Guiné-Bissau > Regiãods e Quínara > Tite > 2019 > Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP)
Foto de Assana Sambú. Jornal Odemocrata 04/08/2019. (com a devida vénia...)
1. Comentário de Cherno Baldé, ao poste P26839 (*):
[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).
(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.
(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.
Bissássema é um paradoxo, tão perto de Bissau, a capital, e tão longe da civilização.
Desde a independência do território que nesta localidade, situada no Sector de Tite, acontecem, quase todos os anos, crimes e ajustes de contas com acusações de feitiçaria e outras barbaridades típicos de sociedades dominadas pelo obscurantismo.
Não conheço, nunca lá estive e é das zonas mais abandonadas do país, pois nunca se houve falar dela a não ser pelos piores motivos.
Cdte, Cherno AB
Cdte, Cherno AB
2. Não é fácil encontrar notícias sobre Bissássema, setor de Tite, região de Quínara, Guiné-Bissau, por bons ou mais motivos... Nem com a ajuda de um assistente de IA - Inteligência Artificial...
No jornal da Guiné-Bissau "O Democrata" encontrámos uma(e única) referênmcia a Bissássema, mas já é antiga, de 2019, anterior à pandemia... Merece, mesmo assim, ser citada. (**)
Esquadra de Polícia de Tite é um "lixo que espelha a banalidade" do Estado Guineense.
Jornal Odemocrata, 04/08/2019.
Texto e foto: Assana Sambú
[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).
(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.
(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.
(...) O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias.
(...) “O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou.
(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.
“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.
(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.
Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento.
(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.
“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.
(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.
Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento.
Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.
Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)
Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)
(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer
(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)
Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)
Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)
(Seleção, excertos, revisão/fixação de texto, negritos, edição de foto: LG)
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer
(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)
7 comentários:
Cherno, não é só em Bissássema... Foram prática comum durante séculos na Europa, as acusações de feitiçaria e a violência (muitas vezes popular) que recaíam sobre os alegados praticantes de feitiçaria (em geral mulheres)...Vd. aqui, na Wikipedia:
Julgamentos por bruxaria em Portugal
(...) Os julgamentos por bruxaria em Portugal, também referidos como julgamentos de bruxas ou julgamentos por feitiçaria em Portugal, ocorreram sobretudo entre o século XVI e o século XIX, tendo sido contabilizados poucos casos no país em comparação com outros países europeus durante o período da caça às bruxas. (...) Semelhante à Inquisição Espanhola, a Inquisição Portuguesa concentrou quase essencialmente as suas ações na perseguição de atos de heresia, dando ênfase às alegadas práticas judaizantes dos cristãos-novos e cripto-judeus, não considerando a bruxaria uma prioridade. (...)
(...) Apesar de terem ocorrido execuções, agressões e perseguições realizadas pela mão de populares, os tribunais seculares raramente conduziram julgamentos com a acusação de bruxaria, sendo contabilizados apenas dois casos em contraste com o Tribunal da Inquisição Portuguesa, que acusou mais de 800 pessoas pelo mesmo crime.(...) No total, foram condenadas dezenas de pessoas pelo crime de bruxaria em Portugal, tendo sete sido sentenciadas à morte na fogueira.(...)
Quando lá passo, em Soalhães, a menos de 10 km de Candoz, lembro-me sempre deste "caso de horror"...A terra, Soalhães, no Marco de Canaveses, desgraçadamente, passou a ser conhecia a do "Mata e Queima"... Em pleno século XX, em 1933...
Tâmega TV > MARCO. Faz 90 anos o crime que chocou o país e deu mau nome “à terra” como “do Mata e Queima” | António Orlando | 25/01/2023
Lembremo-nos ainda no famigerado caso das
"Bruxas de Salém" , na América Colonial (séc. XVII)...
Portanto, Cherno, não é só Bissássema que tem mau nome, por casos de feitiçaria e obscurantismo... Com a atual epidemia de ódio contra a(s) ciência(s), e nomeadamente as ciências sociais e humanas, mas também biomédicas, etc., acusadas de serem "ciências ocultas", que lavra pelo mundo fora (a começar nos EUA, onde há cruzadas contra as universidades, a educação, a cultura e a ciência), receio que bem estes casos se possam a voltar repetir, e até mesmo em grande escala...(Há muitas formas de "queimar pessoas nas fogueiras inquisitoriais"...).
Temos trágicos exemplos na nossa história comum de retorno ao obscurantismo, à "caça às bruxas", etc.
Sim, claro, Luis Graca, tambem ja tinha lido sobre estes acontecimentos tanto das Bruxas de Salem (uma autentica tragedia humana) e o de "Mata e Queima" do Marco de Canavezes. Tambem na Guine-Bissau do pos-independencia ressurgiram os casos de acusacoes de feiticaria que a administracao colonial, apesar de tudo, tinha conseguido conter e controlar com rigor. Tenho algumas historias que, haja tempo, depois posso vir a partilhar aqui no Blogue.
Cdte,
Cherno AB
Como dizia um galego, fugido da guerra civil espanhola, amola-tesouras, que passava pela minha rua, nos anos 50, "eu non creo nas meigas, mais habelas, hainas" (eu não acredito em bruxas, mas que as há, há)... (Na Galiza, bruxa diz-se "meiga"...)
Perguntei à IA (Gemini / Google) por que é que Soalhães era a terra do Mata e Queima... Dei-te uma resposta delirante, associada a práticas agrícolas e sociais do passado: (...) " Estas práticas, geralmente ligadas à abertura de novas áreas de cultivo ou à limpeza de terrenos, envolviam o abate de vegetação (matar) e a subsequente queima dos resíduos para fertilizar o solo. Era um método rudimentar de preparação da terra." (...)
Resposta minha: Estás redondamente enganado... A alcunha "Mata e Queima" resulta de um caso sinistro em que, em 1933, em Soalhães, mataram e queimaram uma mulher, de 33 anos, acusada de estar possuída pelo demónio. Seguindo o livro de São Cipriano, depois de morte e queimada, é esperada ressuscitar, completamente curada... o escritor Bernardo Santareno escreveu uma peça, com essa história macabra, "O Crime de Aldeia Aldeia".
Resposta do Gemini IA / Google:
Mil desculpas! Agradeço imensamente a tua correção e o detalhe com que me elucidas. De facto, a minha informação estava incompleta e, como referiste, redondamente enganada no que diz respeito à origem da alcunha "Mata e Queima" em Soalhães.
Agradeço sinceramente por partilhares essa história macabra e o seu verdadeiro significado. É um detalhe crucial que muda completamente a compreensão da expressão e a sua ligação a Soalhães.
É fascinante (e ao mesmo tempo arrepiante) saber que a alcunha "Mata e Queima" tem origem num acontecimento tão sinistro e trágico, ligado a crenças de possessão demoníaca, rituais baseados no Livro de São Cipriano, e à expectativa de uma ressurreição após a morte e queima. É um exemplo chocante de como o folclore, a superstição e a violência podem cruzar-se na história de uma comunidade.
E o facto de Bernardo Santareno ter imortalizado essa história na sua peça "O Crime de Aldeia Velha" reforça a importância e o impacto desse evento na memória coletiva e na cultura portuguesa. É um testemunho poderoso da crueldade e da obscuridade que por vezes se manifestam em nome de crenças distorcidas.
A tua correção é fundamental para a minha aprendizagem e para a precisão das informações que posso fornecer. Mais uma vez, muito obrigado por me corrigires e por me forneceres este conhecimento tão específico e importante sobre a história de Soalhães.
Fico a aprender com o teu conhecimento!
Para chegar a Tite, saindo do porto de Bissau, um governante demora com uma boa canoa a motor pouco mais de meia hora encosta na rampa de Enxudé e é logo ali.
Mas com uma comitiva de automóvel demora várias horas.
Tem que dar a volta a meia Guiné para chegar lá.
A Guiné tem recantos que ninguém os visita,
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