quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18965: (De)Caras (115): O Carlos Fabião que eu conheci (António Novais Ribeiro, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, 1968/70)


O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971-973), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335


I. O António Novais Ribeiro, engenheiro, reformado, morador na Senhora da Hora, Matosinhos, contou-me, ontem, na Tabanca de Candoz, várias histórias do então major de operações Carlos Fabião. com quem trabalhou no âmbito do Comando de Agrupamento 2951 (e depois, 2952), em Mansoa, em 1968/60... 

Eu gostaria de as não esquecer. Carlos Fabião (1930-2006) não é um militar qualquer... O tempo dirá qual o seu lugar na história de Portugal. Aqui ficam. para já,  essas "pequenas histórias", que são  reveladoras do seu carater, sentido de humor, ar brincalhão, afabilidade, mas também da sua postura como militar... Dele se pode dizer que ninguém é feito de "uma só peça"... (Julgo que em Mansoa, em 1968/69, o Carlos Fabião ainda devia ser capitão e não major..).

Sobre o Carlos Fabião temos meia centena de referências.... Disse-me o António que o Carlos Fabião esteve 5 vezes na Guiné, a primeira como alferes ainda nos anos 50... Eu, pessoalmente, tinha a ideia que fizera 3 comissões de serviço na Guiné... Ainda não pude confirmar esta informação. De qualquer modo, era talvez o oficial do exercito português que melhor conhecia a Guiné e os guineenses. Recorde-se que, graduado em brigadeiro, ele foi  o último Alto-Comissário e Comandante-Chefe do CTIG, entre 6 de maio e 11 de outubro de 1974.

1. Um dia chegiu ao pé do alf mil Novais (era assim que o António era tratado) e entregou-lhe um "aviãozinho de papel", pintado a cores e tudo:

- Novais, guarde-me aí na sua gaveta este aviãozinho.
- Para quê, meu major ?
- Quando vocêr tiver 53, eu vou de férias!

... E todos os dias lhe confiava um aviãozinho de papel, pintado às cores, até à véspera da sua idade de féris à metrópole...

2. Também era brincalhão, e gostava de pregar partidas aos seus subordinados, em especial aos 3 alferes (Novais, Torgal e Oliveira, este último já morreu, foi tripulante da TAP).

Recorde-se que o António Novais Ribeiro foi furriel miliciano de transmissões, entre 1968 e 1970, no Comando de Agrupamento 2951 (Mansoa), e no Cmd Agrup 2952 (extinto em 7 de janeiro de 1969, sendo o seu pessoal integrado no Combis - Comando de Defesa de Bissau). Trabalhou, nomeadamente com o, na altura, major inf Carlos Fabião. Teve também como camarada o  historiador Luís Reis Torgal [Luís Manuel Soares dos Reis Torgal], mais velho 3 anos, alferes miliciano. Em 1966, já  estava licenciado. No Cmd Agrup estava ligado às operações ou à secretaria, já não posso precisar. Os gabinetes estavam pehados. O do Torgal tinha um postigo, furado, e uma rede mosquiteira... Um dia o Fabião. chegou ao postigo e chamou pelo Torgal:
- Ó Torgal, abra lá o postigo!
- O quê, meu major ?

... Do outro lado da janelinha, o Carlos Fabião tinha um seringa com água... Borrifou a cara do Torgal...

3. O Carlos Gavião costumava mandar aprontar uma viatura e ir para as tabancas de Mansoa conviver com a população, em acções de "psico-social"...

E convidava malta  do comamdo de agrupamento para ir com ele... O Novais nunca foi, mas era lendária a sua coragem física e a sua empatia... Costumava distrinuir aguardente de cana aos balantas cujas simpatias, soubemo-lo, íam mais facilmente para o Amílcar Cabral do que para o Spínola...

4. Também desenhava muito bem... Um dia fez um "boneco" com a chegada do Nuno Tristão à costa da Guiné, em 1446... 

O navegador português morreria pouco depois com uma flecha, possivelmente envenenada. Antes de morrer, o Nino Tristão ainda tem tempo, no "cartoon" do Carlos Fabião, de exclamar qualquer coisa como;
- Chego demasidafo cedo à Guiné e morro sem poder vir a ser o primeiro administrador da Casa Gouveia...

