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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18965: (De)Caras (115): O Carlos Fabião que eu conheci (António Novais Ribeiro, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, 1968/70)


O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971-973), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335


I. O António Novais Ribeiro, engenheiro, reformado, morador na Senhora da Hora, Matosinhos, contou-me, ontem, na Tabanca de Candoz, várias histórias do então major de operações Carlos Fabião. com quem trabalhou no âmbito do Comando de Agrupamento 2951 (e depois, 2952), em Mansoa, em 1968/60... 

Eu gostaria de as não esquecer. Carlos Fabião (1930-2006) não é um militar qualquer... O tempo dirá qual o seu lugar na história de Portugal. Aqui ficam. para já,  essas "pequenas histórias", que são  reveladoras do seu carater, sentido de humor, ar brincalhão, afabilidade, mas também da sua postura como militar... Dele se pode dizer que ninguém é feito de "uma só peça"... (Julgo que em Mansoa, em 1968/69, o Carlos Fabião ainda devia ser capitão e não major..).

Sobre o Carlos Fabião temos meia centena de referências.... Disse-me o António que o Carlos Fabião esteve 5 vezes na Guiné, a primeira como alferes ainda nos anos 50... Eu, pessoalmente, tinha a ideia que fizera 3 comissões de serviço na Guiné... Ainda não pude confirmar esta informação. De qualquer modo, era talvez o oficial do exercito português que melhor conhecia a Guiné e os guineenses. Recorde-se que, graduado em brigadeiro, ele foi  o último Alto-Comissário e Comandante-Chefe do CTIG, entre 6 de maio e 11 de outubro de 1974.

1. Um dia chegiu ao pé do alf mil Novais (era assim que o António era tratado) e entregou-lhe um "aviãozinho de papel", pintado a cores e tudo:

- Novais, guarde-me aí na sua gaveta este aviãozinho.
- Para quê, meu major ?
- Quando vocêr tiver 53, eu vou de férias!

... E todos os dias lhe confiava um aviãozinho de papel, pintado às cores, até à véspera da sua idade de féris à metrópole...

2. Também era brincalhão, e gostava de pregar partidas aos seus subordinados, em especial aos 3 alferes (Novais, Torgal e Oliveira, este último já morreu, foi tripulante da TAP).

Recorde-se que o António Novais Ribeiro foi furriel miliciano de transmissões, entre 1968 e 1970, no Comando de Agrupamento 2951 (Mansoa), e no Cmd Agrup 2952 (extinto em 7 de janeiro de 1969, sendo o seu pessoal integrado no Combis - Comando de Defesa de Bissau). Trabalhou, nomeadamente com o, na altura, major inf Carlos Fabião. Teve também como camarada o  historiador Luís Reis Torgal [Luís Manuel Soares dos Reis Torgal], mais velho 3 anos, alferes miliciano. Em 1966, já  estava licenciado. No Cmd Agrup estava ligado às operações ou à secretaria, já não posso precisar. Os gabinetes estavam pehados. O do Torgal tinha um postigo, furado, e uma rede mosquiteira... Um dia o Fabião. chegou ao postigo e chamou pelo Torgal:
- Ó Torgal, abra lá o postigo!
- O quê, meu major ?

... Do outro lado da janelinha, o Carlos Fabião tinha um seringa com água... Borrifou a cara do Torgal...

3. O Carlos Gavião costumava mandar aprontar uma viatura e ir para as tabancas de Mansoa conviver com a população, em acções de "psico-social"...

E convidava malta  do comamdo de agrupamento para ir com ele... O Novais nunca foi, mas era lendária a sua coragem física e a sua empatia... Costumava distrinuir aguardente de cana aos balantas cujas simpatias, soubemo-lo, íam mais facilmente para o Amílcar Cabral do que para o Spínola...

4. Também desenhava muito bem... Um dia fez um "boneco" com a chegada do Nuno Tristão à costa da Guiné, em 1446... 

O navegador português morreria pouco depois com uma flecha, possivelmente envenenada. Antes de morrer, o Nino Tristão ainda tem tempo, no "cartoon" do Carlos Fabião, de exclamar qualquer coisa como;
- Chego demasidafo cedo à Guiné e morro sem poder vir a ser o primeiro administrador da Casa Gouveia...

