava muito, pela sua coragem (eu no seu lugar nunca voltaria ao teatro da guerra depois daquela história mal sucedida da mina com o seu comandante que, ingenuamente, queria dá-la como presente ao seu comandante de Batalhao). 

Uma vez confrontei-o com o conteúdo de alguns relat´POrios da sua companhia relativamente à traição e conluio com o IN das autoridades tradicionais e milicias (fulas) na área do destacamento de Cantacunda e Sare-Gana, que tinham sofrido ataques brutais com mortos, feridos e prisioneiros (retidos) de guerra entre 1966/68.

E o ex-alferes nÃo tinha dúvidas de que, entre algumas verdades e muita tristeza, havia sobretudo, alguma hipocrisia e mentiras para escamotear a verdade dos factos. E perante esses factos (de relatóRios falseados), também eles, os graduados da companhia,  se comportaram como os seus soldados fulas, pois ficaram nas falinhas mansas e com o bico fechado, para não levarem nas trombas, porque as suas vidas e o medo de sofrer represálias assim o justificava. 

Como se costuma dizer, "a malagueta no cu dos outros é refresco". Pelo que pude perceber, nas nossas conversas, era um bom homem, perspicaz e muito inteligente, um escritor com bastante bom humor. (...)

30 de outubro de 2024 às 11:32 

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG) (**)

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26009: S(C)em Comentários (47): Com portugueses deste calibre Portugal estava longe de poder ganhar o que fosse... (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P26005 (*).

Caros amigos,

Aqui vai um pequeno excerto de mais um 'cabeça brilhante' e péssimo patriota, na minha ótica, com ideias estapafurdas que não tinham fundamento ainda em 1966 e nem se confirmaram depois de 1970, uma pena. 

Com cidadãos deste calibre Portugal estava longe de poder ganhar o que fosse, independentemente de as guerras serem justas ou não. A América (EUA) nunca ajuda nenhum país a ganhar uma guerra, a América persegue os seus interesses geoestratégicos no mundo e estava (ontem), está (hoje) e estará sempre pouco se lixando com os interesses dos outros países, incluindo Portugal. (**)

3 de outubro de 2024 às 16:03 
 

"(...) Assim, bem podemos bradar aos quatro ventos que o IN ataca indistintamente brancos e negros. Será que também não haverá maus negros, traidores que a troco de uns patacões estão prontos a lutar (e alguns bastante bem) do nosso lado?

Nem tudo que é do lado de lá está o lugar deles e efetivamente é lá que está a grande maioria. E porquê? Quando nós dissemos aos Felupes, aos Sossos, aos Fulas, aos Balantas, aos Mandigas, a todos esses selvagens que se odiavam de morte, que eram todos portugueses, todos filhos do mesmo Deus que também era o nosso, quando os afastámos dos seus usos, deturpámos e aviltámos os seus sítios, os arrancámos à tabanca e os lançámos na cidade, não fizemos mais que criar as condições que permitiram a atual situação. 

Quando o IN proíbe severamente o tribalismo e os privilégios tribais, chama-os a todos guineenses, dá-lhes o português como língua única, limita-se a continuar aquilo que nós iniciámos e que incompreensivelmente continuamos. 

Quanto a mim, tendo em linha de conta um e outro dispositivo, a derrota é inevitável, a menos que se alterem certos fatores externos que influem decisivamente e são suscetíveis de alterar profundamente a situação. Eles tocam, mas não são eles os donos dos instrumentos.

Parece-me que o fator mais importante é a atitude que os EUA possam vir a tomar. Até que pontos os ianques estarão dispostos a auxiliar-nos a ganhar esta guerra (no fundo, trata-se somente de impedir os outros de a ganharem, já que nós somos insuficientemente incompetentes para o fazer)." (...)