5.  Outra do Fabião:

O Cmd Agrup 2951 recebe uma mensagem Zulu ("Relâmpago"), secreta... O 1º cabo cripto decifrou-a, imediatamente, e logo a entrega da mensagem descofificada, em envelope fechada, ao alferes de transmissões paar ser entregue ao major de operações...

O Novais procura, a correr, o Fabião. Em vão, vasculhou tudo o que era sítio no quartel de Mansoa...Esbaforido, já desesperado, acaba finalmente por o localizar, à entrada da porta de armas, vindo de uma tabanca ou coisa do género...

Exclamou o Novais, à beira de um ataque de nervos:
- Porra, meu major, onde é que o senhor se meteu ? Tenho aqui uma mensagem relâmpago para si, ando há duas horas à sua procura.
- Ó Novais, você sabe que a mensagem relâmpago tem o grau máximo de procedência, mas isso é para o cripto, e lá na tropa... Agora, na Guiné,  você tem 24 horas paar ma entregar... Como só lá vão duas, ainda tem 22 horas de avanço...

Recorde-se aqui a classificação mensagens:

Z - ZULU ? = Relâmpago (No centro cripto, passava à frente de todas as outras; grau máximo de urgência)

O - OSCAR = Imediato (As primeiras a serem decifradas, caso não houvesse Zulus...)

P - PAPA = Urgente (Para se fazer...)

R - ROMEO = Rotina...(Como o seu nome indica, para ser ir fazendo...)

Quanto ao secretismo, as mensagens eram classificadas por esta ordem:

Reservada / Confidencial / Secreta / Nuito secreta

Explicação dada pelo  nosso camarada António J. Pereira da Costa: as mensagens têm ainda hoje 4 graus de precedência: Relâmpago, Imediato, Urgente e Rotina. A mensagem Relâmpago (Z) deveria chegar ao destinatário em 10 minutos.  As Imediato (O) demorariam cerca de 2 horas. As Urgente (P) já iam para as 4-6 horas.  Claro que as Rotina (R) eram como o combóio do espanhol. 

No que diz respeito à classificação de segurança ainda hoje temos as Muito Secreto, Secreto, Confidencial e Reservado.

6, Outra ainda que me contou ontem o António Novais Ribeiro, na Tabanca de Candoz... 

Por qualquer razão, o major Fabião queria dar uma "piçada" ao pessoal de transmissões do Cmd Agr... Ordena ao alferes de transmissões do Cmd Agrup 2951 (depois 2952):
- Novais, forme aí o seu pessoal.
- Sim, meu major.
- À minha direita... mas você coloca-se a meu lado, à esquerda.
- Sim, meu major, mas.. à sua direita, porquê ?
- É que vai tudo ser corrido à chapada...

[Texto: recolha, revisão e fixação: LG]
______________

17 comentários:

RIBEIRO AGOSTINHO disse...

Pois como se costuma dizer, a talho de foice, o Sr. Capitão Carlos Fabião, comandou durante algum tempo a 1ª Rep. do Q.G./CTIG nos principios e até Julho, Agosto/69. Eu então trabalhava na Sec.do Q.G. e só tinhamos o corredor a dividir. Nessa altura ainda era Capitão.

Ribeiro Agostinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tenho que comfirmar com o Novais onde e quando se passaram estas histórias... Em princípio, terá sido em Mansoa, mas nessa altura o Fabião ainda era capitão... O Cmd Agr 2951 foi extinto, dando lugar ao 2952, também extinto, em janeiro de 1969... O pessoal foi depois integrado no COMBIS. Mas será que o Fabião também foi para o Combis ?

Responda quem saiba... Boa noite. Luis

Anónimo disse...

os mesmos milícias que entregou ao paigc e não só.na fotonão foi o beijo de judas mas ma mão de judas.
JDias

ze manel cancela disse...