5.  Outra do Fabião:

O Cmd Agrup 2951 recebe uma mensagem Zulu ("Relâmpago"), secreta... O 1º cabo cripto decifrou-a, imediatamente, e logo a entrega da mensagem descofificada, em envelope fechada, ao alferes de transmissões paar ser entregue ao major de operações...

O Novais procura, a correr, o Fabião. Em vão, vasculhou tudo o que era sítio no quartel de Mansoa...Esbaforido, já desesperado, acaba finalmente por o localizar, à entrada da porta de armas, vindo de uma tabanca ou coisa do género...

Exclamou o Novais, à beira de um ataque de nervos:
- Porra, meu major, onde é que o senhor se meteu ? Tenho aqui uma mensagem relâmpago para si, ando há duas horas à sua procura.
- Ó Novais, você sabe que a mensagem relâmpago tem o grau máximo de procedência, mas isso é para o cripto, e lá na tropa... Agora, na Guiné,  você tem 24 horas paar ma entregar... Como só lá vão duas, ainda tem 22 horas de avanço...

Recorde-se aqui a classificação mensagens:

Z - ZULU ? = Relâmpago (No centro cripto, passava à frente de todas as outras; grau máximo de urgência)

O - OSCAR = Imediato (As primeiras a serem decifradas, caso não houvesse Zulus...)

P - PAPA = Urgente (Para se fazer...)

R - ROMEO = Rotina...(Como o seu nome indica, para ser ir fazendo...)

Quanto ao secretismo, as mensagens eram classificadas por esta ordem:

Reservada / Confidencial / Secreta / Nuito secreta

Explicação dada pelo  nosso camarada António J. Pereira da Costa: as mensagens têm ainda hoje 4 graus de precedência: Relâmpago, Imediato, Urgente e Rotina. A mensagem Relâmpago (Z) deveria chegar ao destinatário em 10 minutos.  As Imediato (O) demorariam cerca de 2 horas. As Urgente (P) já iam para as 4-6 horas.  Claro que as Rotina (R) eram como o combóio do espanhol. 

No que diz respeito à classificação de segurança ainda hoje temos as Muito Secreto, Secreto, Confidencial e Reservado.

6, Outra ainda que me contou ontem o António Novais Ribeiro, na Tabanca de Candoz... 

Por qualquer razão, o major Fabião queria dar uma "piçada" ao pessoal de transmissões do Cmd Agr... Ordena ao alferes de transmissões do Cmd Agrup 2951 (depois 2952):
- Novais, forme aí o seu pessoal.
- Sim, meu major.
- À minha direita... mas você coloca-se a meu lado, à esquerda.
- Sim, meu major, mas.. à sua direita, porquê ?
- É que vai tudo ser corrido à chapada...

[Texto: recolha, revisão e fixação: LG]
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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18963: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (110): Na Tabanca de Candoz fomos reencontrar dois velhos amigos, a irmã e o cunhado do infortunado 1º Grumete Fuzileiro Especial, do DFE 8 (1971/73), José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, morto por acidente em 9/12/1971, e homenageado pela sua terra natal, Senhora da Hora, Matosinhos, em 8/10/2016


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Em primeiro plano, à esquerda, as irmãs do nosso infortunado camarada. A iniciativa foi do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.



Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Momento em que  a nosssa amiga Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro e o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, dr. Eduardo Pinheiro, descerravam a placa evocativa da memória do único combatente, natural da Senhora da Hora, morto na guerra do ultramar.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Rotunda do Combatente: aspeto geral do monumento.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971. > Placa afixada no monumento da Rotunda do Combatente, frente ao edifício da junta de freguesia.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra,  José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > A Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro, ladeada pela sua irmã, agradecendo a homenagem prestada ao irmão de ambas.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia da Senhora da Hora. Do lado esquerdo, o Comandante da Zona Marítima do Norte.

Fotos (e legendas): © Carlos Vinhal / Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes (2016). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Na nossa Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, recebemos hoje a visita de velhos amigos da família, o engº António Novais Ribeiro e a esposa Maria da Conceição, que vivem no Porto. Têm casa aqui perto e almoçaram connosco.

O António, que por sinal nasceu em Paredes de Viadores, onde se situa Candoz, e portanto é também nosso vizinho, foi furriel miliciano de transmissões, entre 1968 e 1970,  no Comando de Agrupamento 2951 (Mansoa), e no Cmd Agrup 2952 (extinto em 7 de janeiro de 1969, sendo o seu pessoal integrado no Combis - Comando de Defesa de Bissau) (**).  Trabalhou, nomeadamente com o, na altura, major inf Carlos Fabião, de quem tem algumas deliciosas histórias. Teve também como camarada alferes o hoje prof catedrático jubilado, da Universidade de Coimbra, o historiador Luís Reis Torgal [Luís Manuel Soares dos Reis Torgal, n. 1942].

O nosso editor já o convidou, de viva voz, para integrar a nossa Tabanca Grande, aguardando agora a sua formalização, por email. O António é, além disso, um grande conversador e exímio tocador de cavaquinho e de bandolim, participando em várias formações musicais de cavaquinho. Pertence ao Lions Clube da Lusofonia, é amigo do Jaime Machado e do José Martins Rodrigues... e, ainda por cima, ele e o nosso Álvaro Basto, cofundador da Tabanca de Matosinhos, são compadres, tendo um neto em comum, o Sebastião...

2. Falando com a sua esposa,  Maria da Conceição, o nosso editor veio a saber que ela teve um irmão, mais novo, morto por acidente no TO da Guiné em 9/12/1971, no dia seguinte ao seu casamento com o António Novais Ribeiro... Um duro golpe para toda a família e amigos. Chamava-se José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, era 1º GR FZE, do DFE nº 8.

Em conversa, soubemos que os procedimentos da Marinha, nestes casos, eram muito diferentes do Exército: este mandava um telegrama seco a dar a terrível notícia: a Marinha mandava pessoalmente, a casa dos pais, dois representantes seus...

Fazendo uma pesquisa na Net encontrámos apenas duas referências ao nosso infortunado camarada José Manuel Ferreira de Jesus Tomé: (i) a primeira, no nosso blogue (*); e (ii) uma segunda,  no blogue do DFE 8 (***).

Prometi à Maria Conceição e ao António Novais Ribeiro recordar aqui a saudosa memória do seu irmão e cunhado, publicando este poste que faz juz ao nosso ditado: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". (****)


3. Dois comentários ao poste P16601 (*)

(i) Tabanca Grande [Luís Graça]: 

Carlos [Vinhal], transmite ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, de cujos órgãos sociais fazes parte (1.º secretário da da Mesa da Assembleia Geral), o meu apreço por mais esta iniciativa, homenageando um camarada nosso, o 1º grumete fuzileiro do DFE 8, José Tomé, morto por acidente de viação, na Guiné, em 9/12/1971.

Deixa-me também, mais uma vez, destacar o grande brio, competência e dedicação que vocês põem em tudo o que fazem... O vosso Núcleo passa sempre com distinção e deve ser tomado como um exemplo para todos nós, antigos combatentes e respetivas associações de veteranos ou núcleos da LC. 

Um abraço do Luís

(ii) Alcindo [Manuel Pacheco] Ferreira da Silva, ex-1º tenente, cmdt do DFE nº 8 (1971/73)

Caro amigo

Gostava de transmitir ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes o meu apreço pela homenagem ao Grumete Fuzileiro Tomé. Fez parte do destacamento que tive a honra de comandar, era o mais novo de todos nós e foi o nosso primeiro camarada a partir. Era um jovem alegre, sempre bem disposto. Aproveitava todas as viagens que se tinham de fazer a Bigene para dar uma volta. Numa dela infelizmente teve um acidente.

(**) Vd. poste de 28 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13059: Comandos de Agrupamento, Operacionais e Temporários (1) (José Martins)

(***) Vd. blogue  Destacamento 8 de FZE (1971-73)

(****) Último poste da série > 15 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)