 3 de outubro de 2024 às 16:03 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26005: (De) Caras (311): Correspondência da Guiné para Paulo Osório de Castro Barbieri (3)

(**) Último poste da série > 22 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25967: S(C)em Comentários (47): A visita do Yussuf Baldé, filho do Cherno Baldé, ao Valdemar Queiroz

domingo, 22 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25967: S(C)em Comentários (47): A visita do Yussuf Baldé, filho do Cherno Baldé, ao Valdemar Queiroz




Sintra > Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024> "Da minha varanda continuo a ver o mundo"... São vizinhos do Valdemar que ele conhece e que estima, e que eles também o conhecem e estimam... E nenhum deles é identificável... São fotos tiradas ao longe e de perfil...

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Valdemar Queiroz:

Data - quarta, 18/09, 17:55 

Assunto - visita do Yussuf Baldé


Luis, anexo duas fotos da visita do Yussuf Baldé a minha casa.

No comentário ao poste da Moderação dos Comentários (*) está um escrito sobre esta visita.

Abraço e boa vindima
Valdemar

2. Comentário do Valdemar Silva ao poste P25949 (*):

(...) Ontem tive uma visita a minha casa de uma pessoa inesperada. Tratou-se do jovem Yussuf  Baldé, filho do nosso amigo guineense Cherno Baldé.

Ele mora, não muito longe de minha casa, e ligou-me via whatsapp para me conhecer e cumprimentar.

Achei haver muita simpatia por parte dele e convidei-o para vir a minha casa, e assim aconteceu no Domingo.

Tivemos uma tarde com vários conversas das nossas vidas que não faltou falar sobre a Guiné e dos tempos da guerra na Guiné.

Uma grande desilusão da minha parte foi não ter sequer uma bebida refrigerante ou outra coisa para o lanche para lhe oferecer.

Ficará para nova oportunidade.

Já não estava habituado à calma, com que sempre os nossos soldados fulas nos tratavam, sem se quer alterar o tom de voz. (**)

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Notas do editor:

(*) 16 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25949: O nosso livro de estilo (16): O blogue não foi feito para a gente se chatear.. Por isso, às vezes é preciso reintroduzir a moderação ou triagem de comentários 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25959: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (13): no rio Corubal, na travessia para o Cheche (e Madina do Boé), que agora tem jangada nova... (Cherno Baldé / Valdemar Queiroz "Embaló")





Guiné > Região de Gabu >  Rio Corubal >  15 de setembro de 2024 >  Travessia  para o Cheche, na margem esquerda > A jangada (que não havia em 1969)

Foto (e legenda): © Chern0 Baldé (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Valdemar Queiroz "Embalõ" , ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (o "Embaló" é um #"nickname", uma alcunha carinhosa, que o Cherno Baldé lhe pôs em tempos, pela tua forte ligação aos fulas)


Cherno Baldé, o "nosso correspondente" em Bissau
 (tem 303 referências no nosso blogue)


Data - quarta, 18/09/2024, 21:55 
Assunto - Guiné, travessia para Che-Che


Luís, nova jangada a sério,  da travessia do Rio Corubal para o Cheche.

Por que razão  a nossa Engenharia não "produziu" uma jangada como esta ?  Não teria havido aquele desastre com dezenas de mortos na evacuação de Madina do Boé, Beli e Che-Che.

Esta foto foi-me enviada pelo Cherno Baldé numa viagem que fez a Madina.

Valdemar



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Rio Corubal > Rampa de acesso ao outro lado do rio, Cheche  > 21 de abril de 2021 > Acidente com a jangada: queda de um camião ao rio, ao entrar na jangada, do lado de Béli.  Trânsito interrompido dos dois lados.


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 > Rampa de acesso, do lado do Gabu, na margem direita



Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 >  Rampa de acesso, na margem direita; lavadeiras-


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Comentário do editor LG:

Valdemar e Cherno, obrigado pela foto. Nunca lá estive, e apesar das inúmeras fotos que temos publicadas no blogue, sobre este lugar que nos traz trágicas memórias, às vezes também eu faço confusão:   a rampa, mostrada nas fotos acima,  fica na margem  direita do rio Corubal; Cheche, onde até à retirada de Madina doo Boé, em 6 de fevereiro de 1969, havia um destacamento militar, ficava na margem esquerda, como de resto bem documena a carta de Jábia (1961).