Só um pequeno reparo a todos que conheceram
o Major Fabião.Eu conheci-o como Major,comandante do C.O.P.4,em Buba
onde esteve,TODO O ANO DE 1969.Portanto?????O camarada Ribeiro Agostinho
está equivocado…..Também conheço algumas historias desse Senhor,mas não dá
para contar agora…..!!!!!!

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Apenas para salientar de o ter conhecido como CEME, em fins de 1974, a propósito dos saneamentos feitos aos militares sem eles saberem do que eram acusados. Para sanear os civis era mais complicado, pois até tinham direito a um processo em que respondiam às acusações. Apesar das opiniões como a do Vasco Lourenço no seu livro, considero que o Fabião ao longo do PREC (1974-1975) foi o "dinamizador" da indisciplina e desgaste de todo o Exército, terminando com a sua presença no RALis, dias antes do 25 de Novembro, assistindo a um juramento de bandeira, com os soldados de punho fechado e debitando um fórmula revolucionária. Enfim, uma tristeza!

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Por bem conhecer a 'curricula' do retratado, estou de acordo com a brevíssima apreciação que daquele, enquanto CEME, fez o coronel de infantaria (ref)
Manuel Amaro Bernardo.
E a "entalhe de fouce", a benefício de administradores deste blogue e de comentadores deste 'post' (Manuel José Ribeiro Agostinho e José Manuel Moreira Cancela), aqui partilho alguns tópicos - cronológicos - sobre a "saga" de um proto-conspirador (decorrido um ano foi principal entregador das vidas de militares portugueses à persecutória sanha assassina do PAIGC), o qual, na Guiné, desde a sua primeira comissão ficou bem conhecido, entre a população, como "o pilha-galinhas"; e durante o PREC, inconsequente agitador revolucionário, indelevelmente engordurou a folha-d'assentos.
Ora, cá vai... (m/autoria; e bom proveito aos leitores)
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CARLOS ALBERTO IDÃES SOARES FABIÃO -
Nascido a 09Dez1930 na freguesia da Graça em Lisboa:
- em 1950 ingressa na Escola do Exército;
- em 1954 conclui o curso de Infantaria;
- em 1955 promovido a alferes, voluntaria-se para servir Portugal na Província Ultramarina da Guiné, sendo colocado no CIM-Bolama como instrutor da Escola de Recrutas;
- em 1957 promovido a tenente e transferido para Bissau;
- em 03Ago1959, entretanto promovido a capitão, assiste na capital da Guiné às consequências dos tumultos grevistas ocorridos no cais fluvial do Pidjiguiti;
- em 22Abr1961 regressa à Metrópole (tendo ficado entre a população da Guiné, com o cognome de "pilha-galinhas");
- em 04Mai1961 fica colocado no Forte da Graça (Elvas);
- em 23Jun1961, tendo sido mobilizado pelo RI6-Porto para servir Portugal na Província Ultramarina de Angola, embarca em Lisboa rumo a Luanda, a fim de assumir funções no BCac132 como OfInfOp;
- a partir de 22Jul1961 o seu batalhão assume o controle do sector de Quibaxe, desenvolvendo operações naquela área até fins de Jun1962, sendo então deslocado para o Bengo;
- a partir do final de Ago1962 fica aquartelado em Catete, como unidade de reserva da RMA;
- em 06Set1963 regressa à Metrópole e colocado no RI1-Amadora;
- em 08Abr1964 transferido para o BC5-Campolide;
- em 09Nov-05Dez1964 frequenta no CIOE-Lamego o estágio E4 de contra-insurreição;
[1/4 continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

[continuação 2/4]
- em 23Abr1965, tendo sido mobilizado pelo RI1 para novamente servir Portugal na Província Ultramarina da Guiné, regressa a Bissau como comandante da CCac797, "a companhia dos camelos" que fica aquartelada em Tite inicialmente em reforço ao dispositivo do BCac599 e depois adstrita ao BCac1876;
- em 06-07Jun1965 comanda um golpe-de-mão contra um acampamento IN em Jufá;
- em 20-21Jun1965 a sua subunidade assalta um outro acampamento IN em Gã Saúde;
- em Ago1965 lança um assalto à tabanca IN de Bissilão;
- em 18-19Out1965 efectua a Op Ovo no sector S1;
- em 09-10Jan1966 coordena um golpe-de-mão, naquele mesmo S1, contra um acampamento IN em Guedambole;
- no início de Jun1966 a sua subunidade é deslocada para Nhacra (13km leste de Bissau), ficando adstrita ao BCac1860;
- em 20Jan1967 termina a sua 2ª comissão na Guiné e regressa à Metrópole, ficando colocado no Centro de Estudos Psicotécnicos do Exército;
- em 09Mai1967 agraciado com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, "porque, durante todo o tempo em que actuou com a sua companhia no sector sul e região de Nhacra, demonstrou qualidades extraordinárias de chefe, quer no planeamento das operações, quer actuando como primeiro combatente nos locais de maior perigo, com o seu arrojo, audácia, bravura, rara decisão e abnegação, valentia e desprezo pelo perigo, com grave risco de vida frente ao inimigo. Tendo participado em cerca de meia centena de operações em todo o sector, [...] em determinado período em que o inimigo passou a realizar acções violentas na região de Nhacra, mais se realçaram as grandes qualidades de militar e de chefe; [...] reagiu sempre prontamente às acções do inimigo, quer fosse de dia ou de noite. [...] Militar de excepção, leal, inteligente e voluntarioso, com excepcionais qualidades de comando, de elevada coragem física e moral, de grande espírito de justiça, de extrema dedicação pelo serviço, [...] prestou o Capitão Fabião valorosos e distintos feitos de armas de que resultaram brilho e honra para as Forças Armadas e para a Nação";
- em 10Jun1967 recebe no Terreiro do Paço a condecoração;
- em 25Jul1967 promovido a major, por distinção;
- em 10Mar1968, tendo sido mobilizado pelo RAL1-Sacavém, volta à Província Ultramarina da Guiné para cumprir a sua 4ª comissão ultramarina (3ª na Guiné), ficando colocado em Bolama no estado-maior do CmdAgr2951;
- em 07Jul1968 transferido com o 2951 para Mansoa, a fim de render o CmdAgr2952;
- posteriormente segue para Bissau com aquele agrupamento;
- em 07Jan1969 cessa funções no CmdAgr2952;
- em 19Jan1969 assume em Buba o comando do COP4;
- em Mai1969 volta a Bissau e fica provisoriamente colocado na 1ªRep-QG/CTIG;
- em Ago1969 transferido para o COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau);
- em 19Mar1970 regressa à Metropóle e ao Centro de Estudos Psicotécnicos do Exército;
- em 14Jul1970 agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma;
- em Set1970 está colocado na EPI-Mafra, a leccionar num CPC (curso de promoção a capitães);
[2/4 continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

[continuação 3/4]
- no final de Abr1971 regressa a Bissau (5ª comissão ultramarina e 4ª na Guiné), "a convite do general Spínola" para exercer funções de oficial do estado-maior do CCFAG, sendo colocado no CIM-Bolama como comandante-geral das milícias, para coordenar todas as actividades das subunidades de milícias guineenses;
- em 18Ago1971 toma parte, na messe de oficiais em Bissau, na primeira reunião conspirativa do emergente 'staff' político-militar spinolista;
- em 18Mai1972 desloca-se com o general Spínola a Cap Skiring, para um encontro com o presidente senegalês Senghor;
- em 18Jun1972 volta a fazer parte do "grupo de conspiração", que se reúne em Bissau para lançar no poder o general Spínola, quando este terminar a comissão;
- em 21Jul1972 desloca-se a Bula com o general Spínola e restante 'staff', para celebrar o Dia da Cavalaria;
- em 03Mai1973 regressa a Lisboa;
- em 07Mai1973 reúne conspirativamente com diversos oficiais do anterior 'staff' spinolista, desencadeando na AM e no IAEM agitprop sindico-corporativa contra o anunciado Congresso dos Combatentes;
- em 20Mai1973, prosseguindo as suas "actividades extra", remete para o Luso/RMA uma carta dirigida ao major Pezarat Correia, recém-colocado no QG/ZML;
- a partir de Out1973 em Lisboa é um dos controleiros do emergente "Movimento dos Capitães";
- em 17Dez1973 encontra-se no IAEM-Pedrouços a fazer o curso geral de estado-maior, quando, a prévias instâncias do general Costa Gomes, durante uma aula "denuncia uma intentona do general Kaulza";
- em 01Jan1974 promovido a tenente-coronel;
- pouco depois o general Kaulza de Arriaga levanta-lhe um processo de averiguações, findo o qual é transferido para o DRM8-Braga (onde se encontra no dia 25Abr1974);
[3/4 continua]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

[final 4/4]
- em 28Abr1974 segue de avião para Paris, como emissário de Spínola para conversações com o presidente senegalês;
- em 04Mai1974 é nomeado (pelo presidente da JSN general Spínola), como comandante-chefe e encarregado do governo da Guiné;
- em 07Mai1974 desembarca em Bissalanca, acompanhado pelo tenente-coronel Almeida Bruno;
- dois dias depois, assume as suas funções;
- em 17Mai1974 desloca-se a Bambadinca mas, à porta-de-armas do BCac4616, tropas 'comando' guineenses com armas em riste impedem-lhe a passagem, contestando a sua nomeação para comandante-chefe da Guiné em face a recentes atitudes de "confraternização" com o PAIGC;
- em 23Mai1974 é graduado no posto de brigadeiro;
- em 14Jun1974 todas as tropas portuguesas, estacionadas na área fronteiriça nordeste, por sua ordem começam a retirar maciçamente para Bissau;
- em 19Ago1974 em Brá, determina a todos os guineenses que fizeram parte das forças especiais portuguesas que entreguem as armas, aos quais mandar passar "guia-de-marcha" e "para se apresentarem em 1Jan75"... !;
- às 01:00 de 14Out1974, "o descolonizador da Guiné" embarca em Bissalanca de regresso definitivo a Lisboa, "para depois entrar na guerra de cá";
- na manhã de 16Out1974 graduado em general de quatro estrelas e empossado no cargo de CEME, passando, por inerência, a integrar a JSN, o Conselho de Estado e a estrutura informal do "Conselho dos Vinte";
- a partir de 14Mar1975 cessa funções no Conselho de Estado, passando para o Conselho da Revolução;
- a partir de 12Mai1975, em conluio com o COpCon, permite a infiltração de células político-militares esquerdistas e sua implantação nos quartéis, levando à desagregação do Exército e à distribuição de armas a grupos civis controlados pela extrema-esquerda;
- na madrugada de 19Ago1975, no final de uma reunião do CR em São Julião da Barra, o PR provisório general Costa Gomes encarrega-o de formar o VIºGP; aceita, mas...
- na noite de 24Ago1975 não comparece à reunião do Grupo dos Nove, onde estava previsto apresentasse o novo elenco governativo e respectivo programa;
- em 05Set1975, no final da Assembleia do MFA em Tancos, é novamente encarregue de formar governo, mas...
- três dias depois formalmente recusa, por não ter obtido apoio da "Aliança MFA/Partidos";
- em 28Set1975 é responsabilizado pela ausência de segurança militar durante o assalto e incêndio à embaixada espanhola em Lisboa;
- durante a manhã de 21Nov1975 no RALIS (ex-RAL1/Sacavém), assistiu a "uma cerimónia de juramento de bandeira dos recrutas, a que presidiu, com a leitura de um compromisso de afirmação revolucionária marxista, e todos os homens e ele próprio saudando de punho erguido, um [pseudo] juramento de bandeira que teve a participação de civis revolucionários";
- ao final da tarde, reúne no Forte Alto do Duque (sede do COpCon), com comandantes da RML e de outras unidades, contestando a nomeação de Vasco Lourenço para governador militar de Lisboa;
- em 26Nov1975 é exonerado de CEME, desgraduado e destituído de todas as funções...
- ... mas em 1976 "arranjam-lhe o tacho" de director do Centro de Recrutamento de Lisboa (?!), onde é mantido até 1983;
- em 09Dez1986 passa à situação de reserva;
- em 31Dez1993 passa à reforma com o posto de coronel;
- entretanto... convidado a ingressar na maçonaria do GOL, onde chega a grão-mestre adjunto;
- em 30Jan1995 é "coordenador do Guia do Terceiro Mundo";
- e em 31Mar1995 entrevistado em Lisboa pelo norte-americano CMG na reserva John P. Cann.
Morre na madrugada de 02Abr2006, no hospital militar de Belém; e no dia seguinte o féretro sai do maçónico Grémio Lusitano para o cemitério do Alto de São João, onde é cremado.

Valdemar Silva disse...

Pelo visto, de "pilha-galinhas" lhe deu pouco proveito, melhor fora ter andado em negócios de batatas.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

O JDias legendou a foto do aperto de mão entre Fabião e o Milicia, como sendo o "beijo de judas".

J Dias, foi pura inspiração de momento, ou és "reaccionário primário" mal intencionado?

É que a expressão facial do milicia, parece adivinhar a traição, com muita eloquência.

Essa foto com tal legenda podia figurar no futuro "museu das descobertas", ou num museu a criar sobre o Fim do Império"

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Uma biografia bem esclarecedora. Ainda me recordo, através das entrevistas feitas a Casanova Ferreira e Manuel Monge (presos em 16MAR1974 e 11MAR1975) da "trabalheira" que tiveram no EME para o levarem a CEME, com ele ainda na Guiné, para depois lhes saírem "aquele procedimento vergonhoso na rifa". Terá entrado num processo de chantagem, face aos arquivos da PIDE roubados pelo PCP e enviados para Moscovo, por alguma actuação mais "agressiva" nas suas antigas operações na Guiné? Talvez...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Meu caro Manuel Bernardo,
Continuo a discordar da sua apreciação, exposta no último parágrafo, sustentada em meras elocubrações e suposições.
O diz-que-disse, de um seu conhecido coronel (omito do nome), sobre "arquivos da PIDE/DGS" que «em 12Ago1975» teriam sido locupletados da antiga sede na António Maria Cardoso (e «transportados em camionetas civis desde o Largo de São Carlos [?!] até ao aeroporto da Portela e dali metidos no avião da Aeroflot», além de ser estória 'pour épater certains bourgeois', é coisa anacrónica, porquanto àquela data nada restava, naquelas instalações, de "arquivos da PIDE/DGS. Além de tudo o demais, é argumento que não colhe, face à impossibilidade prática de ser estabelecida prova documental.
Já em tempos (25Abr2015), manifestei (em 'comment fb'), o que aqui reproduzo:
- «Não há desculpabilização possível para actos de Fabião, um oficial que, desde 1957, bem conhecia a Guiné, e que em 1971 era o supervisor das Milícias Guineenses.
Milhares de nossos compatriotas, nascidos na Guiné, confiavam em Fabião. Que, miseravelmente, os traiu. E à Nação Portuguesa.
O PC não encostou ninguém "à parede"... ».
Aceite um abraço amigo.

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Caro Abreu dos Santos:

Julgo que não terei apresentado desculpas para a actuação de Fabião. Mas chegaram-me fortes indícios de ter havido, pelo menos pressões em audiências que ocorreram com Cunhal, nas instalações do EME, em 1975.
Além da cena de Agosto 1975 referida, em 1974, terá havido um outro "sacar" de arquivos - ver "Primeiro Directório de Oleg Kalugin (1994) e "O Arquivo Mitrokhine (...) de C, Andrew e V. Mitrokhine (2001). Como sabe, sobre operações clandestinas "tudo é possível" dizer-se... Aconselho por ex, em relação ao meu livro "Moçambique; Guerra e Descolonização; 1964-1975", que irei apresentar de novo, agora em Faro (18SET), nos cap-s do Angoche e da morte de Mondlane são referidas igualmente operações clandestinas, que apenas poderão ser consideradas com base em indícios; para estes casos José Freire Antunes terá chegado a "conclusões" idênticas às minhas, no seu "Jorge Jardim; Agente Secreto/1996. Ab. MB

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Neste 'post', sustentado em informais conversas havidas entre o fundador deste blogue e um antigo subordinado (de secretaria), do visado, o que a mim interessa, sobremodo, é uma "aura" que persiste sobre aquele personagem d'abril.
Nada mais.
Quanto ao seu aconselhamento bibliográfico, e porque insiste, (contando com a boa vontade dos editores deste blogue e seus seguidores), não poderei deixar de lhe responder: "terá havido", não colhe como argumento credível, sustentado, para a defesa da sua 'causa', além do que o citado Kalugin por diversas ocasiões meteu-pés-p'las mãos; do volumoso "Mitrokhine" (tenho-o desde publicado e, após penosa leitura, o que ali encontrei, relativo a "arquivos da PIDE/DGS", são meia-dúzia de referências pouco credíveis; quanto ao seu reeditado livro (que cita), da leitura feita há pouco mais de um mês não recordo ali ter encontrado seja o que fôr relacionado com elementos probatórios, quer sobre o visado neste 'post' quer sobre "desvios de acervos da sede do PIDE/DGS" (e os exemplos do 'Angoche' e do despenhamento do avião que transportava o presidente de Moçambique, são isso mesmo - indicíos - além do que concorrem, tão somente, para construção/difusão de 'hoaxes' e/ou teorias-de-conspiração); 'and last but not least', as achegas do (já falecido) JFA, em concreto no título que cita, em absoluto nada concorrem para avaliação séria e juízo ponderado sobre comportamentos e opções ideológicas do visado, desde reuniões à beira da piscina da messe de Bissau no verão de 1971 até à 'debacle' de indisciplina do Exército consignada no "juramento do RALIS"...
Peço-lhe, e desde já agradeço, cesse de me "aconselhar a ler". Desde há alguns anos a esta parte conheço suficientemente bem as suas perspectivas sobre matérias muito controversas e as leituras que fez e vai fazendo, pelo que mantenho a minha discordância, concretamente no 'caso' em apreço, qual é o que já tive ocasião de exprimir.
Conquanto esta troca de impressões me pareça nada adiantar para a avaliação, abalizada, do 'perfil' do visado, dou por concluído este "batepapo".
Aceite um fraterno abraço,

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Caro Abreu dos Santos: As suas palavras um tanto "arrevesadas" merecem-me, para terminar um comentário e alguns pequenos esclarecimentos mais dirigidos a quem nos lê nestes textos.
Lembro, a terminar este "debate" que com a nossa idade, mais a minha, pois para o ano já vou fazer 80, não vale a pena irritar-nos com tal tipo de atritos e de opiniões diferentes. A vida são dois dias como diz o Povo.
Quanto aos esclarecimentos, lembro que no meu texto referi dois casos controversos, versados em dois capítulos do meu livro sobre Moçambique. O Angoche e a morte de Mondlane, e não a de Samora Machel, esse sim na queda dum avião, mas fora do per+iodo que tratei - 1964-1975.
Quanto ao resto eu não mais falei no caso Fabião, pois tudo o que tentei reproduzir tinha a ver com Moçambique. Jorge Jardim, se bem me lembro nunca esteve envolvido na Guerra da Guiné, mas na Índia, Angola e a fundo em Moçambique. Daí que sobre os dois casos que assinalei (Angoche e Mondlane, tb baseados em testemunhos e sem provas concretas), José Freire Antunes acabe por "chegar a conclusões idênticas às minhas", no seu livro "Jorge Jardim; Agente Secreto". Um ab.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Manuel Bernardo,
Passou o limite da cordialidade, ao entrar, aqui, publicamente, por qualificações pessoais sobre modos com que me expressei e avançando, até, com avaliações sobre estados-d'alma alheios!
Com toda a franqueza, quer ter a última palavra? Pois sim. Mas, pf, não tome as suas nuvens por Juno.
Repito o que acima escrevi: nada, em bom rigor, naquilo que entende como "esclarecimentos", adiantou/adianta relativamente ao perfil do visado; e da minha momentânea troca de situações (Mondlane por Machel), ao correr da pena, também sem problemas e ao correr da pena insisto que são 'casos' não comprovados e exteriores ao assunto, deste 'post' e bem assim dos meus comentários.
Queira considerar-me qb esclarecido quanto às suas intervenções e propósitos.
Cumprimentos,
JCAS