Portanto, está correta a tua legenda:  a jangada que faz a travessia do Rio Corubal para o Cheche, ou seja de norte para sul, da margem direita para a margem esquerda.

Obrigado, Cherno, pela tua lembrança. Pode não ser verão aí  (é ainda tempo das chuvas), mas não se está mal por essas bandas, no rio Corubal, para mais com uma "jangada nova" que não vai ao fundo...

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Nota do editor

Último poste da série > 13 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25939: Verão de 2024: Nõs por cã todos bem (12): ...menos as andorinhas, vítimas dos "ocupas", as abelhas asiáticas e os javalis, predadores! (Luís Graça, Tabanca de Candoz)

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25664: S(C)em Comentários (40): O Cherno Baldé que hoje faz anos, entrou para o nosso blogue em 18/6/2009 e já nos contou aqui como, "djubi", "rafeiro", tirou a "recruta" em Fajonquito e, no meio da tropa, da guerra, e do pós-guerra, se fez depois homem, em Bafatá, em Bissau, em Kiev...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1975 > "A nossa equipa de futebol de salão no quartel de Fajonquito entre 1974-1975, podendo-se ver em pé: Mamudo, Algássimo e o professor António Tavares; sentados: eu (Cherno) e Aruna (filho do antigo padeiro) à minha esquerda" 

Foto (e legenda): © Cherno Baldé  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto de mensagem do Cherno Baldé (que hoje faz anos), com data de 18 de junho de 2009 (o dia em que passou a fazer parte do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não como combatente mas como guineense, que em criança cresceu com a guerra e com a tropa... e depois se fez homem, em Bafatá, em Bissau, em Kiev...).(*)


(...) Eu passei boa parte da minha infância entre a tropa que passou por Fajonquito (...) e tive muitos amigos que, na verdade, logo esquecia para me concentrar nos recém-chegados.

Eu era desses raros pequenos rafeiros do quartel impossíveis de controlar e muito menos de afastar. Quando se fechavam os portões do quartel,  entrava, mesmo assim, por baixo do arame farpado. O dia e a noite faziam pouca diferença. Apanhava porrada de um ou outro quando deambulava pelo quartel, mas também, dava alguns trocos com emboscadas e pedradas a noite.

A língua ? Isso importava menos. Quando o meu amigo, o Dias, me perguntava "Oh Chiiico,  já limpaste as minhas botas?", eu respondia de imediato "Sim,  senhor, já limpaste" e depois ?"...

Nós nos compreendiamos muito bem e isso é que importava. Foi esta vida de cão de quartel no meio de jovens soldados endiabrados, acossados pela ansiedade do regresso a casa e o medo da morte, que me moldou a vida e me preparou para enfrentar o mundo.

O fim da guerra foi para mim uma libertação mas também um choque terrível de que só tomei consciência passados os primeiros seis meses após a saída do último soldado português. Durante algum tempo ainda tudo continuou na mesma, havia a batata, o bacalhau,  já com muito mais arroz.

O maldito arroz era, cada dia, mais abundante nos pratos, mas o início da minha miséria começou mesmo foi quando a carne de macaco substituiu tudo o resto. Então, como bom rafeiro que era, olhei para o céu duas ou três vezes seguidas, como fazia sempre que estava em apuros, e compreendi que tinha chegado a hora da largada para outros destinos. 

Caminhei para casa e, quando cheguei, enfrentei os meus pais olhos nos olhos e garanti-lhes que daquele dia em frente nunca mais faltaria às aulas da mesma forma que, também, não voltaria a pisar o quartel transformado em comedouro de macacos. (...) (**)
(**) Último poste da série > 7 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25615: S(C)em Comentários (39): E as "cunhas" (o factor C) eram como as bruxas: "yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay"